
Sumário. Os reis da terra não dão sempre audiência, e muitas vezes acontece que o que lhes deseja falar, é despedido pelos guardas a pretexto de que não é tempo de audiência e deve vir mais tarde. Jesus, porém, no Santíssimo Sacramento, não faz assim; dá audiência a todos e a toda hora. É por isso que as igrejas estão sempre abertas. Porque então é que nós, que temos a sorte feliz de morar no palácio do Senhor, não aproveitamos melhor a sua condescendência para lhe expor as nossas necessidade e pedir graças?
I. Falando do nascimento do Redentor no presépio de Belém, São Pedro Crisólogo diz que os reis da terra não dão sempre audiência, e que, quando alguém lhes deseja falar, muitas vezes acontece que os guardas o despedem a pretexto de que não é tempo de audiência e deve vir mais tarde. O divino Redentor, pelo contrário, quis nascer numa gruta aberta, sem portas nem guardas, para dar audiência a todo o mundo e a toda a hora: Non est satelles qui dicat: Non est hora — “Não há guarda para dizer que não é a hora”. Isto mesmo faz Jesus no Santíssimo Sacramento. As Igrejas estão continuamente abertas; cada um pode, quando lhe aprouver, ir entreter-se com o Rei do céu.
E lá, Jesus quer que lhe falemos com toda a confiança: por esta razão é que ele se conserva sob as espécies de pão. Se o Senhor aparecesse sobre os altares num trono de luz, como aparecerá no juízo final, quem se atreveria a se aproximar dele? Mas, reflete Santa Teresa, como ele deseja que lhe falemos e peçamos suas graças cheios de confiança e sem temor, velou sua majestade sob as espécies de pão. Ele deseja, diz também Tomás de Kempis, que falemos a ele com um amigo fala a seu amigo. Por isso acrescenta o cardeal Hugo, nos sagrados Cânticos Jesus se chama a si próprio flor dos campos e açucena dos vales: Ego flos campi et lilium convallium (1). As flores dos jardins são encerradas e reservadas; mas as flores dos campos estão à disposição de todos.
Qual não seria a tua alegria, meu irmão, se o rei te chamasse ao seu gabinete e te falasse: Dize-me, que desejas? amo-te e desejo fazer-te bem. Pois é isto o que Jesus Cristo, o Rei do céu, diz a qualquer que o visita: Venite ad me omnes qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos — “Vinde a mim, vós todos que sois pobres, enfermos, aflitos: eu posso e quero enriquecer-vos, curar-vos e consolar-vos; é para isto que me conservo sobre os altares” (2).
II. Procura ir muitas vezes à audiência junto ao Rei do céu, e, se ainda não o tens, toma o belo hábito de assistir todas as manhãs à santa missa, durante a qual Jesus sacramentado dispensa as suas misericórdias mais profusamente. Não te detenham mais de render esta homenagem a Jesus Cristo, nem os negócios terrestres, nem o respeito humano. Thomas Morus, no meio dos seus múltiplos afazeres como Chanceler da Inglaterra, achava ainda todos os dias o tempo para assistir à missa, nem julgava indecoroso à sua dignidade o servir ele mesmo ao celebrante. Certo dia, enquanto praticava a sua bela devoção, avisaram-no que o rei o estava esperando. Thomas respondeu: “Tenha um pouco de paciência, primeiro devo tributar minha homenagem a um Soberano de mais alta hierarquia e assistir até ao fim à audiência do Rei do céu”.
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 69-71)
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