sábado, 28 de dezembro de 2013
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
Os três espelhos
Uma menina de bons sentimentos, mas um pouco vaidosa, do colégio, onde era educada, escreveu à mãe, pedindo-lhe que lhe mandasse um espelho. A mãe lhe respondeu que em vez de um, mandar-lhe-ia três. Chegaram de fato três embrulhos. A menina abre o primeiro, e ali encontra um verdadeiro espelho, com a inscrição:
- Eis o que és.
Abre o segundo e lhe aparece a figura de uma caveira, com as palavras: – Eis o que serás:
Abre o terceiro, e ali vê uma imagem de Maria Imaculada, e a advertência:
- Eis o que deves ser.
A mocinha compreendeu qual era o desejo da mãe: beijou aquele espelho e se propôs querer para o futuro imitar as virtudes de Maria Santíssima, pretendendo-a como modelo.
Assim deveríamos fazer nós: ter em tudo por modelo Maria Santíssima.
Então, sim, poderíamos dizer que possuímos a verdadeira devoção a ela: a devoção que nos salvará, pois é esta a sentença do Abade Guerrico (que é o eco das divinas Escrituras, do ensinamento da Igreja e das doutrinas dos Santos Padres): “Qui virgini farnulatur securus est de Paradiso: Quem serve à Virgem, a essa Rainha tão poderosa, a essa Mãe tão boa, está seguro do Paraíso.
(A PALAVRA DE DEUS EM EXEMPLOS – G. Mortarino J.C. – Edições Paulinas, SP – 1ª. edição, 1961, pp. 386 – 387).
Fonte:
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Maria Santíssima, modelo de Paciência
Patientia vobis necessaria est: ut volutantem Dei facientes reportetis promissionem — “A paciência vos é necessária, a fim de que fazendo a vontade de Deus alcanceis a promessa” (Hebr. 10, 36)
Deu-nos Deus a Santíssima Virgem como exemplar de todas as virtudes, mas especialmente da paciência. Semelhante à rosa, ela cresceu e viveu sempre entre os espinhos da tribulação. Se, portanto, quisermos ser filhos desta Mãe, força é que procuremos imitá-la, abraçando com resignação as cruzes; e não somente as que nos vierem diretamente de Deus, mas também as que vierem da parte dos homens, tais como sejam as perseguições e os desprezos.
I. Sendo esta terra um lugar de merecimentos, chama-se com razão vale de lágrimas. Todos somos aqui postos para padecer e fazer, por meio da paciência, aquisição das nossas almas para a vida eterna, como já disse o Senhor: In patientia possidebitis animas vestras (1) — “Na paciência possuireis as vossas almas”. Deus nos deu a Virgem Maria para exemplar de todas as virtudes, mas especialmente da paciência. Pondera entre outras coisas São Francisco de Sales, que foi exatamente para este fim que nas bodas de Caná, Jesus Cristo deu à Santissima Virgem aquela resposta, com que mostrava estimar pouca as suas súplicas: Quid mihi et tibi est, mulier? — “Que há entre mim e ti, mulher?” Foi exactamente para nos dar o exemplo da paciência da sua Santa Mãe.
Mas que andamos excogitando? Toda a vida de Maria foi um exercício continuo de paciência; porquanto, como o Anjo revelou a Santa Brigida, a Bem-aventurada Virgem, semelhante à rosa, cresceu e viveu sempre entre os espinhos das tribulações. Só a compaixão das penas do Redentor foi suficiente para fazê-la martir de paciência, razão porque disse São Boaventura: Crucifixa Cruxifixum concepit — “A Crucificada concebeu o Crucificado”. — E quanto ela sofreu, tanto na viagem para o Egipto e na demora ali, como durante todo o tempo que viveu com o Filho na oficina de Nazaré, não cansemos de apreciá-lo dignamente. Mas deixando o mais de lado, não basta por ventura só a campanha que Maria fez a Jesus moribundo no Calvário, para fazer conhecer quão constante e sublime foi a sua paciência? Stabat iuxta crucem Iesu Mater eius (2) — “Ao pé da cruz de Jesus estava sua Mãe”. No dizer do B. Alberto Magno, precisamente pelo merecimento desta sua paciência foi ela feita nossa Mãe que compadecendo com o seu Filho nos gerou para a vida da graça: Maria facta est mater nostra, quos genuit Filio compatiendo.
II. Se desejamos ser filhos de Maria, é preciso que procuremos imitá-la na paciência, suportando em paz tanto as cruzes que nos vierem diretamente de Deus, isto é, a pobresa, as desconsolações espirituais, a enfermidade e a morte; como também as que nos vierem diretamente da parte dos homens, perseguições, despresos, injúrias e seduções. S. Gregório explicando este trecho de Oséias: Saepiam viam tuam spinis (3) — “Fecharei o teu caminho com espinhos”, diz que assim como a sebe de espinhos guarda a vinha, assim Deus cerca de tribulações os seus servos, para que não se afeiçoem ao mundo. De modo que, conclui São Cipriano, a paciência é a virtude que nos livra do pecado e do inferno, e enriquece-nos com merecimentos na vida presente e com a glória na outra. — É a paciência que faz os Santos, como diz São Tiago: Patientia autem opus perfectum habet, ut sitis perfecti et integri in nullo deficientes (4). Por esta razão, São João viu todos os Santos com palmas (símbolo do martírio) nas mãos (5); o que significa que todos os adultos que se salvam, devem ser mártires, ou de sangue ou de paciência. “Alegremo-nos, pois”, exclama São Gregório: “se sofrermos com paciência as penas desta vida, podemos ser mártires, sem o ferro dos algozes.” Oh, quanto nos aproveitará no céu cada pena sofrida por amor de Deus! — Se alguma vez o peso da cruz se nos afigurar demasiadamente duro, recorramos a Maria, que é chamada a medicina dos corações angustiados e a consoladora dos aflitos.
Ah! Senhora minha suavíssima! Padecestes inocente com tanta paciência, e eu, réu do inferno, recusarei padecer? Minha Mãe, peço-vos hoje esta graça, não de ficar livre das cruzes, mas de suportá-las com paciência. Por amor de Jesus vos peço, que sem tardar me alcanceis de Deus esta graça; de vós a espero. (*I 269)
Deu-nos Deus a Santíssima Virgem como exemplar de todas as virtudes, mas especialmente da paciência. Semelhante à rosa, ela cresceu e viveu sempre entre os espinhos da tribulação. Se, portanto, quisermos ser filhos desta Mãe, força é que procuremos imitá-la, abraçando com resignação as cruzes; e não somente as que nos vierem diretamente de Deus, mas também as que vierem da parte dos homens, tais como sejam as perseguições e os desprezos.
I. Sendo esta terra um lugar de merecimentos, chama-se com razão vale de lágrimas. Todos somos aqui postos para padecer e fazer, por meio da paciência, aquisição das nossas almas para a vida eterna, como já disse o Senhor: In patientia possidebitis animas vestras (1) — “Na paciência possuireis as vossas almas”. Deus nos deu a Virgem Maria para exemplar de todas as virtudes, mas especialmente da paciência. Pondera entre outras coisas São Francisco de Sales, que foi exatamente para este fim que nas bodas de Caná, Jesus Cristo deu à Santissima Virgem aquela resposta, com que mostrava estimar pouca as suas súplicas: Quid mihi et tibi est, mulier? — “Que há entre mim e ti, mulher?” Foi exactamente para nos dar o exemplo da paciência da sua Santa Mãe.
