segunda-feira, 24 de outubro de 2022

ROSÁRIO PELO BRASIL

 


A iniciativa - que tem como evento principal o dia 29 de outubro - reúne fiéis católicos de todo território nacional, pedindo a intercessão de Nossa Senhora, para que livre o Brasil do Comunismo Ateu. 


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Em 1917, a Santíssima Virgem veio, em Fátima, denunciar as últimas etapas de uma revolta iniciada há quinhentos anos. Ela denunciava um movimento revolucionário crescente que não tinha outro fim senão estabelecer uma sociedade contrária àquela organizada segundo a lei de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo Encarnado -- sociedade em que um decreto de morte havia sido dado à sua Santa Igreja Católica, mãe e mestra da Verdade. 


Uma dessas últimas etapas de revolta denunciadas por ela era justamente o materialismo ateu, preconizado sobretudo pelo comunismo. Esta ideologia, inimiga declarada de Deus, contraria todos os mandamentos de sua lei, apesar de poder disfarçar-se para conseguir seus fins, passando-se por tolerante e filantrópica. É suficiente olhar para as nações dominadas por ela: Coreia do Norte, China, Cuba, Nicarágua, Venezuela... 


A Igreja condenou, categoricamente, como intrinsecamente mau o comunismo. Ninguém pode ser, sob nenhuma hipótese, verdadeiro católico e socialista ou comunista. (Papa Pio XI)


A expansão do comunismo e de suas consequências, sem dúvidas, contaria com as forças do Inferno, e, por isso, a Santíssima Virgem nos advertiu em Fátima: "Só Nossa Senhora do Rosário vos poderá valer", e valer significa salvar. 


Católicos do Brasil, devido a nossos pecados e infidelidades, vemo-nos, nessas eleições, novamente ameaçados. O futuro dos nossos filhos, de nossas famílias, a própria lei natural e, sobretudo, a nossa salvação eterna de nossas almas podem estar ameaçados de uma maneira toda particular. 


Nossa Senhora havia profetizado a Segunda Guerra dizendo "se não pararem de ofender a Deus, virá uma guerra muito pior". Por isso, é hora de agir: a ação católica Rosário pelo Brasil pretende reunir o maior número de católicos possível, todos os sábados, sobretudo no DIA 29 DE OUTUBRO, nas ruas e praças públicas, suplicando, pela oração dos quinze mistérios do Rosário, a intervenção daquela única que pode nos socorrer, a vitoriosa de todas as batalhas de Deus, suplicando a Ela, Nossa Senhora, a graça de uma sincera conversão, nossa e de todo o clero, e junto a isso a graça da derrota da ameaçadora ideologia comunista. 


Queremos ver o Brasil voltar a ocupar o seu lugar, no pódio das nações, como o país mais católico do mundo. 


Que Nossa Senhora nos dê a graça de ver, mais uma vez, o maravilhoso espetáculo de sua vitória, como foi em Lepanto, em Viena, em Hiroshima, na Áustria, na França e no Brasil! 


Entre em contato conosco, cadastre sua cidade em nosso site, convide os fiéis católicos para rezar o Santo Rosário e vamos às ruas aos milhões com rosários nas mãos para suplicar a Santíssima Virgem que livre nosso País do comunismo ateu!


Louvados sejam o Santíssimo Sacramento do Altar e a Virgem concebida sem pecado original. 


Salve Maria!


Site do Rosário pelo Brasil: 

https://rosariopelobrasil.com.br/


Instagram Oficial: @rosariopelobrasil



sábado, 22 de outubro de 2022

Terceira palavra de Jesus Cristo na Cruz

 Maria e João aos pés da Cruz

Dicit matri suae: Mulier, ecce filius tuus. Deinde dieit discipulo: ecce mater tua – “Diz a sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois diz ao discípulo: Eis aí tua mãe” (Jo 19, 26-27)

Sumário. Consideremos como Jesus moribundo, volvendo-se para sua mãe, que estava ao pé da cruz, e indicando-lhe pelo olhar o discípulo predileto, lhe disse: Mulher, eis aí teu filho; e depois acrescentou dirigindo-se ao discípulo: Eis aí tua mãe. E assim Maria foi constituída mãe de todos os cristãos, e nós fomos feitos seus filhos. Ponhamos portanto na Santíssima Virgem toda a nossa confiança, e em todas as necessidades recorramos a ela por socorro. Mas ao mesmo tempo provemos pelas nossas obras que somos filhos dignos de seu amor.

I. Fogem as mães da presença de seus filhos moribundos; o amor não lhes permite assistirem a tal espetáculo, verem-nos sofrer sem que lhes possam trazer alívio. A divina Mãe, porém, quanto mais o Filho estava próximo a morrer, tanto mais se aproximava da cruz. E assim como o Filho sacrificava a vida pela salvação dos homens, ela oferecia a sua dor, compartilhando com perfeita resignação todos os seus sofrimentos e opróbrios. Pelo que o Senhor volvendo-se para ela, e indicando-lhe pelo olhar São João, que estava ao lado dela, disse: Mulier, ecce filius tuus – “Mulher, eis aí teu filho”.

