segunda-feira, 13 de maio de 2019

13 DE MAIO – FESTA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA









QUEM SE LEMBRA DE FÁTIMA?
O esquecimento sobre as aparições
No dia 13 de maio de 1995 ocorreu o 78o. aniversário da primeira aparição da Santíssima Virgem Maria em Fátima, Portugal, em 1917. Esse grande evento, manifestação realmente excepcional da Misericórdia divina, é agora deixado no mais profundo esquecimento e isso, precisamente, por culpa da hierarquia católica. Sobre o único sobrevivente dos três pequenos videntes1, Irmã Maria Lúcia do Coração Imaculado, mais conhecida sob o nome de irmã Lúcia (Lúcia dos Santos), paira o silêncio há vários anos. Enclausurada no Carmelo de Coimbra desde março de 1948, ela recebia periodicamente visitas autorizadas  das mais diversas personalidades eclesiásticas, de cardeais a simples pesquisadores sobre as aparições, assim como uma importante correspondência vinda de todos os cantos do mundo. Mas já a partir de 1954 (durante os três últimos anos do reinado de Pio XII) as visitas começaram a ser reduzidas pelas autoridades competentes, para terminar por serem completamente suprimidas a partir de 1960. Nesse ano estava prevista a leitura pública, pelo papa, do famoso “terceiro segredo” de Fátima, leitura que — como se sabe — não foi feita2. Ao contrário, a partir desse ano, Irmã Lúcia não pôde mais falar com ninguém sobre as aparições, nem mesmo por carta. Com exceção dos cardeais, aos quais não se aplicam as proibições da clausura, dos parentes mais próximos e benfeitores conhecidos das autoridades, ninguém pode se aproximar do parlatório do convento. As permissões de visita são dadas pelo prefeito da Congregação pela Doutrina da Fé, mas este (o Cardeal Ratzinger) há muitos anos não concede nenhuma.
Assim, foi imposto à Irmã Lúcia uma clausura dentro da clausura. É um fato surpreendente que, por si só, já dá uma idéia do ambiente no Vaticano. Aquela que, nesse século, pode testemunhar ter visto e ouvido a Santíssima Virgem Maria (e Nosso Senhor) é mantida num isolamento total, muito além das regras mais rígidas da clausura. Que o Vaticano tenha adotado a orientação de apagar e de fazer esquecer Fátima, resulta também do fato de que a obra científica fundamental e oficial sobre as aparições — os quatorze volumes do padre Alonso, nos quais esse pesquisador de valor recolheu, classificou e comentou 5396 documentos — essa obra esteja pronta desde 1976, mas sua publicação ainda não tenha sido autorizada pelas autoridades competentes3. Na realidade, a hierarquia parece não ter compreendido a importância da “mensagem de Fátima”. Senão os Papas teriam se empenhado com outro ardor em satisfazer os pedidos. Começando pelos atos de culto ordinário e extraordinário, pedidos repetidas vezes por Nossa Senhora e por Jesus em pessoa, nas visões e nas mensagens com as quais a Irmã Lúcia foi gratificada de 1917 à 1952 (pelo que sabemos). Nos referimos ao pedido de instituir a Comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados do mês em honra do Imaculado Coração de Maria e de Lhe consagrar publicamente, explicitamente e solenemente a Rússia, em união manifesta de todos os bispos.
Pio XI e Pio XII não fizeram a verdadeira consagração da Rússia
Nenhum dos dois pedidos foram ouvidos. O primeiro não foi nem mesmo tomado em consideração. Para o segundo, houve consagrações, mas nenhuma válida, porque não estavam conformes às modalidades expressamente pedidas pelo Céu. Os dois pedidos estão, aliás, ligados, porque no segredo comunicado no dia 13 de julho de 1917, a Santíssima Virgem disse: “Para impedir isso [a guerra mundial que acabava de ser profetizada em punição pela infidelidade e malícia humanas] virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora dos primeiros sábados [do mês]. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá é terão paz. Se não, ela espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, meu Coração Imaculado triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao mundo algum tempo de paz“.
