terça-feira, 29 de dezembro de 2020

ALEGRIA TRAZIDA AO MUNDO PELO NASCIMENTO DE JESUS CRISTO

 

Resultado de imagem para nascimento de jesusEvangelizo vobis gaudium magnum, quod erit omni populo: quia natus est vobis hodie Salvator — “Anuncio-vos um grande gozo, que será para todo o povo; e é que vos nasceu hoje o Salvador” (Luc. 2, 10).

Sumário. Organizam-se grandes festejos num país, quando ao rei nasce seu filho primogênito. Quanto mais não devemos nós festejar o nascimento do Filho unigênito de Deus, que veio do céu para nos visitar. Talvez alguém deseje carregar o Menino Jesus nos braços; mas avivemos a nossa fé e lembremo-nos de que na santa comunhão recebemos, não somente em nossos braços, mas também dentro do nosso peito, o mesmo Jesus, que por nosso amor esteve deitado no presépio de Belém.

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O nascimento de Jesus Cristo trouxe alegria geral ao mundo inteiro. É Ele o Redentor desejado durante tantos anos e com tamanho ardor, que por esta razão foi chamado o Desejado das gentes, o Desejado das colinas eternas. Eis que já veio, nascido numa gruta estreita. Façamos que o anjo nos anuncie o mesmo gozo que anunciou aos pastores, e que nos diga:  Ecce enim evangelizo vobis gaudium magnum, quod erit omni  populo: quia natus est vobis hodie Salvator — “Anuncio-vos um grande gozo, que será para todo o povo; e é que vos nasceu hoje o Salvador”.  — Que festejos não se organizam num país, quando nasce ao rei seu filho primogênito! Muito mais devemos nós festejar o nascimento do Filho de Deus, que veio do céu para nos visitar, movido unicamente pelas entranhas da sua misericórdia:  per víscera misericordiae Dei nostri, in quibus visitavit nos oriens ex alto (1).

Nós nos achávamos em estado de condenação, e eis que Jesus veio para nos salvar: Propter nostram salutem descendit de coelis — “Desceu dos céus para a nossa salvação”. Eis aí o Pastor, vindo para salvar da morte as suas ovelhas, dando a vida por amor delas. —  Ego sum pastor bonus; bonus pastor animam suam dat pro ovibus suis (2)  — “Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a própria vida pelas suas ovelhas”. Eis aí o Cordeiro de Deus que veio sacrificar-se para nos obter a graça divina e fazer-se nosso libertador, nossa vida, nossa luz, e nosso alimento no Santíssimo Sacramento. Diz Santo Agostinho que, entre outras razões, Jesus quis ser  posto numa manjedoura, onde os animais acham o pasto, para nos dar a entender que se fez homem também para se tornar nosso alimento. 

Jesus nasce, por assim dizer, nasce cada dia no Santíssimo Sacramento por meio da consagração feita pelo sacerdote. O altar é como que o presépio, onde nos alimentamos com a sua própria carne. Talvez alguém deseje trazer o Menino Jesus nos braços, assim como o trouxe o velho Simeão. Mas a fé nos ensina que na santa comunhão temos, não somente em nossos braços, senão dentro do nosso peito, o mesmo Jesus, que esteve no presépio de Belém. Nasceu precisamente a fim de se dar a nós:  Parvulus natus est  nobis, et filius datus est nobis (3)  — “Nasceu-nos uma criança, e foi-nos dado um filho”.

Erravi sicut ovis quae periit: quaere servum tuum (4)  — “Andei errando como uma ovelha que se desgarrou; busca o teu servo”. Senhor, eu sou a ovelha que por ir atrás das minhas satisfações e dos meus caprichos, desgarrei miseravelmente; mas Vós, ó Pastor e também Cordeiro divino, baixastes do céu para me salvar, sacrificando-Vos como vítima, sobre a Cruz, em satisfação dos meus pecados. Que devo, pois, temer, se resolvo emendar-me? Não devo confiar inteiramente em Vós, meu Salvador, que nascestes precisamente a fim de me salvar?  Ecce Deus, Salvator meus, fiducialiter agam, et non timebo (5) — “Eis aqui está Deus, meu Salvador, resolutamente obrarei e nada temerei”. Para me inspirar confiança, que penhor mais seguro de misericórdia podereis dar-me, depois da vossa própria pessoa? Ó meu querido Menino Jesus, quanto me aflige a lembrança de Vos ter ofendido.Tenho-Vos feito chorar na gruta de Belém. Mas, se Vós me viestes buscar, eis que me prostro aos vossos pés,’ e apesar de Vos ver humilhado e aniquilado nessa manjedoura, deitado sobre a palha, reconheço-Vos como meu supremo Senhor e Rei.

Ouço que os vossos doces gemidos me convidam a amar-Vos e me pedem o coração. Ei-lo, ó meu Jesus, deposito-o a vossos pés; transformai-o e abrasai-o, Vós que viestes ao mundo a fim de abrasar os corações em vosso santo amor. Ouço que lá de dentro dessa manjedoura me dizeis:  Diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo (6) — “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração.” E eu Vos digo: Ah! Jesus meu, se não Vos amar a Vós, que sois meu Senhor e meu Deus, a quem amarei? Vós dizeis que sois meu, porque nascestes a fim de Vos dar todo a mim; e eu recusarei ser vosso? Não, meu amado Senhor, dou-me todo inteiro a Vós e amo-Vos de todo o meu coração. Amo-Vos, amo-Vos, amo-Vos, ó meu Bem supremo, ó amor único da minha alma. Por favor, aceitai-me neste dia, e não permitais que eu ainda deixe de Vos amar. — O Maria, minha Rainha, pela consolação que tivestes, quando pela primeira vez contemplastes o vosso Filho nascido, e lhe destes os primeiros abraços, rogai por mim para que vosso Filho me aceite como propriedade sua e me prenda para sempre a si pelos laços do seu santo amor. (II 363.)