Mas porque é que Jesus a chamou mulher e não mãe? Pode-se dizer que a chamou mulher, porque estava já próximo à morte e assim lhe falou para se despedir, como se dissesse: Mulher, em breve estarei morto, de modo que ficarás sem filho na terra. Deixo-te, portanto, a João, que te servirá e amará com amor de filho. A razão, porém, mais íntima, pela qual Jesus chamou Maria mulher e não mãe, é esta: quis Jesus assim patentear que é ela a grande mulher predita no livro do Gênesis, a qual havia de esmagar a cabeça do orgulho Lúcifer.

Disse Deus à serpente: Inimicitias ponam inter semen tuum et semen mulieris (1) – “Porei inimizade entre a tua descendência e a da mulher”. Isso indicava que, depois da perdição dos homens em consequência do pecado, e apesar da obra da Redenção, haveria no mundo duas famílias e duas descendências. Pela descendência do demônio é significada a família dos pecadores, pela descendência de Maria é significada a família santa que abrange todos os justos com seu chefe Jesus Cristo. De modo que a Virgem foi destinada a ser mãe tanto da cabeça como dos membros, que são os fiéis. – Queres saber se também és do número dos filhos espirituais de Maria? Examina se és animado pelo espírito de seu filho, Jesus Cristo.

II. Para compreendermos melhor ainda que Maria é mãe de todo bom cristão, já o Evangelista não quis chamar São João pelo seu nome próprio, mas pelo de discípulo; e logo em seguida acrescenta que o Senhor, volvendo-se para o discípulo, lhe disse: “Eis aí a tua mãe” – Ecce mater tua. Por esta razão escreve Dionísio o Cartusiano, que a divina Mãe, pelas suas orações e pelos merecimentos que adquiriu, especialmente pela assistência à morte de Jesus Cristo, alcançou para nós o podermos participar dos merecimentos da Paixão do Redentor. – Ponhamos, pois, na Santíssima Virgem toda a esperança e em toda a necessidade recorramos a ela, dizendo: Monstra te esse matrem – “Mostrai que sois minha mãe”. Mas tratemos ao mesmo tempo de pelas nossas obras nos mostrarmos seus dignos filhos – Monstra te esse filium.

Ó Rainha das dores, são demasiado caras a uma mãe as recordações de um filho querido que morre, e nunca mais lhe podem sair da memória. Lembrai-vos, pois, que na pessoa de São João vosso Filho me vos deu por filho, a mim que sou um pecador. pelo amor que votais a Jesus, tende compaixão de mim. Não vos peço bens terrestres. Vejo que vosso Filho morre por meu amor, de morte tão dolorosa; vejo que também vós, minha mãe inocente, padeceis por mim tantas dores; e vejo que eu, pecador miserável e réu do inferno pelos meus pecados, não tenho sofrido nada por vosso amor. Alguma coisa quero sofrer, antes que morra. É esta a graça que vos peço, e com São Boaventura vos digo que, se vos ofendi, justo é que eu sofra por castigo,; e, se vos servi, é justo que eu sofra em recompensa.

Ó Maria, alcançai-me uma grande devoção à Paixão de vosso Filho e uma lembrança continua da mesma. Pela aflição que padecestes ao vê-lo expirar na cruz, obtende-me uma boa morte. Minha Rainha, assisti-me nesse último momento, e fazei com que eu morra dizendo: † Jesus, Maria, José, eu vos dou meu coração e minha alma. Jesus, Maria, José, assisti-me na minha última agonia. Jesus, Maria, José, expire eu em paz na vossa companhia. (2)

Referências:

(1) Gn 3, 15
(2) Indulgência de 100 dias por cada uma destas jaculatórias

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 168-170)

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

As virtudes do Bom Ladrão e a Segunda palavra de Jesus na Cruz

 São Dimas, o Bom Ladrão e a 2ª Palavra de Jesus na Cruz

Amen dico tibi: Hodie mecum eris in paradiso – “Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43)

Sumário. Observam os santos Padres que o Bom Ladrão, reconhecendo em Jesus crucificado o seu verdadeiro Deus, confessando-O como tal na presença de seus inimigos e recomendando-se-Lhe, deu exemplos das mais sublimes virtudes. Pelo que o Senhor lhe fez com razão a bela promessa de que naquele mesmo dia havia de gozar das delícias do paraíso. Meu irmão, o Senhor não se mudou, e, portanto, se porventura tivéssemos imitado o ladrão em seus desvarios, imitemo-lo também na sua conversão sincera a Deus e também teremos a mesma sorte feliz.

I. Para que o nome de Jesus Cristo ficasse eternamente difamado, os judeus crucificaram-No entre dois ladrões, como usurpador sacrílego da divindade; cumprindo assim a profecia de Isaías: Et cum sceleratis reputatus est (1). — “Ele foi colocado no número dos malfeitores”. O Senhor permitiu esta malícia diabólica afim de nos dar um belo exemplo de conversão sincera e, ao mesmo tempo, uma prova exímia de sua infinita misericórdia.

