quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Visitas ao Santíssimo


"Vinde a mim vós todos que trabalhais e vos sentis atribulados, e eu vos aliviarei"
 
(Palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo - Mt 9, 28).


No tabernáculo reside o Filho de Deus, oferecendo-se sem cessar a seu eterno Pai em adoração e ação de graças, em expiação e reparação dos nossos pecados, e em petição das graças necessárias para a nossa salvação.

No silêncio do santuário Jesus a todos convida, a todos chama para lhes dar força, alívio e consolação.

Vinde, pois, visitar frequentemente a Jesus sacramentado para o adorar e lhe agradecer, em reparação e desagravo pelo esquecimento e ingratidão dos homens, e para pedir suas graças e bênçãos divinas.

PRIMEIRA VISITA
Visita de adoração


Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.

Ó Jesus, Criador e Redentor meu, aqui presente neste augusto sacramento com o vosso corpo, sangue, alma e divindade, tão real e perfeitamente como estais no céu, eu vos adoro com o mais profundo respeito, bendigo a vossa divina majestade, glorifico a vossa magnificência, e louvo a vossa beleza infinita.

Só vós, ó Jesus, sois a consolação, a alegria e a felicidade de minha alma; só a vós, Senhor, todas as criaturas no céu e na terra devem render glória e adoração.

Eu vos adoro, meu Jesus, em nome de todas as criaturas, principalmente daquelas que não vos adoram.

E para que minha pobre adoração mais vos agrade, ofereço-vos, meu divino Redentor, todos os atos de adoração dos santos apóstolos e confessores, dos gloriosos mártires e das santas virgens, dos anjos que vos fazem guarda de honra aqui diante do sagrado tabernáculo, dos arcanjos que estão diante do vosso trono, no céu, e de todos os querubins e serafins.

Em particular, vos ofereço, meu amado Jesus, a adoração de São João Apóstolo, vosso amigo angélico, de São José que tanto vos ama, e sobretudo de vossa Mãe, a Virgem imaculada, Maria Santíssima.

Aceitai propício e benigno, ó meu divino Salvador, este ato de adoração que eu vos faço, em união com os vossos anjos e santos, e pelo Coração puríssimo de vossa Mãe imaculada, e fazei que sempre me aproxime de vós com a mais viva fé, devoção e amor, a fim de ter a dita inefável de adorar-vos um dia com os anjos e santos, na glória eterna do céu. Assim seja.

SEGUNDA VISITA
Visita de agradecimento


Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.

Ó meu clementíssimo Jesus, quão grandes e incompreensíveis são as graças que me concedestes e todos os dias me concedeis com liberalidade infinita, não obstante a minha miséria e os meus pecados!

Agradeço-vos, Senhor, ter-me dado a vida e todas as criaturas que destinastes ao meu serviço.

Agradeço-vos, meu piedosíssimo Jesus, vos terdes feito homem, por meu amor, e morrido na cruz para me salvar.

Agradeço-vos a Santa Igreja que fundastes na terra, os santos sacramentos que instituístes, o me terdes feito nascer na fé católica, nela me conservado até hoje, e o não me terdes deixado morrer em pecado, dando-me o tempo e a graça suficiente para fazer penitência.

Agradeço-vos todas as graças que me concedeis de contínuo para minha santificação, e todos os benefícios que a cada passo me dispensais.

Em modo especial, Senhor, quero agradecer-vos o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, onde habitais conosco, onde sois alimento de minha alma, dando-me vida, força, consolação e alento.

Agradeço-vos, hoje, em particular... (alguma graça especial obtida, ou não mencionada nesta oração).

Ó meu amável Jesus, desejo que toda a minha vida seja um ato contínuo de agradecimento, por tudo quanto por mim fizestes com tanta bondade e misericórdia. Fazei que eu vos possa louvar e bendizer num hino perpétuo de ação de graças, com todos os anjos e santos do céu, pelos séculos dos séculos. Assim seja.

TERCEIRA VISITA
Visita de reparação


Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.

Senhor meu, Jesus Cristo, quantas vezes vos tenho ofendido na minha vida passada*! Pesa-me, Senhor, de todo o meu coração. Arrependo-me de todos os meus pecados, não só por ter merecido os vossos castigos, mas muito mais por ter sido tão ingrato contra vós, que sois infinitamente bom e amável. Perdoai-me, Senhor, pelo preciosíssimo sangue que por mim derramastes.

Ó pacientíssimo Coração de Jesus, continuamente ofendido e injuriado pelos homens ingratos, eu vos adoro e vos amo com todo o afeto do meu coração, e para reparar de algum modo o esquecimento e a ingratidão dos pecadores, ofereço-vos meus pobres atos de amor, unidos ao fervor dos serafins, e não cessarei, Senhor, em toda a minha vida, de exaltar-vos e bendizer-vos.

Vencei, ó Jesus, com vossa misericórdia infinita, a obstinação dos pecadores; iluminai-os, convertei-os, atraí-os todos ao vosso amor. Sede médico caritativo, pastor amantíssimo, pai extremoso de todos os que vivem longe de vós, nas trevas do pecado, do erro e do vício.

Sede propício a todos nós, ó misericordiosíssimo Jesus, purificai as nossas almas no vosso sangue precioso, e conduzi-nos todos ao reino do vosso amor. Assim seja.

QUARTA VISITA
Visita de petição


Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.

Piedosíssimo Jesus, em vosso nome e pelo vosso sangue, peço-vos perdão de todos os meus pecados, dos quais sinceramente me arrependo, e a graça de nunca mais vos tornar a ofender.

Abençoai, Senhor, o meu corpo e a minha alma, os meus pensamentos, palavras e obras, a minha vida e minha morte.

Aumentai-me a fé, a esperança e a caridade. Fazei que o vosso santo amor abrase todo o meu coração. Dai-me uma sincera caridade para com o próximo, tratando a todos como irmãos, amando-os e socorrendo-os em todas as suas necessidades.

Jesus, manso e humilde de coração, fazei meu coração semelhante ao vosso.

Dai-me paciência. Preservai-me do pecado contra a castidade, fazendo-me servir-vos de coração puro, e limpo de corpo.