Mas que andamos excogitando? Toda a vida de Maria foi um exercício continuo de paciência; porquanto, como o Anjo revelou a Santa Brigida, a Bem-aventurada Virgem, semelhante à rosa, cresceu e viveu sempre entre os espinhos das tribulações. Só a compaixão das penas do Redentor foi suficiente para fazê-la martir de paciência, razão porque disse São Boaventura: Crucifixa Cruxifixum concepit — “A Crucificada concebeu o Crucificado”. — E quanto ela sofreu, tanto na viagem para o Egipto e na demora ali, como durante todo o tempo que viveu com o Filho na oficina de Nazaré, não cansemos de apreciá-lo dignamente. Mas deixando o mais de lado, não basta por ventura só a campanha que Maria fez a Jesus moribundo no Calvário, para fazer conhecer quão constante e sublime foi a sua paciência? Stabat iuxta crucem Iesu Mater eius (2) — “Ao pé da cruz de Jesus estava sua Mãe”. No dizer do B. Alberto Magno, precisamente pelo merecimento desta sua paciência foi ela feita nossa Mãe que compadecendo com o seu Filho nos gerou para a vida da graça: Maria facta est mater nostra, quos genuit Filio compatiendo.
II. Se desejamos ser filhos de Maria, é preciso que procuremos imitá-la na paciência, suportando em paz tanto as cruzes que nos vierem diretamente de Deus, isto é, a pobresa, as desconsolações espirituais, a enfermidade e a morte; como também as que nos vierem diretamente da parte dos homens, perseguições, despresos, injúrias e seduções. S. Gregório explicando este trecho de Oséias: Saepiam viam tuam spinis (3) — “Fecharei o teu caminho com espinhos”, diz que assim como a sebe de espinhos guarda a vinha, assim Deus cerca de tribulações os seus servos, para que não se afeiçoem ao mundo. De modo que, conclui São Cipriano, a paciência é a virtude que nos livra do pecado e do inferno, e enriquece-nos com merecimentos na vida presente e com a glória na outra. — É a paciência que faz os Santos, como diz São Tiago: Patientia autem opus perfectum habet, ut sitis perfecti et integri in nullo deficientes (4). Por esta razão, São João viu todos os Santos com palmas (símbolo do martírio) nas mãos (5); o que significa que todos os adultos que se salvam, devem ser mártires, ou de sangue ou de paciência. “Alegremo-nos, pois”, exclama São Gregório: “se sofrermos com paciência as penas desta vida, podemos ser mártires, sem o ferro dos algozes.” Oh, quanto nos aproveitará no céu cada pena sofrida por amor de Deus! — Se alguma vez o peso da cruz se nos afigurar demasiadamente duro, recorramos a Maria, que é chamada a medicina dos corações angustiados e a consoladora dos aflitos.
Ah! Senhora minha suavíssima! Padecestes inocente com tanta paciência, e eu, réu do inferno, recusarei padecer? Minha Mãe, peço-vos hoje esta graça, não de ficar livre das cruzes, mas de suportá-las com paciência. Por amor de Jesus vos peço, que sem tardar me alcanceis de Deus esta graça; de vós a espero. (*I 269)
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I – Sto. Afonso – p. 40 – 43.
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1. Luc. 21, 19.
2. Io. 19, 25.
3. Os. 2, 6.
4. Iac. 1, 4.
5. Apoc. 7,9.
FONTE: catolicosribeiraopreto.wordpress.com/2013/12/15/maria-santissima-modelo-de-paciencia.
Remédios contra o pecado mortal, contra as más ocasiões e más amizades, segundo São João Bosco.
Estais seguros de que todas as graças que peçais a esta boa Mãe serão concedidas. MAS HÁ TRÊS GRAÇAS QUE OS RECOMENDO PEDIR A ELA TODOS OS DIAS, sem cansarem-se nunca de pedir-lhe porque são importantíssimas para vossa salvação: 1- Evitar sempre o pecado mortal e conservar a graça de Deus. 2- Fugir sempre de toda amizade danosa para a alma. 3- Conservar sempre a bela virtude da castidade. Para obter estas três graças eu recomendei muitas vezes uma novena que consiste nisso: Rezar todos os dias três Padre-Nossos, três Ave-Marias, três Glórias, e três Salve Rainhas. Depois de cada glória ao Pai deve-se dizer: “Seja louvado e reverenciado em todo momento o Santíssimo Sacramento.” E depois de cada Salve Rainha se diz: “Maria Auxiliadora dos cristãos rogai por nós!”.
SERMÃO DE SÃO JOÃO BOSCO AOS JOVENS - SOBRE A DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA, Jornal "A Família Católica", Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória/ES.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Leão I, Magno: Recomeçar sempre!
São Leão Magno, rogai por nós. Memória: 10 de novembro |
Recomeçar sempre!
Não desista nunca,
Nem quando o cansaço se fizer sentir,
Nem quando os teus pés tropeçarem,
Nem quando os teus olhos arderem,
Nem quando os teus esforços forem ignorados,
Nem quando a desilusão te abater,
Nem quando o erro te desencorajar,
Nem quando a traição te ferir,
Nem quando o sucesso te abandonar,
Nem quando a ingratidão te desconsertar,
Nem quando a incompreensão te rodear,
Nem quando a fadiga te prostrar,
Nem quando tudo tenha o aspecto do nada,
Nem quando o peso do pecado te esmagar…
Invoque Deus, cerre os punhos, sorria… E recomece!
Oremos: Ó Deus, que jamais permitis que as potências do mal prevaleçam contra a vossa Igreja, fundada sobre a rocha inabalável dos apóstolos, dai-lhe, pelos méritos do papa são Leão, permanecer firme na verdade e gozar paz para sempre. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
São Leão Magno: rogai por nós!
Atribuído a Papa São Leão I, Magno.
Fonte:
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
A Heresia Anti-litúrgica
“É, portanto, apenas dentro da verdadeira Igreja que pode fermentar a heresia anti-litúrgica, ou seja, aquela heresia que surge como inimiga das formas de culto. Somente onde há algo para demolir o gênio da destruição tentará introduzir o veneno”.
(Dom Prosper Guéranger)
(Dom Prosper Guéranger)
* * *
A Heresia Anti-litúrgica
Servo de Deus Dom Prosper Louis Paschal Guéranger, OSB
Abade de Solesmes
Dom Guéranger (1805 – 1875) |
I. A primeira característica da heresia anti-litúrgica é o ódio pela Tradição nas fórmulas do culto divino. Não se pode negar esta característica especial em todos os hereges, desde Vigilâncio até Calvino, e a razão é fácil de se explicar. Todo sectário, querendo introduzir uma nova doutrina, encontra-se inevitavelmente na presença da Liturgia, que é a tradição em seu mais alto poder, e não consegue encontrar repouso até ter feito calar esta voz, até estarem rasgadas as páginas que contêm a fé dos séculos passados. Com efeito, como se estabeleceram e se mantiveram em meio às massas o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo? Tudo se consumou através da substituição dos livros e fórmulas antigos por livros e fórmulas novos. Nada mais incomodaria os novos doutores; poderiam pregar à vontade: a fé das gentes estava doravante sem defesas. Lutero cumpriu esta doutrina com uma sagacidade digna de nossos jansenistas, dado que no primeiro período de suas inovações, à época em que se via obrigado ainda a guardar uma parte das formas exteriores do culto latino, estabeleceu o seguinte regulamento para a Missa reformada:
“Nós aprovamos e conservamos os intróitos dos domingos e das Festas de Jesus Cristo, a saber, da Páscoa, de Pentecostes e de Natal. Nós preferiríamos de bom grado os salmos inteiros de que são tirados estes intróitos, como se fazia outrora, mas queremos bem nos conformar ao uso presente. Nem mesmo culpamos aqueles que desejam reter os intróitos dos Apóstolos, da Virgem e dos outros Santos, desde que estes três intróitos sejam tirados dos Salmos ou de outras passagens da Escritura”.