  1. Luc. 1, 78.
    2. Io. 10, 11.
    3. Is. 9, 6.
    4. Ps. 118, 176.
    5. Is. 12, 2.
    6. Matth. 22, 37.

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I – Santo Afonso

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo

 

Resultado de imagem para NASCIMENTO DE NOSSO SENHORImpleti sunt dies ut pareret (Maria); et peperit filium suum primogenitum — “Completaram-se os dias em que (Maria) devia dar à luz; e deu à luz o seu filho primogênito” (Luc. 2, 6).

Sumário. Imaginemos ver a Jesus já nascido na gruta de Belém, e ouvir os anjos cantar glória a Deus e paz aos homens de boa vontade. Quais devem ter sido os sentimentos que então se despertaram no coração de Maria, ao ver o Verbo divino feito seu filho! Qual a devoção e ternura de São José ao apertar contra o coração o santo Menino! Unamos os nossos afetos com os desses grandes personagens.

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Quando Maria Santíssima entrou na gruta, pôs-se logo em oração. De súbito vê uma refulgente luz, sente no coração um gozo celestial, abaixa os olhos, e, ó Deus! que vê? Vê já diante de si o Menino Jesus, tão belo e tão amável, que enleva os corações. Mas treme e chora; segundo a revelação feita a Santa Brígida, estende as mãozinhas para dar a entender que deseja que Maria o tome nos braços. Maria, no auge de santa alegria, chama José. — Vem, ó José, disse ela, vem e vê, pois já nasceu o Filho de Deus. Aproxima-se José, e vendo Jesus nascido, adora-O por entre uma torrente de doces lágrimas.

Em seguida, a santa Virgem, movida de compaixão maternal, levanta com respeito o amado Filho, e conforme a já citada revelação, faz por aquecê-Lo com o calor de seu rosto e do seu peito. Tendo-O no colo, adora o divino Menino como seu Deus, beija-Lhe os pés como a seu Rei, e beija-Lhe o rosto como a seu Filho e procura depressa cobri-Lo e envolvê-Lo nas mantilhas. Mas ai, como são ásperos e grosseiros os paninhos! Além disso, são frios e úmidos, e naquela gruta não há lume para, aquentá-los.

Consideremos aqui os sentimentos que surgiram no coração de Maria, quando viu o Verbo divino reduzido por amor dos homens a tão extrema pobreza. Contemplemos a devoção e a ternura que ela experimentou quando apertava o Filho de Deus, já feito seu filho, contra o coração. Unamos os nossos afetos aos de tão boa Mãe e roguemos a Deus Pai “que o novo nascimento do seu Unigênito feito homem, nos livre do antigo cativeiro, em que nos tem o jugo do pecado” (1) .

Jesus nasceu! Vinde, ó reis, príncipes e todos os homens da terra, vinde adorar o vosso Rei. Mas quem é que se apresenta? … Ah! o Filho de Deus veio ao mundo, e o mundo não o quis conhecer.

Porém, se não vêm os homens, vêm ao menos os anjos adorar o seu Senhor, e cantam jubilosos: Gloria in altissimis Deo, et in terra pax hominibus bonae voluntatis (2) — “Gloria a Deus nas alturas, e na terra paz aos homens de boa vontade”. Glória à divina Misericórdia, que, em vez de castigar os homens rebeldes, fez o próprio Deus tomar o castigo sobre si, e assim os salvou.  Glória à divina Sabedoria, que achou meio de satisfazer à Justiça, e ao mesmo tempo, de livrar o homem da morte merecida. Glória ao divino Poder, que de um modo tão admirável venceu as forças do inferno.  Glória finalmente ao divino Amor, que induziu um Deus a fazer-se homem e a levar uma vida tão pobre, humilde e penosa. Meu irmão, unamos as nossas adorações às dos anjos e digamos com a nossa santa Madre Igreja:

Gloria in excelsis Deo! Glória a Deus nas alturas, e na terra paz aos homens de boa vontade. Nós Vos louvamos, Vos bendizemos, Vos adoramos, Vos glorificamos. Graças Vos damos por vossa grande glória, Senhor Deus, Rei do céu, Deus Pai todo-poderoso. Ó Senhor, Filho unigênito de Deus, Jesus Cristo, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho do Pai: Vós, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós. Vós, que tirais os pecados do mundo, aceitai as nossas súplicas. Vós, que estais sentado à mão direita do Pai, tende piedade de nós. Porque só Vós, ó Jesus Cristo, sois Santo, só Vós o Senhor, só Vós o Altíssimo, com o Santo Espírito, na glória de Deus Pai. Assim seja”. (3) (*III 728)

  1. Or. festi.
    2. Luc. 2, 14.
    3. Miss. Rom.

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I – Santo Afonso

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

José e Maria peregrinos em Belém sem abrigo

 Tire o maior proveito desta Novena de Natal seguindo os passos

para se fazer a Oração Mental proposta por Santo Afonso!

In propria venit, et sui eum non receperunt – Veio para o que era seu, e os seus não o receberam (Jo 1, 11)

Sumário. A cidade de Belém, que recusa dar abrigo a Jesus Menino, foi figura daqueles muitos corações ingratos que dão acolhida a tantas miseráveis criaturas e não a Deus. Reflitamos, porém, no que a Virgem Maria disse a uma alma devota: Foi uma disposição divina que a mim e a meu Filho nos faltasse abrigo entre os homens, afim de que as almas, cativadas pelo amor de Jesus, se oferecessem a si próprias para o acolherem.

Caminho a Belém, José e Maria

Caminho a Belém, José e Maria

I. Quando um rei faz a primeira entrada numa cidade do seu reino, que manifestações de veneração se lhe preparam! Que pompas! Quantos arcos de triunfo! Prepara-te, pois, ó Belém venturosa, para receberes dignamente o Rei do céu; fica sabedoria que entre todas as cidades és tu a ditosa que ele escolheu para nela nascer em terra, afim de reinar depois no coração dos homens. Ex te enim egredietur qui sit dominator in Israel (1) – De ti sairá aquele que há de reinar em Israel.