Abençoai os meus trabalhos; fortalecei a minha saúde e confortai-me nas minhas aflições. (Aqui pode pedir graças particulares).

Ó meu bom Jesus, dai-me a graça de uma boa morte, assisti-me na minha agonia, fazei que eu morra no vosso amor, para receber a coroa de glória que tendes preparado aos vossos eleitos. Assim seja.

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* A expressão "vida passada" refere-se à vida de pecados que a pessoa possuía, antes de arrepender-se e confessar-se.

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Manual da Paróquia. Compilado por Mons. Leovigildo Franca. Rio de Janeiro, Vozes, 5ª. edição, 1950, p.72-76.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Quarenta horas

Nos dias 6,7 e 8 de Setembro estaremos realizando na Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória/ES, mais uma edição da gloriosa oração das Quarenta Horas. Contribua para que o altar fique muito bonito para Nosso Senhor nestes dias! Sua doação será revertida em flores, velas e ornamentos que estarão para o culto adorável da Presença Real!




GERUZA ALGRIGUES DE AMORIM NASS
CONTA CAIXA FÁCIL: 00002516-5
AGÊNCIA: 3084
OPERAÇÃO: 023
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Para quem não sabe, esta devoção consiste em expôr Nosso Senhor Eucarístico por quarenta horas ininterruptas para adoração dos fiéis, em espírito de reparação pelos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele sofre, especialmente pelo modernismo.

Rezaremos de maneira especial por todos os benfeitores.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O Filho desobediente

A mais freqüente queixa dos pais sobre os filhos é, sem dúvida, quanto à desobediência:

- "Não obedecem";
- "Dá-se uma ordem, eles nem ligam";
- "Hora de dormir, ninguém os tira da televisão";
- "Marca-se horário para os estudos: não respeitam";
- "Já se falou mil vezes que não cheguem atrasados para as refeições: não há jeito";
- "Estamos cansados de dizer que não deixem os objetos fora dos lugares: eles nem escutam"; etc. etc.

Um enorme rosário de lamúrias, que terminam sempre por uma espécie de indulgência plenária aplicável aos pais: "Essas crianças de hoje são muito diferentes das do meu tempo."
E explicam:

- "Lá em casa duvido que um filho levantasse a voz para o papai!"
- "Ordem dada era ordem cumprida, gostássemos ou não."
- "Quem era louco para chegar atrasado para a refeição?"
- "Bastava um olhar do velho, ia todo mundo para a cama."
- "Nós sabíamos obedecer!"

E encerram como num estribilho: "Mas essas crianças de hoje"...

De quem é a culpa

Lançando aos filhos a pecha de desobedientes, estão os pais, astuciosamente, desculpando-se. Na verdade, não há diferença tão grande entre as crianças de hoje e as de antigamente.

As crianças são as mesmas, com as eternas características da infância, os mesmos interesses profundos, a mesma receptividade educacional, as mesmas exigências de afeto, de segurança, de formação. As diferenças dos tempos, superficiais, não lhes atingem a estrutura. Nalguns pontos dificultam a obra dos educadores; mas noutros a facilitam.

Alguns pais é que mudaram. Abandonaram os cuidados da educação, abriram mão dos deveres, afrouxaram a vigilância, fugiram à formação dos filhos, demitiram-se dos mais sagrados encargos, capitularam ante as crianças, e se queixam de que estas são culpadas.

Tinham em mãos a autoridade: perderam-na. Receberam a criança ao nascer - e não crescida e deformada. Se não lhe deram a orientação devida, a criança é vítima, e não culpada!

Se os antigos se faziam obedecidos a simples olhar, é que não se contentavam em ser autoridade, mas sabiam ter autoridade: isto é, manter a superioridade, que a própria natureza impõe ao filho de forma tão impressionante. Prova disto é que, ainda hoje, os que têm autoridade conseguem os mesmos resultados de outrora, embora por meios consentâneos com os tempos.

Mas os tempos mudaram

Não é possível proceder hoje do mesmo modo que antigamente, agir com rigores, exigir aqueles extremos. Mas também não é possível largar os filhos a si mesmos, sob pretexto de que a educação moderna exige liberdade, ou de que a mãe precisa de trabalhar fora, para... dar melhor educação (?) às crianças, ou de que os pais que trabalham precisam de repouso quando chegam à casa (e podem aborrecer-se (?) com problemas de crianças), ou simplesmente por comodismo, "vida social intensa" e outras alegações congêneres.

Há os que desejam acertar. Sabem que não se pode hoje educar como foram educados, mas sentem dificuldade em adaptar-se aos novos moldes, pois não foram preparados para isto. (Infelizmente continua o tremendo erro de não se cuidar da preparação dos futuros pais. Mesmos os colégios católicos ensinam mil coisas às jovens, mas não lhes ensinam a ser mães, embora o desejo de casar lhes seja o mesmo de sempre.)

É com estes que desejamos conversar, para lhes oferecermos a ajuda que merecem, pelas intenções que os animam.

Porque desobedecem

Os que desejam realmente corrigir os filhos procurem descobrir as causas das desobediências. Conhecida a causa, importa removê-la: tirada a causa, cessa o efeito.

Apontaremos algumas causas da desobediência infantil.


A. Da parte dos pais:

- Não têm autoridade;
- Não sabem mandar;
- São muitas ordens, algumas impossíveis;
- Não velam pela execução das ordens;
- Querem impor-se mais pela força que pelo amor;
- Não mantêm coerência, proibindo hoje o que permitiram ontem;
- Desentendem-se, um proibindo e o outro permitindo;
- Cedem, quando a criança se exaspera ou insiste;
- Mandam o contrário para conseguir o que desejam;
- São implicantes, cansando e irritando as crianças;
- Exigem uma obediência imediata;
- Querem levar a obediência em excessos, humilhando a criança;
              - Não preparam os filhos para a obediência


B. Da parte dos filhos

- Falta de compreensão, própria da idade;
- Fraqueza da vontade, que cede a interesses imediatos ou de ordem sensível;
- Hábito de fazerem o que lhes é proibido;
- Repugnância ao que lhes é ordenado;
- Aproveitamento das fraquezas do educador que:

a) cede com facilidade,
b) não pede contas do que manda,
c) ameaça, e deixa correr,
d) se desentende com os outros educadores; etc.

