Segunda Meditação para o 3º Domingo da Quaresma
Sumário. Meu irmão, já que resolveste dar-te todo a Deus, e já o executaste, não creias que as tentações tenham terminado. Antes, mais do que nunca, prepara-te para travar combate com o demônio, que, como diz Jesus Cristo, buscando repouso e não o achando, redobra os esforços para tornar a entrar na alma donde foi expulso. Desgraçado de quem torna a cair depois de ser levantado! Irá enfraquecendo cada vez mais; Deus retirará a sua mão com as graças; e assim o fim de tal homem será pior do que o princípio.
I. Meu irmão, já que resolveste dar-te todo a Deus, e assim o executaste, não acrediteis que se tenham acabado as tentações. Escuta o que te diz Jesus Cristo no Evangelho de hoje:
Com isto o Senhor nos quer dizer que, quanto mais uma alma procura unir-se a Deus e servi-Lo, tanto mais contra ele se enfurece o inimigo, e procura entrar na alma donde foi desterrado. Se o consegue, não entra mais sozinho, mas traz companheiros consigo, para melhor se aquartelar, e assim a segunda ruína da mísera alma será pior do que a primeira.
Diz Santo Tomás que todo o pecado, ainda que tenha sido perdoado, deixa sempre a ferida causada pela culpa. Se portanto se junta outra ferida à antiga, fica a alma tão enfraquecida, que para se levantar precisará de uma graça especial. Por outra parte, Deus não concederá facilmente semelhante graça a um ingrato, que, depois de ser chamado com tão grande amor, e admitido à sua amizade, depois de assentar-se à Mesa eucarística para se alimentar com o Corpo sagrado de Jesus, esquecendo-se de todas estas misericórdias divinas, se revolta contra Ele e Lhe prefere o demônio. Ah! O Senhor fica em extremo sensibilizado com tamanha ingratidão, e por isso: Fiunt novissima hominis illius peiora prioribus — “O último estado daquele homem virá a ser pior do que o primeiro”.
II. Ai daquele que, sendo amigo de Deus e tendo recebido muitas graças, torna a cair e se declarar seu inimigo e escravo do demônio! — Irmão meu, a fim de que te não suceda tamanha desgraça, esforça-te de toda a maneira por ficares constante na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a tentação (1). Examina novamente a tua consciência; estuda todas as tuas paixões, especialmente a que no passado tenha sido a tua paixão dominante. Quando sentires que as inclinações más tornam a brotar em tua alma, procura abatê-las depressa pelos meios que o teu confessor te indicar, antes que ganhem força; no caso contrário serão os teus mais formidáveis inimigos.
A arma principal, porém, de que te deves servir, é a oração, porque o espírito imundo é um campeão armado, mais robusto do que tu, e que além de uma longa experiência tem a inteligência e a força de anjo. Numa palavra, lembra-te que quem na tentação ora e se recomenda a Deus, certamente será vencedor; e quem não ora, será vencido e se condenará.
Referências:
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 337-339)
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