Eis que já entram em Belém esses dois excelsos viajantes, José e Maria, que traz no seio o Salvador do mundo. Entram na cidade, dirigem-se para a casa do ministro imperial, afim de pagarem o tributo e serem alistados nos registros dos súbitos do Cesar. Mas quem os reconhece? Quem lhes vai ao encontro? Quem lhes oferece agasalho? In propria venit, et sui cum non recepernunt – Ele veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Eles são pobres, e como pobres são desprezados; são tratados ainda pior do que os outros pobres, e até repulsos.

Chegada a Belém, Maria entendeu que se aproximava a hora de seu parto. Avisou a São José, e este diligenciou de não ter de levar sua esposa à hospedaria, lugar pouco conveniente para uma tenra donzela. Ninguém quis atender-lhe o pedido, e é bem verossímil que da parte de alguns fosse taxado de insensato por trazer consigo a esposa próxima ao parto em tempo noturno e de tanta afluência de povo. – Para não ficar durante a noite no meio da rua, viu-se afinal obrigado a levar a Virgem Maria à hospedaria pública, onde já muitos pobres se tinham alojado para a noite. Mas como? Também dali foram repulsos e foi-lhes respondido que não havia lugar para eles: Non era eis locus in diversorio (2) – Não havia lugar para eles na estalagem. Havia ali lugar para todos, também para os mais abjetos, mas não para Jesus Cristo. – Contemplemos quais devem ter sido os sentimentos de São José e de Maria Santíssima, vendo-se desprezados e repulsos de cada um.

II. A estalagem de Belém foi figura daqueles corações ingratos que dão acolhida a tantas criaturas miseráveis e não a Deus. Quantos há que amam os parentes, os amigos, até os animais, mas não amam Jesus Cristo e nenhum caso fazem de sua graça e de seu amor. Maria Santíssima disse a uma alma devota: Foi uma disposição divina que a mim e a meu Filho nos faltasse agasalho da parte dos homens, afim de que as almas cativadas pelo amor de Jesus se oferecessem a si próprias para o acolherem e o convidassem amorosamente a tomar morada em seus corações.

Sim, meu Jesus, vinde nascer pela vossa graça em meu pobre coração! Eu não me animaria a pedir-Vos esta graça, se não soubesse que Vós mesmo me inspirais o pensamento de Vo-la rogar. Ó Senhor, eu sou aquele que com os meus pecados Vos tenho tantas vezes expulso cruelmente da minha alma. Mas já que baixastes à terra para perdoar aos pecadores arrependidos, perdoai-me, porque me pesa sobre todas as coisas de Vos ter desprezado, meu Salvador e meu Deus, que sois tão bom e me tendes tão grande amor. Nestes dias dispensais grandes graças a tantas almas; consolai também a minha. A graça que quero, é a de Vos amar para o futuro, de todo o meu coração; abrasai-me todo em vosso amor. Amo-Vos, meu Deus, feito Menino por meu amor. Ah, não permitais que eu Vos deixe de amar.

Ó Maria, minha Mãe, vós podeis tudo com as vossas súplicas; eis ai o que unicamente vos peço: rogai a Jesus por mim, e obtende-me a graça de amá-lo com todas as minhas forças, afim de desagravá-lo assim de tantas ofensas, que em outro tempo lhe tenho feito. Ó minha Mãe amantíssima, rogo-vos, exatamente pela vossa maternidade divina, tomai o meu coração e aconchegai-o ao vosso; aconchegai-o também ao de vosso divino Filho, e fazei que seja todo consumido nas belas chamas do amor a vós e a Jesus.

Referências:
(1) Mq 5, 2
(2) Lc 2, 7

OBS: Santo Afonso indulgenciou esta Novena da seguinte forma: para cada dia da Novena, recebemos Indulgência de 300 dias. Para o dia do Natal ou num dia da Oitava, recebemos Indulgência Plenária se fizermos e cumprirmos as obras prescritas da Confissão e da Comunhão.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 74-76)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Dor de Jesus Menino pela previsão da ingratidão dos homens

 Tire o maior proveito desta Novena de Natal seguindo os passos

para se fazer a Oração Mental proposta por Santo Afonso!

In propria venit, et sui eum non recepernunt – Veio para o que era seu, e os seus não o receberam (Jo 1, 11)

Sumário. A ingratidão desagrada aos homens. Qual deve, pois, ter sido a tristeza de Jesus Menino, ao prever que os seus benefícios seriam pagos pelo mundo com injúrias, traições e tormentos! Mas ai de nós, que por ventura também até hoje temos respondido aos benefícios do Senhor de um modo tão desumano. Ou pelo menos temo-lo amado tão pouco, como se nenhum bem nos tivesse feito, nem sofrido coisa alguma por nós. Quereremos ser tão ingratos sempre?

Jesus Menino e Nossa Senhora

Jesus Menino e Nossa Senhora

I. Pelos dias do Santo Natal, São Francisco de Assis andava pelos caminhos e bosques chorando e suspirando com gemidos inconsoláveis. Perguntando pela razão de tanto sofrer respondeu:

Como não chorar, vendo que o amor não é amado? Vejo um Deus como que perdido de amor ao homem, e o homem tão ingrato para com esse Deus!

Ora, se a ingratidão dos homens afligia tanto o coração de São Francisco, quanto mais não terá afligido o Coração de Jesus Cristo?

Apenas concebido no seio de Maria, Jesus viu a ingratidão despiedada que receberia da parte dos homens. Baixara do céu para acender o fogo do divino amor; somente este desejo fizera-o descer sobre a terra para ali sofrer um abismo de dores e ignomínias: Ignem veni mittere in terram (1) – Eu vim trazer o fogo à terra. E em seguida viu um abismo de pecados que os homens haviam de cometer, depois de presenicarem tantos rasgos de seu amor. Foi isso, no pensar de São Bernardino de Sena, o que o fez sofrer dores infinitas: Et ideo infinite dolebat. Mesmo para nós é insuportável vermos uma pessoa tratada por outra com ingratidão, e muita vezes isto aflige muito mais a alma, do que qualquer dor aflige o corpo. Qual não deve, pois, ter sido a dor que nossa ingratidão causou a Jesus, nosso Deus, quando viu que os seus benefícios e o seu amor lhe seriam retribuídos por nós com desgostos e injúrias? Et posuerunt adversum me mala pro bonis, et odium pro dilectione (2) – Retribuíram-me o bem com o mal, e o meu amor com ódio.