- Afirmação crescente de personalidade: passando da obediência passiva de criança à obediência ativa (consciente) de adolescente, querem saber o porquê das ordens, repelem as proibições injustas ou humilhantes;

- falta de preparação para a obediência.

Para poder mandar

Não basta ser autoridade, mas importa ter autoridade, para ser obedecido. Ai das autoridades de quem é preciso dizer-se o que disse Cristo dos escribas e fariseus: "Fazei o que eles dizem, não façais o que eles fazem" (Mt 23,3). Acima de tudo, é preciso pôrse em condições de mandar.

Dominar-se

O educador há de possuir o completo domínio de si. Quem se deixa dominar de qualquer sentimento ou paixão, perde a capacidade de comando: - isto vai de simples domínio do temor físico, passando pela timidez ou mera indecisão, até chegar ao seguro controle das mais profundas e violentas paixões.

Saber usar da autoridade

É ponto de suma importância. A improvisação é má conselheira.

Vejam-se os estágios do militar para chegar ao comando do exército... preciosa é neste aspecto, a família numerosa, na qual os irmãos mais velhos, delegados pelos pais, exercem autoridade sobre os pequeninos.

Saber obedecer

É caminho e escola do bom exercício da autoridade. Só sabe mandar quem sabe obedecer. Este preceito dos pedagogos é reconhecido pelos próprios educandos. Citando John Ruskin, o grande Foerster ("Instrucion ética de la juventud") conta que ele, discutindo com adolescentes de 14 e 15 anos sobre a obediência voluntária, propôs como tema: "Quem não aprendeu a obedecer, não sabe mandar." Os jovens frisaram não estar em condições de dar bem uma ordem que não experimenta em si as reações que ela provoca.

Conhecer o que manda

É preciso ter experiência do trabalho pedido, do sacrifício ordenado. E lembrar-se do que lhe custou aquilo na idade que têm agora os filhos. Hoje nos é fácil (ou não é...) passar uma hora calados, ficar sentados sem mudar de posição (o próprio reumatismo ajuda...). Hoje fazemos tranqüilamente serviços que nos despertavam repugnância aos 12 anos ou 15 anos.

Um educador não pode esquecer que já teve a idade que têm agora seus educandos. E se esquecer, perdeu a capacidade de educar.

Conhecer os filhos

Só quem os conhece pode lidar com eles. Há as características gerais da infância e da juventude, com suas diferenças de idade e de sexo. Mas há também a psicologia desta criança.

Não existe a criança teórica, ideal, de livro; existe a real, viva, com a qual vivemos, que ouve as nossas ordens, que tem essas e aquelas reações, com tal temperamento, e que o educador deve conhecer muito bem, para se lhe poder adaptar.

Saber mandar

Para que suas ordens sejam bem acolhidas, devem ser dadas com bons modos. Do contrário, ficarão em casa como a rainha da Inglaterra, que reina, mas não governa.

Finalidade da obediência

Com muita freqüência encontramos deplorável equívoco sobre o sentido da obediência.

Geralmente pais e até professores (formados em pedagogia!) querem é serem obedecidos. Por amor próprio, por autoritarismo, para ficar em paz, - pouco importa! - querem é ser obedecidos. Prontamente, sem explicações e sem delongas.

- A verdadeira obediência é aprendizagem do domínio de si - fim da educação. É enriquecimento moral, aproveitamento da experiência dos educadores para facilitar aos educandos os caminhos do futuro, sabedoria de quem aproveita um guia para evitar as erradas, cuidado do comandante que entrega o navio ao prático dos mares perigosos.

Por isso diz a Bíblia que serão vitoriosos os que sabem obedecer: "O homem obediente cantará vitória"(Pv. 21,28).

- É liberação: o homem se liberta das amarras do amor próprio e do orgulho, para reconhecer e acatar a autoridade. Não cede por medo ou interesse, mas age conscientemente, superando-se, dono de sua vontade até para abrir mão dela quando necessário.

- É mestra da vida. Se a vontade é fraca, ampara-se na obediência consciente e se fortalece. Se estreita, desenvolve-se. Se impetuosa, amansa e se canaliza para o bem.

- Ela não é virtude de criança, mas de homens feitos. Às crianças importa ensiná-la, orientando-a cuidadosamente para seu fim.

Algumas normas

Alguns marcos, para guia dos educadores de boa vontade, - graças a Deus, numerosos.

Obediência é meio e não fim

Não exijo obediência, para que a criança seja obediente, mas para que se eduque.

Adiante mostrarei que o fato de ser apenas obediente constitui grave perigo para o educando.

A obediência se orienta para a educação: ensina a criança a usar bem da liberdade. Vai afrouxando, na medida em que o educando cai aprendendo a orientar-se sozinho. Será eliminada, quando ele se tornar "governador de si mesmo", na feliz expressão de Guimarães Rosa.

O papel do educador é orientar, ensinar os caminhos, ajudar a marchar, retificar em caso de errada, estimular para o autodomínio, "como a águia que provoca seus filhos a voar, esvoaçando sobre eles" (Dt. 32,11). E tanto mais feliz se sente quanto mais percebe que se vai tornando dispensável.

Levar a criança a submeter-se, e não submetê-la

Quando me submeto, pratico ato livre, consciente; quando sou submetido, não: fui subjugado. No primeiro caso, obedeci; no segundo, fui domado.

Obedecer é querer o que outrem quer, e não fazer o que outrem manda. A obediência é ato da vontade que sabe vencer as dificuldades para querer. Por isso, a verdadeira obediência é filha da liberdade. Mas começa sendo mãe da mesma liberdade; isto é, preparando a criança para saber ser livre, para dispor de sua vontade, para dominar-se e inclinar-se no sentido em que a razão a chama (e não no sentido em que as paixões a empurram).

Como se vê, obediência implica o autodomínio. Está muito longe de ser o domínio que o educador exerce sobre os educandos. Mas este conceito, policial e totalitário, ainda é muito corrente, e continua fazendo a infelicidade dos educandos.

Nunca devemos perder de vista que o exercício da autoridade visa aos súditos não aos superiores, porque busca o bem moral daqueles, e não a satisfação destes.