Refere São Lucas que dos dois ladrões um ficou obstinado e outro se converteu. Este, vendo que seu companheiro perverso blasfemava contra o Senhor, pôs-se a repreendê-Lo dizendo que eles eram castigados conforme mereceram, mas que Jesus era inocente e não tinha feito mal algum. E depois , volvendo-se para o próprio Jesus, disse: Domine, memento mei, cum veneris in regnum tuum (2). — “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Com estas palavras, reconheceu-O por seu verdadeiro Senhor, e, segundo observa Arnoldo de Chartres, deu provas das mais belas virtudes: Ibi credit, poenitet, praedicat, amat, confidit et orat — “Ele crê, arrepende-se, prega, ama, confia e ora”.

Na cruz, o bom ladrão praticou a fé, crendo, como diz São Gregório, que Jesus Cristo, depois de morto, havia de entrar triunfante no reino de sua glória. Praticou penitência, confessando que merecia a morte e não se atrevendo, na palavra de Santo Agostinho, a esperar perdão antes da confissão de suas culpas. Pregou, exaltando a inocência de Jesus. Praticou, sobretudo, o amor para com Deus, aceitando com resignação a morte em expiação de seus pecados. Pelo que São Cipriano não hesita em chamá-lo verdadeiro mártir, batizado em seu próprio sangue. Felizes de nós, se, tendo seguido o ladrão em seus desvarios, o imitarmos também na sua conversão sincera a Deus! .

II. À súplica do bom ladrão, respondeu Jesus unicamente prometendo-lhe para o mesmo dia o paraíso:

“Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso”.

Escreve um sábio escritor que, em virtude desta promessa, o Senhor, no mesmo dia e imediatamente depois da morte, se lhe mostrou a descoberto e tornou-o felicíssimo, muito embora não lhe comunicasse todas as delícias do céu antes de ali entrar.

Consideremos neste fato a bondade de Deus, que sempre concede mais do que se lhe pede; porquanto, como observa Santo Ambrósio, o bom ladrão pediu tão somente a Jesus Cristo que se lembrasse dele e no mesmo instante Jesus Cristo lhe promete e lhe dá o paraíso. Observa, além disso, São João Crisóstomo, que antes do bom ladrão ninguém merecera a promessa do paraíso. Realizou-se então o que Deus disse pela boca de Ezequiel que, quando o pecador se arrepende de seus pecados com coração sincero, Deus os perdoa de tal modo, como se não se lembrasse mais das injúrias recebidas: Si autem impius egerit poenitentiam, omnium iniquitatum eius non recordabor (3).

Consideremos ainda que, para o mau ladrão, a cruz padecida com impaciência foi causa de maior perdição no inferno, ao passo que para o bom ladrão a cruz padecida com paciência se tornou escada do paraíso. – Feliz de ti, ladrão santo, que tiveste a ventura de unir a tua morte à de teu Salvador!

Ó meu Jesus, d’oravante consagro-Vos toda a minha vida, e peço-Vos a graça de, na hora da morte, poder unir o sacrifício de minha vida ao que oferecestes a Deus sobre a cruz. Pelos méritos desse vosso sacrifício espero morrer em vossa graça, amando-Vos com amor puro e livre de todo o afeto terreno, afim de continuar a amar-Vos com todas as minhas forças por toda eternidade. — Ó Maria, minha aflita Mãe, alcançai-me a santa perseverança.

Referências:

(1) Is 53, 12
(2) Lc 23, 42
(3) Ez 18, 21-22

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 165-167)

Jesus no Santíssimo Sacramento, modelo de virtude

 


Qui appropinquant pedibus eius, accipient de doctrina illius – “Os que chegam a seus pés, receberão da sua doutrina” (Dt 33, 3)

Sumário. Para a nossa salvação, é mister que no dia do juízo a nossa vida se ache conforme à de Jesus Cristo. Esforcemo-nos, pois, por imitar os exemplos luminosos de virtude que Ele nos dá continuamente no Santíssimo Sacramento da Eucaristia: a sua humildade profunda, a sua mansidão inalterável, aceitando de boa vontade o que Deus manda. Para suprirmos ao que nos falta, ofereçamos a Deus muitas vezes, e particularmente na missa, os merecimentos do divino Redentor.

I. Consideremos os belos exemplos de virtude que nos dá Jesus Cristo na Santíssima Eucaristia. Inefável é a sua paciência. Ele vê que a maior parte dos homens não O adora neste sacramento, nem O quer reconhecer pelo que é. Já antes da instituição sabia que muitas vezes os homens chegariam a calcar aos pés as hóstias consagradas e a atirá-las sobre a terra, à água e ao fogo.

Mas o que mais Lhe amargura o coração tão sensível, é o ver que também a maior parte dos que n’Ele creem, em vez de repararem tantos ultrajes pelos seus obséquios, ou vão à Igreja para o ofenderem pela sua irreverência, ou o deixam abandonado sobre os altares, desprovidos às vezes de lâmpada e dos ornamentos necessários. Tudo isso Jesus, escondido sob as espécies eucarísticas, o vê e sabe, e todavia sofre-o com paciência e fica calado. Oh, que exprobração de nossa loquacidade nos momentos de ira!