Parece que também hoje em dia Jesus Cristo se queixa: Tamquam extraneus factus sum fratribus meis (3) – Fiquei como que um estranho a meus irmãos. Porquanto vê que de muitos não é amado, nem conhecido, como se nenhum bem lhes tivesse feito, e nada por amor deles tivesse sofrido. Ó Deus, que caso fazem também presentemente tantos cristãos do amor de Jesus Cristo?

II. Apareceu certo dia o Redentor ao Bem-aventurado Henrique Suso, sob a forma de um peregrino que andava de porta em porta, a pedir pousada, mas todos o repeliam com injúrias e ultrajes. Ai! quantos homens se parecem com aqueles de que fala Jó, dizendo: Diziam a Deus: Retira-te de nós… sendo ele quem cumulou de bens as suas casas (4). Em outro tempo nós também nos temos unido àqueles ingratos; mas quereremos continuar do mesmo modo? Não, porque não merece tal o Menino amável que baixou do céu para padecer e morrer por nós, e assim fazer-se amar de nós.

Meu amado Jesus, será verdade que Vós baixastes do céu para Vos fazerdes amar de mim, que por meu amor viestes abraçar uma vida de trabalhos e a morte de cruz, afim de que eu Vos faça boa acolhida em meu coração, eu que tive a audácia de Vos repelir tantas vezes de mim, dizendo: Recede a me, Domine – Afasta-te de mim, Senhor; não Vos quero? Ó meu Deus, se não fosseis a bondade infinita e não tivesseis dado a vida para me perdoardes, não me animaria a peidr-Vos perdão. Mas ouço que vós mesmo me ofereceis a paz: Convertimini ad me, ait Dominus, et convertar ad vos (5) – Convertei-vos a mim, diz o Senhor, e eu me converterei a vós. Vós mesmo, ó Jesus, a quem tenho ofendido, quereis ser o meu advogado: Ipse est propitiatio pro peccatis nostris (6) – Ele é a propiciação pelos nossos pecados. Não Vos quero fazer nova injúria desconfiando da vossa misericórdia. Pesa-me de toda a minha alma de Vos ter desprezado, ó Bem supremo; pelo sangue que derramastes por mim, recebei-me em vossa graça.

Pater, non sum dignus vocari filius tuus (7) – Meu Pai e meu Redentor, não sou mais digno de ser vosso Filho, depois de ter renunciado tantas vezes ao vosso amor; mas fazei-me digno com os vossos merecimentos. Graças Vos dou, meu Pai, graças Vos dou e Vos amo. Ah, só a lembrança da paciência com que me tendes suportado tantos anos, e das graças que me tendes dispensado, depois de tantas injúrias que vos causei, deveria fazer-me viver sempre abrasado em vosso amor. Vinde, pois, meu Jesus, não quero mais repulsar-Vos, vinde morar em meu pobre coração. Amo-VOs e quero amar-Vos sempre. Abrasai-me sempre mais, lembrando-me o amor que me mostrastes.

Minha Rainha e Mãe, Maria, ajudai-me, rogai a Jesus por mim; fazei com que, no tempo de vida qeu ainda me resta, me mostre grato a Deus, que me amou tanto, ainda depois de eu o ter ofendido tão gravemente.

Referências:
(1) Lc 12, 49
(2) Sl 108, 5
(3) Sl 68, 9
(4) Jó 22, 17
(5) Zc 1, 3
(6) Jo 2, 2
(7) Lc 15, 21

OBS: Santo Afonso indulgenciou esta Novena da seguinte forma: para cada dia da Novena, recebemos Indulgência de 300 dias. Para o dia do Natal ou num dia da Oitava, recebemos Indulgência Plenária se fizermos e cumprirmos as obras prescritas da Confissão e da Comunhão.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 68-71)

domingo, 20 de dezembro de 2020

Jesus Menino se oferece à justiça divina como nossa vítima

 Tire o maior proveito desta Novena de Natal seguindo os passos

para se fazer a Oração Mental proposta por Santo Afonso!

Oblatus est, quia ipse voluit – Ele foi oferecido, porque ele mesmo quis (Is 53, 7)

Sumário. Todos os sacrifícios oferecidos a Deus no correr de quarenta séculos, não foram bastante eficazes para remir o homem. Por isso, o Verbo divino, apenas feito homem, ofereceu-se a si mesmo para vítima da divina justiça, e por nosso amor aceitou a morte com todos os padecimentos que a deviam acompanhar. Fê-lo o divino Menino logo na sua primeira entrada no mundo. E nós, já chegados ao uso da razão, que temos feito por seu amor? Talvez que desde então tenhamos começado a ofendê-lo.

Jesus Menino

Jesus Menino


I. O Verbo divino, no primeiro instante em que se fez homem e criança, no seio de Maria, ofereceu-se a si mesmo, sem reserva, aos sofrimentos e à morte, para o resgate do mundo. Sabia que todos os sacrifícios de ovelhas e de bois, oferecidos antigamente a Deus, não puderam resgatar as culpas dos homens. Era preciso que uma pessoa divina pagasse em lugar dos homens o preço do resgate. Por isso disse ele, conforme nos ensina o Apóstolo: Hostiam et oblationem noluisti (1) – Não quiseste hóstia nem oblação. Meu Pai, todas as vítimas que Vos foram oferecidas até hoje, não foram suficientes, nem puderam sê-lo, para satisfazer à vossa justiça. Vós me preparastes este corpo passível, afim de que eu possa aplacar-Vos e salvar os homens com o preço do meu sangue. Ecce venio – eis que venho. Eis-me aqui disposto a aceitar tudo e a submeter-me inteiramente à vossa vontade. – Relutava a parte inferior da alma que naturalmente tinha horror de uma vida e morte tão cheias de padecimentos e de opróbrios. Mas venceu a parte racional da alma, que, inteiramente submissa à vontade do Pai, aceitou tudo, de sorte que desde aquele instante Jesus começou a padecer todas as angústias e dores que devia sofrer nos anos da sua vida terrestre.