Ele tinha grande ódio dos cânticos sacros compostos pela própria Igreja para expressão pública da fé. Neles ele sentia pesado o vigor da Tradição que ele desejava banir. Reconhecendo à Igreja o direito de unir sua voz, nas santas assembleias, aos oráculos das Escrituras, ele se exporia a ouvir milhões de bocas a anatematizar os seus novos dogmas. Portanto, ódio a tudo que, na Liturgia, não era exclusivamente extraído das Sagradas Escrituras.
II. Com efeito, é o segundo princípio da seita anti-litúrgica a substituição das fórmulas de estilo eclesiástico pelas leituras da Sagrada Escritura. Ela aí encontra duas vantagens: a primeira, a de fazer calar a voz da Tradição que ela sempre teme; em seguida, um meio de propagar e de apoiar os seus dogmas, pela via da negação ou da afirmação. Pela via da negação, passando em silêncio, através de escolhas astutas, os textos que exprimem a doutrina oposta aos erros que eles querem fazer prevalecer; pela via da afirmação, pondo à luz passagens cortadas que só apresentam um lado da verdade, escondendo o outro dos olhos dos mais simples. Sabe-se, desde muitos séculos, que a preferência dada, por todos os hereges, às Sagradas Escrituras sobre as definições eclesiásticas, não tem outra razão que a facilidade que eles têm de fazer dizer pela Palavra de Deus tudo o que quiserem, apresentando-a segundo o que lhes convém. (...) Quanto aos protestantes, eles quase reduziram a Liturgia inteira à leitura da Escritura, acompanhada de discursos nos quais ela é interpretada pela razão. Quanto à escolha e à determinação dos livros canônicos, acabaram por cair no capricho do reformador, que, como último recurso, decide não somente o sentido da palavra de Deus, mas se esta palavra é verdadeira ou não. Assim, Martinho Lutero conclui, em seu sistema panteísta, que a inutilidade das obras e a suficiência da fé são dogmas a serem estabelecidos e a partir daí declara que a Carta de São Tiago é uma carta de palha, e não uma carta canônica, somente pelo fato de aí se ensinar a necessidade das obras para a salvação. Em todos os tempos e sob todas as formas, funcionará sempre do mesmo jeito: nada de fórmulas eclesiásticas, somente a Escritura, mas interpretada, escolhida e apresentada por aquele ou por aqueles que sabem tirar proveito para a inovação. A armadilha é perigosa para os simples, e somente depois de um longo tempo é que se percebe o engano em que se caiu, e que a palavra de Deus, esta espada de dois gumes, como diz o Apóstolo, abriu grandes feridas, pois foi manuseada pelos filhos da perdição.
III. O terceiro princípio dos hereges acerca da reforma da Liturgia é, digamos, depois de ter expulsado as fórmulas eclesiásticas e proclamado a necessidade absoluta de se empregar apenas as palavras da Escritura no serviço divino, visto que a Escritura nem sempre se dobra, como eles gostariam, a todas as suas vontades, fabricar e introduzir fórmulas novas, cheias de perfídia, pelas quais as pessoas sejam mais solidamente ainda acorrentadas ao erro, e todo o edifício da ímpia reforma venha a se consolidar pelos séculos.
IV. Alguém poderá se admirar da contradição que a heresia apresenta em suas obras, quando vier a saber que o quarto princípio, ou, se assim se desejar, a quarta necessidade imposta aos sectários pela própria natureza de seu estado de revolta, é uma habitual contradição frente aos seus próprios princípios. Deverá ser assim, para a confusão deles, naquele grande dia, que cedo ou tarde vem, quando Deus revelar a nudez deles à vista dos povos que foram por eles seduzidos, e também porque não é da natureza do homem ser coerente, consistente. Somente a verdade pode sê-lo. Por isso, todos os sectários, sem exceção, começam por reivindicar as prerrogativas da antiguidade. Eles querem abstrair o cristianismo de tudo o que o erro e as paixões dos homens nele misturaram de falso ou de indigno de Deus; tudo o que querem é o que é primitivo, e pretendem fazer voltar ao berço a instituição cristã. Para isto, eles podam, cortam e arrancam; tudo cai sob os seus golpes, e quando alguém esperar ver reaparecer em sua pureza primeva o culto divino, encontrar-se-á coberto de fórmulas novas que mal datam de ontem e que são incontestavelmente humanas, posto que aqueles que as redigiram ainda vivem. Toda seita sofreu esta necessidade; vimos isto nos Monofisitas, nos Nestorianos; reencontramos a mesma coisa em todos os ramos do protestantismo. Sua afetação ao pregar a antiguidade é a medida usada para fazer sumir diante de si todo o passado, e assim se põem diante do povo seduzido e lhe juram que tudo está muito bem, que o aparato papista supérfluo foi-se embora, que o culto divino retornou à sua santidade primitiva. Observemos ainda uma coisa característica na mudança da Liturgia por parte dos hereges. É que, em sua sanha inovadora, eles não se contentam em retirar as fórmulas de estilo eclesiástico, que eles menosprezam sob o nome de palavra humana, mas estendem sua rejeição até mesmo às leituras e orações que a Igreja tomou emprestadas da Escritura. Mudam-nas, substituem-nas. Não querem mais rezar com a Igreja. Excomungam, por isso, a si mesmos, e temem assim a menor parcela da ortodoxia que ordenou a escolha daquelas passagens.
V. Sendo a reforma da Liturgia realizada pelos sectários com o mesmo objetivo que a reforma do dogma, de que é consequência, segue-se que, assim como os protestantes se separaram da unidade para crer menos, eles são levados a subtrair do culto todas as cerimônias e todas as fórmulas que exprimem mistérios. Tacharam de superstição e de idolatria tudo o que não lhes pareceu puramente racional, restringindo assim as expressões da fé e obstruindo, pela dúvida e até pela negação, todas as vias que se abrem para o mundo sobrenatural. Por isso, nada mais de sacramentos, a não ser o Batismo, à espera do Socinianismo que o deixaria ao arbítrio de seus adeptos; nada de sacramentais, bênçãos, imagens, relíquias de santos, procissões, peregrinações, etc. Nada também de altar, mas simplesmente uma mesa; nada de sacrifício, como em toda religião, mas simplesmente uma ceia; nada de igreja, mas só um templo, como nos Gregos e Romanos; nada mais de arquitetura religiosa, dado que aí não há mistérios; nada de pintura ou escultura cristãs, dado que aí não há uma religião sensível; enfim, nada de poesia, num culto que não foi fecundado nem pelo amor e nem pela fé.
VI. A supressão das coisas misteriosas na Liturgia protestante produziu infalivelmente a extinção total do espírito de oração que se chama de Unção no Catolicismo. Um coração revoltado não tem amor, e um coração sem amor no máximo poderá gerar expressões de respeito ou de temor, com aquele frio orgulho farisaico. Tal é a Liturgia protestante. Sente-se que aquele que a reza aplaude a si mesmo por não ser contado no número dos cristãos papistas, que trazem Deus até a sua baixeza pela familiaridade de seu linguajar vulgar.
