Astitit regina a dextris tuis, in vestitu deaurato, circumdata varietate – «Apresentou-se a rainha à tua direita, com manto de ouro, cercada de variedade» (Sl. 44, 10)
Sumário. Maria morre, e acompanhada de inúmeros espíritos celestiais e de seu próprio Filho, entra no céu em alma e corpo. Deus abraça-a, abençoa-a e a faz Rainha do universo, elevando-a acima de todos os anjos e santos. Regozijemo-nos com a divina Mãe, que é também a nossa, e avivemos a nossa confiança nela, invocando-a em todas as nossas necessidades. Roguemos-lhe sobretudo que, assim como ela morreu de puro amor a Deus, possamos nós morrer ao menos com contrição dos nossos pecados.
I. Maria morre, mas como? Morre toda desapegada do afeto às criaturas, e morre consumida pelo divino amor, de que o seu santíssimo coração estava sempre todo abrasado. Ó santa Mãe, ides deixar a terra: não vos esqueçais de nós, pobres peregrinos, que ainda ficamos neste vale de lágrimas, combatidos por tantos inimigos, que desejam a nossa perdição eterna. Pelos merecimentos da vossa preciosa morte, vos suplicamos que nos obtenhais o desapego das coisas terrestres, o perdão dos pecados, o amor de Deus e a santa perseverança. E, quando chegar a hora da nossa morte, assisti-nos lá do alto do céu, com a vossa intercessão, e alcançai-nos a graça de irmos ao paraíso beijar os nossos pés.
Maria morre; seu preciosíssimo corpo é levado pelos apóstolos à sepultura, guardado pelos anjos durante três dias, e em seguida transportado ao paraíso. Mas a sua alma formosa, apenas saiu do corpo, entra na beatitude eterna, acompanhada de inúmeros anjos e do seu próprio Filho. Já no céu, a humilde Virgem, adora-o e com afeto imenso lhe agradece todas as graças que lhe foram dispensadas. Deus abraça-a, abençoa-a e a faz Rainha do universo, exaltando-a acima de todos os anjos e santos: Exaltata est sancta Dei Genetrix super choros angelorum ad coelestia regna.
Se, no dizer do Apóstolo, a inteligência não pode compreender a glória imensa que Deus preparou no céu para os seus servos que o amaram na terra; quão grande não será a glória que lhe concedeu à sua santíssima Mãe, que em terra o amou mais do que todos os santos e anjos, e o amou com todas as suas forças? De modo que, chegando ao céu, pôde dizer a Deus: Senhor, se não Vos amei tanto como mereceis, ao menos Vos amei quanto pude.
II. Alegremo-nos com Maria pela glória a que Deus a sublimou; mas alegremo-nos por nossa causa, porquanto, ao mesmo tempo que Maria foi elevada à dignidade de Rainha do mundo, foi também feita nossa advogada. Advogada tão piedosa, que se encarrega da defesa de todos os pecadores que a ela se recomendam; e tão poderosa junto do nosso Juiz, que ganha todas as causas.
Ó grande, excelsa e gloriosíssima Senhora, prostrados aos pés do vosso trono, nós vos veneramos deste vale de lágrimas, e nos alegramos pela glória imensa com que vos enriqueceu o Senhor. Agora, que já reinais como Rainha do céu e da terra, ah! não vos esqueçais de nós, vossos pobres servos. Do alto do sólio excelso em que reinais, não vos dedigneis devolver os vossos olhos piedosos a nós, miseráveis. Quanto mais vizinha estais da fonte das graças, tanto mais no-las podeis comunicar. No céu descobris melhor as nossas misérias, portanto é preciso que tenhais compaixão de nós e mais nos socorrais.
Ah, Mãe dulcíssima, Mãe amabilíssima! os vossos altares estão cercados de muita gente, que vos pede, este para ser curado de alguma enfermidade, aquele para ser provido em suas necessidades; um vos pede uma boa colheita, outro, a vitória de uma demanda. Nós vos pedimos graças mais agradáveis ao vosso coração: alcançai-nos a humildade, o desapego da terra, a resignação com a vontade divina. Impetrai-nos o santo temor de Deus, uma boa morte, o céu. Numa palavra, mudai-nos de pecadores em santos e fazei que, depois de termos sido cá na terra os vossos fiéis servos, possamos um dia ir gozar da vossa presença no céu.
«E Vós, ó Senhor, perdoai os crimes dos vossos servos: para que, já que não podemos agradar-Vos com as nossas obras, sejamos salvos pela intercessão da Mãe de vosso Filho e Senhor nosso»[1]. Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo.
[1] Or. festi.
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LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Terceiro: desde a duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 347-350.
LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Terceiro: desde a duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 347-350.
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