São Tomás e São Boaventura, os dois doutores da Igreja, ensinam, como dissemos anteriormente, que o Santo Sacrifício da Missa é de valor infinito, tanto pela Vítima que é ai oferecida, que é o Corpo e Sangue, a alma e Divindade de Nossa Senhor JESUS CRISTO que principalmente o oferece. No entanto, muitos há que o têm em tão pouca estima que colocam este tesouro sacratíssimo, abaixo do mínimo interesse. Outra finalidade não tem este livrinho, da primeira á última página, senão dar uma idéia justa desta preciosidade tão grande que não tem preço.
E se, até aqui, este santo Sacrifício era para eles um tesouro oculto, agora que lhe conhecem o valor infinito, tomem a resolução de aproveitá-lo, assistindo à Santa Missa, todos os dias! Para a isso mais incitá-lo, vou contar uma história apavorante, que será a conclusão desta obra. Enéias Silvio Piccolomini, mais tarde Pio II, refere que em certa região da Alemanha havia um fidalgo de grande linhagem que, tendo caído na pobreza, vivia retirado em uma de suas terras. Aí acabrunhado pela melancolia, estava prestes deixar-se dominar pelo desespero, e satanás o impelia, cada dia, a pôr uma corda ao pescoço a fim de dar cabo da vida. Nesse combate contra a tristeza e a tentação, recorreu a um santo confessor, que lhe deu o excelente conselho de não passar, nem um dia, sem assistir à Santa Missa.
O fidalgo aceitou o conselho e logo o colocou em prática; e fez mais, para ficar seguro de nunca faltar à Santa Missa, tomou um capelão que devia estar pronto a oferecer, cada manhã, o Santo Sacrifício, a que ele assistia com grande fervor e devoção. Um dia, porém, o capelão dirigiu-se bem cedo a uma aldeia pouco afastada para assistir um padre recém-ordenado, que lá celebrava sua primeira Missa. O fidalgo, receoso de ficar privado da Santa Missa naquele dia, dirigiu-se apressadamente para a tal aldeia. No caminho, porém, encontrou um camponês e este lhe disse que podia voltar dali, pois a Santa Missa do novo sacerdote já havia terminado, e que na aldeia não se celebraria outra. A esta notícia, o fidalgo perturbou-se e exclamou entre lágrimas: “Que vai ser de mim hoje?” O camponês, que nada podia entender de tão pungente aflição, replicou num tom de gracejo e ímpio ao mesmo tempo: “Não choreis, senhor, eu vos venderei a Missa que acabo de assistir. Dai-me o manto que trazeis e eu vo-la cedo.”
O gentil-homem aceitou a estranha proposta do camponês, e, entregando-lhe o manto, encaminho-se para a Igreja. Fez uma curta oração no lugar santo, e voltou em seguida para casa. Mas, ao chegar ao sítio em que se detivera pouco antes, qual não foi seu espanto ao ver enforcado num carvalho, morto como Judas, o desgraçado camponês que lhe vendera sua Missa. A tentação de suicídio passara do fidalgo ao camponês, que, privado do socorra que a Santa Missa lhe alcançara, não soubera resistir ao diabo. O fato acabou de convencer o bom fidalgo de quão eficaz era o remédio sugerido pelo confessor, e mais se firmou em sua resolução de assistir, todos os dias, à Santa Missa. Duas coisas de grande importância eu quisera que notásseis neste terrível caso. Primeiro a grosseira ignorância de grande número de cristãos que, não sabendo apreciar as riquezas imensas na Santa Missa, vão a ponto de taxá-la por um preço material.Daí vem a linguagem inconveniente de algumas pessoas que falam em pagar ao sacerdote a sua Missa. Pagar a Missa! E onde encontrareis fortuna capaz de igualar o valor de uma única Santa Missa, já que ela vale mais que todo o Paraíso! Ó ignorância revoltante.
Esse pouco de dinheiro que dais ao sacerdote, vós lho dais para seu sustento, mas não como pagamento, pois a Santa Missa é um tesouro sem preço.
Porque vos exortei, neste livrinho, a assistir, todos os dias, à Santa Missa e encomendar quantas puderdes, é possível que satanás vos coloque no espírito esta idéia: “Os padres nos exortam a encomendar muitas Missas, por motivos muito bonitos e especiais. Mas nem tudo que brilha é ouro. Sob esta aparência de zelo eles escondem seu proveito e no fim de contas vê-se que o interesse é que lhes inspira a conduta e as palavras.” Que erro o vosso, se pensais assim!