VII. Tratando nobremente com Deus, a liturgia protestante não tem necessidade de intermediários criados. Ela creria faltar com o respeito devido ao Ser soberano ao invocar a intercessão da Santa Virgem, a proteção dos santos. Ela exclui toda esta idolatria papista que roga à criatura aquilo que se deve rogar a Deus somente. Ela remove do calendário todos os nomes dos homens que a Igreja temerariamente inscreveu ao lado do nome de Deus. Ela tem, sobretudo, um horror àqueles monges e outros personagens dos tempos passados que aí se vê figurar ao lado dos veneráveis nomes dos apóstolos que Jesus Cristo escolheu, e pelos quais foi fundada a Igreja primitiva, a única que foi pura na fé e livre de toda superstição no culto e de todo relaxamento na moral.
VIII. Tendo, a reforma litúrgica, como um de seus principais fins a abolição dos atos e fórmulas místicas, segue-se necessariamente que seus autores devam reivindicar o uso da língua vulgar no serviço divino. Por isso, este é um dos pontos mais importantes aos olhos dos sectários. O culto não é algo secreto, dizem; é preciso que o povo entenda o que canta. O ódio à língua latina é inato ao coração de todos os inimigos de Roma. Nela eles vêem o elo entre os católicos de todo o universo, o arsenal da ortodoxia contra todas as sutilezas do espírito das seitas, a arma mais poderosa do Papado. O espírito da revolta que os leva a confiar a oração universal ao idioma de cada povo, de cada província, de cada século, já deu seus frutos, e os reformados estão diariamente a perceber que os povos católicos, não obstante suas orações latinas, têm mais gosto e cumprem com mais zelo os deveres do culto que os povos protestantes. A cada hora do dia, o serviço divino tem lugar nas igrejas católicas; o fiel que aí participa deixa sua língua mãe na porta; com exceção das horas de pregação, ele só ouve os misteriosos acentos [do latim], que até cessam de ressoar no momento mais solene, no Cânon da Missa; e, contudo, este mistério o encanta de tal forma que não inveja a sorte do protestante, embora o ouvido deste último nunca escute um som sem perceber seu significado. Enquanto o Templo Reformado reúne, com grande dificuldade, uma vez por semana, os cristãos puristas, a Igreja Papista vê incessantemente os seus numerosos altares cercados pelos seus filhos religiosos. Cada dia eles deixam seus trabalhos para ouvir as palavras misteriosas que devem ser de Deus, pois elas alimentam a fé e aliviam as dores. Admitamos: é um golpe de mestre do protestantismo o ter declarado guerra à língua sagrada; se conseguir êxito em a destruir, seu triunfo já estará bem avançado. Entregue aos gostos profanos, como uma virgem desonrada, a Liturgia, a partir deste momento, perdeu seu caráter sagrado, e o povo logo achará que não vale a pena deixar os trabalhos ou os prazeres para ir até aí e ouvir alguém falar como qualquer um fala na praça pública. (…)
IX – Tirando da Liturgia o mistério, que rebaixa a razão, o protestantismo tem o cuidado de não esquecer a consequência prática, ou seja, a libertação da fadiga e do desconforto que as práticas da Liturgia Papista impõem ao corpo. Primeiramente, nada mais de jejum e de abstinência; nada de genuflexão para rezar; para o ministro do templo, nada mais de ofícios diários a serem cumpridos, nem mesmo preces canônicas para se recitar em nome da Igreja. Tal é uma das formas principais da grande emancipação protestante: diminuir a quantidade de orações públicas e particulares. O decorrer dos fatos tem mostrado rapidamente que a fé e a caridade, que se alimentam da oração, foram sendo extintas na Reforma, enquanto elas não cessam, entre os católicos, de alimentar todos os atos de devoção a Deus e aos homens, fecundados que são pelas fontes inefáveis da oração litúrgica, realizada pelo clero secular ou regular, ao qual se une a comunidade dos fieis.
X – Como falta ao protestantismo uma regra para discernir entre as instituições papistas quais as que poderiam ser as mais hostis aos seus princípios, foi-lhe preciso cavar até os fundamentos do edifício católico, e encontrar a pedra fundamental que sustenta tudo. Seu instinto fez descobrir tudo que segue este dogma que é inconciliável com toda inovação: o poder Papal. Daí Lutero ter escrito em seu estandarte: “Ódio a Roma e às suas leis”. Ele não fazia nada mais que proclamar uma vez por todas o grande princípio de todos os ramos da seita anti-litúrgica. Daqui vem a necessidade de abrogar em massa o culto e as cerimônias, como idolatria de Roma; a língua latina, o ofício divino, o calendário, o breviário, todas as abominações da grande Prostituta da Babilônia. O Romano Pontífice oprime a razão pelos seus dogmas e os sentidos pelas suas práticas rituais; é preciso proclamar que os dogmas não passam de blasfêmia e erro, e suas observâncias litúrgicas, um meio de assegurar mais fortemente uma dominação usurpada e tirânica. Eis por que, em suas ladainhas emancipadas, a Igreja luterana continua a cantar inocentemente: “Do furor homicida, da calúnia, da ira e da ferocidade do Turco e do Papa, livrai-nos, Senhor”. Cabe aqui recordar as admiráveis considerações de Joseph de Maistre, em seu livro “Sobre o Papa”, onde ele mostra, com tamanha sagacidade e profundidade, que, não obstante as dissonâncias que isolam as diversas seitas separadas umas das outras, há uma característica que reúne todas elas: a de serem não-Romanas. Imaginai uma inovação qualquer, seja em matéria de dogma, seja em matéria de disciplina, e vereis se é possível empreendê-la sem incorrer, queira ou não queira, no apelido de não-Romana, ou se quiserdes, de meio Romana, se falta audácia. Resta saber que tipo de descanso poderá encontrar um católico seja na primeira ou na segunda das duas situações.
XI – A heresia anti-litúrgica, para estabelecer para sempre o seu reinado, tem necessidade de destruir de fato e de princípio todo o sacerdócio no cristianismo, pois ela sente que, onde há um pontífice, há um altar, e aí onde há um altar, há um sacrifício e, portanto, um cerimonial misterioso. Depois de ter abolido a qualidade de Sumo Pontífice, é preciso aniquilar o caráter episcopal, donde emana a mística imposição das mãos que perpetua a hierarquia sagrada. Resulta daí um vasto presbiterianismo, que é exatamente a consequência imediata da supressão do soberano Pontificado. Daí, não há mais um padre propriamente dito. Como a simples eleição, sem uma consagração, fará dele um homem sagrado? A reforma de Lutero e de Calvino não conhecerá outra coisa senão Ministros de Deus, ou dos homens, como se queira. Mas é impossível ficar só nisso. Escolhido e empossado por leigos, portando no templo uma toga de alguma bastarda magistratura, o ministro não passa de um leigo revestido de funções acidentais; não há nada mais que leigos no protestantismo. E assim deve ser, posto que não há mais Liturgia. Bem como não há mais Liturgia, posto que não há nada mais que leigos.