O educador não deve impor a sua vontade, mas sim formar a do educando.

São pessoas distintas, com vontades distintas, com gostos diversos ou até contrários.

Não devo proibir-lhe algo "porque não gosto disso", mas porque isso não deve ser feito.

Não posso substituir sua vontade pela minha; mas devo formá-la para que ela saiba querer o bem e levá-lo à prática.

Pensássemos melhor nesta verdade (aliás, tão solar), e seríamos mais positivos que negativos em educação, ensinaríamos mais o que se há de fazer que o que se há de evitar, daríamos antes normas de vida que proibições.

A criança exige mais desenvolvimento que restrições

É ser em crescimento: deve realizar-se. Montessori disse muito bem: "A educação é ajuda positiva à expansão normal da vida". Não é proibindo a criança de agir que a desenvolveremos; mas ensinando-lhe a fazer o bem.

Nosso papel é canalizar-lhe as energias, e não reprimi-las. É apontar-lhe os caminhos, e não impedir-lhe a passagem. É ensinar-lhe a querer, e não a não querer. É dar-lhe meios para realizar-se física, sentimental, cultural, moral e religiosamente - pondo-a no caminho do homem integral.

Não é dizer-lhe: "Fica quieta", mas dizer-lhe "Realiza-te"...não é cortar-lhe as asas, mas ensinar-lhe a voar.



LIVRO: CORRIJA O SEU FILHO - MONS. ÁLVARO NEGROMONTE

Fonte:

sábado, 24 de agosto de 2013

Jovem Cristã


Dentro do meu peito tenho três corações: um de fogo para Deus, outro de carne para meu próximo, outro de bronze para mim - dizia Vicente Ferrer, santo e apostólico missionário.

Vamos lá, jovem cristã, de fato há também em teu peito alguma coisa de fogo, de carne, de bronze. Mas será na ordem citada pelo santo?
É bem possível que o mundo tenha as labaredas de teu coração, teus caprichos e vontades tenham suas compaixões e o próximo fique com o duro bronze da indiferença, do egoísmo cruel, do ódio e da vingança.

Tanta cristã é vagarosa em se aquecer pelas coisas de Deus, ou tão teimosa em ficar tíbia diante dos convites divinos. Se de fato tivesse um coração em chamas por Deus, iria inegavelmente receber o braseiro de amor que é Deus na Hóstia consagrada.

Almas suaves para consigo - eis como o Espírito Santo chama as criaturas que fogem dos sacrifícios onde quer que os encontrem, mesmo na sombra do dever de cada dia. Entretanto, esse coração de carne, senhorita, o deves empregar nas relações com o próximo, que reclama tua benevolência e teu perdão; que abusa da tua paciência, que exige heroísmos de tua parte, com uma sem-cerimônia alarmante.

Para teus caprichos e "suavidades" hás de contar com o coração diante de algum sacrifício, nada de lhes lembrar sofrimentos passados, ingratidões suportadas, amizades traídas.

E nota-te uma coisa: esse coração de carne, esse coração benévolo e compassivo para com o próximo, é um sol fecundo na sociedade. Pois toda ação compassiva conduz a outra. Um só ato desse gênero deita raízes em toda parte e das raízes brotam novas plantinhas. Um só ato benigno não morre, mas estende as ondas invisíveis de sua influência através de séculos.

Tendo no coração fogo para Deus, carne para o próximo e bronze para ti mesma, serás feliz e farás felizes a inúmeros seres. E a felicidade, o contentamento interno é a atmosfera na qual se fazem coisas por Deus.


Retirado do livro Audi Filia! Páginas para moças - Pe. Geraldo Pires de Souza

Fonte:

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Zelo a que é obrigado o padre


Cumpre notar que, num retiro eclesiástico, de todos os discursos a fazer, o mais importante, e de que se pode esperar mais fruto, é o que versa sobre o zelo; porque, se de entre os ouvintes, — como se deve esperar da graça do Senhor, — algum sacerdote vier a tomar a resolução de trabalhar, com ardor na salvação do próximo, ter-se há ganhado, não apenas uma alma, mas cem, mil almas, que se salvarão por meio desse padre.
Vamos falar neste capítulo:
  1. Da obrigação, que têm todos os padres de trabalhar na salvação das almas;
  2. Do prazer que dá a Deus o padre, que trabalha na salvação das almas; 
  3. Da salvação eterna e da grande recompensa que pode esperar de Deus o padre, que trabalha na salvação das almas; 
  4. Do fim, meios e obras do padre zeloso.

I
Da obrigação que incumbe aos padres

Lê-se na Obra imperfeita: Muitos padres e poucos padres: muitos no nome, poucos nas obras620. Está o mundo cheio de padres, mas poucos dentre eles trabalham por ser verdadeiros padres, isto é, por satisfazer a grande obrigação que o sacerdócio impõe, à obrigação de salvar almas. É uma alta dignidade a dos padres, visto que são cooperadores do próprio Deus621. Que há de mais nobre, diz o Apóstolo, que trabalhar com Jesus Cristo na salvação das almas, que ele resgatou com o seu sangue? É por isso que S. Dionísio Areopagita chamava à dignidade sacerdotal a mais divina de todas as dignidades622. De fato, como diz Sto. Agostinho, maior poder se exige para justificar um pecador, que para criar o Céu e a terra623. S. Jerônimo chamava aos padres os salvadores do mundo624, e S. Próspero dava-lhes o título de intendentes da casa real de Deus625. E primeiro Jeremias os tinha designado com o nome de pescadores e caçadores do Altíssimo: Hei de enviar muitos pescadores, diz o Senhor, e eles os pescarão; e depois, hei de enviar-lhes caçadores, e eles os procurarão, para os retirarem de todos os montes, e de todas as colinas e das cavernas626. É precisamente aos padres que Sto. Ambrósio627 aplica esta passagem. Os bons sacerdotes reconduzem a Deus os pecadores mais pervertidos e libertam-nos de todos os seus vícios: Monte, da montanha do orgulho; colle, da colina da pusilanimidade; e cavernis, dos maus hábitos, que trazem consigo as trevas para o espírito e o endurecimento para o coração.

