terça-feira, 11 de agosto de 2015

A Verdadeira obediência

"Quando eu era criança, a Igreja tinha por toda parte, a mesma fé, os mesmos sacramentos, o mesmo sacrifício da missa. Se me houvessem dito então que isto mudaria, eu não teria podido acreditar. Em toda a extensão da cristiandade se rezava a Deus da mesma maneira. A nova religião liberal e modernista semeou a divisão.

Cristãos estão divididos no seio duma mesma família devido a esta confusão que foi instaurada, não vão mais à mesma missa, não lêem mais os mesmos livros. Sacerdotes não sabem mais o que fazer: ou obedecem cegamente ao que seus superiores lhes impõem e perdem de alguma sorte a fé de sua infância e de sua juventude, renunciam às promessas que fizeram no momento de sua ordenação, prestando o juramento antimodernista; ou resistem, mas é com a impressão de se separar do papa, do vigário de Cristo. Nos dois casos, que dilaceração! Muitos sacerdotes morreram prematuramente de desgosto.Quantos outros foram obrigados a abandonar suas paróquias nas quais, há anos, eles exerciam seu ministério, expostos à perseguição aberta de sua hierarquia e apesar do apoio dos fiéis aos quais se arrancava o seu pastor. 

Tenho debaixo dos olhos as despedidas comoventes de um deles à população das duas paróquias das quais era vigário: “Na sua conversa de… o senhor bispo me dirigiu um ultimatum: aceitar ou recusar a nova religião; eu não me poderia esquivar. Então para continuar fiel ao compromisso de meu sacerdócio, para continuar fiel à Igreja eterna… fui constrangido e forçado, contra a minha vontade, a retirar-me… A simples honestidade e sobretudo minha honra sacerdotal me criam uma obrigação de ser leal, precisamente nesta matéria de gravidade divina (a missa)… É esta prova de fidelidade e de amor que devo dar a Deus e aos homens, a vós em particular e é a respeito dela que eu serei julgado no último dia, como, aliás, todos aqueles a quem foi confiado este mesmo depósito”.

Na diocese de Campos, no Brasil, a quase totalidade do clero foi expulsa das igrejas após a saída de Dom Castro Mayer, por não querer abandonar a missa de sempre, tal como a celebravam ainda até uma data recente.

A divisão afeta as mínimas manifestações de piedade. Em Val-de-Marne, o bispado fez expulsar pela polícia vinte e cinco católicos que recitavam o rosário numa igreja particular de vigário titular há muitos anos. Na diocese de Metz, o bispo fez intervir o prefeito comunista para que fosse suspenso o empréstimo de um local concedido a um grupo de tradicionalistas. No Canadá seis fiéis foram condenados pelo tribunal, que a lei deste país permite ter competência nesta espécie de questão, por se haverem obstinado a comungar de joelhos. O bispo de Antigonish os havia acusado de “perturbar voluntariamente a ordem e a dignidade dum serviço religioso”. Os “perturbadores” foram postos pelo juiz em liberdade sob vigilância durante seis meses! Ao mesmo tempo o bispo proíbe aos cristãos de dobrarem o joelho diante de Deus! No ano passado, a peregrinação dos jovens a Chartres terminou com uma missa nos jardins da catedral, estando esta interditada à missa de são Pio V. Quinze dias mais tarde, as portas estavam abertas de par a par para um concerto espiritual no decorrer do qual foram interpretadas danças por uma antiga carmelita.

Duas religiões se afrontam; nós nos encontramos numa situação dramática, não é possível deixar de fazer uma escolha, mas esta escolha não é entre a obediência e a desobediência. O que se nos propõe, aquilo a que se nos convida expressamente, porquê nos perseguem, é escolher um simulacro de obediência. O Santo Padre, com efeito, não nos pode pedir que abandonemos nossa fé.

Nós escolhemos então conservá-la e não podemos enganar-nos atendo-nos àquilo que a Igreja ensinou durante dois mil anos. A crise é profunda, sabiamente organizada e dirigida, por sinal que se pode verdadeiramente crer que o chefe do empreendimento não é um homem, mas o próprio Satã. Ora é um golpe magistral de Satã ter chegado a fazer os católicos desobedecerem a toda a tradição em nome da obediência.

Eu ouvi por duas vezes enviados da Santa Sé me dizerem: ”O reinado social de Nosso Senhor não é mais possível em nosso tempo, é preciso aceitar definitivamente o pluralismo das religiões.” Eis exatamente o que eles me disseram.

Pois bem, eu não sou desta religião. Não aceito esta nova religião. É uma religião liberal, modernista, que tem seu culto, seus sacerdotes, sua fé, seus catecismos, sua Bíblia ecumênica traduzida em comum por católicos, judeus, protestantes, anglicanos, jogando com pau de dois bicos, dando satisfação a todo o mundo, sacrificando muito freqüentemente a interpretação do magistério. Nós não aceitamos esta Bíblia ecumênica. Há a Bíblia de Deus, é Sua Palavra a qual não temos o direito de misturar com a palavra dos homens."


DOM MARCEL LEFEBVRE

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