Foi assim que se houve Jesus desde a sua primeira entrada no mundo. Mas, ó Deus, como é que nos temos havido nós para com Jesus, desde que, chegados ao uso da razão, começamos a conhecer pela luz da fé os sagrados mistérios de nossa Redenção? Quais são os pensamentos, os projetos, os bens que foram objeto do nosso amor? Prazeres, passeios, desejos de grandeza, vinganças, sensualidades; eis os bens que nos prenderam o afeto do coração. Mas se ainda temos fé, é mister que mudemos afinal a nossa vida e os nossos afetos. Amemos um Deus que tanto tem padecido por nós.

II. Ó meu Senhor, quereis que Vos diga como me tenho havido para convosco durante a minha vida? Desde o despontar da razão comecei a desprezar a vossa graça e o vosso amor. Mas Vós o sabeis melhor do que eu mesmo; não obstante suportastes-me, porque ainda me quereis bem. Eu andava fugindo de Vós, e Vós viestes à minha procura chamando-me. Foi esse mesmo amor que Vos fez baixar do céu, afim de buscar as ovelhas perdidas, que Vos fez suportar-me e não me abandonar. Meu Jesus, agora Vós me buscais e eu Vos busco. Sinto que a vossa graça me auxilia; auxilia-me com o arrependimento de meus pecados, que detesto mais que qualquer outro mal; auxilia-me inspirando-me um grande desejo de Vos amar e dar-Vos gosto. Sim, meu Senhor, quero amar-Vos e agradar-Vos quanto puder.

Mas o que me faz temer, é a minha fraqueza e insuficiência, consequência dos meus pecados. Maior todavia é a confiança que a vossa graça me inspira fazendo-me colocar a minha esperança nos vossos merecimentos, e dizer com toda a segurança: Omnia possum in eo qui me confortat (2) – Tudo posso naquele que me conforta. Se sou fraco, Vós me dareis força contra os inimigos; se sou enfermo, espero que o vosso sangue será o meu remédio; se sou pecador, espero que me fareis santo. Reconheço que outrora tenho cooperado para a minha perdição, porque nos perigos deixei de recorrer a Vós. Para o futuro, meu Jesus e minha Esperança, quero sempre recorrer a Vós e de Vós espero todo o auxílio, todo o bem. Amo-Vos sobre todas as cosias e não quero amar senão a Vós. Ajudai-me, Vo-lo suplico, pelo merecimento de tantos sofrimentos que desde menino suportastes por mim. Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo, permiti que Vos ame. Se Vos tenho desprezado, abrandem-Vos as lágrimas de Jesus Menino que Vos roga por mim. Respice in faciem Christi tui (3) – Põe os olhos no rosto de teu Christo. Eu não mereço as graças, mas merece-as esse Filho inocente que Vos oferece uma vida de dores, afim de que useis de misericórdia comigo.

E vós, ó Mãe de misericórdia, Maria, não deixeis de interceder por mim. Sabeis quanto confio em vós, e bem sei que não desamparais quem recorre a vós.

Referências:
(1) Hb 10, 5
(2) Fl 4, 13
(3) Sl 83, 10

OBS: Santo Afonso indulgenciou esta Novena da seguinte forma: para cada dia da Novena, recebemos Indulgência de 300 dias. Para o dia do Natal ou num dia da Oitava, recebemos Indulgência Plenária se fizermos e cumprirmos as obras prescritas da Confissão e da Comunhão.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 66-68)

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

NO INFERNO SOFRE-SE SEMPRE

 


Cruciabuntur die ac nocte in saecula saeculorum – Serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos (Ap 20, 10)

Sumário. Consideremos que o inferno é um cárcere tristíssimo, no qual se sofrem todas as penas, e todas elas eternamente. De sorte que passarão cem mil séculos, passarão cem milhões, e o inferno estará ainda no seu princípio. Ora, esse inferno nos está também preparado, se não nos aplicarmos ao serviço de Deus, se o ofendermos pelo pecado. Quantos dentre os que, como nós, meditaram nesse horroroso cárcere, estão agora nele queimando para sempre!

I. Considera que o inferno não tem fim; sofrem-se nele todas as penas, e todas elas eternamente. De sorte que passarão cem anos de sofrimentos, passarão mil, e o inferno terá apenas começado. Passarão cem mil, cem milhões, mil milhões de anos e de séculos, e o inferno estará ainda no seu princípio. – Se um anjo fosse nesta hora dizer a um reprobo que Deus o quer livrar do inferno, mas quando? Quando tiverem passado tantos milhões de séculos quantas são as gotas de água, as folhas das árvores, e os grãos de areia que existem no oceano e na terra, vós havereis de ficar pasmos; mas a verdade é que aquele reprobo sentiria mais alegria com tal notícia do que vós se vos dessem a notícia de haverdes sido eleito rei de um grande reino. Sim, porque o reprobo diria consigo: É verdade que devem passar tantos séculos, mas chegará o dia em que terminarão. Porém, os séculos hão de passar, e o inferno estará no seu princípio; suceder-se-á tantas vezes igual número de séculos, quantos são os grãos de areia, as gotas de água, as folhas das árvores, e ainda o inferno estará no seu princípio. – Cada reprobo de boa vontade proporia a Deus esta condição: Senhor, aumentai as minhas penas tanto quanto vos aprouver; prolongai-as tanto quanto for da vossa vontade, mas ponde-lhe um termo qualquer dia e ficarei contente. Mas não, esse fim nunca chegará.