Falando de Deus, diz Pedro de Blois: Na obra da criação, não teve Deus nenhum auxiliar, mas no mistério da redenção quis ter cooperadores628. Ao rei, diz S. João Crisóstomo, foram confiadas as coisas da terra, mas a mim, a mim sacerdote, as coisas do Céu629. Ainda que a bem-aventurada Virgem é superior aos apóstolos, diz Inocêncio III, nem por isso lhe confiou Deus as chaves do reino dos Céus, mas sim àqueles630.

O padre é chamado por S. Pedro Damião — guia do povo de Deus631; por S. Bernardo guarda da Igreja, que é a Esposa de Jesus Cristo632; e por S. Clemente um Deus terreno633. É na verdade por meio dos padres que se formam os santos na terra. Afirma S. Flaviano que a esperança e a salvação dos homens estão nas mãos dos sacerdotes634. E S. João Crisóstomo diz: Os nossos pais geraram-nos para a vida presente, os padres para a eterna635. Sem os padres, diz Sto. Inácio Mártir, não haveria santos na terra636. Muito antes tinha dito Judite que dos padres está dependente a salvação dos povos637. Ensinam os padres aos seculares a prática das virtudes, e é delas que depende a salvação deles. Isto fez dizer a S. Clemente: Honrai os padres que vos guiam pelo caminho da santidade638.

Bem alta pois é a dignidade do padre, mas à mesma altura está também a obrigação que lhe incumbe de trabalhar na salvação das almas. Ouçamos o que diz o Apóstolo: Todo o Pontífice escolhido dentre os homens, é estabelecido a favor dos homens no que respeita ao culto divino, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Depois ajunta: É necessário que o padre saiba condoer-se dos que estão na ignorância e se acham extraviados639. O padre pois recebeu de Deus uma dupla missão: a de o honrar pelos sacrifícios, e a de salvar as almas, instruindo os ignorantes e convertendo os pecadores.

Há uma diferença completa entre os seculares e os eclesiásticos: aqueles aplicam-se às coisas terrenas e só cuidam de si próprios; estes formam o povo eleito, encarregado de adquirir tesouros640, mas que tesouros? O ofício de clérigo, responde Sto. Ambrósio, é ganhar, não dinheiro, mas almas641. O mesmo nome de padre, em latim sacerdos, exprime a natureza das suas funções: segundo Sto. Antonino, que faz derivar esta palavra de642 sacra docens643, e segundo Sto. Tomás que a explica por sacra dans644. Honório de Autum pensa que presbyter vem de praebens iter, — o que mostra ao povo o caminho por onde se chega do exílio à patria645. Está isto de acordo com o sentir de Sto. Ambrósio, que chama aos padres os guias e dirigentes do rebanho de Jesus Cristo646. Donde o santo tira esta conclusão: Que a vida corresponda ao nome, que o nome não seja uma palavra vã; o que não podepoderia dar-se sem um crime enorme647. Se pois os nomes de Sacerdos e de Presbyter significam que o padre deve servir de sustentáculo às almas, guiálas no caminho da salvação, e conduzi-las ao Céu, necessário é, segundo a reflexão de Sto. Ambrósio, que o nome seja justificado pelas obras, para não ser um título vão; não aconteça que a honra das funções sacerdotais se torne um crime, ou uma ignomínia, como diz S. Jerônimo648.

Se quereis cumprir os deveres do sacerdócio, continua ainda S. Jerônimo, procedei de modo a salvardes a vossa alma, salvando os outros649. Preservar as almas da corrupção do mundo e conduzi-las para Deus, tal é, segundo Sto. Anselmo, a função própria do padre650. E segundo o abade Filipe da Boa Esperança, o Senhor separou os padres do resto dos homens, para que eles trabalhem, não só na sua própria salvação, mas ainda na dos outros651. Nasce o zelo do amor, como diz Sto. Agostinho652; assim como a caridade nos obriga a amar a Deus e ao próximo, também o zelo nos obriga primeiro a procurar a glória de Deus, e impedir que se ultraje o seu nome; depois a promover o bem do próximo e preservá-lo do mal.

Não digais: Sou um simples padre, sem cura de almas, basta que cuide de mim. Não; todo o padre é obrigado a trabalhar na salvação das almas, segundo as suas forças e a necessidade em que elas se encontrarem. Assim, quando as almas por falta de confessores se encontram em grande necessidade espiritual, até o simples padre está obrigado a confessar, como demonstramos na nossa Teologia moral (l. 6. n. 625). Se não tem a ciência precisa, para exercer esta função do seu ministério, está obrigado a adquirila.
É o sentir do Pe. Pavone, da Companhia de Jesus, e que não é destituído de razão. Com efeito, assim como o Padre eterno enviou Jesus Cristo à terra para salvar o mundo, assim também Jesus Cristo destinou os padres, para converterem os pecadores: Assim como meu Pai me enviou, assim eu vos envio653. Razão esta por que o Concílio de Trento exige, dos que aspiram ao sacerdócio, que sejam julgados idôneos para a administração dos sacramentos654. Estabeleceu Deus a Ordem sacerdotal neste mundo, diz o Doutor angélico, para que haja cá homens encarregados de santificar os outros, pela administração dos sacramentos655. E é especialmente para a administração do sacramento da Penitência que os padres estão colocados na terra, porque a seguir às palavras que acabamos de citar, — Eu vos envio como meu Pai me enviou, — S. João ajunta imediatamente656: Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo; aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados. Mas, se o perdoar os pecados é um dos principais deveres do padre, segue-se que é uma das suas principais obrigações aplicar-se a cumpri-lo, ao menos quando a necessidade o exigir; de contrário, merecerá a censura de ter faltado ao aviso que S. Paulo dirigia aos seus irmãos no sacerdócio: Nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus657.