É igual à humildade de Jesus, pois que em nenhuma obra de seu divino amor se ocultou tanto como no mistério do Santíssimo Sacramento. Para nos inspirar confiança, e ao mesmo tempo, para nos dar um remédio de nosso orgulho, chegou a ocultar a sua Majestade, a esconder as suas grandezas, a consumir e aniquilar a sua vida divina. Pode, portanto, com razão dizer-nos de dentro do tabernáculo: Discite a me, quia mitis sum et humilis corde – “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração.” (1)

Mas sobretudo o Senhor nos dá na Eucaristia exemplos de obediência. Enquanto vivia na terra, diz São Lucas que Ele obedecia a Maria Santíssima e a São José (2). São Paulo acrescenta que Jesus se fez obediente a seu Pai Eterno até a morte na cruz (3). Mas neste sacramento Jesus vai mais longe ainda, pois aí quer obedecer não somente ao Eterno Pai, não somente a seus pais, mas a tantas criaturas quantos sacerdotes há, e não somente até à morte, mas enquanto durar o mundo. Coisa assombrosa! O Rei do céu desce à terra por obediência ao homem; e sobre os altares parece que não faz outra coisa senão obedecer aos homens, deixando-se tratar por todos conforme entenderem, sem replicar uma palavra, sem se subtrair à obediência. Ego autem non contradico, retrorsum non abii – “Eu não contradigo; não me retirei para trás.” (4)

II. Diz São Paulo que para nossa salvação é mister que no dia do juízo a nossa vida se ache conforme a de Jesus Cristo: Quos praescivit et praedestinavit conformes fieri imaginis Filii sui – “Os que Ele conheceu na sua presciência, também os predestinou para se fazerem conformes à imagem de seu Filhox” (5). Esforça-te, portanto, por imitares as virtudes exímias de que o divino Redentor nos dá na Santíssima Eucaristia; exemplos tão luminosos.

Por isso sê sempre e em tudo obediente às leis de Deus e aos preceitos da Santa Madre Igreja. Se tiveres a ventura de viver numa comunidade religiosa, considera todas as prescrições da Regra como ordens vindas do céu e a pessoa do superior como pessoa do próprio Deus.

Sê também humilde e prova sê-lo não somente com palavras, senão com obras, aceitando tranquilamente as humilhações, os desprezos e levando enquanto o permitir o teu estado, uma vida retirada e oculta. Mas, sobretudo, sê sempre paciente, suportando os defeitos do próximo, assim como este deve suportar os teus. Aceita também de boa vontade as cruzes que Deus te envia para teu bem. Para suprir as tuas faltas, oferece ao Senhor muitas vezes, e especialmente nas visitas a Jesus sacramentado ou na assistência à santa missa, os merecimentos de teu divino Redentor.

Pai Eterno, ofereço-Vos hoje todas as virtudes, todos os atos e todos os afetos do coração do vosso querido Jesus. Aceita-os em meu nome, e pelos seus merecimentos (que aliás são todos meus, porque Jesus m´os cedeu), dai-me aquelas graças que Jesus os pede por mim. Com esses merecimentos agradeço-Vos toda a misericórdia que tivestes para comigo. Com eles satisfaço o que Vos devo em expiação de meus pecados. Por meio deles espero de Vós todas as graças: o perdão, a perseverança, o paraíso e, sobretudo, o dom supremo do vosso amor.

Vejo que sou eu quem opõe impedimentos a tudo; remediai também a esta minha miséria. Eu Vô-lo peço em nome de Jesus Cristo, que prometeu: Si quid petieritis Patrem in nomine meo, dabit vobis – “Se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vô-lo dará” (6). Não m’o podeis portanto recusar. Senhor, o que quero é amar-Vos, dar-me inteiramente a Vós e nunca mais ser-Vos ingrato, assim como hei sido até agora. Olhai para mim e atendei-me; fazei que o dia de hoje seja o de minha conversão, para nunca mais deixar de Vos amar. Amo-Vos, meu Deus; amo-Vos, bondade infinita; amo-Vos, meu amor, meu paraíso, meu tesouro, meu tudo. Amo-vos também a vós Mãe de Deus e minha Mãe, Maria.

Referências:

(1) Mt 11, 29
(2) Lc 2, 51
(3) Fl 2, 8
(4) Is 50, 5
(5) Rm 8, 29
(6) Jo 16, 23

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 162-165)



quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Entrada da alma no céu

 A felicidade de entrar no céu

Laetatus sum in his, quae sunt mihi; in domum Domini ibimus – “Eu me alegrei no que me foi dito: iremos à casa do Senhor” (Sl 121, 1)

Sumário. Imaginemos ver uma alma que faz a sua primeira entrada no céu. Ó Deus! Qual será a sua consolação ao entrar pela primeira vez nessa pátria bem-aventurada, ao ver os parentes e amigos, os Anjos e os Santos; ao beijar os pés de Maria Santíssima, ao receber os amplexos de Jesus Cristo; ao ser abençoada pelo Pai celestial. Pois bem, é um ponto de nossa fé que gozaremos igual consolação, contanto que vivamos bem, ao menos durante o tempo que ainda nos resta. Ó dulcíssima esperança, tu nos deves confortar no meio das nossas mais duras tribulações.