Essa consagração ao Imaculado Coração de Maria foi, depois, pedida numa visão, no convento de Tuy, na Espanha, no dia 13 de junho de 1929, e o Papa reinante Pio XI, foi certamente informado antes de agosto de 1931: “É chegado o momento em que Deus pede ao Santo Padre de fazer, em união com todos os bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Coração Imaculado, prometendo salvá-la por esse meio“.
Trata-se de uma consagração solene, unicamente da Rússia, feita pelo Papa e simultaneamente pelos bispos de todo o mundo, consagração cujo fruto será a conversão da Rússia ao catolicismo. A Rússia, cismática e herética, comunista e atéia, não pode evidentemente se converter à verdadeira Fé (e pôr seu braço poderoso ao seu serviço) senão por uma intervenção divina explícita, na qual, entretanto, os homens (no caso o alto escalão da Igreja Católica) são chamados a participar — num ato solene — com a adesão plena e corajosa da sua inteligência e vontade.
Mas esse ato de consagração não deve, evidentemente, ser muito fácil de se fazer, pois até hoje os papas ainda não conseguiram fazê-lo! O medo das reações da Rússia e das outras potências desse mundo foi, até hoje, mais forte que o desejo de satisfazer ao pedido divino! E talvez esse pedido nunca tenha sido levado a sério, isto é, com a humildade e o zelo que a Fé exige. Depois de Pio XI, que não fez absolutamente nada, empenhado que estava num começo de tentativa — catastrófica — de abertura à União Soviética, houve de fato consagrações concernentes à Rússia, sob diversas modalidades, mas nunca respeitando a forma prescrita pela Santíssima Virgem. No dia 31 de outubro de 1942, Pio XII — numa rádio-mensagem dirigida à nação portuguesa — consagrava a Igreja e o mundo ao Imaculado Coração de Maria, com uma menção especial, mas muito discreta, da Rússia. Esse ato, entretanto, foi demonstrado completamente ineficaz para a conversão dessa nação por falta manifesta de algumas condições essenciais requeridas. A Santíssima Virgem Maria pediu de fato, expressamente, que a consagração tenha por objeto unicamente a Rússia, e a Irmã Lúcia, várias vezes chamou a atenção sobre esse ponto. Além disso, a consagração deve se fazer em união explícita com todos os bispos do mundo (e não somente com alguns). Nenhuma dessas duas condições essenciais foi realizada na ocasião da rádio-mensagem papal.
No dia 7 de julho de 1952, Pio XII, na sua carta apostólica Sacro vergente anno, dirigida aos povos da Rússia, efetuava uma consagração “de todos os povos da Rússia” ao Imaculado Coração de Maria para que, com a Sua ajuda, se realizasse “uma paz verdadeira, a concórdia fraterna e a liberdade que é devida a cada um”. Trata-se, pois, de uma consagração feita em termos vagos, na qual não se fala nem em reparação nem de conversão ao catolicismo, mas de paz, de concórdia e de liberdade em termos quase leigos: ainda mais, de uma consagração sem nenhuma solenidade. Não houve, realmente, uma ordem dada aos bispos do mundo inteiro de se unirem explicitamente ao Papa na consagração. Esse ato passou praticamente inadvertido e, além disso, que conversões foram produzidas? João XXIII, muito empenhado na Ostpolitik, nada fez. Paulo VI, referindo-se aos atos de Pio XII, limitou-se em consagrar à Maria Imaculada “toda a família humana”, no seu discurso de clausura da sessão conciliar, no dia 26 de novembro de 1964. Em relação à mensagem de Fátima, esse papa guarda sempre um desapego cético, como alto prelado refinado, “aberto ao mundo”, que ele era. Esteve em Portugal na ocasião do Jubileu das aparições (em 13 de maio de 67), mas limitou sua visita a um só dia, não foi no lugar das aparições, não deu à Irmã Lúcia — que tinha sido convocada à tribuna papal — a audiência privada que ela desejava. Segundo Jean Guitton, eis o seu julgamento sobre a vidente: “… uma moça muito simples! Ela é uma camponesa sem complicação. O povo queria vê-la e eu lhas mostrei“.
