sábado, 17 de abril de 2021

Maria Santíssima, modelo de caridade para com o próximo

 

Hoc mandatum habemus a Deo: ut qui diligit Deum, diligat et fratrem suum – “Nós temos de Deus este mandamento, que o que ama a Deus, ame também a seu irmão” (1 jo 4, 21)

Sumário. O amor para com o próximo nasce do amor para com Deus. Ora, como nunca existiu, nem jamais existirá, quem mais que Maria Santíssima amasse a Deus, assim nem houve, nem haverá, quem mais que a Santíssima Virgem tenha amado e ame o próximo. Basta saber que esta sua caridade a levou a oferecer à morte, entre as dores mais acerbas, e pela nossa salvação, o seu Filho unigênito. Felizes de nós se soubermos imitar uma Mãe tão carinhosa. Ela usará para conosco da mesma caridade que tivermos para com o próximo..

I. O amor para com Deus e para com o próximo nos é imposto no mesmo preceito: Nós temos de Deus este mandamento, diz São João, que o que ama a Deus, ame também a seu irmão. A razão é óbvia, diz Santo Tomás; porque quem ama a Deus, ama todas as coisas amadas por Deus. Mas visto que não existiu, nem jamais existirá, quem mais que Maria amasse a Deus, também não houve, nem haverá, quem mais que a Santíssima Virgem tenha amado o próximo. Sobre esta passagem dos Cânticos: Ferculum fecit sib rex Salomon… media caritate constravit, propter filias Ierusalem (1) —– “O rei Salomão fez para si uma liteira… revestiu-a de caridade por causa das filhas de Jerusalém”, o Padre Cornélio a Lapide diz que esta liteira foi o seio de Maria, no qual habitou o Verbo incarnado, enchendo sua Mãe de caridade, a fim de que auxiliasse a qualquer que a ela recorresse.

Vivendo neste mundo, foi Maria tão cheia de caridade, que socorria os necessitados, mesmo sem que lho pedissem; como fez precisamente nas bodas de Caná, quando pediu ao Filho o milagre do vinho, expondo-Lhe a aflição daquela família: Vinum non habent (2) — “Eles não tem vinho”. — Oh, quanto ela se apressava quando se tratava de socorrer o próximo! Quando, por ofício de caridade, visitou a casa de Isabel, foi com pressa às montanhas: abiit in montana cum festinatione (3). Não pode, porém, demonstrar melhor a sua grande caridade que oferecendo à morte o seu Filho pela nossa salvação, pelo que São Boaventura diz: “Maria amou o mundo de tal modo, que deu por ele o seu Filho unigênito.”

Esta caridade de Maria para conosco não é menor agora que ela está no céu; muito ao contrário, como diz o mesmo São Boaventura, ali muito se tem aumentado, porque conhece melhor as nossas misérias. Pobres de nós, se Maria não rogasse a nosso favor! Revelou Jesus Cristo à Santa Brígida que, se as súplicas da divina Mãe não intercedessem por nós, não haveria esperança de misericórdia.

II. Bem-aventurado aquele (diz a divina Mãe), que presta atenção aos meus preceitos e observa a minha caridade, para depois, à minha imitação, praticá-la com os outros: Beatus homo qui audit me (4) — “Bem-aventurado o homem que me ouve”. Afirma São Gregório Nazianzeno que, para adquirirmos o afeto de Maria, não há coisa melhor do que usar caridade para com o próximo. Por isso, assim como Deus nos exorta: Sede misericordiosos, como vosso Pai é misericordioso (5); assim parece que Maria diz a todos os seus filhos: Sede misericordiosos, assim como é misericordiosa a vossa Mãe.

É certo que segundo a caridade que nós usarmos para com o próximo, Deus e Maria a usarão para conosco, conforme diz Jesus Cristo, que nos medirá com a mesma medida com que tivermos medido aos outros (6). — Numa palavra, conclui o Apóstolo, a caridade para com o próximo é útil para tudo, e nos faz felizes nesta vida e na outra, porque tem a promessa da vida presente e da futura (7); e quem socorre os necessitados faz com que o próprio Deus lhe fique sendo devedor (8).

Ó Mãe de misericórdia, vós sois cheia de caridade para com todos; não vos esqueçais de minhas misérias. Vós as conheceis. Recomendai-me a Deus, que nada vos nega. Alcançai-me a graça de poder imitar-vos na santa caridade tanto para com Deus como para com o próximo. — E Vós, ó meu Jesus, tende piedade de mim; perdoai-me todos os desgostos que Vos dei, particularmente pela minha pouca caridade com o próximo. Perdoai-me, Senhor, e não me entregueis à mercê das minhas paixões, como mereceria. Se prevedes que para o futuro eu tenho de Vos ofender novamente, deixai-me antes morrer agora, que espero estar na vossa graça. Fazei-o pelos merecimentos da caridade de Maria Santíssima, vossa querida Mãe.

Referências:

(1) Ct 3, 9
(2) Jo 2, 3
(3) Lc 1, 39
(4) Pv 8, 34
(5) Lc 6 ,36
(6) Lc 6, 38
(7) 1 Tm 4, 8
(8) Pv 19, 17


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 34-37)


Santo Afonso: “Lúcifer é constrangido a ficar prostrado sob os pés de Maria”






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