I. Oh Deus! Que dirá a alma ao entrar no reino bem-aventurado do Céu? Imaginemos ver morrer essa virgem, esse jovem, que, tendo-se consagrado ao amor de Jesus Cristo, e, chegada a hora da morte, vai deixar esta terra. Sua alma apresenta-se para ser julgada; o Juiz acolhe-a com bondade e lhe declara que está salva. O seu Anjo da guarda vem ao seu encontro e mostra-se todo contente; ela lhe agradece toda a assistência recebida, e o anjo responde-lhe: Alegra-te, alma formosa; já estás salva; vem contemplar a face do teu Senhor.

Eis que a alma se eleva acima das nuvens, acima do firmamento e de todas as estrelas: entra no Céu. Que dirá ao penetrar pela primeira vez nessa pátria bem-aventurada, ao lançar o primeiro olhar sobre essa cidade de delícias? Os Anjos e os Santos saem-lhe ao encontro e lhe dão, jubilosos, as boas vindas. Que consolação experimentará ao encontrar ali os parentes e amigos que a precederam, e os seus gloriosos protetores! A alma quererá prostrar-se diante deles; mas os Santos lhe dirão: Guarda-te de o fazer; porque somos servos como tu: “Vide ne feceris; conservus tuus sum” (1).

Ela irá depois beijar os pés de Maria, a Rainha do paraíso. Que ternura não experimentará ao ver pela primeira vez essa divina Mãe, que tanto a ajudou a salvar-se! Então a alma verá todas as graças que Maria lhe alcançou. A Rainha celestial abraça-a amorosamente e a conduz a Jesus que a acolhe como esposa e lhe diz: “Veni de Libano, sponsa mea; veni, coronaberis” – “Vem do Líbano, esposa minha; vem, serás coroada” (2). Regozija-te, esposa querida, passaram já as lágrimas, as penas, os temores: recebe a coroa eterna que te alcancei a preço de meu sangue. Ah, meu Jesus! Quando chegará o dia em que eu também ouvirei de tua boca estas doces palavras?

II. Jesus mesmo acompanhará a alma bem-aventurada afim de receber a bênção de seu Pai divino, que a abraçará carinhosamente e a abençoará, dizendo: “Intra in gaudium Domini tui” – “Entra no gozo do teu Senhor” (3), e então fala-á participar da sua própria gloriosa beatitude.

Meu Deus, aqui tendes a vossos pés um ingrato, que foi criado por Vós para o Céu, mas que muitas vezes, na vossa presença, o renunciou por indignos prazeres, consentindo em ser condenado ao inferno. Espero que já me haveis perdoado todas as injúrias que Vos fiz e de que de novo me arrependo e quero arrepender-me até à morte. Quero também que Vós sempre as torneis a perdoar-me. Mas, ó Jesus, embora já me tenhais perdoado, sempre ficará sendo verdade que tive a audácia de amargurar-Vos, meu Redentor, que, para me conduzir ao vosso reino, sacrificastes a própria vida. Para sempre seja louvada e abençoada a vossa misericórdia, ó meu Jesus, que me haveis aturado com tamanha paciência, e que, em vez de me punir, multiplicastes para comigo as graças, as luzes e os convites.

Vejo, meu amantíssimo Salvador, que quereis deveras a minha salvação; quereis ver-me em vosso reino para eu Vos amar eternamente; mas quereis que primeiramente Vos ame nesta terra. Sim, quero Vos amar. Ainda que não houvesse paraíso, quisera amar-Vos por toda a vida, com toda a minha alma, com todas as minhas forças. Basta-me saber que Vós, meu Deus, desejais ser amado por mim. Assisti-me, meu Jesus, com a vossa graça; não me abandoneis. Minha alma é eterna; estou, pois, na alternativa de Vos amar ou de Vos odiar eternamente! O que eu quero é amar-Vos eternamente; quero amar-Vos muito nesta vida para Vos amar muito na outra. Disponde de mim como Vos aprouver; castigai-me como quiserdes; não me priveis do vosso amor, e depois fazei de mim segundo a vossa vontade. Meu Jesus, os vossos méritos são a minha esperança. Ó Maria, ponho toda a minha confiança na vossa intercessão. Livrastes-me do inferno, quando estava em pecado; agora, que desejo só a Deus, deveis salvar-me e tornar-me santo.

Referências:

(1) Ap 22, 9
(2) Ct 4, 8
(3) Mt 25, 21

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 159-162)

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A vida presente é uma viagem para a eternidade

 A vida presente é uma vida passageira

Non enim habemus hic manentem civitatem, sed futuram inquirimus – “Não temos aqui cidade permanente, mas procuramos a futura” (Hb 13, 14)

Sumário. Vendo tantos ímpios em prosperidade e tantos justos em tribulação, os próprios pagãos, guiados pela luz da razão, reconheceram que a terra não é nossa pátria, mas somente um lugar de passagem e de merecimento. Quão insensatos, pois, somos, se, sendo cristãos e crendo as verdades da fé, nos afeiçoamos aos bens deste mundo, do qual teremos de sair um dia e, entretanto, nos descuidamos de construir com as boas obras uma morada no outro mundo, onde ficaremos por toda a eternidade!