João Paulo II continua pelo mesmo caminho
O papa atual [N. da P., o autor refere-se ao papa João Paulo II, então reinante] só mostrou um certo interesse por Fátima depois do conhecido atentado que sofreu no dia 13 de maio de 1981. Cerca de um mês mais tarde confiou a “família humana” inteira à proteção da Bem-aventurada Virgem. Mas a Irmã Lúcia continuava a sustentar, nas suas raras entrevistas com autoridades eclesiásticas, que as consagrações de Pio XII não eram válidas do ponto de vista da conversão da Rússia (conversão da qual não se via nenhum traço). João Paulo II fez, assim, novas consagrações, sob a forma de um “ato de oferenda” do mundo (e mentalmente ‘ da Rússia também) a Deus, por intermédio do Imaculado Coração de Maria, em união puramente espiritual com “todos os pastores da Igreja” que, no entanto, por seu lado, não consagraram coisa nenhuma. Esse ato foi repetido dia 16 de outubro de 1983 e, em face dos protestos dos católicos, no dia 25 de março de 1984 em Roma. Mas esses três “atos” devem ser considerados como totalmente inválidos no que concerne à conversão desejada da Rússia, por causa da falta das condições pedidas pela Santíssima Virgem Maria. Com efeito, eles deveriam referir-se somente à Rússia (que, ao contrário, nem mesmo foi citada) e serem realizados simultaneamente por todos os bispos do mundo. Em seguida, diante das novas tentativas de alguns especialistas em Fátima (com o padre Caillon em primeiro lugar), de obter uma consagração da Rússia conforme ao pedido divino, o papa e as autoridades eclesiásticas reagiram incomodados, afirmando que já se havia feito (e mais de uma vez) o necessário. A questão devia ser considerada como terminada. Em 1989 fizeram circular declarações e cartas (datilografadas) atribuídas à Irmã Lúcia, nas quais se afirmava que o ato de oferenda de 1984 correspondia ao pedido por Nossa Senhora. Mas nessas cartas estava dito que o ato de oferenda do papa tinha satisfeito o pedido de Nossa Senhora de lhe consagrar o “mundo”, enquanto que todo mundo sabe que a Irmã Lúcia sempre disse que a Santíssima Virgem lhe falou somente da Rússia e nunca falou do mundo. A autenticidade dessas declarações, assim, parece duvidosa. Procurou-se, depois, criar a opinião que os transtornos do leste da Europa e a crise do comunismo demonstravam que o ato de oferenda de João Paulo II produziu seus frutos: a Rússia começaria a se converter. Nossa Senhora, no entanto, não pediu a conversão da Rússia à liberdade de consciência ou à democracia, mas sim ao catolicismo. Ora, dessa conversão ao catolicismo (a única que conta) não se vê sinal na Rússia de hoje que gosta de se definir como “pós-comunista”. O Vaticano afirma que a questão está encerrada. Onze anos se passaram depois do ato de oferenda do papa; a Rússia se converteu? Categoricamente, a resposta é: Não. O que vemos na Rússia atual? Uma desordem moral espantosa, talvez mesmo pior que a que aflige o Ocidente há vários anos. O hedonismo e o materialismo os mais ativos, se expandem, numa orgia de seitas e falsas religiões, de neopaganismo bárbaro e decadente.
Os católicos russo-ucranianos (os uniatas), foram completamente abandonados, em homenagem à política do “diálogo” com os ortodoxos e o poder político local. Em vez de se expandir, o catolicismo na Rússia sofreu, ao contrário, uma nova perseguição! Podemos então continuar a afirmar que os “atos de oferenda” do papa conduzem a Rússia para a verdadeira Fé? Que foram atos conformes à vontade divina? Os fatos demonstram que o papa não satisfez os pedidos da Santíssima Virgem Maria.
Uma terrível advertência!