Se o pobre reprobo pudesse ao menos iludir-se e consolar-se dizendo: Quem sabe? Talvez um dia Deus se apiede de mim e me livre do inferno! Mas não, o desgraçado reprobo terá incessantemente diante da vista a sentença de sua condenação eterna, e dirá: Todas as penas que agora estou sofrendo, o fogo, os lamentos, nunca mais terão fim? Nunca! E quanto tempo durarão? Sempre, sempre! Ó nunca! Ó sempre! Ó eternidade! Ó inferno! Como? Os homens o creem, e pecam e continuam a viver no pecado?

II. Irmão meu, põe sentido; lembra-te de que o inferno é também para ti, se cometeres o pecado. Já está ardendo essa fornalha horrorosa debaixo de seus pés, e no momento em que estás lendo isto, quantas almas caem nela! Lembra-te que, se uma vez caíres ali, nunca mais poderás sair. – Se alguma vez mereceste o inferno, dá graças a Deus por não te ter lançado nele. Procura o mais depressa possível reparar o mal feito, chora os teus pecados e emprega os meios mais aptos para a tua salvação. Confessa-te quanto antes, lê cada dia um pouco em um ou outro livro espiritual; pratica a devoção a Maria Santíssima recitando cada dia o Terço e jejuando cada sábado: resiste às tentações, chamando logo por Jesus e Maria: foge das ocasiões do pecado, e se Deus te chamar para deixares o mundo, faze-o, obedece. Tudo quanto se fizer para livrar-se de uma eternidade de penas, é pouco, é nada: Nulla nimia securitas, ubi periclitatur aeternitas(1) – <> Quantos eremitas foram viver em grutas nos desertos, afim de fugir do inferno! E tu, o que fazes depois de teres merecido tantas vezes o inferno? Que fazes? Que fazes? Vê que te condenas. Entrega-te a Deus e dize-lhe:

Eis-me aqui, ó Senhor meu: quero fazer tudo quanto me pedirdes. Graças Vos dou por me terdes suportado até hoje com tanta paciência; agradeço-Vos as luzes que agora me destes, fazendo-me ver a minha insensatez, e o mal que fiz ultrajando-Vos com tão numerosos pecados. Ah! Jesus, doce Salvador meu, detesto-os e arrependo-me de toda a minha alma. Amo-Vos sobre todas as coisas. Vós não me condenastes ao inferno, afim de que eu comece a amar-Vos. Sim, quero amar-Vos, e quero amar-Vos muito. Dai-me a força para compensar com o meu amor os desgostos que Vos tenho dado. † Doce Coração de Maria, sede minha Salvação (2)

Referências:
(1) São Bernardo
(2) Indulgência de 300 dias, cada vez

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 48-50)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

JESUS MENINO TOMA SOBRE SI TODOS OS PECADOS DOS HOMENS

 



Justificabit ipse iustus servus meus multos, et iniquitates eorum ipse portabit - O meu servo justo justificará muitos, e tomará sobre si as iniquidades deles (Is 53, 11)

Sumário. Jesus Cristo quis não somente tomar a aparência de pecador, senão ainda tomar sobre si todos os pecados dos homens e satisfazer por eles, como se fossem os seus próprios. Desde criança viu em particular todos os pecados, de cada um de nós, e aquela vista cruciou-lhe a alma muito mais, do que em seguida a crucificação e a morte cruciaram-lhe o corpo. Eis ai a bela maneira de que recompensamos o amor de nosso divino Salvador.

I. Considera que o Verbo divino, fazendo-se homem, não somente quis tomar a aparência de pecador, mas ainda tomar sobre si todos os pecados dos homens e satisfazer por eles, como se fossem os seus próprios: Iniquitates eorum portabit – <<Tomará sobre si as iniquidades deles>>; Acrescenta Cornelio a Lapide: ac si ipse ea perpetrasset – <<como se eles mesmo as tivesse cometido.>> – Consideremos aqui como o Coração de Jesus Menino, já então carregado de todos os pecados do mundo, se devia sentir oprimido e angustiado, vendo que a justiça divina exigia dele plena satisfação. Ele conhecia bem a malícia de cada pecado, por quanto na luz da Divindade que sempre o acompanhava, conhecia, imensamente melhor do que todos os homens e todos os anjos, a bondade infinita de seu Pai, e o seu infinito direito a ser respeitado e amado. E via diante de si, como que em longas fileiras, uma multidão inumerável de pecados, a serem cometidos por aqueles mesmos homens, pelos quais deveria padecer e morrer.

Uma vez o Senhor deixou ver a Santa Catarina de Genova a fealdade de um só pecado venial. Foi tão grande o espanto e a dor da Santa, que caiu sem sentidos em terra. Ora, qual não deve ter sido a aflição de Jesus Menino, quando, no mesmo instante em que baixou à terra, viu posta diante de si a multidão imensa de todos os delitos humanos, pelos quais deveria satisfazer! – Então viu em particular todos os pecados de cada um de nós. Diz o Cardeal Hugo, que os algozes o fizeram padecer exteriormente, crucificando-o; mas nós interiormente, cometendo o pecado – focerunt eum dolere extrinsecus, crucifigendo; sed nos peccando, intrinsecus. Quer dizer que cada pecado nosso afligiu mais a alma de Nosso Senhor Jesus Cristo, do que a crucificação e a morte lhe afligiram o corpo. Eis ai a bela maneira de que cada um que tem lembrança de haver ofendido o Salvador com pecados mortais, lhe recompensou o divino amor.