I. Vendo que nesta terra tantos ímpios vivem em prosperidade, e tantos justos, ao contrário, em tribulação, os próprios pagão, iluminados unicamente pela luz natural, reconheceram esta verdade que, dada a existência de Deus e sendo Deus justo, deve haver outra vida, onde os maus sejam castigados e os justos recebam o prêmio. Ora, o que os pagãos admitiram, seguindo unicamente a luz da razão, nós, os cristão, reconhecemo-lo pela fé:

“Não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura.”

A terra não é nossa pátria, é apenas um lugar de passagem, por onde, em pouco tempo, nos devemos dirigir à morada da eternidade: Ibit homo in domum aeternitatis suae (1) — “O homem irá à casa de sua eternidade”.

Assim, meu irmão, a casa que habitas não é tua morada; é uma hospedaria, de onde bem cedo e quando menos o imaginares, terá de sair. Sabe que, chegada a hora de tua morte, teus amigos mais caros serão os primeiros a expulsar-te. E qual então será a tua morada? Uma cova será a casa de teu corpo até o dia do juízo; e tua alma irá à casa da eternidade, quer no céu, quer no inferno.

Daí o conselho de Santo Agostinho: Hospes es, transis et vides — “És hóspede; vais passando e vês”. Bem louco seria o viajante que, achando-se de passagem num país, nele gastasse todo o seu patrimônio na compra de uma quinta ou casa, que dentro de breves dias teria de abandonar. Lembra-te, portanto, diz o Santo, que não és neste mundo senão um passageiro; não te afeiçoes ao que vês. Vê e passa; procura uma boa casa na qual terá de morar para sempre. — Se te salvares, feliz de ti! Que bela habitação não é o paraíso! Os mais belos palácios dos monarcas não passam de currais em comparação da cidade celeste, única que se possa chamar toda bela: Urbs perfecti decoris (2) — “Cidade de beleza perfeita”. Pelo contrário, ai de ti se te condenares! Estarias abismado num mar de fogo e de tormentos, desesperado, abandonado de todos e sem Deus. E por quanto tempo? Por toda a eternidade!

II. Meu irmão, queres saber qual será tua habitação na eternidade? Será a que tu mesmo tiveres escolhido por meio de tuas obras. Aviva a tua fé, e se pelo passado mereceste o inferno, chora o tempo que perdeste e procura remi-lo, empregando o que te resta unicamente em servires a Deus e em O amares de todo o teu coração.

Se não houvesse outro motivo, pensa que cada instante podes embelezar a casa de tua eternidade e enriquecê-la de imensos tesouros. Portanto não deixes para fazer amanhã o que puderes fazer hoje, porque o dia de hoje estaria perdido para ti e não voltaria mais. Se te fizessem doação de tanta terra quanto pudesses percorrer num dia, ou de tanto dinheiro quanto pudesses contar no mesmo tempo, como não havias de te apressar? E agora, que a cada momento podes adquirir tesouros eternos, quererás perder o tempo?

Ó meu Senhor, aí está a morada que mereci pelo meu procedimento: o inferno. Bendita seja para sempre a vossa misericórdia, que esperou por mim e me dá tempo para reparar as faltas. Bendito seja o sangue de Jesus Cristo que me alcançou esta misericórdia! Não, meu Deus, não quero mais abusar de vossa paciência. Pesa-me sobre todos os males de Vos ter ofendido, menos por ter merecido o inferno do que por ter ultrajado a vossa bondade infinita.

Se eu estivesse agora no inferno, ó meu soberano Bem, nem eu poderia amar-Vos, nem Vós me poderias amar. Amo-Vos e quero ser por Vós amado. Eu não o mereço, mas merece-O Jesus Cristo, que na cruz se Vos ofereceu em sacrifício, afim de que me pudésseis perdoar e amar. Pai Eterno, pelo amor de vosso Filho, concedei-me a graça de sempre Vos amar e de Vos amar muito. Amo-Vos, ó Filho de Deus, que morrestes por mim. — Amo-vos, ó Mãe de Deus, que pela vossa intercessão me obtivestes o tempo de fazer penitência. Alcançai-me ainda, ó minha Senhora, a dor de meus pecados, o amor de Deus e a santa perseverança.

Referências:

(1) Ecle 12, 5
(2) Lm 2, 15

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 157-159)

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

PRIMEIRA PALAVRA DE JESUS CRISTO NA CRUZ

 


Pater, dimitte illis: non enim sciunt quid faciunt — “Pai, perdoai-lhes; pois não sabem o que fazem” (Luc. 23, 34).

Sumário: Ó ternura do amor de Jesus! Os judeus, depois de O pregarem na cruz, injuriam-No e prorrompem em blasfêmias. Ao mesmo tempo, Jesus, movido pelo desejo de salvar a todos, volve-se ao Pai Eterno, roga-Lhe pelos que O crucificaram e procura desculpar o crime. Meu irmão, se pelos nossos pecados temos renovado a crucifixão do Senhor, não desanimemos; porque Jesus nos abrangeu também em sua oração. É, porém, necessário que Lhe imitemos o exemplo, perdoando a nossos inimigos e dando o bem pelo mal.