Quando o céu ordena, o homem nada pode fazer conforme o seu parecer. Ele deve, ao contrário, seguir o exemplo de Naaman, o Sírio, que se deixou convencer em entrar sete vezes nas águas do Jordão para curar a lepra, obedecendo assim literalmente ao que lhe tinha ordenado o profeta Eliseu, apesar da coisa lhe parecer, no momento, absurda, ofensiva e mesmo ridícula (2o. Livro dos Reis). Curar-se da lepra apenas com sete imersões consecutivas nas águas de um rio! E, no entanto, isso acontece justamente porque a onipotência divina é capaz disso e de qualquer outra coisa. Os papas citados acima não tiveram, evidentemente, a Fé de Naaman. Não creram que, de um simples ato de consagração, pudesse decorrer, pela vontade divina, um evento imenso, de porte histórico decisivo, tal como a conversão da Rússia ao catolicismo.
Mas, então, a consagração da Rússia se fará? Os papas continuarão a ignorar os pedidos divinos? Não. A consagração será feita, mas tarde. E o que profetizou Nosso Senhor à vidente, repetindo o que a Santíssima Virgem Maria tinha dito em Fátima, numa visão que remonta à 1931, em Rianjo, na Espanha, diante da atitude passiva de Pio XI: “Dê a conhecer a meus ministros, dado que eles seguem o exemplo do Rei de França, atrasando a execução de meu pedido, que continuarão na infelicidade. Nunca será tarde demais para recorrer à Jesus e a Maria… Como o Rei de França, eles se arrependerão e o farão, mas será tarde…”.
A referência ao rei de França concerne à visão de santa Margarida Maria Alacoque, que a transmitiu a Luís XIV em 1689, de consagrar explicitamente a França ao Sagrado Coração de Jesus; mas nem o rei de França, nem seus sucessores responderam a esse pedido, com exceção de Luís XVI, que fez a consagração quando já era “tarde”, isto é, quando a monarquia já tinha sido abatida e ele encontrava-se prisioneiro no Templo, na véspera da sua execução. Segundo a profecia, deveria acontecer aos papas alguma coisa parecida, por causa da sua negligência e da sua obstinação: um papa fará finalmente a consagração, levado pelas circunstâncias gravíssimas, situação que se pode imaginar de extremo perigo para a Igreja. Sobre o papado flutua, ex voce Christi, mesmo se expressa numa revelação privada, a profecia de um castigo severo por causa da desobediência e da sua falta de Fé repetidas vezes, profecia cuja realização pode naturalmente tornar-se inútil por uma mudança de sentimento e de conduta dos destinatários, do momento que Deus nos deixa o uso do nosso livre arbítrio. Profecia terrível, na qual não foi dita, no entanto, “tarde demais”, mas “tarde”, deixando assim entendido que, depois desse ato tardio, haverá para a Igreja o renascimento. Nenhum papa depois de Pio XII pareceu inquietar-se com essa terrível advertência, talvez porque a profecia e praticamente todo o conjunto da mensagem de Fátima sejam, de fato, consideradas como divagações da reclusa de Coimbra.
