quarta-feira, 18 de março de 2020

12 importantes proveitos da Oração Mental

Os proveitos que se tiram de exercitar a oração mental são tantos, e tão importantes, que para os declarar seriam necessários muitos livros. Nós neste lugar, para tocarmos alguma parte de seus louvores, somente compararemos a Oração à Árvore da vida, que São João viu no Paraíso celestial; e da qual diz, que produzia doze géneros de frutos. Porque verdadeiramente a Oração Mental é uma árvore plantada pela mão de Deus no Paraíso da Igreja para sustento da vida espiritual: sua é aquela grande excelência de ser um colóquio da alma com o mesmo Deus; e daqui procedem seus copiosíssimos, e dulcíssimos frutos, que podemos reduzir aos doze seguintes:

I. A Oração Mental reforma eficazmente a vida, e arranca de raiz os vícios, que com nenhum outro remédio se podiam arrancar: e cada dia nos está mostrando a experiência, que pecadores, mui envelhecidos em seus maus costumes, com pouco tempo, que usaram este exercício, se tornaram tão outros, que o mesmo Confessor os desconhece. E também purga os pecados da vida passada; porque o pecador os chora novamente cada dia, e quando chega ao Sacramento da Confissão, leva deles exame mais cuidadoso, e contrição mais viva.

II. Alcança grande luz das verdades, e mistérios de nossa Santa Fé, conforme aquilo do Salmo: "Chegai-vos a Deus, e sereis alumiados" (Salmo 34). Donde vem, que um rústico, ou uma mulher simples com oração, entende às vezes estes pontos com maior firmeza, e clareza, que um Teólogo sem oração: verificando-se a sentença de Cristo, falando com Seu Eterno Pai: "Escondestes estas coisas aos sábios, e as revelastes aos pequenos"

III. Faz que saibamos discernir as inspirações da graça Divina, e moções do Espírito Santo: coisa, que sendo tão importante para o governo da vida cristã, os mundanos a não entendem, nem observam, e assim andam às escuras.

IV. Purifica, e endireita a intenção, com que fazemos as obras boas, (como o leme endireita toda a nau) e por conseguinte as faz mais agradáveis a Deus, mais rendosas para nós, e mais exemplares para o próximo. Porque quem obra depois que ora, não segue tanto os impulsos da natureza, como os ditames da razão, e luz da graça; e o concerto de suas acções, e honesto fim, que com elas pretende, lança de si certo resplendor, que bem se deixa conhecer de fora.

V. Despega o coração das coisas transitórias, e o levanta às eternas; porque o amor a qualquer criatura segue o conhecimento que dela temos; e como com a luz da Oração se descobre a vileza dos bens caducos, e a excelência dos eternos, a estes vai buscar o coração, desprezando aqueles.

VI. Consola, e fortalece nas tribulações; e por isso os Santos em todos seus trabalhos se acolhem a esta cidade de refúgio, e dela saem tão animosos, que não só rebatem, mas ainda desafiam o Mundo, e o Inferno. Santo Inácio de Loyola dizia, que se alguma coisa lhe poderia dar pena, seria o desfazer-se a Companhia; mas que com meia hora de Oração ficaria sossegado.

VII. Amedronta grandemente os demónios, e descobre as ciladas, que nos armam; porque a oração dá asas ao espírito, o põe em lugar alto, donde as possa descobrir; e como diz o Espírito Santo: "Debalde se lançam as redes à vista dos que têm asas" (Prov. 1,17). Dá também esforço para vencermos suas tentações: "Orate ne intretis in tentationem". Por onde disse S.João Clímaco: "Qui baculum orationis jugiter tenet non offendet; sed si offendere eum contigerit, non penitus cadet"- Quem tem na mão o báculo da Oração continuamente, não tropeçará; e se suceder que tropece, não cairá de todo.

VIII. Desterra as tristezas do coração. Sente-se triste algum de vós outros? (diz o Apostólo S.Tiago 5,13) Pois ore. E esta alegria, que aqui se comunica, não é exterior, e falsa, como a que causam as criaturas; senão interior, e verdadeira: porque enfim é causada do Espírito Santo, consolador óptimo, doce hóspede, e doce refrigério das almas.

IX. Adoça, e facilita o exercício da mortificação: o qual por uma parte é necessário para despirmos o amor próprio, causa de todas nossas misérias; e por outra é muito amargoso, e contrário à natureza: e querer dobrar, e amoldar esta sem primeiro meter o espírito na forja da Oração, seria bater em ferro frio.

X. Gera grande paz de consciência: porque cessando os pecados, cessão os remorsos, e o Espírito Santo lá dentro da alma dá testemunho, que mora nela. Daqui nasce, que a morte das pessoas habituadas a este Santo exercício é mais desassombrada; por quanto a má consciência é a que nos faz mais horrorosa a passagem para a Eternidade.

XI. Alcança de Deus Nosso Senhor grandes favores, e mercês: porque da Oração nasce o conhecimento de que necessitamos delas, o desejo de as procurarmos, a confiança, resignação, e perseverança para as pedirmos,e a humildade para as conservarmos: e ali se granjeia a devoção com Maria Santíssima, a familiaridade com os Anjos; tudo disposições para sairmos com bom despacho: e assim São João Crisóstomo chamou à Oração 'omnipotente'.

XII. Une os próximos entre si, porque une cada um com Deus: e daqui vem, que nas Comunidades, e famílias, que tem exercício quotidiano de Oração Mental, reina mais a paz do Senhor, e custam menos desvelo a quem as governa.

Padre Manoel Bernardes in 'Tratado breve da Oração Mental'

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