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I. Ó ternura do amor de Jesus Cristo para com os homens! Os judeus, depois de O pregarem na cruz, injuriam-No, insultam-No e prorrompem em blasfêmias; e Jesus, entretanto, que faz? Jesus, diz Santo Agostinho, não cuida tanto nos ultrajes que recebe da parte daquele povo, como no amor que O faz morrer para o salvar; e por isso, ao mesmo tempo que é injuriado pelos seus inimigos, volve-se ao Eterno Pai, pede perdão para eles e procura desculpar o crime nefando pela ignorância: Pai, perdoai-lhes; porque não sabem o quer fazem.

“Ó maravilha!” exclama São Bernardo; “Jesus Cristo pede perdão e os judeus gritam crucifige— crucifica-O.” E São Cipriano acrescenta: Vivificatur Christi sanguine qui effudit sanguinem Christi — “Recebem a vida pelo sangue de Cristo, aqueles mesmos que derramaram o sangue de Cristo”. Na sua morte, tinha o Senhor tamanho desejo de salvar a todos, que não deixa de fazer participar dos méritos de seu sangue àqueles mesmos que Lho extraem das veias à força de tormentos. Numa palavra, como diz Arnoldo de Chartres, ao passo que os judeus trabalham para se condenarem, Jesus Cristo se empenha em os salvar.

E não ficaram improfícuos os seus empenhos; pelo que, sendo mais poderosa para com Deus a caridade do Filho, do que a cegueira daquele povo ingrato, a oração de Nosso Senhor moribundo fez, como escreve São Jerônimo, que no mesmo momento muitos judeus abraçassem a fé; e, na opinião de São Leão, os milhares de judeus que se converteram pela pregação de São Pedro, foram o fruto da oração de Jesus Cristo.

Mas dirá alguém: Porque é que Jesus rogou ao Pai que lhes perdoasse, já que Ele mesmo lhes podia perdoar as injúrias? Responde São Bernardo que assim nos quis ensinar a orar pelos que nos perseguem. Por isso Santo Agostinho conclui: “Cristão, olha o teu Deus pendurado na cruz; ouve como roga pelos que O crucificaram e depois atreve-te a recusar o perdão ao irmão que te ofendeu”.

II. Cada vez que o pecador peca gravemente, diz São Paulo, pelo que depende dele calca aos pés o Filho de Deus, profana e despreza o seu sangue (1) e chega a renovar a sua paixão e morte: Rursum crucifigentes sibimet ipsis Filium Dei (2) — “Outra vez crucificam Jesus Cristo para si próprios”. — Naquela oração que Jesus Cristo fez por seus crucificadores, abrangeu o Senhor, pela sua divina providência, todos os pecadores e a nós particularmente. Eis porque podemos confiadamente dirigir-nos a Deus e dizer-lhe: Pater, dimitte! — Pai, perdoai-me!

Ó Pai Eterno, escutai a voz de vosso amado Filho, que Vos pede que me perdoeis. É verdade que o perdão é obra de misericórdia para conosco, visto que não o merecemos; mas é obra de justiça para com Jesus Cristo, que satisfez superabundantemente pelos nossos pecados. Em vista de seus merecimentos não podeis deixar de nos perdoar e de receber em vossa graça àquele que se arrepende das ofensas que Vos fez. Meu Pai, arrependo-me de todo o meu coração e antes quisera ter morrido mil vezes do que Vos ter ofendido.

Meu Deus, não quero ser obstinado como os judeus; quero mudar de vida; em compensação das ofensas que Vos fiz, quero, para o futuro, amar-Vos com mais fervor; e pelos merecimentos de Jesus Cristo, peço-Vos a graça de executar esta minha resolução. — Ó Maria, minha Mãe, sabeis que sou um pobre enfermo, perdido por causa de meus pecados; mas vosso Filho desceu do céu à terra expressamente para se fazer homem em vosso seio, e assim vos fez Rainha de misericórdia e Refúgio dos desesperados, para curar os enfermos e salvar os que estavam perdidos, desde que se arrependam de seus pecados. Curai-me, pois, e salvai-me pela vossa intercessão. (*I 668.)

1. Hebr. 10, 29.
2. Hebr. 6, 6.

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A MORTE DO JUSTO É A ENTRADA NA VIDA

 

morte_del_giusto_gHaec porta Domini, iusti intrabunt in eam — “Esta é a porta do Senhor, os justos entrarão por ela” (Ps. 117, 20).

Sumário. A morte, considerada segundo os sentidos, causa pavor e temor, mas considerada segundo a fé, é consoladora e desejável; porque é a porta da vida, pela qual forçosamente deve passar quem quiser entrar no gozo de Deus. Tal é a graça que Jesus Cristo nos alcançou pela sua morte. Pelo que os santos, enquanto estavam na terra, não desejavam senão sair do cárcere do miserável corpo e entrar no reino celestial. Se nós temos tamanho horror à morte, é porque amamos pouco ao Senhor.