A questão do terceiro segredo
A omissão, por uma recusa obstinada e constante, perdurou em seguida de maneira mais grave em relação à divulgação do terceiro segredode Fátima. Por esse nome entende-se, como se sabe, a terceira parte do segredo comunicado aos três videntes na sexta-feira, 13 de julho de 1917, segredo divulgado depois gradualmente no decorrer dos anos seguintes, por Irmã Lúcia (com exceção do terceiro segredo). Osegredo (que os videntes disseram ter recebido, sem no entanto nada revelar, não obstante as pressões, intimidações ou ameaças) é, na realidade, um todo coerente. Ele contém “três coisas”: a visão do inferno; a proclamação da vontade de Deus de estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria para salvá-lo do castigo da II guerra mundial (profetizada com extrema clareza), devoção cujas manifestações deveriam ser a prática da comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados do mês e a consagração da Rússia, a qual nos referimos mais acima. Na segunda parte do segredo, Nossa Senhora, depois de ter dito que a I guerra mundial acabaria em breve, parece vincular a eclosão da II guerra mundial à falta de conversão da Rússia. Enfim, há a terceira parte ou o “terceiro segredo”, posto por escrito pela vidente em janeiro de 1944 numa página de caderno que foi enviada dentro de um envelope fechado, no dia 17 de maio de 1944, para o bispo de Leiria (que não quis ler) e transmitido a Roma, dia 16 de abril de 1957. Pio XII também não quis lê-lo. Segundo as indicações da Irmã Lúcia, a publicação do segredo deveria ter sido feita em 1960. A vidente sempre deu a compreender que essa parte do segredo de Fátima não podia, por causa do seu conteúdo, ser do domínio público como as duas outras: quanto à sua divulgação, ela a confiava às autoridades eclesiásticas superiores e não à simples ordem do seu confessor. Os papas que leram o 3o. segredo e que são responsáveis da sua não difusão são: João XXIII, Paulo VI e o papa atual, João Paulo II. O terceiro segredo começa quase com certeza, com a última frase do texto no qual Irmã Lúcia nos fez conhecer as duas outras partes da mensagem de Fátima. E essa frase é: “em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc”. A presença do “etc” demonstra que Irmã Lúcia quis dar a entender que a frase em questão não é uma profecia isolada dirigida exclusivamente a Portugal. (o que alguns tentaram sustentar), mas o início de um anúncio sobre a manutenção do dogma da Fé nas nações cristãs. O terceiro segredo concerne, segundo todas as probabilidades, à manutenção do depósito da Fé, o que quer dizer que seu objeto específico é a Santa Igreja. É muito provável que nele estejam sinteticamente profetizados os graves transtornos que o catolicismo viria sofrer, por causa da hierarquia impregnada de modernismo, “estuário de todas heresias”, a partir do Concílio Vaticano II. A traição da Fé por culpa de pastores, escravos da heresia, é certamente antecipada no terceiro segredo: é por isso que a Igreja oficial atual, que é a Igreja na qual esses pastores detém as alavancas do poder, evita torná-lo público e tudo faz para deixá-lo cair no esquecimento. Não se trata pois do fim do mundo, como se procuro insinuar, embora não se possa excluir à priori que sejam anunciados também castigos materiais (aliás já claramente previstos na segunda parte da mensagem de Fátima). O terceiro segredo concerne à Igreja, à dolorosa obscuridade da Fé da qual somos testemunhas cada vez mais horrorizadas. Podemos também deduzir que seja assim pelo que disse o papa atual à Irmã Lúcia no seu breve encontro de 13 de maior de 1982, e que ela relatou ao cardeal Oddi em 1985: que não era oportuno divulgar o segredo porque o mundo “não o compreenderia”. Ou, como disse o cardeal Ratzinger ao jornalista Messori, que não era oportuno divulgá-lo porque se exporia “ao perigo de utilizarem o seu conteúdo com sensacionalismo”. Se se tratasse do fim do mundo, o público não compreenderia? Ele compreenderia, e como! E o que poderia haver no segredo que, não somente faça sensação, mas seja difícil de compreender pelos fiéis, se não a revelação ex voce divina, sancionada por um papa que clamará ao mundo quando fizer uma leitura pública do famoso texto, que a Igreja oficial atual é uma Igreja apóstata da verdade católica, dessa verdade proclamada e defendida durante dezenove séculos? 