São os padres destinados por Deus a serem o sal da terra, e assim preservarem as almas da corrupção dos pecados, conforme a reflexão do venerável Beda658. Mas, se o sal já não tem a propriedade do sal, para que serve ele, no dizer do Evangelho, senão para ser lançado fora da casa do Senhor e calcado aos pés de todos os transeuntes?659

O padre, diz S. João Crisóstomo, é como que o pai do mundo inteiro; deve pois tomar cuidado de todas as almas, que pelo seu ministério puder ajudar a salvar, correspondendo assim às vistas de Deus, de quem faz as vezes660. Além disto, os padres são os médicos encarregados por Deus da cura das enfermidades de todas as almas. Assim os chama Orígenes: Medicos animarum; do mesmo modo São Jerônimo: Medicos spirituales. E S. Boaventura ajunta: Se o médico abandona os doentes, quem tomará cuidado deles?661.

Demais, são os padres chamados muros da Igreja. Santo Ambrósio diz: Habet et Ecclesia muros suos (In 118, s. 22); e o autor da Obra imperfeita: Muri illius sunt sacerdotes (Hom. 10). Por Jeremias são também chamados as pedras que sustentam a Igreja de Deus662; e por Sto. Euquério as colunas que sustentam o mundo e o impedem de desabar663. Finalmente S. Bernardo os chama casa do próprio Deus. Dizemos pois com o autor da Obra imperfeita que se não cair senão parte do edifício, será fácil repará-lo664; mas se as
paredes da casa, se os alicerces, se as colunas que a sustentam vierem a cair, que reparação será ainda possível?

Também na Obra imperfeita os padres são chamados da vinha do Senhor665. Mas, ó Céu! exclama em gemidos S. Bernardo, os vinhateiros não se poupam nem a suores nem a fadigas, trabalham dia e noite na cultura das suas vinhas; pela sua parte porém que fazem os padres, a quem o Senhor encarregou o cultivo da sua vinha?666 Adormecem ociosos e consomem as suas forças no meio dos prazeres terrenos!

É grande a seara, mas são poucos os obreiros667. É certo que nem os bispos nem os pastores seriam bastantes para as necessidades dos povos; se Deus não tivesse mandado outros sacerdotes em socorro das almas, não estaria a sua Igreja bem provida.

Diz Sto. Tomás (2. 2. q. 184. a. 6) que os doze apóstolos, encarregados por Jesus Cristo da conversão do mundo, figuravam os bispos, e que os setenta e dois discípulos representavam todos os padres. Estes estão estabelecidos para trabalharem na salvação das almas, — fruto que o Redentor espera do ministério deles: Eu vos estabeleci para que vades pelo mundo e façais fruto668. Tal a razão por que Sto. Agostinho chama aos padres administradores dos interesses de Deus669. Receberam eles a missão de extirpar os vícios e as máximas perniciosas do meio dos povos, fazendo florescer em seu lugar as virtudes e as máximas eternas. No dia em que Deus eleva algum ordinando ao sacerdócio, impõe-lhe a mesma obrigação que outrora a Jeremias: Eis que hoje te estabeleci sobre as nações e os reinos, para que arranques, e destruas, e dissipes, e edifiques e plantes670.

Não sei como se poderá desculpar um padre que vê as necessidades instantes das almas, onde habita; que pode socorrê-las, quer ensinando-lhes as verdades da fé, quer pregando-lhes a palavra de Deus, ou ainda ouvindoas de confissão, e que o não faz por preguiça. Não sei, repito, como no dia do juízo um tal padre poderá escapar à reprovação e castigo com que o Senhor, no Evangelho, ameaça o servo negligente, que escondeu o talento. Tinha-lhe o senhor confiado o talento para que negociasse com ele, mas o servo deixou-
o estéril, e, quando lhe pediu conta dos lucros a feridos, respondeu: Escondi o vosso talento na terra; ei-lo, entrego-vos o que vos pertence671. Ora, é precisamente o que seu senhor lhe censura: Como assim, lhe diz, dei-te um talento para negociares; está aqui o talento, mas onde está o lucro? — Mandou então que lhe tirasse o talento, e deu-o a outro; depois fez lançar nas trevas exteriores esse servo inútil: Tirai-lhe o talento, dai-o ao que tem dez... e quanto ao servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores672. Por trevas exteriores, entende-se o fogo do inferno, que é privado de luz, isto é, que está fora do Céu, como explicam os intérpretes.

Santo Ambrósio673 e outros, como Calmet, Cornélio e Tirin, aplicam esta passagem do Evangelho aos que podem trabalhar na salvação das almas, e por uma negligência culpável, ou vão temor de pecar, deixam de o fazer. Que prestem atenção a esta passagem, diz Cornélio A-Lápide, os que por moleza ou temor de pecar, nem para a sua salvação nem para a do próximo, fazem uso dos talentos, ciência e outros dons que receberam de Deus; de tudo lhes há de pedir contas Jesus Cristo no dia do juízo674. E S. Gregório: Notem os padres ociosos, quem não quiser empregar o seu talento será privado dele e além disso condenado675. E Pedro de Blois: O que faz servir à utilidade de outrem o dom que recebera de Deus, merece que lhe seja acrescentado o que já tem; mas o que enterra o talento do Senhor, ver-se-á despojado do que parecia ter676. S. João Crisóstomo afirma não se poder persuadir de que um padre, que nada faz pela salvação do seu próximo, possa salvar-se677. Pois, aludindo, à parábola do talento, ajunta que a negligência dum tal padre, em usar do talento que lhe foi confiado, será o seu crime e a causa da sua condenação. Pouco lhe aproveitará, diz o santo, não ter perdido o talento que recebêra; o servo foi condenado precisamente por não ter aumentado e duplicado o seu. Em resposta aos que dizem — basta que salve a minha alma — escreveu Sto. Agostinho: Que dizeis vós? Esqueceis o que aconteceu ao servo que tinha escondido o seu talento?678

Segundo S. Próspero, ao padre não lhe basta para se salvar que viva santamente, porque se perderá com os que se perderem por sua culpa; e de que lhe servirá, ajunta ainda, não ser castigado pelas suas faltas pessoais, se o é pelos pecados dos outros?679 Lemos nos Cânones apostólicos: O padre que não tomar cuidado, nem do clero nem do povo, será separado dos seus irmãos e, se continuar na sua negligência, será deposto680. Como se atrevem a pretender a honra do sacerdócio, pergunta S. Leão, se não querem trabalhar pelas almas?681
Um decreto do Concílio de Colônia estatuiu que quem se introduzir no sacerdócio, sem a intenção de exercer as funções de vigário de Jesus Cristo, isto é, de trabalhar na salvação das almas, é um lobo e um bandido, segundo a expressão do Evangelho, e deve esperar um castigo tão terrível como certo682.