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I. A morte, considerada segundo os sentidos, causa pavor e temor; mas considerada segundo a fé, é consoladora e desejável; porque, como observa São Bernardo, não só é o fim dos trabalhos e o remate da vitória, como também a porta da vida, pela qual deve passar forçosamente quem quiser entrar no gozo e contemplação de Deus: “Esta é a porta do Senhor, os justos entrarão por ela.” — São Jerônimo chamava a morte e lhe dizia: Aperi mihi, soror mea — “Ó morte, minha irmã, se me não abres a porta, não poderei entrar no gozo de meu Senhor”. São Carlos Borromeu, vendo em sua casa um quadro que representava um esqueleto com uma foice na mão, mandou chamar um pintor e ordenou-lhe que apagasse a foice e a substituísse por uma chave de ouro. Queria por este meio inflamar-se mais e mais no desejo da morte, porque é a morte que nos deve abrir o paraíso.

Se um rei, diz São João Crisóstomo, tivesse preparado para alguém uma habitação na sua própria morada e no entretanto o deixasse viver num curral, quanto não deveria esse homem desejar sair do curral para passar ao palácio régio? A alma nesta vida vive no corpo como numa prisão, de onde deve sair um dia para entrar no palácio do céu. É por isso que Davi orava assim: Educ de custodia animam meam (1) — “Livrai a minha alma de sua prisão”. E o santo velho Simeão, quando tinha nos braços o menino Jesus, não lhe soube pedir outra coisa senão a morte, para se ver livre das cadeias da vida presente. Nunc dimittis servum tuum, Domine (2) – “Agora, deixas ir o teu servo”. “Pede que o deixem ir”, diz Santo Ambrósio, “como se fosse retido.”

Qual não foi a alegria do copeiro de Faraó, quando soube por José que dentro em pouco devia sair da prisão e voltar a ocupar o seu posto! E não se regozijará uma alma que ama a Deus, sabendo que dentro em breve vai ser livre da prisão deste mundo e entrar na posse de Deus? É, pois, com razão que a morte dos santos se chama o seu nascimento; visto que pela morte nascem para a vida bem aventurada que nunca terá fim.

II. Lê-se na vida de São João o Esmoleiro, que um homem muito rico lhe recomendara seu filho único e lhe dera muitas esmolas, afim de obter longa vida para esse filho; mas pouco tempo depois o moço morreu. Queixando-se o pai amargamente da perda do filho, enviou-lhe Deus um anjo que lhe disse: “Pediste para teu filho longa vida. Pois bem, sabe que já está gozando dela no céu por toda a eternidade.” Tal é a graça que Jesus Cristo nos alcançou, conforme a promessa que nos foi feita pela boca do profeta Oséias: Ero mors tua, o mors (3) — “Ó morte, eu serei a tua morte”. Jesus, morrendo por nós, fez com que a morte se nos tornasse vida.

Ó Deus de minha alma, eu, miserável pecador, merecia uma morte desgraçada, porque Vos desonrei pelo passado, voltando-Vos as costas. Mas vosso Filho Vos honrou, sacrificando a vida na cruz. Pela honra que Vos deu vosso amado Filho, perdoai-me a desonra que Vos causei. Ó meu soberano Bem, arrependo-me de Vos ter ofendido; e prometo-Vos que doravante não hei de amar senão a Vós. A minha salvação, espero-a de vossa bondade. Tudo que atualmente tenho de bom é dádiva de vossa graça; a Vós me reconheço devedor de tudo: Gratia Dei sum id quod sum(4) — “É pela graça de Deus que sou o que sou.” Se pelo passado Vos desonrei, espero honrar-Vos eternamente, abençoando a vossa misericórdia.

Sinto um grande desejo de Vos amar; sois Vós quem me inspirais, e eu Vô-lo agradeço, ó meu amor. Continuai, continuai a ajudar-me do mesmo modo por que tendes começado; para o futuro peço ser vosso, todo vosso. Renuncio a todos os prazeres do mundo. Que maior gozo posso eu ter, do que amar-Vos, a Vós, meu Senhor tão amável e que tanto me tendes amado? É só amor que Vos peço, ó meu Deus, amor, amor. E espero pedir-Vo-lo sempre, até que, morrendo no vosso amor, eu chegue ao reino do amor, onde sem ter que o pedir, estarei cheio de amor e não deixarei nunca mais, um momento, de Vos amar em toda a eternidade e com todas as minhas forças. — Maria, minha Mãe, vós que amais tanto o vosso Deus e tanto O desejais ver amado, fazei com que eu O ame muito nesta vida, afim de O amar muito na outra e para sempre. (II 39.)

1. Ps. 141, 8.
2. Luc 2, 29.
3. Os. 13, 14.
4. I Cor. 15, 10.

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

2ª Campanha de Rosários pelo 2º turno das eleições

 


Análise do 1º turno e Campanha de Rosários pelo 2º turno das eleições




Quero rezar o Rosário, mas não consigo. O que fazer?


Eu gostaria tanto de rezar os quinze mistérios todos os dias, mas não consigo, o que fazer? Eis aqui dicas infalíveis.

“Quem reza se salva, quem não reza se condena” - Santo Afonso Maria de Ligório.


SEJA UM BENFEITOR!