XII – Por fim, no último degrau de embrutecimento, não existindo mais o sacerdócio, dado que a hierarquia está morta, o príncipe, única autoridade possível entre leigos, proclamar-se-á chefe da Religião, e se verá os mais orgulhosos reformadores, depois de ter lançado fora o jugo espiritual de Roma, reconhecerem o soberano temporal como sumo pontífice, e colocarem o poder sobre a Liturgia entre as atribuições de direito majestático. Não mais haverá dogma, moral, sacramentos, culto e cristianismo, a não ser que agrade ao príncipe, dado que o poder absoluto lhe foi entregue sobre a Liturgia, pela qual todas aquelas coisas têm sua expressão e sua aplicação na comunidade de fieis. Tal é, portanto, o axioma fundamental da Reforma, na prática e nos escritos dos doutores protestantes. Este último traço completará o quadro, e permitirá ao próprio leitor julgar sobre a natureza desta pretensa libertação, operada com tanta violência no que tange ao papado, para estabelecer, em seguida, porém necessariamente, uma destrutiva dominação sobre a própria natureza do cristianismo. É verdade que, no começo, a seita anti-litúrgica não tinha o costume de bajular os poderosos: albigenses, valdenses, wycliffitas, hussitas, todos ensinaram que era preciso resistir e mesmo atacar todos os príncipes e magistrados que se encontrassem em estado de pecado, pretendendo que um príncipe perdia o direito no momento em que não estivesse mais na graça de Deus. A razão disso é que os sectários temiam a espada dos príncipes católicos, bispos de fora, tendo tudo a ganhar minando sua autoridade. Mas a partir do momento em que os soberanos, associados à revolta contra a Igreja, quiseram fazer da religião uma coisa nacional, um meio de governo, a Liturgia, bem como o dogma, reduzida aos limites de um país, ficou submetida naturalmente à mais alta autoridade do país, e os reformadores não tinham como deixar de prestar um vivo reconhecimento àqueles que davam, assim, o auxílio de um braço poderoso para estabelecer e conservar suas teorias. É bem verdade que aí há toda uma apostasia nesta preferência dada ao temporal sobre o espiritual, em matéria de religião; mas agem assim pela necessidade de se manter. Precisam não só ser consistentes, mas sobreviver. É por isso que Lutero, que se separou brilhantemente do Pontífice Romano, este considerado como fautor de todas as abominações da Babilônia, não teve vergonha de si mesmo ao declarar teologicamente legítimo um duplo casamento para o landgrave de Hesse, e é por isso também que o Abade Gregório encontrou em seus princípios o meio de associar, de uma vez, a Convenção inteira no voto de execução contra Luís XVI, e de se fazer o defensor de Luís XIV e de José II contra os pontífices romanos.
Tais são as principais máximas da seita anti-litúrgica. De modo algum estão exageradas. Apenas enfatizamos a doutrina centenas de vezes professada nos escritos de Lutero, de Calvino, dos Centuriadores de Magdeburgo, de Hospiniano, de Kemnitz, etc. Estes livros são fáceis de consultar, ou melhor, a obra que resultou daí está sob os olhos de todo o mundo. Cremos ter sido útil pôr à luz estas principais características. Sempre é bom ter conhecimento acerca do que é errado. O conhecimento prático e direto é, às vezes, menos vantajoso e menos fácil.
Cabe aos pensadores católicos tirar a conclusão.
Dom Guéranger
Extraído de sua obra “Institutions Liturgiques” (Cap. XIV – Da heresia anti-litúrgica e da Reforma Protestante do séc. XVI, considerada em sua relação com a liturgia), 1840.
* * *
O texto francês utilizado para a tradução esteve disponível em: http://salve-regina.nuxit.net/Liturgie/Heresie_antiliturgiste.htm.
Ele confere com o original do autor, disponível em: http://books.google.com/books?id=VV9MpxP3MI8C (pág. 414-425)
O texto inglês utilizado como fonte secundária está disponível em: http://www.catholicapologetics.info/modernproblems/newmass/antigy.htm.
Tradução do francês, com consultas ao inglês, por Luís Augusto Rodrigues Domingues - membro da ARS.
VISTO EM: http://ars-the.blogspot.com.br/2011/09/heresia-anti-liturgica-por-dom-prosper.html.
* * *
Leia também: http://farfalline.blogspot.com.br/2013/07/destruicao-da-igreja-de-trento-erfurt.html.
Fonte:
A Origem da palavra MISSA
Três etimologias foram lembradas: o grego músis (iniciação), o hebráico missah (unctio?) e o latim missa.
a) A origem da palavra não pode ser nem o grego nem o hebraico. A razão é simples. Como o Cristianismo veio do Oriente, todas as palavras litúrgicas de origem grega ou hebraica são registradas na Liturgia ou na Literatura das Igrejas Orientais. Ora, isto não sucede com a palavra missa, que é privativa da Igreja Latina.
b) Logo, missa vem do latim. E aqui podemos supor duas origens: o feminino do adjetivo missus, que quer dizer enviado, e um substantivo missa, com o sentido de demissão, ato de despedir, despedimento.
O adjetivo missa não pode ser a origem do termo litúrgico, porque, nesse caso, seria preciso pensar num substantivo oculto. Exemplos: gramática (arte), domingo, ou dominga (dies, dos dois gêmeos em latim), reta (linha), expresso (trem) etc. Por isso, os autores que derivam missa de um adjetivo subentendem a palavravítima e dizem que a frase Ite, missa est equivale a: Ite, victimamissa est. Mas esta frase não tem sentido. Com efeito, a sua tradução é: Ide-vos, a vítima foi enviada. Ora, uma vitima não se envia. É destruída. Em nenhum sacrifício há lugar para se supor que se envie uma vítima.
Portanto, só resta uma hipótese – o substantivo missa. De fato, este substantivo é uma segunda forma do termo clássico missio, derivado do verbo mittere, e cujo significado é o que demos acima: ato de mandar embora. A substituição da forma abstrata missio por uma forma concreta missa é, aliás, processo linguístico comum no latim. Oblatio, collectio e ultio foram substituídos respectivamente por oblata, collectae ulta. Os novos substantivos promessa e remessa vieram de promissa e remissa, que estão em lugar de promissio e remíssio, da mesma raiz que missa.
Lembremos, por fim, que a palavra saiu da expressão Ite, missa est e indicava apenas uma parte do ofício e não o ofício todo. É o que acontece com os termos confissão e comunhão, usados pelo sacramento da Penitência e pela Eucaristia. Na realidade são partes ou fases do sacramento.
Aliás, a expressão já existia no latim antes de passar para o uso eclesiástico. Ite, missa est era a fórmula usada para terminar as audiências do paço e dos tribunais de justiça. Diz Avito de Viena: “Nas igrejas e nas cortes do imperador e do prefeito se diz missa est quando o povo é despedido da audiência.” (1)
Na Regra de S. Bento, encontra-se sempre a fórmula missae fiunt no fim das horas canônicas para significar: fim das orações. Neste mesmo sentido está empregada a palavra na Peregrinatio Sylviae, em Santo Isidoro de Sevilha e outros.
No sentido atual, o termo é encontrado pela primeira vez na Epístola que Santo Ambrósio escreveu a sua irmã Santa Marcelina.(2) Referindo-se aos distúrbios provocados pelos Arianos durante um ofício religioso, diz ele: “Porém eu fiquei em meu lugar e comecei a dizer a missa:Missam facere cepi”(3).
Parece ter havido dois ite, missa est na missa primitiva. Com o primeiro se despediam os catecúmenos, conforme diz Santo Agostinho:“Depois do sermão se faz a missa (despedida) dos catecúmenos”. (4) Com o segundo, que permanece até hoje, se despediam os fiéis. É o que consta da Peregrinatio Sylviae: “O sacerdote abençoa os fiéis e faz-se a missa, isto é, a despedida”.(5)
(Texto retirado do livro ”A Missa, dogma-liturgia”, do Cônego F.M. Bueno de Sequeira, com censor e imprimatur de 1949. Ed. Andes)
______________
Notas:
(1) Avito de Viena, bispo Epist. I, LIX, pág. 199, Patres Latini.