Será que os fiéis não deveriam já ter percebido isso há muito tempo? O que eles pensam de uma Igreja que, no lugar do culto de Deus, pratica o culto do homem e da mulher, que tirou a Santíssima Trindade da Santa Missa, dos seus discursos e dos pensamentos dos fiéis; que afirma crer em um “Deus único” idêntico para todas as religiões, inclusive as mais hostis ao Cristianismo; que não fala mais do pecado original, nem da imortalidade da alma, nem do Julgamento particular e, finalmente, nem do Paraíso; que deixa crer que o inferno está vazio; que, quando é constrangida a lembrar, no Novo Catecismo, as verdades tradicionais do catolicismo, o faz apresentando-as comoopiniões (subjetivas) da tradição da Igreja e não como verdades (objetivas) em si e por si; que instituiu um Novus Ordo Missae considerado como aceitável  pelos protestantes, quer dizer, por heréticos; que passa sempre sob silêncio a natureza divina de Cristo, porque se a proclamasse, como é seu dever, desapareceria rapidamente o que chamam “diálogo”; que afirma que Jesus já salvou todo o mundo, morrendo sobre a Cruz, mesmo aqueles que não crêem que Ele é o Filho de Deus; que não considera mais a conversão do mundo a Cristo como seu dever fundamental, porque tentar converter seria uma violência à “liberdade de consciência” dos adeptos das outras religiões; que abraçou em tudo e por tudo os métodos e os conceitos e, assim, os erros da teologia protestante; que honra os “mártires” dos heréticos e elimina os seus próprios do calendário; que trabalha incansavelmente a unificar o catolicismo com todas as outras religiões e seitas, dissolvendo-o, assim, no abraço do falso ecumenismo; que fala somente, e de maneira inoportuna, dos problemas desse mundo, políticos em particular, e nunca da vida Eterna; para a qual no lugar do catolicismo inventou-se um humanismo deísta, parecido ao dos maçons, o qual, em nome de um igualitarismo abstrato e verbal, fomenta o espírito de rebelião e o ódio por toda autoridade legítima, incitando grupos sociais inteiros a esperança messiânicas completamente anticristãs?
Poderíamos continuar. Poderíamos encher páginas com a lista das infidelidades e traições cometidas pelos homens atuais da Igreja. Não todos, certamente, apesar de ser verdadeiro o provérbio: Quem cala consente. E que acabam tornando-se cúmplices, mesmo sem querer. Será que não há, em toda a Igreja Católica, um só bispo ou cardeal, capaz de elevar-se contra a moda dominante, para defender em alta voz o dogma da Fé? Além do mais, a Irmã Lúcia, no que seria sua última entrevista, o seu famoso encontro com o padre Fuentes, de 26 de dezembro de 1957, tinha já denunciado a surdez espiritual crescente e o início da perda da Fé: “Padre, a Santíssima Virgem está muito triste porque ninguém faz caso de Sua mensagem, nem os bons nem os maus. Os bons continuam seu caminho, mas sem se preocupar da mensagem. Os maus, visto que o castigo de Deus não os fere no momento, continuam sua vida de pecado sem fazerem caso da mensagem. Mas, creia-me padre, Deus vai castigar o mundo e o fará de uma maneira terrível [estávamos na véspera do Concílio Vaticano II, que representou para a Igreja — segundo Congar — o que os États Generaux representaram para a Revolução Francesa]. Diga-lhes [ao bispo de Leiria e a Pio XII que não quiseram ler o terceiro segredo] que a Santíssima Virgem disse várias vezes, a meus primos Francisco e Jacinta e a mim, que muitas nações desaparecerão da face da terra, que a Rússia será o instrumento da punição do Céu em relação ao mundo inteiro, se não conseguirmos obter antes, a conversão dessa pobre nação (…) Padre, o diabo vai começar uma batalha terrível contra a Virgem, e como ele sabe o modo de ofender mais a Deus e perverter em pouco tempo o maior número de almas, ele faz tudo para ganhas as almas das pessoas consagradas a Deus (…). Padre, não esperamos que venha de Roma um apelo à penitência da parte do Santo Padre para o mundo inteiro. Nem esperemos tampouco que venha dos nossos bispos um apelo das suas dioceses respectivas, nem das congregações religiosas. Não, Nosso Senhor já utilizou muitas vezes esses meios e o mundo os ignorou. É por isso que, agora, é necessário que cada um de nós comece em si mesmo a sua própria reforma espiritual. Cada um deverá salvar não somente sua alma, mas também todas as almas que Deus colocou no seu caminho“.
E os meios para realizar a “reforma espiritual” para nós e para os outros são os verdadeiros instrumentos católicos para a salvação das almas, isto é, “a oração e o sacrifício”, “o santo Rosário” e a “devoção ao Imaculado Coração de Maria”.