Santo Isidoro não hesita em declarar culpados de falta grave dos padres, que descuram ensinar os ignorantes ou converter os pecadores683. E S. João Crisóstomo exprime o mesmo pensamento: Estão condenados muitos, não por seus próprios pecados, mas por pecados alheios, que não impediram684. Falando dos simples padres, diz o Doutor angélico que aquele que, por negligência ou ignorância, não presta às almas os socorros do seu ministério, torna-se responsável diante de Deus pelas que podia salvar, e por sua falta não salvou685. É ainda o sentir de S. João Crisóstomo: Se o padre se contenta com salvar a sua alma, negligenciando as dos outros, será precipitado no inferno com os ímpios686.

Um sacerdote que tinha passado uma vida piedosa e retirada, encontrando-se em Roma prestes a morrer, interrogado a respeito dos seus terrores, respondeu: “Tremo, porque não tenho trabalhado em salvar almas”. Tinha razão para temer, porque o Senhor estabeleceu os sacerdotes para salvar as almas e libertá-las dos vícios. Se o padre não desempenhar a sua missão, terá de dar contas a Deus de todas as almas que se perderem por sua culpa: Quando digo ao ímpio: Tu morrerás, se pela tua parte o não advertires e não instares para que se converta e viva, morrerá o ímpio por causa da sua iniqüidade, mas Eu te pedirei contas do seu sangue687. Assim, diz S. Gregório, ao falar dos padres preguiçosos, que eles serão responsáveis diante de Deus por todas as almas que podiam socorrer, e de cuja perda se tornaram causa por sua negligência688.

Jesus Cristo resgatou as almas à custa do seu sangue689. Depois, como Redentor, confiou-as à guarda dos padres. Desgraçado de mim, exclamava S. Bernardo, vendo-se padre, se negligenciar a guarda deste depósito, isto é, as almas que o Salvador julgou mais preciosas que o seu sangue!690 Os simples fiéis só hão de prestar contas dos seus próprios pecados, diz o autor da Obra imperfeita, mas o padre há de responder pelos pecados de todos691. É o que o Apóstolo nos declara nesta passagem: Vigiam eles sobre vós, como quem há de dar contas a Deus das vossas almas692. Deste modo, ajunta S. João Crisóstomo, são imputados ao padre os pecados dos outros, a que ele por negligência não deu remédio693. Daí a reflexão de Sto. Agostinho: Se no dia do juízo cada um há de ter dificuldade em responder por si, — que será dos padres, a quem se pedirá contas das almas de todos os fiéis?694 E S. Bernardo, ao considerar os que se fazem padres, não para salvarem almas, mas para terem uma vida mais cômoda, exclama com dor: Ai! Melhor seria para eles cavar a terra ou mendigar, do que serem revestidos do sacerdócio; porque no dia de juízo se levantarão contra eles as lamentações de todas as almas que a sua preguiça fez condenar695.