(2) Santo Ambrósio, bispo de Milão, faleceu em 397.
(3) Epistola I, XX.
(4) “Post sermonem fit missa catechumenorum”.
(5) “Benecit fideles et fit missa”.
FONTE: http://tradicaocatolicaes.wordpress.com/2010/08/11/origem-da-palavra-missa/
http://campograndecatolica.blogspot.com.br
a) A origem da palavra não pode ser nem o grego nem o hebraico. A razão é simples. Como o Cristianismo veio do Oriente, todas as palavras litúrgicas de origem grega ou hebraica são registradas na Liturgia ou na Literatura das Igrejas Orientais. Ora, isto não sucede com a palavra missa, que é privativa da Igreja Latina.
b) Logo, missa vem do latim. E aqui podemos supor duas origens: o feminino do adjetivo missus, que quer dizer enviado, e um substantivo missa, com o sentido de demissão, ato de despedir, despedimento.
O adjetivo missa não pode ser a origem do termo litúrgico, porque, nesse caso, seria preciso pensar num substantivo oculto. Exemplos: gramática (arte), domingo, ou dominga (dies, dos dois gêmeos em latim), reta (linha), expresso (trem) etc. Por isso, os autores que derivam missa de um adjetivo subentendem a palavravítima e dizem que a frase Ite, missa est equivale a: Ite, victimamissa est. Mas esta frase não tem sentido. Com efeito, a sua tradução é: Ide-vos, a vítima foi enviada. Ora, uma vitima não se envia. É destruída. Em nenhum sacrifício há lugar para se supor que se envie uma vítima.
Portanto, só resta uma hipótese – o substantivo missa. De fato, este substantivo é uma segunda forma do termo clássico missio, derivado do verbo mittere, e cujo significado é o que demos acima: ato de mandar embora. A substituição da forma abstrata missio por uma forma concreta missa é, aliás, processo linguístico comum no latim. Oblatio, collectio e ultio foram substituídos respectivamente por oblata, collectae ulta. Os novos substantivos promessa e remessa vieram de promissa e remissa, que estão em lugar de promissio e remíssio, da mesma raiz que missa.
Lembremos, por fim, que a palavra saiu da expressão Ite, missa est e indicava apenas uma parte do ofício e não o ofício todo. É o que acontece com os termos confissão e comunhão, usados pelo sacramento da Penitência e pela Eucaristia. Na realidade são partes ou fases do sacramento.
Aliás, a expressão já existia no latim antes de passar para o uso eclesiástico. Ite, missa est era a fórmula usada para terminar as audiências do paço e dos tribunais de justiça. Diz Avito de Viena: “Nas igrejas e nas cortes do imperador e do prefeito se diz missa est quando o povo é despedido da audiência.” (1)
Na Regra de S. Bento, encontra-se sempre a fórmula missae fiunt no fim das horas canônicas para significar: fim das orações. Neste mesmo sentido está empregada a palavra na Peregrinatio Sylviae, em Santo Isidoro de Sevilha e outros.
No sentido atual, o termo é encontrado pela primeira vez na Epístola que Santo Ambrósio escreveu a sua irmã Santa Marcelina.(2) Referindo-se aos distúrbios provocados pelos Arianos durante um ofício religioso, diz ele: “Porém eu fiquei em meu lugar e comecei a dizer a missa:Missam facere cepi”(3).
Parece ter havido dois ite, missa est na missa primitiva. Com o primeiro se despediam os catecúmenos, conforme diz Santo Agostinho:“Depois do sermão se faz a missa (despedida) dos catecúmenos”. (4) Com o segundo, que permanece até hoje, se despediam os fiéis. É o que consta da Peregrinatio Sylviae: “O sacerdote abençoa os fiéis e faz-se a missa, isto é, a despedida”.(5)
(Texto retirado do livro ”A Missa, dogma-liturgia”, do Cônego F.M. Bueno de Sequeira, com censor e imprimatur de 1949. Ed. Andes)
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Notas:
(1) Avito de Viena, bispo Epist. I, LIX, pág. 199, Patres Latini.
(2) Santo Ambrósio, bispo de Milão, faleceu em 397.
(3) Epistola I, XX.
(4) “Post sermonem fit missa catechumenorum”.
(5) “Benecit fideles et fit missa”.
FONTE: http://tradicaocatolicaes.wordpress.com/2010/08/11/origem-da-palavra-missa/
http://campograndecatolica.blogspot.com.br
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Maria, Modelo de Modéstia
São Pedro Julião Eymard com a Virgem, o Menino e a Eucaristia |
Modesta em relação ao mundo. Maria sacrifica com generosidade a condição de gestante; vai imediatamente, vencendo grande distância, visitar sua parenta Isabel, levando felicitações e auxílio. Durante três meses acompanha e serve, trazendo grande alegria ao lugar. Somente quando a glória do Filho exigir aparecerá em público. Assistirá às bodas de Canaã sem nenhum privilégio. A modéstia faz com que pratique a caridade de acordo com a ocasião.
Modesta no cumprimento dos deveres.Desempenha com suavidade, sem precipitações, sempre alegre e disposta a abraçar uma nova obrigação; não deixa transparecer as contrariedades, não busca consolações e pela naturalidade não atrai a atenção dos demais. Modelo exemplar para os adoradores do Santíssimo Sacramento; cuja vida se compõe de pequenos atos e de pequenos sacrifícios, que somente Deus deve conhecer e recompensar; cuja glória e conforto consistem na filial e humilde dedicação no cumprimento dos deveres, ambicionando agradar o Mestre pela contínua imolação de si mesmos.
Modesta na piedade. Elevada ao mais alto grau de contemplação que uma criatura possa atingir, vivendo no constante exercício do perfeito amor, exaltada acima dos anjos e constituída Mãe de Deus, mesmo com todas essas prerrogativas, serve o Senhor com simplicidade; sujeita-se às prescrições da lei, assiste às festas, reza junto com os demais fiéis; em nada se faz notar, nenhum exercício exterior demonstra sua piedade e o seu fervor. Assim deve ser a piedade do cristão: comum em suas práticas, simples em seus meios, modesto no agir, evitando chamar a atenção, fruto sutil do amor próprio que leva à vaidade e à ilusão.
Modesta nas virtudes. Possui todas as virtudes em grau supremo, praticados com suma perfeição, embora de forma simples e usual. Em todos os favores recebidos, a humildade vê somente a bondade de Deus, somente agradece. Agradecimento escondido e sem glória humana. Pode, porventura, vir coisa boa de Nazaré ? (Jo 1, 46). Ninguém presta atenção em Maria, passa totalmente desapercebida.
Eis o segredo da Perfeição: a simplicidade, mesmo quando ignorada, saber conservá-la. Uma virtude acentuada fica exposta, uma virtude louvada pode trazer a ruína; a flor que mais chama a atenção, murcha depressa.
Afeiçoemo-nos às pequenas virtudes de Maria de Nazaré, que germinam aos pés da cruz, à sombra de Jesus; deste modo, não temeremos as tempestades que abatem os cedros nem o raio que cai no cimo da montanha.
Modesta nos sacrifícios. Aceita em silêncio e conformidade o exílio no Egito. Diante da dúvida de José, permanece em silêncio, confia na providência. Traspassada pela dor, acompanha o Filho que carrega a cruz, não grita nem lamenta exteriormente. No Calvário, mergulhada em sua dor, sofre calada e se despede do Filho num olhar mudo.
Maria é também modesta em sua glória. Como Mãe de Deus, possuía todos os direitos e todas as homenagens, entretanto abraça a provação e o sacrifício. Não aparece nos triunfos do Filho, porém está aos pés da cruz.