II. Meu amado Jesus, já que Vos tenho ofendido, sou indigno de receber graças; mas pelos merecimentos das dores que padecestes e oferecestes a Deus, ao ver todos os meus pecados, e em satisfazer por eles a divina justiça, concedei-me um raio da luz na qual Vós então lhes conhecestes a malícia, e uma parte da abominação com que Vós então os detestastes. Será, pois, verdade, ó meu amável Salvador, que eu, desde que nascestes e em cada momento da nossa vida, tenha sido o algoz que Vos crucificaram? E essa dor têla-ei renovado e aumentado todas as vezes que tornei a ofender-Vos? – Ó Senhor, Vós já morrestes para me salvar; porém, para minha salvação não basta a vossa morte, se de minha parte não deteste, mais do que qualquer outro mal, as ofensas que Vos tenha feito, e não me arrependa delas com sincera dor. Vós mesmo deveis dar-me essa dor, e Vós a concedeis a quem a pede. Pelos merecimentos de todas as penas que padecestes em terra, eu Vos peço: dai-me dor de meus pecados, mas uma dor que seja proporcionada à minha maldade. Ajudai-me, ó Senhor, a fazer o ato de contrição que agora quero fazer.

Ó Deus eterno, supremo e infinito Bem, eu, verme miserável, tive animo de desrespeitar-Vos e de desprezar a vossa graça. Mais do que todos os outros males, detesto e odeio as injúrias que Vos tenho feito; delas me arrependo de todo o coração, não tanto por causa do inferno merecido, como por ter ofendido a vossa bondade infinita. Espero, pelos merecimentos de Jesus Cristo, obter o perdão; e com o perdão espero também obter a graça de Vos amar. – Amo-Vos, ó Deus, digno de um amor infinito, e sempre quero dizer-Vos: eu Vos amo, eu Vos amo, eu Vos amo. Como a vossa querida Santa Catarina de Genova, ao contemplar-Vos crucificado, também eu, prostrado agora a vossos pés, quero dizer-Vos: Meu Senhor, nenhum pecado mais, nenhum pecado mais. Não, Vós, ó Jesus, não mereceis ser ofendido: mereceis somente ser amado. Redentor meu, ajudai-me. – Maria, minha Mãe, valei-me; não vos peço outra coisa, senão que eu viva amando a Deus na vida que ainda me resta. 

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

8 DE DEZEMBRO: FESTA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA

 



Clique na imagem acima para ler a Bula Ineffabilis Deus, de S.S. Pio IX, que definiu em 8 de dezembro de 1854, o Dogma da Imaculada Conceição de Nossa Senhora.

E abaixo colocamos dois sermões: um do do Pe. Carlos Mestre, FSSPX, por ocasião da Solenidade da Imaculada Conceição, em 2018 e outro do Pe. Samuel Bon, FSSPX, pela mesma Festa em 2019.

http://catolicosribeiraopreto.com/




segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

DEUS ENTREGA O PRÓPRIO FILHO À MORTE PARA NOS DAR A VIDA

 



Deus autem, qui dives est in misericórdia, propter nimiam caritatem suam, qua dilexit nos, et cum essemus mortui peccatis, convivificavit nos Christo – “Deus que é rico em misericórdia, por causa da extrema caridade com que nos amou, também quando mortos estávamos pelos pecados, nos convivificou em Cristo” (Ef 2, 4)

Sumário. Pelas nossas culpas nós, pobres pecadores, já estávamos todos mortos e condenados ao inferno. Deus, porém, por causa do imenso amor que tem às nossas almas, quis restituir-nos à vida, enviando à terra o seu Filho unigênito para morrer por nós. Pois dizei-me: Se Jesus Cristo morreu por nosso amor, não é mais do que justo que nós somente para Ele vivamos, e que Ele seja o único senhor dos nossos corações?

I. Considera que o pecado é a morte da alma; visto que esse inimigo de Deus nos priva da graça divina, que é a vida da alma. Assim nós, os pobres pecadores, já estávamos todos mortos por nossa culpa e todos condenados ao inferno. Deus, porém, por causa do imenso amor que tem às nossas almas, quis restituir-nos à vida. Que fez? Enviou à terra o seu Filho unigênito a fim de morrer e com a sua morte recuperar-nos a vida. — É com razão que o Apóstolo chama esta obra de amor: nimiam caritatem, excesso de amor. Com efeito, nunca o homem pudera nutrir esperança de receber a vida de um modo tão amoroso, se Deus não houvera excogitado esse meio de remi-lo.

Estavam mortos todos os homens, e não havia para eles remédio. Mas o Filho de Deus, pelas entranhas de sua misericórdia, desceu do céu a restituir-nos à vida. É exatamente por isso que o Apóstolo chama Jesus Cristo vita nostra, nossa vida. Eis que o nosso Redentor, já encarnado e feito menino, nos diz: Veni ut vitam habeant, et abundantius habeant (1) — “Eu vim para eles terem vida, e para a terem em maior abundância”. Jesus veio e escolheu a morte para si, a fim de nos dar a vida. — É, pois, justo que vivamos unicamente para um Deus que se dignou de morrer por nós. É justo que o único senhor de nosso coração seja Jesus Cristo, porquanto deu o seu sangue e a sua vida para o ganhar. Ó meu Deus, quem será tão ingrato e tão desgraçado que, sabendo pela fé que um Deus morreu para lhe grangear o amor, se recuse a amá-Lo, e renunciando à amizade divina, queira fazer-se, por sua livre vontade, escravo do inferno?

II. Ó meu Jesus, se Vós não tivésseis aceitado e padecido a morte por mim, teria eu ficado morto no meu pecado sem esperança de me salvar e de poder amar-Vos. Mesmo depois que com a vossa morte me obtivestes a vida, eu muitas vezes tenho tornado a perdê-la voluntariamente pelos meus pecados. Morrestes para Vos assenhorardes do meu coração, e eu, rebelando-me contra Vós, escravizei-o ao demônio. Tenho-Vos desrespeitado e dito que não Vos queria para meu Senhor. Tudo isso é verdade, mas é também verdade que não quereis a morte do pecador, mas que se converta e viva, e Vós morrestes a fim de nos dardes a vida.