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621. Dei enim sumus adjutores (1. Cor. 3, 9).
622. V. p. 10.
623. V. p. 12.
624. Sacerdotes Dominus mundi esse voluit salvatores (In Abd. 21).
625. Dispensatores regiae domus (De vita cont. l. 2. c. 2).
626. Ecce ego mittam piscatores multos, dicit Dominus, et piscabuntur eos; et post haec, mittam eis multos venatores, et venabuntur eos de omni monte, et de omni colle, et de cavernis petrarum (Jer. 16, 16).
627. In Ps. 118, s. 6.
628. In opere creationis, non fuit qui adjuvaret; in mysterio vero redemptionis, voluit habere coadjutores (Serm. 47).
629. Regi, quae hic sunt, commissa sunt; mihi coelestia, mihi sacerdoti (De Verbis Is. hom. 4).
630. Licet beatissima Virgo excellentior fuerit apostolis, non tamen illi, sed istis Dominus claves regni coelorum commisit (Cap. Nova quaedam de Poen. et Rem.).
631. Sacerdos, dux exercitus Domini (Opusc. 25, c. 2).
632. Sponsae Custodem (In Cant. serm. 77).
633. Post Deum, terrenus deus (Const. Apost. l. 2. c. 26).
634. Nihil honorabilius sacerdotibus; omnis enim spes atque salus in iis est (Ep. ad S. Leon).
635. Parentes in praesentem, sacerdotes in vitam aeternam nos generant (De Sacerdot. l. 3).
636. Absque sacerdotibus, nulla sanctorum congregatio (Ep. ad Tr.).
637. Vos estis presbyteri in populo Dei, et ex vobis pendet anima illorum (Judith, 8, 21).
638. Honorate sacerdotes, ut bene vivendi auctores.
639. Omnis namque Pontifex, ex hominibus assumptus, pro hominibus constituitur in iis quae sunt ad Deum, ut offerat dona et sacrificia pro peccatis. Qui condolere possit iis qui ignorant et errant (Hebr. 5, 1).
640. Regale sacerdotium... populus acquisitionis (1. Pet. 2, 9).
641. Clericatus, officium est quaestus, non pecuniarum, sed animarum (Serm. 78).
642. É repetição do que já fica dito a pág. 47.
643. Sacerdos, id est, sacra docens (Summ. p. 3. til. 14 c. 7. § 1).
644. Sacerdos, quasi sacra dans (P. 3. q. 22. a. 1).
645. Presbyter dicitur praebens iter populo de exilio ad patriam (Gemma an. l. 1. c. 181).
646. Duces et rectores gregis Christi (De dignit. sac. c. 2).
647. Nomen congruat actioni, ne sit nomen inane, crimen immane (Ibid. c. 3).
648. Detrimentum pecoris pastoris ignominia est (Reg. Monach. de Laude vit.).
649. Si officium vis exercere presbyteri, aliorum saltem fac lucrum animae tuae (Ep. ad Paulim.).
650. Sacerdotis proprium est, animas e mundo rapere, et dare Deo.
651. De medio populi segregantur, ut non solum seipsos, verum et populum tueantur (De dignit. cler. c. 2).
652. In Ps. 118, s. 30.
653. Sicut misit me Pater, et ego mitto vos (Jo. 20, 21).
654. Administranda Sacramenta idonei comprobentur (Sess 23, cap. 14. de Ref.).
655. Ideo posuit Ordinem in ea, ut quidam aliis sacramenta traderent (Suppl. q. 34. a. 1).
656. Haec cum dixisset, insufflavit, et dixit eis: Accipite Spiritum Sanctum: quorum remiseritis peccata, remittuntur eis.
657. Adjuvantes autem, exhortamur ne in vacuum gratiam Dei recipiatis (2. Cor. 6, 1).
658. Ut sales, condiant animos ad incorruptionis sanitatem.
659. Vos estis sal terrae. Quod si sal evanuerit, in quo salietur? ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras, et conculcetur ab hominibus (Matth. 5, 13).
660. Quasi totius orbis pater sacerdos est; dignum igitur est ut omnium curam agat, sicut et Deus, cujus fungitur vice (In 1. Tim. hom. 6).
661. Si medicus fugit aegrotos, quis curabit? (De Sex. Alis. Ser. c. 5).
662. Lapides sanctuarii (Thren. 4, 1).
663. Columnae sanctorum, merita sacerdotum sunt, qui nutantis mundi statum orationibus sustinent (Hom. de Dedic. eccl.).
664. Si pars domus fuerit corrupta, facilis est reparatio (Hom. 47).
665. Coloni populum, quasi vineam, colentes (Hom. 40).
666. Sudant agricolae, putant et fodiunt vinitores. Torpent otio, madent deliciis (Declam. n. 10. 11).
667. Messis quidem multa, operarii autem pauci (Matth. 9, 37).
668. Posui vos, ut eatis et fructum afferatis (Jo. 15, 16).
669. Eorum quae Dei sunt negociatores (Ad Fratr. in er. s. 36).
670. Ecce constitui te hodie super gentes, et super regna, ut evellas, et destruas, et disperdas, et dissipes, et aedifices, et plantes (Jer. 1, 10).
671. Abscondi talentum tuum in terra; ecce habes quod tuum est (Matth. 25, 25).
672. Tollite itaque ab eo talentum, et date ei qui habet decem talenta... et inutilem servum ejicite in tenebras exteriores.
673. De dignit. sac. c. 1.
674. Notent hoc, qui ingenio, doctrina, aliisque dotibus sibi a Deo datis, non utantur ad suam aliorumque salutem, ob desidiam vel metum peccandi; ab his enim rationem exposcet Christus in die judicii (In Matth. 25, 18).
675. Audiant quod talentum qui erogare noluit, cum sententia damnationis amisit (Past. p. 3.c. 1. adm. 26).
676. Qui Dei donum in utilitatem communicat, plenius meretur habere quod habet; qui autem talentum Domini abscondit, quod videtur habere, auferetur ab eo (De Inst. Episc.).
677. Neque id mihi persuasi, salvum fieri quemquam posse, qui proximi sui salute nihil laboris impenderit. — Neque juvabit talentum sibi traditum non imminuisse; immo hoc ille nomine perit, quod non auxisset et duplicasset (De Sacerd. l. 6).
678. Sufficit mihi anima mea; eia, non tibi venit in mentem servus ille qui abscondit talentum? (In Jo. tr. 10).
679. Ille cui dispensatio verbi commissa est, etiam si sancte vivat, et tamen perdite viventes arguere aut erubescat aut metuat, cum omnibus qui eo tacente perierunt, perit; et quid ei proderit non puniri suo, qui puniendus est alieno peccato? (De Vil. cont. l. 1. cap. 20).
680. Presbyter qui cleri vel populi curam non gerit, segregetur; et si in socordia perseveret, deponatur (Can. 57).
681. Qua conscientia honorem sibi debitum vindicant, qui pro animabus sibi creditis non laborant? (Ep. ad Turrib. c. 16).
682. Sacerdotio initiandus non alio affectu accedere debet, quam ad submittendos humeros publico muneri vice Christi in Ecclesia. Qui alio affectu sacros Ordines ambiunt, hos Scriptura lupos et latrones appellat... Quod ingens ultio tandem certo subsequetur.
683. Sacerdotes pro populorum iniquitate damnantur, si eos aut ignorantes non erudiant aut peccantes non arguunt (Sent. l. 3. c. 46).
684. Saepe non damnantur propriis peccatis, sed alienis quae non coercuerunt.
685. Si enim sacerdos, ex ignorantia vel negligentia, non exponat populo viam salutis, reus erit apud Deum animarum illarum quae sub ipso perierunt (De officio sacer.)
686. Si sacerdos suam tantum disposuerit salvare animam, et alienas neglexerit, cum impiis detrudetur in gehennam.
687. Si, dicente me ad impium: Morte morieris; — non annuntiaveris ei, neque locutus fueris ut avertatur a via sua impia, et vivat, ipse impius in iniquitate sua morietur, sanguinem autem ejus de manu tua requiram (Ezech. 3, 18).
688. Ex tantis procul dubio rei sunt, quantis, venientes ad publicum, prodesse potuerunt (Past. p. 1. c. 5).
689. Empti enim estis pretio magno (1. Cor. 6, 20).
690. Si depositum, quod sibi Christus sanguine proprio pretiosius judicavit, contigerit negligentius custodire (In Adv. Dom. s. 3).
691. Unusquisque pro suo peccato reddet rationem; sacerdotes, pro omnium peccatis (Hom. 38).
692. Ipsi enim pervigilant, quasi rationem pro animabus vestris reddituri (Hebr. 13, 19).
693. Quod alii peccant, illi imputatur (In Act. hom. 3).
694. Si pro se unusquisque vix poterit, in die judicii, rationem reddere, quid de sacerdotibus futurum est, a quibus sunt omnium animae requirendae? (Serm. 287. E. B. app.)
695. Bonum erat magis fodere, aut etiam mendicare. Venient, venient ante tribunal Christi; audietur populorum querela, quorum vixere stipendiis, nec diluerunt peccata! (Declam. n. 19).


Fonte: Retirado do Livro "A Selva", por Santo Afonso Maria de Ligório. Páginas 36-39.

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