Para ser filhos desta Mãe, devemos nos revestir de modéstia, deve ser tema usual de nossa meditação. A modéstia é virtude régia de um adorador do Santíssimo Sacramento, pois fornece a exterioridade dos sentidos na presença de Deus.
Por São Pedro Julião Eymard
Extraído da Obra Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento: Um mês com Maria, de São Pedro Julião Eymard, Editora Formatto, 2008, p.50-53.
sábado, 14 de dezembro de 2013
CONTRACEPÇÃO?
Os que usam do Matrimônio para ter a relação sexual empregando meios de evitar a geração, cometem um pecado mortal gravíssimo.
Enumeremos as razões:
1° É contra a mente de Deus. O ato sexual foi instituído por Deus para a geração.
2° É contra a natureza. A natureza indica o fim da união dos sexos.
3° É contra o matrimônio. No contrato matrimonial faz-se a doação dos corpos em vista da geração dos filhos.
O Catecismo da Igreja, na sua linguagem enérgica, enumera o pecado sensual contra a natureza entre os "pecados que bradam aos céus e pedem vingança a Deus."
Para se ter uma noção melhor da perversidade, basta considerar que a prostituição ou mesmo a infidelidade conjugal (embora pecados mortais) são menos graves do que ele.
Pe. Alvaro Negromonte, Noivos e Esposos, pág 125.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Como se deve rezar o Rosário
Não é o prolongamento de uma oração que agrada a Deus e lhe conquista o coração, mas o seu fervor. Uma só Ave-Maria bem rezada tem mais mérito do que cento e cinqüenta mal rezadas.
Vejamos, pois, a maneira de rezar o Rosário para agradar a Deus e nos tomarmos santos.
Em primeiro lugar, é preciso que a pessoa que reza o Rosário esteja em estado de graça, ou pelo menos na resolução de sair do seu pecado, porque a Teologia nos ensina que as boas obras e as orações feitas em pecado mortal são obras mortas, que não agradam a Deus nem podem merecer a vida eterna.
Aconselhamos o Rosário a todas as pessoas: aos justos, para que perseverem e cresçam na graça de Deus; e aos pecadores também, mas para que saiam de seus pecados.
Deus não permita que por nossos conselhos um pecador empedernido transforme o manto da proteção de Nossa Senhora em manto de condenação para velar seus crimes! Ou que transforme o Rosário, que é remédio para todos os males, num veneno mortal e funesto! A corrupção do ótimo é péssima.
Um homem depravado costumava rezar diariamente o Rosário. Certo dia, a Virgem lhe mostrou belos frutos numa bandeja cheia de imundícies. O homem teve horror àquilo, e Ela lhe disse: "É assim que tu me serves, apresentando-me belas rosas num recipiente sujo e corrompido. Achas que posso recebê-las com agrado?"
Não basta, para rezar bem, exprimir nossos pedidos pela excelente forma de oração que é o Rosário, mas é preciso aplicar nisso uma grande atenção, pois Deus ouve antes à voz do coração que à da boca.
Rezar a Deus com distrações voluntárias seria uma grande falta de respeito, que tornaria os nossos Rosários infrutíferos e nos encheria de pecados.
Como pretender que Deus nos ouça, se nós mesmos não nos ouvimos? E se enquanto invocamos a terrível Majestade que faz a todos tremerem, nos pomos voluntariamente a correr atrás de uma borboleta?
Proceder assim é afastar a bênção do Senhor e correr o risco de vê-la mudada em maldição: "Maldito o que faz a obra de Deus com negligência" (Jer 48, 10).
De fato não é possível rezar o Rosário sem nenhuma distração involuntária; é até mesmo bem difícil rezar uma única Ave-Maria sem que a imaginação sempre mutante não vos afaste em algo a atenção. Mas vós podeis rezar sem distrações voluntárias, e deveis adotar todos os meios para diminuir as involuntárias e fixar a atenção.
Para isso, colocai-vos na presença de Deus, pensando que Ele e sua santa Mãe tem os olhos postos sobre vós.
Pensai que vosso Anjo da Guarda está à vossa direita, colhendo as Ave-Marias que rezais, quando elas são bem rezadas, como se fossem rosas, para com elas tecer uma coroa para Jesus e Maria; e que, pelo contrário, o demônio está à vossa esquerda e ronda em torno de vós para devorar vossas Ave-Marias e as anotar no seu livro da morte, se elas são rezadas sem atenção, devoção e modéstia.
Sobretudo, não deixeis de fazer os oferecimentos das dezenas em honra dos mistérios, e de vos representar na imaginação a Nosso Senhor e à sua Santíssima Mãe no mistério que estais honrando.
Lê-se na vida do Beato Hermann, da Ordem premonstratense, que quando ele rezava o Rosário com atenção e devoção, meditando nos mistérios, a Santíssima Virgem lhe aparecia toda esplendorosa de luz, com uma beleza e majestade arrebatadoras.
Mas, tendo sua devoção esfriado e não rezando mais o Rosário senão às pressas e sem atenção, Ela lhe apareceu com a face enrugada, triste e desagradada.
Hermann se espantou com a mudança, e a Virgem lhe disse: "Apareço diante dos teus olhos como me encontro na tua alma, pois tu me tratas como a uma pessoa vil e desprezível. Onde está aquele tempo em que me saudavas com respeito e atenção, meditando os meus mistérios e admirando as minhas grandezas?"
Como não há oração mais meritória à alma e mais gloriosa a Jesus e a Maria do que o Rosário bem rezado, também não há nenhuma que seja mais difícil para bem rezar e na qual seja mais difícil perseverar, sobretudo por causa das distrações que vêm como que naturalmente na repetição freqüente da mesma oração.
Quando se reza o Ofício da Santíssima Virgem, ou os Sete Salmos, ou algumas outras orações, a variedade dos termos em que essas orações são concebidas detém a imaginação e recreia o espírito, dando por isso facilidade à alma para bem rezá-las.
Mas no Rosário, como há sempre os mesmos Pais-Nosso e Ave-Marias para rezar, e a mesma forma a manter, é difícil que não se acabe aborrecendo, que não se acabe adormecendo e que não se o abandone para procurar outras formas de oração mais agradáveis e menos cansativas.
Por isso, é preciso ter infinitamente mais devoção para perseverar na recitação do santo Rosário do que para qualquer outra oração, ainda mesmo os Salmos de Davi.
O que aumenta essa dificuldade é a nossa imaginação volátil e a malícia do demônio, infatigável para nos distrair e nos impedir de rezar.
Que faz esse espírito maligno enquanto estamos rezando nosso Rosário contra ele?
Antes de começar a oração, ele aumenta nosso aborrecimento, nossas distrações e nossas prostrações. Enquanto rezamos, ele nos acossa de todos os lados. E depois que tivermos rezado com muita dificuldade e distrações, elo nos sopra ao ouvido: "Nada rezaste que preste; teu terço de nada valeu; melhor farias se trabalhasses e cuidasses dos teus negócios; perdes tempo rezando tantas orações vocais sem atenção; uma meia-hora de meditação ou uma boa leitura valeriam muito mais; amanhã, quando estiveres com menos sono, rezarás com mais atenção, deixa o resto do teu Rosário para amanhã".
É assim que o demônio, com seus artifícios, freqüentemente consegue que abandonemos o Rosário, inteiro ou em parte, ou faz com o que troquemos ou o deixemos para o dia seguinte...
