8º Dia da Novena ao Sagrado Coração de Jesus
Omnis qui reliquerit domum, vel fratres… propter nomen meum, centuplum accipiet, et vitam aerternam possidebit – “Todo aquele que deixar por amor de meu nome a casa ou os irmãos, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna” (Mt 19, 29)
Sumário. É tão agradecido o Coração de Jesus, que não pode ver qualquer obra, por pequena que seja, mas feita por seu amor, sem a recompensar nesta vida ou na outra. Apesar disso, os homens, que se mostram gratos até aos animais, são tão ingratos para com Deus, depois de receberem dele tão grandes benefícios. Parece de certo modo que os benefícios de Deus mudam de natureza e se tornam vexames, porque em vez de gratidão e amor, lhe retribuem ofensas e injúrias. Como é que nós até ao presente havemos correspondido à divina beneficência?… Como lhe corresponderemos para o futuro?
I. É tão agradecido o Coração de Jesus, que não pode ver uma obra qualquer nossa feita por seu amor, uma palavra qualquer dita para sua glória, um bom pensamento refletido para sua complacência, e não dar a cada qual a devida recompensa. Mais: Ele é tão agradecido, que dá sempre cento por um: Centuplum accipiet. – Os homens, sendo gratos e querendo recompensar um benefício recebido, recompensam-no uma vez; cumprem, como se diz, a sua obrigação e depois não pensam mais nisso. Não é assim que Jesus Cristo faz conosco; cada ação boa por nós praticada afim de Lhe dar o gosto, é por Ele não somente recompensada ao cêntuplo na vida presente, mas ainda lá na outra vida recompensa-a infinitas vezes em cada instante da eternidade: quem, pois, não se esmerará em contentar, quanto possa, a um Coração tão agradecido?
Mas, ó céu! Como se aplicam os homens a agradarem a Jesus Cristo? Ou, digamos antes, como podemos nós ser tão ingratos para com o nosso Salvador? Se por nossa salvação ele não tivesse derramado senão uma só gota de sangue, uma só lágrima, ficar-Lhe-íamos infinitamente obrigados, porque aquela gota de sangue, aquela lágrima teriam tido aos olhos de Deus um valor infinito para nos obter toda graça. Jesus, porém, quis despender por nós todos os instantes da sua vida, deu-nos todos os seus merecimentos, todas as suas penas e ignomínias, todo o sangue e a vida, de modo que temos, não somente uma, senão mil obrigações para o amarmos.
Mas, infelizmente, nós somos gratos, até aos animais; se um cachorrinho nos faz alguma festa, parece que nos constrange a amá-lo; como podemos então ser tão ingratos para com Deus? Parece que os benefícios de Deus, quando prestados aos homens, mudam de natureza e se tornam vexames; porquanto Deus, em vez de gratidão e amor, só aufere deles ofensas e injúrias. Iluminai, ó Senhor, esses ingratos, afim de que reconheçam o amor que lhes tendes.
II. Ó meu amado Jesus, eis aqui a vossos pés um ingrato. Tenho sido grato para com as criaturas e ingrato somente para convosco. Para convosco, digo, que morrestes por mim, e não pudestes fazer mais afim de me obrigar a amar-Vos. O que me consola e anima é que estou tratando com um Coração de Bondade e misericórdia infinita, que promete esquecer todas as ofensas do pecador que se arrepende e o ama.
Meu querido Jesus, no passado eu Vos ofendi e Vos desprezei; mas agora amo-Vos sobre todas as coisas, mais que a mim mesmo. Fazei-me saber o que de mim desejais; estou pronto a fazê-lo com a vossa graça. Creio que sois meu Criador, que por meu amor destes vosso sangue e vida; creio também que por meu amor Vos quisestes ficar no Santíssimo Sacramento. Graças Vos sejam dadas, ó amor meu! Por piedade, não permitais que para o futuro eu seja ainda ingrato por tantos benefícios e tantas provas de vosso amor. Ligai-me, prendei-me a vosso Coração e não permitais que no tempo de vida que me resta torne a Vos desgostar e amargurar. Já basta de ofensas, ó meu Jesus, quero agora amar-Vos.
Oxalá pudessem voltar os anos perdidos! Mas, infelizmente, eles não voltam mais e breve será a vida que ainda me resta. Mas, meu Deus, quer seja breve, quer seja longa, quero empregá-la toda em Vos amar, ó Bem supremo, digno de um amor eterno e infinito. Quero empregá-la para que também os outros Vos amem. † Amado seja em toda parte o Sagrado Coração de Jesus (1). “Louvado, adorado, amado, agradecido e venerado seja a todo o instante o Coração eucarístico de Jesus em todos os tabernáculos do mundo, até à consumação dos séculos. Assim seja (2).
– Ó grande Mãe de Deus e minha Mãe, Maria, obtende-me a força para ser fiel a estes meus propósitos e não permitais que novamente eu seja ingrato para convosco e para com vosso Filho.
Referências:
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 167-170)
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