Amado Redentor meu, pesa-me de Vos ter ofendido; perdoai-me pelos merecimentos de vossa Paixão. Dai-me a vossa graça; dai-me aquela vida que me adquiristes com a vossa morte, e de hoje em diante reinai como supremo senhor em meu coração. Não, não quero mais que seu senhor seja o demônio, que não é meu Deus, que não me ama e nada tem padecido por mim. Em tempos passados foi ele não o verdadeiro senhor de minha alma, senão o injusto possuidor. Vós só, Jesus meu, sois o meu verdadeiro Senhor, Vós que me haveis criado e remido com o vosso sangue; Vós só me haveis amado e amado tanto. É justo que eu seja unicamente vosso no tempo de vida que me resta. Dizei-me o que quereis que eu faça, pois que eu quero fazê-lo. Castigai-me como quiserdes: aceito tudo. Poupai-me somente o castigo de ter de viver sem o vosso amor; fazei com que Vos ame, e depois disponde de mim segundo a vossa vontade.

— Maria Santíssima, meu refúgio e minha consolação, recomendai-me a vosso Filho; a sua morte e a vossa intercessão são a minha única esperança.

Referências:

(1) Jo 10, 10

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 28-30) 


segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Recompensa da devoção ao Sagrado Coração: a Perseverança

 

Neque creatura alia poterit nos separare a caritate Dei – “Nenhuma criatura nos poderá separar do amor de Deus” (Rm 8, 39)

Sumário. Pode-se dizer que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é um penhor e sinal de predestinação, porque este Coração é o coração mais amante, mais reconhecido, mais misericordioso, mais desejoso da nossa salvação. É um Coração divino, criado de propósito para nos amar e ser amado por nós. Se os corações que se amam, buscam unir-se para não se separarem mais, o Coração de Jesus deve desejar imensamente unir-se às almas de uma maneira inseparável no céu.

I. Pode-se dizer sem exageração que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é um penhor e sinal de predestinação. É evidente que este Coração é o coração mais amante: é todo amor para nós. O divino Salvador ama todos os homens, pois deu a sua vida por todos eles sem exceção; mas “Ama com afeto especial aqueles que O amam” — Ego diligentes me diligo (1). Que belo testemunho de amor é a devoção ao Sagrado Coração, que não é outra coisa senão um exercício de amor. Ora, se os corações que se amam, buscam unir-se para não se separarem mais, o Coração de Jesus deve desejar imensamente unir-se às almas de uma maneira inseparável, pela união perfeita e eterna do paraíso.

Demais, o Coração de Jesus é de tal modo reconhecido, que não pode deixar sem recompensa um copo de água fria dado por seu amor. Como poderia abandonar, na última hora, a quem o honrou por tantas orações, comunhões, boas obras feitas na intenção de Lhe agradar? Santo Hilarião, chegada a hora da morte, animava-se dizendo:

“Minha alma, que temes? Não serviste a Jesus Cristo durante setenta anos? Seu Coração, que é tão reconhecido, poderia te abandonar agora que tens tanta necessidade do seu socorro?”

Deveríamos, porventura, temer por causa dos nossos pecados passados? Mas temos de tratar com um Deus cujo Coração é tão misericordioso, que mais ardentemente deseja nos conceder o perdão dos nossos pecados, do que nós obtê-lo, segundo diz São João Crisóstomo. “Ele se gloria de usar misericórdia com os culpados”, diz o profeta (2) — Expectat Dominus, ut misereatur vestri, e perdoa-lhes, apenas lhe pedem perdão. Pois bem! Este Deus cheio de clemência, a quem fará misericórdia senão àqueles que tiverem honrado durante a vida o seu Coração, infinitamente misericordioso, e lhe tiverem oferecido tantos atos de reparação, tantas generosas satisfações, pelos seus próprios pecados e pelos dos outros?

II. Quão própria é a devoção ao Sagrado Coração para nos tranquilizar com relação ao Juízo. Porquanto, quem será o nosso Juiz? Consolemo-nos:

“A nosso Redentor mesmo é que o Padre Eterno confiou o poder de nos julgar” — Omne iudicium dedit Filio (3)

Também São Paulo nos anima dizendo: Quem é que vos condenará? É o mesmo Salvador que, para não nos condenar à morte eterna, condenou-se a si mesmo à morte por nós, e, não contente deste imenso benefício, continua ainda a interceder por nós no céu junto de Deus, seu Pai (4). Oh! Que sinal de predestinação é a devoção ao Sagrado Coração! Oh! Quão doce é morrer depois de ter sido discípulo fiel do Coração de Jesus.

Ah! Meu Jesus, quando virá o dia em que poderei dizer: Meu Deus, não posso mais Vos perder? Quando vos verei face a face e estarei certo de Vos amar com todas as minhas forças durante toda a eternidade? Ó meu Bem supremo, meu único amor, enquanto eu viver cá na terra, estarei sempre em perigo de Vos ofender e perder a vossa amável graça! Houve um triste tempo em que eu não Vos amava, em que desprezava o vosso amor, agora arrependo-me de toda a minha alma e confio que já me haveis perdoado; amo-Vos de todo o meu coração, desejo fazer tudo o que posso, para Vos amar e Vos agradar. Contudo, estou sempre exposto ao perigo de Vos recusar o meu amor e afligir o vosso divino Coração que tanto amor me tem.

Ah! Meu Jesus, vida e tesouro da minha alma, não o permitais. Se esta desgraça extrema tivesse de me suceder, fazei antes que eu morra neste momento do modo mais doloroso; eu o aceito e Vos darei as graças por isto. Eterno Pai, pelo amor de Jesus Cristo e pelos merecimentos do seu divino Coração, não me desampareis no meio dos perigos que me cercam. Castigai-me quanto quiserdes, mas preservai-me da desgraça de perder o vosso amor. Maria, minha boa Mãe, obtende-me do Coração tão generoso do vosso Filho a perseverança na sua amizade.

Referências:
(1) Pv 8, 17
(2) Is 30, 18
(3) Jo 5, 22
(4) Rm 8, 34

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 462-464)

SEJA UM BENFEITOR!