Jamais exprimiremos o suficiente a nossa admiração e gratidão pela Irmã Lúcia, essa figura exemplar de religiosa, exemplo perfeito, pela graça de Deus, de virtude cristã, simples, humilde e devota, que resiste e persevera até o fim, no silêncio hostil que a cerca, para levar a seu termo a missão que Nosso Senhor lhe confiou há tantos anos. 
Ela é para nós um modelo no combate que devemos levar todos os dias contra nós mesmos e contra o mundo. Seu sofrimento, sua luta intrépida pela defesa e o triunfo do dogma da Fé, nos são de grande ajuda e reconforto, cercados como estamos pelas trevas que parecem se espessar sempre mais, enquanto a tempestade se levanta na Igreja a cada dia que passa. A carmelita de Coimbra nos lembra que, apesar das aparências, Deus não nos abandonou, que devemos permanecer sempre sólidos na Fé porque “no fim“, depois das provas que só Deus conhece, o Imaculado Coração de Maria “triunfará“.
Aemilianus
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1.[N. da P] Irmã Lúcia faleceu no dia 13 de fevereiro de 2005, cerca de 9 anos após a publicação deste artigo.
2.[N. da P] No dia 26 de janeiro de 2000, numa conferência de imprensa, foi apresentado um texto que, segundo o Vaticano corresponderia à totalidade do “terceiro segredo”. Por todo mundo, uma onda de ceticismo se formou. Leia nossos comentários nesse site.
3.[N. da P] A obra monumental do padre Alonso, fruto de um labor de 10 anos e considerada de grande valor por quem o leu, teve sua publicação suspensa em 1976 por ordem do bispo de Fátima, Mons. D. Alberto Cosme do Amaral. Anos depois, 2 dos 24 volumes viriam a ser publicados, assim mesmo em edições alteradas. Qual seria o conteúdo desses documentos e o que teria o padre Alonso concluído das suas pesquisas? Podemos apenas adivinhar com base em alguns trechos de artigos publicados pelo mesmo em periódicos. A citação abaixo, que tiramos do artigo “Crônica de um Encobrimento”, publicado no site da Associação de Fátima, reforça a idéia de que o conteúdo do Terceiro Segredo se referiria a onda de apostasia do após Concílio Vaticano II: “No período que precede o grande triunfo do Coração Imaculado de Maria, sucederão coisas tremendas que são objecto da terceira parte do Segredo. Que coisas serão essas? Se ’em Portugal, se conservará sempre o dogma da Fé, …’ pode claramente deduzir-se destas palavras que, em outros lugares da Igreja, estes dogmas vão tornar-se obscuros ou chegarão mesmo a perder-se …”; “Seria, então, de toda a probabilidade que, nesse período ‘intermédio’ a que nos estamos a referir (depois de 1960 e antes do triunfo do Imaculado Coração de Maria), o texto (do Terceiro Segredo) faça referências concretas à crise da Fé na Igreja e à negligência dos Seus próprios Pastores.” O Padre Alonso fala ainda de “lutas intestinas no seio da própria Igreja e de graves negligências pastorais por parte das altas hierarcas” e, mesmo, de “deficiências na alta Hierarquia da Igreja…”; “Falaria o texto original (e inédito) de circunstâncias concretas? É muito possível que não só fale de uma verdadeira ‘crise de fé’ na Igreja durante este período intermédio, mas ainda, como acontece com o segredo de La Salette, por exemplo, que haja referências mais concretas às lutas internas dos católicos ou às deficiências de sacerdotes e religiosos. Talvez se refira, inclusivamente, às próprias deficiências da alta Hierarquia da Igreja.” “Por isso, nada disto é alheio a outros comunicados que a Irmã Lúcia tenha feito sobre este assunto.”. Significativamente, a Irmã Lúcia nunca corrigiu estas conclusões do Padre Alonso – quando nunca hesitou em corrigir outras declarações de clérigos e de vários autores sobre Fátima, sempre que estavam enganados. Ora o Padre Alonso teve acesso tanto aos documentos como à própria Irmã Lúcia. Assim, o seu testemunho é de importância capital.

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