Não lhe deis crédito, caro devoto do Rosário, e não desanimeis, ainda que durante todo o Rosário vossa imaginação tenha estado preenchida com distrações e pensamentos extravagantes, se vós os procurastes expulsar da melhor forma possível logo quando vos destes conta deles.
Vosso Rosário é tanto melhor quanto mais meritório for; ele é tanto mais meritório quanto mais difícil for, ele é tanto mais difícil quanto menos naturalmente for agradável à alma e mais cheio for dessas miseráveis pequenas moscas e formigas que fazem a imaginação correr de um lado para o outro apesar da vontade, não dando à alma tempo para saborear o que reza e repousar em paz.
Se for preciso combater, durante o Rosário, contra as distrações, combatei valentemente de armas na mão, ou seja, prosseguindo o Rosário, ainda que sem nenhum gosto nem consolação sensível.
É um combate terrível, mas é salutar à alma fiel.
Se deixais cair as armas, quer dizer, se abandonais o Rosário, sois vencidos, e então o demônio, como vencedor, vos deixará em paz, mas no dia do Juízo vos acusará por vossa pusilanimidade e infidelidade.
"Quem é fiel nas pequenas coisas também o será nas grandes" (Lc 16, 10). Quem é fiel em rejeitar as menores distrações na menor parte de suas orações, será também fiel nas maiores coisas.
Coragem, pois, bom e fiel servidor de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem, que tomastes a resolução de rezar o Rosário todos os dias! Que a multidão das moscas (chamo assim as distrações que vos fazem guerra enquanto rezais) não vos faça deixar covardemente a companhia de Jesus e de Maria, na qual estais quando dizeis vosso Rosário. A partir daqui indicarei os meios para diminuir as distrações.
Invocai inicialmente o Espírito Santo para bem rezar o vosso Rosário, e colocai-vos em seguida um momento na presença de Deus.
Antes de começar cada dezena, parai um pouco para considerar o mistério que estais celebrando, e pedi sempre, pela intercessão de Maria Santíssima, uma das virtudes que mais ressaltam naquele mistério ou da qual tendes mais necessidade.
Tomai, sobretudo, cuidado com dois erros comuns, que cometem quase todos os que rezam o terço ou o Rosário:
O primeiro é não formular nenhuma intenção, de sorte que se lhe perguntais porque estão rezando, não vos saberiam responder. Tende, pois, sempre em vista, ao rezar o Rosário, alguma graça a pedir, alguma virtude a imitar ou algum pecado a evitar.
O segundo erro que se comete freqüentemente é não ter em vista, ao começar o Rosário, outra coisa senão acabá-lo o quanto antes.
É uma pena ver como a maior parte das pessoas rezam o Rosário. Rezam-no com uma precipitação espantosa, devoram até a maior parte das palavras. Não se cumprimentaria desse modo ridículo ao último dos homens e, no entanto se imagina que Jesus e Maria se sentem honrados com isso!...
O Beato Alano de la Roche e outros autores, entre os quais Belarmino, contam que um bom sacerdote aconselhou a três penitentes que tinha, e que eram três irmãs, que rezassem devotamente todos os dias o Rosário, durante um ano, para formar um belo vestido de glória para Nossa Senhora. Acrescentou que isso era um segredo que ele tinha recebido do céu.
As três irmãs o rezaram durante um ano. No dia da Purificação, à noite, quando as três estavam deitadas, a Virgem, acompanhada por Santa Catarina e Santa Inês, entrou no quarto delas, vestida com um traje todo resplandecente de luz, no qual estava escrito, com letras de ouro: "Ave Maria, cheia de graça".
A Rainha do Céu se aproximou do leito da mais velha das irmãs e lhe disse: "Eu te saúdo, minha filha, que tantas vezes e tão bem me saudaste. Venho agradecer-te o belo vestido que me fizeste".
As duas santas Virgens que A acompanhavam lhe agradeceram também e as três desapareceram.
Uma hora depois, a Virgem veio mais uma vez ao quarto, com as mesmas acompanhantes. Trajava um vestido verde, mas sem ouro nem luz. Aproximou-se do leito da segunda irmã e lhe agradeceu o vestido que lhe fizera.
Mas, como esta segunda irmã já tinha visto a Santíssima Virgem aparecer à mais velha com maior brilho, perguntou-Lhe o motivo: “É porque ela me fez um vestido mais bonito, rezando o Rosário melhor do que tu” - respondeu a Virgem.
Cerca de uma hora depois, Nossa Senhora apareceu uma terceira vez à mais jovem das irmãs, vestida com trapos sujos e rasgados, e disse: "Ó filha, tu assim me vestiste, Eu te agradeço por isso".
A jovem, coberta de confusão, exclamou: "Oh! Senhora, perdão por Vos ter vestido tão mal! Peço-Vos tempo para rezar melhor o Rosário e Vos preparar um vestido mais belo".
Tendo desaparecido a visão, a jovem, muito aflita, contou ao confessor o que se tinha passado. Ele exortou as três a rezarem o Rosário com mais perfeição do que antes.
Ao cabo de um ano, no mesmo dia da Purificação, a Virgem novamente lhes apareceu, vestida com um traje maravilhoso e mais uma vez acompanhada por Santa Catarina e Santa Inês, que levavam coroas, e lhes disse: "Tende certeza, filhas, do Reino dos Céus, no qual entrareis amanhã, com grande alegria", ao que as três responderam: "Nosso coração está pronto, caríssima Senhora, nosso coração está pronto".
A visão desapareceu. Na mesma noite, sentiram-se mal, mandaram procurar o confessor, receberam os últimos sacramentos e agradeceram ao confessor pela santa devoção que lhes tinha ensinado.
Depois, a Santíssima Virgem lhes apareceu, acompanhada por grande número de virgens, fez vestir as três irmãs com vestidos brancos. Depois partiram as três, enquanto os Anjos cantavam: "Vinde, esposas de Jesus Cristo, recebei as coroas que vos estão preparadas desde a eternidade".
Há muitas verdades a aprender com essa história:
1° Como é importante ter bons confessores que inspirem bons exercícios de piedade e em particular o santo Rosário;
2° Como é importante rezar o Rosário com atenção e devoção;
3° Como a Santíssima Virgem é benigna e misericordiosa para com aqueles que se arrependem do passado e se propõem a proceder melhor;
4° Como Ela é generosa para recompensar durante a vida, na hora da morte e na eternidade, os pequeno serviços que Lhe são prestados fielmente.
Acrescento que se deve rezar o Rosário com modéstia, quer dizer, tanto quanto possível de joelhos com as mãos postas, tendo o Rosário nas mãos.
Se, entretanto, se está doente, pode-se rezá-lo na cama; se em viagem, pode-se rezá-lo caminhando; se por qualquer enfermidade não se pode estar de joelhos, pode-se rezar de pé ou sentado.
Pode-se até mesmo rezar o Rosário trabalhando quando não se pode deixar o trabalho por causa dos deveres profissionais; pois o trabalho manual nem sempre é contrário à oração vocal.
Aconselho-vos a dividir o vosso Rosário em três terços, em três diferentes horas do dia; é melhor dividi-lo assim do que rezá-lo de uma só vez.
Se não tendes tempo para rezar o terço do Rosário de uma só vez, rezai uma dezena aqui, uma dezena acolá, de tal forma que, apesar das vossas ocupações e negócios, tenhais o Rosário inteiro rezado antes de vos deitardes à noite.
(São Luís Maria Grignion de Montfort. A eficácia maravilhosa do santo Rosário, Séria Cultura Religiosa n° 11, Artpress – São Paulo – 2000, Capítulo 6, p. 50-59)
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