segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Dor de Jesus Menino pela previsão da ingratidão dos homens

 Tire o maior proveito desta Novena de Natal seguindo os passos

para se fazer a Oração Mental proposta por Santo Afonso!

In propria venit, et sui eum non recepernunt – Veio para o que era seu, e os seus não o receberam (Jo 1, 11)

Sumário. A ingratidão desagrada aos homens. Qual deve, pois, ter sido a tristeza de Jesus Menino, ao prever que os seus benefícios seriam pagos pelo mundo com injúrias, traições e tormentos! Mas ai de nós, que por ventura também até hoje temos respondido aos benefícios do Senhor de um modo tão desumano. Ou pelo menos temo-lo amado tão pouco, como se nenhum bem nos tivesse feito, nem sofrido coisa alguma por nós. Quereremos ser tão ingratos sempre?

Jesus Menino e Nossa Senhora

Jesus Menino e Nossa Senhora

I. Pelos dias do Santo Natal, São Francisco de Assis andava pelos caminhos e bosques chorando e suspirando com gemidos inconsoláveis. Perguntando pela razão de tanto sofrer respondeu:

Como não chorar, vendo que o amor não é amado? Vejo um Deus como que perdido de amor ao homem, e o homem tão ingrato para com esse Deus!

Ora, se a ingratidão dos homens afligia tanto o coração de São Francisco, quanto mais não terá afligido o Coração de Jesus Cristo?

Apenas concebido no seio de Maria, Jesus viu a ingratidão despiedada que receberia da parte dos homens. Baixara do céu para acender o fogo do divino amor; somente este desejo fizera-o descer sobre a terra para ali sofrer um abismo de dores e ignomínias: Ignem veni mittere in terram (1) – Eu vim trazer o fogo à terra. E em seguida viu um abismo de pecados que os homens haviam de cometer, depois de presenicarem tantos rasgos de seu amor. Foi isso, no pensar de São Bernardino de Sena, o que o fez sofrer dores infinitas: Et ideo infinite dolebat. Mesmo para nós é insuportável vermos uma pessoa tratada por outra com ingratidão, e muita vezes isto aflige muito mais a alma, do que qualquer dor aflige o corpo. Qual não deve, pois, ter sido a dor que nossa ingratidão causou a Jesus, nosso Deus, quando viu que os seus benefícios e o seu amor lhe seriam retribuídos por nós com desgostos e injúrias? Et posuerunt adversum me mala pro bonis, et odium pro dilectione (2) – Retribuíram-me o bem com o mal, e o meu amor com ódio.

Parece que também hoje em dia Jesus Cristo se queixa: Tamquam extraneus factus sum fratribus meis (3) – Fiquei como que um estranho a meus irmãos. Porquanto vê que de muitos não é amado, nem conhecido, como se nenhum bem lhes tivesse feito, e nada por amor deles tivesse sofrido. Ó Deus, que caso fazem também presentemente tantos cristãos do amor de Jesus Cristo?

II. Apareceu certo dia o Redentor ao Bem-aventurado Henrique Suso, sob a forma de um peregrino que andava de porta em porta, a pedir pousada, mas todos o repeliam com injúrias e ultrajes. Ai! quantos homens se parecem com aqueles de que fala Jó, dizendo: Diziam a Deus: Retira-te de nós… sendo ele quem cumulou de bens as suas casas (4). Em outro tempo nós também nos temos unido àqueles ingratos; mas quereremos continuar do mesmo modo? Não, porque não merece tal o Menino amável que baixou do céu para padecer e morrer por nós, e assim fazer-se amar de nós.

Meu amado Jesus, será verdade que Vós baixastes do céu para Vos fazerdes amar de mim, que por meu amor viestes abraçar uma vida de trabalhos e a morte de cruz, afim de que eu Vos faça boa acolhida em meu coração, eu que tive a audácia de Vos repelir tantas vezes de mim, dizendo: Recede a me, Domine – Afasta-te de mim, Senhor; não Vos quero? Ó meu Deus, se não fosseis a bondade infinita e não tivesseis dado a vida para me perdoardes, não me animaria a peidr-Vos perdão. Mas ouço que vós mesmo me ofereceis a paz: Convertimini ad me, ait Dominus, et convertar ad vos (5) – Convertei-vos a mim, diz o Senhor, e eu me converterei a vós. Vós mesmo, ó Jesus, a quem tenho ofendido, quereis ser o meu advogado: Ipse est propitiatio pro peccatis nostris (6) – Ele é a propiciação pelos nossos pecados. Não Vos quero fazer nova injúria desconfiando da vossa misericórdia. Pesa-me de toda a minha alma de Vos ter desprezado, ó Bem supremo; pelo sangue que derramastes por mim, recebei-me em vossa graça.

Pater, non sum dignus vocari filius tuus (7) – Meu Pai e meu Redentor, não sou mais digno de ser vosso Filho, depois de ter renunciado tantas vezes ao vosso amor; mas fazei-me digno com os vossos merecimentos. Graças Vos dou, meu Pai, graças Vos dou e Vos amo. Ah, só a lembrança da paciência com que me tendes suportado tantos anos, e das graças que me tendes dispensado, depois de tantas injúrias que vos causei, deveria fazer-me viver sempre abrasado em vosso amor. Vinde, pois, meu Jesus, não quero mais repulsar-Vos, vinde morar em meu pobre coração. Amo-VOs e quero amar-Vos sempre. Abrasai-me sempre mais, lembrando-me o amor que me mostrastes.

Minha Rainha e Mãe, Maria, ajudai-me, rogai a Jesus por mim; fazei com que, no tempo de vida qeu ainda me resta, me mostre grato a Deus, que me amou tanto, ainda depois de eu o ter ofendido tão gravemente.

Referências:
(1) Lc 12, 49
(2) Sl 108, 5
(3) Sl 68, 9
(4) Jó 22, 17
(5) Zc 1, 3
(6) Jo 2, 2
(7) Lc 15, 21

OBS: Santo Afonso indulgenciou esta Novena da seguinte forma: para cada dia da Novena, recebemos Indulgência de 300 dias. Para o dia do Natal ou num dia da Oitava, recebemos Indulgência Plenária se fizermos e cumprirmos as obras prescritas da Confissão e da Comunhão.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 68-71)

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