Dou graças a DEUS de me ter inspirado abraçar uma ordem na qual se professa a mais estrita pobreza, e não se recebem espórtulas pelas Missas. Se nos oferecessem cem escudos por uma só Missa, jamais os aceitaríamos, pois dizemos todas as nossas Missas na intenção que tinha CRISTO na Cruz, quando ofereceu ao Eterno PAI o primeiro Sacrifício do Calvário. Se, portanto, alguém há que possa elevar a voz sem receio de censura, sou eu que só busco o vosso interesse.
Ora, tudo que vos aconselhei neste opúsculo vo-lo repito novamente, rogo-vos assisti a muitas Santas Missas e encomendai o mais que puderdes.
Tereis amontoado um grande tesouro que vos aproveitará neste Mundo e no outro.
A segunda verdade que deveis depreender da história precedente é a eficácia da Santa Missa, para alcançar todo bem e preservar-se de todo mal, e em particular para adquirir forças espirituais, a fim de vencer todas as tentações. Deixai-me, portanto, dizer-vos ainda: À Santa Missa! À Santa Missa! Se quereis a vitória sobre vossos inimigos e ver todo o inferno vencido e dominado. Resta-me ainda dar-vos um aviso, que se dirige também tanto aos sacerdotes, aos religiosos, como aos leigos: é que, para receber com grande abundância os frutos da Santa Missa, importa ir a ele com a máxima devoção.
Vós, leigos, portanto, assisti com toda a devoção, à da Santa Missa, e para isto, se quiserdes, utilizai-vos deste livrinho e ponha em prática, cuidadosamente, tudo o que nele vai indicado.
Em pouco tempo, posso assegurar-vos pela experiência, verificareis uma mudança sensível em vosso coração, e tocareis com o dedo o grande bem que daí há de auferir a vossa alma.
E vós, sacerdotes, deveis temer a justiça de DEUS, quando, por uma pressa exagerada ou por negligência irreverente, executardes mal as santas cerimônias, precipitardes as palavras, confundirdes os movimentos, numa palavra, despachardes a Missa. Refleti que consagrais, que tocais e recebeis o FILHO DO ALTÍSSIMO, e que não podeis, sem falta, omitir a menor cerimônia ou fazê-la de modo negligente ou defeituoso, como a ensina o sábio Suarez: Vei unius caeremoniae omissio culpae reatum inducit!
Por isso, João d´Avila, o oráculo da Espanha, não punha em dúvida que o Soberano Juiz pedirá aos sacerdotes uma conta mais rigorosa de todas as Missas que tiverem celebrado, do que qualquer outra obrigação.erdote passara à outra vida, ao terminar sua primeira Missa, aquele santo homem soltou um suspiro e disse: “Ele celebrou, então, a Santa Missa?” E como lhe respondessem que o neo-sacerdote tivera a felicidade de morrer logo depois de celebrá-la, replicou: “Ah! Grande conta tem ele de dar a DEUS, se celebrou uma Missa!”
E vós e eu, que tantas temos celebrado. Como nos arranjaremos no tribunal de DEUS? Tomemos por tanto a salutar resolução de rever, ao menos no próximo retiro que fizermos, todas as rubricas do Missal e todas as cerimônias sacras, a fim de celebrar com a máxima perfeição possível.
E estou certo de que se nós, sacerdotes, celebramos com um exterior grave e recolhido, e, sobretudo com grande fervor, os leigos, de sua parte, hão de decidir-se a assistir diariamente à Santa Missa. E teremos a consolação de ver renascer entre os cristãos de nossos dias o fervor dos primeiros fiéis da Igreja.
E vós, que é que estais fazendo? Por que é que não ides correndo para as igrejas para lá assistirdes fervorosamente a todas as Santas Missas que puderdes? Por que é que não quereis imitar os Anjos que, quando se celebra a Santa Missa, descem do Paraíso em grande número e vêm ficar ao redor do altar em adoração, intercedendo por nós? E DEUS será soberanamente honrado e glorificado: é esta a única finalidade desta pequena obra. Orai por mim, rezando uma Ave Maria.
As Excelências da Santa Missa – São Leonardo de Porto Maurício
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário