domingo, 19 de outubro de 2014

Casal sem Filhos

charles_haigh_wood-the_trystNo lugar onde se encontrava a casa da bem-aventurada Virgem-Maria, no quarto em que se deu a aparição do arcanjo Gabriel, onde Lhe deu a extraordinária mensagem de Deus, e no qual o Filho de Deus, no instante mesmo da humilde aceitação da Virgem, Se encarnou em Seu puríssimo seio, em Nazaré, cidade bendita, levanta-se hoje uma igreja cujo altar-mor tem em seu frontispício esta inscrição: “Verbum caro hic factum est – Aqui o Verbo se fez carne”. O Filho de Deus, querendo vir entre nós, começou aqui Sua existência humana, sob a forma humana.
Palavras sublimes! Cada vez que as pronunciamos, recitando o “Angelus”, ajoelhemo-nos. Mas o sacerdote também, na missa, genuflete quando na recitação do “Credo” chega a estas palavras: “Et incarnatus est de Spiritu Sancto ex Maria Virgine, et homo factus est“. Ele Se fez homem. O Filho de Deus se fez homem, para começar Sua carreira terrestre, sob o aspecto de uma criancinha incapaz de falar, toda pequena vida humana que começa, resplandece, diante de nós uma coisa santa. E depois que a SS.Virgem trouxe em Seus braços o Menino-Deus uma espécie de auréola sobrenatural circunda a fronte de toda mãe de família. É também santa a dignidade de mãe.
Todos acharão, pois, natural que, nesta série de instruções sobre a família cristã e o casamento ideal, eu deva chegar a este ponto e queira consagrar-lhe vários sermões: O berço é um móvel indispensável na família. A criança faz parte integrante da família. Se o casamento não se expressasse em latim senão pela “coniugium“: “jugo-comum”, bastariam para realizá-lo plenamente e torná-lo feliz, as duas peças do mobiliário de que já falamos anteriormente, e que auxiliam a levar alegremente este jugo comum: a mesa de família e o crucifixo.
Mas o casamento se diz também em latim “matrimonium“, e isto indica um círculo inteiramente novo de obrigações: a criança precisa de um outro móvel: o berço. Dizei-me, vistes já a pequena ave fazer o seu ninho para que permaneça vazio? Ou apenas para que aí chilreie um passarinho? Não. Não há pássaro não há só um animal que assim faça, mas só o homem. Unicamente o homem descobriu essa coisa insensata: a família sem filhos.
Sim, é preciso falar disso, e bem alto, desta cátedra cristã, por delicado e difícil que seja o assunto. Consternados ouvimos jovens combinar antes se seu casamento e declararem: “Nós não teremos filhos, isto é natural, ou quando muito, um só″. São porventura muito severas as palavras de Santo Agostinho, quando chama tal existência, não um matrimônio, mas sim relações pecaminosas, sancionadas pelas formas legais?
Não trememos quando ouvimos as mães e mesmo as avós dizerem à sua filha, ou à sua neta ao se casarem, e repetirem com insistência: “Minha filha, cuidado, nada de filhos, Compreendestes? Nada de filhos”.
Olhemos de frente esta maneira perniciosa de ver as coisas. É preciso mostrar que a família voluntariamente estéril é como a árvore seca condenada a ser cortada. É preciso demonstrar que o filho pertence à idéia de família, não um, nem dois, mas vários. Naturalmente é preciso examinar as objeções e os pretextos que se apresentam no mundo moderno contra o filho.
Estas objeções formarão o objeto da instrução próxima. Nesta mostrarei que a exclusão do filho em uma família é um pecado. Um pecado:
I- Contra Deus.
II- Contra o filho.
III- Mesmo contra os interesses bem compreendidos dos próprios esposos. 
I – UM PECADO CONTRA DEUS
Primeiramente preciso mostrar, categoricamente que o Cristianismo sempre designou o filho como fim primeiro do matrimônio, e hoje ainda com bastante coragem, levanta uma voz contra certas idéias que se espalham pelo mundo, contra um modo de agir incrivelmente frívolo, que cada vez mais perigosamente contagia os esposos, mina a felicidade familiar e ao mesmo tempo a força da nação. Esta palavra de ordem terrível, essas idéias, este modo frívolo, é o receio de filhos.
A) Precisamos constatar dolorosamente que sobre esta questão se tinha uma idéia mais bela e mais nobre já antes do Cristianismo, quer entre os pagãos, quer entre os povos anteriores a Nosso Senhor Jesus Cristo.
É muito conhecido o caso da pagã Cornélia, a quem suas amigas, visitando-a ornadas de ricas jóias, perguntavam-lhe num tom afetado: “E vós mostrai-nos vossas jóias”. E esta pagã apresentou-lhes seus filhos dizendo: “Eis minhas preciosas jóias”.
Não mais preciso lembrar particularmente o magnífico amor aos filhos, manifestado pelo povo do Antigo Testamento, onde a ausência do filho passava por uma vergonha. Mesmo hoje não se pode ler sem emoção nos Santos Livros as fervorosas orações que as mulheres sem filhos dirigiam a Deus, pedindo a maternidade.
B) Chega, porém, o Cristianismo, e cresce ainda mais a grandeza deste nobre sentimento.
Com uma gravidade sem exemplo, fala do papel dos pais na transmissão da vida, porque sabe que o homem recebeu da confiança divina aquela faculdade de dar a vida, e por isso os pais participam da obra criadora de Deus. A vida conjugal e o exercício do dever conjugal não são, pois, nem uma humilhação, nem um pecado aos olhos do Cristianismo. Mostram, porém, neles, traços divinos, traços que enobrecem os colaboradores do Criador.
Dar a vida! Nunca, em parte alguma o homem o pode fazer, senão aqui neste instante. O homem pode tomar a vida de mil maneiras. O homem pode destruir a vida de mil formas. Mas dar a vida, ele não o pode, salvo dar o corpo, instrumento da alma, que Deus criou no momento da formação de um novo corpo humano. Ele mesmo a criou imediatamente e a depôs neste corpo humano, menor que um ponto.
Ah! Se os esposos vivessem sempre com a idéia que o Criador Se encontra entre eles; se sentissem, por assim dizer, o ruflar das asas do anjo que o Deus Criador envia neste instante ao pequenino corpo humano!
C) Veio, porém, o mundo egoísta atual e transformou esta nobre maneira de ver.
O mundo não quer ouvir falar senão de comodidades e prazeres, mas não deseja conhecer os sacrifícios que os acompanham. Para o mundo a criança não é mais um “dom de Deus”, e sim, “uma catástrofe”, um peso do qual se deve libertar por todos os meio, a fim de que não se perturbem os prazeres de duas pessoas grandes.
Eis, porém, a Igreja Católica, que não teme afirmar aberta e formalmente que é um pecado contra Deus impedir, de qualquer maneira, o nascimento do filho, aconteça isto por uma intervenção humana ou de qualquer outro modo. É uma profanação e um aviltamento da vida conjugal, uma grave ofensa ás leis naturais e aos mandamentos divinos, que o mundo frívolo chama de precaução e “sabedoria”, mas a que a Igreja não pode senão aplicar estas palavras de São Tiago: “Uma semelhança sabedoria não vem do alto, é terrestre, é carnal, diabólica” (Tiago, 3,15).
Sim, uma sabedoria diabólica, pois Nosso Senhor chama o demônio “homicida desde o princípio” (Jo 8,44). Se o profeta Isaías vivesse atualmente, ele diria que esses esposos fizeram um pacto com a morte, e uma aliança com o inferno (Is. 28,15). E se o salmista escrevesse hoje, faria ouvir a estes esposos estas terríveis palavras: “Amou a maldição e ela cairá sobre ele; não quis a bênção, e ela dele se afastará. Cobriu-se da maldição como de uma veste, e ela entrou como água dentro dele, e como óleo em seus ossos. Seja ela para ele como a veste que o cobre, e como a cintura que o cinge sempre”. (Sl 108, 18-19)
Quem não conhece famílias sem filhos, onde tudo isto se realizou se maneira terrível? Espíritos vingadores e mudos os terrificam, assim como as doenças do corpo e do espírito, falta de coragem, abatimento, e todos os flagelos de uma consciência inquieta, pois afastar o filho por meios pecaminosos é um pecado contra a ordem formal do próprio Deus Criador.
II – UM PECADO CONTRA OS INTERESSES DO FILHO
É igualmente um pecado contra os interesses do filho, da criança.
Não podemos racionalmente duvidar que o filho faz parte da família. Eis por que a maior parte dos esposos quer receber um filho das mãos de Deus; mas um só; quando muito dois. E não mais, por nada do mundo. E não pensam o quanto eles pecam contra o filho único que possuem, não querendo, sob diversos pretextos, outros filhos.
A) Os pais de filho único têm o costume de dizer muitas vezes que não é o número que importa, e sim a qualidade; eles não darão muitos filhos à Pátria, mas somente um; este, porém, será um ilustre personagem.
Infelizmente a vida mostra muitas vezes o contrário. Mostra que os verdadeiros homens ilustres não vêm das famílias de filhos únicos, mas, sim, de famílias numerosas. Se buscarmos a causa disto, constataremos, vários filhos do que um só.
Isto parece contraditório e no entanto é assim na realidade. Onde há vários filhos, a autoridade e o amor dos pais são divididos mais racionalmente, e assim não dificultam à personalidade dos filhos, pelas ordens perpétuas, e nem quebram a força de seu caráter por lisonjas contínuas. E a prova é que há mais homens ilustres nas famílias numerosas que nas famílias de filho único.
Demais, onde há vários filhos, estes são obrigados a aprender logo cedo a se absterem de muitas coisas. Onde há vários filhos, casa um deles é forçado a se contentar com pouco, e ouvir muitas vezes responder aos seus pedidos: “Não, meu filho! Não, minha filha! É preciso isto também para teus irmãos e tuas irmãs”. E isto não é um mal. É mesmo um bom princípio de educação. Porque, assim, eles aprendem melhor a prática da renúncia, e suportarão melhor, na idade adulta, as privações e as dificuldades da existência.
Ao contrário onde não há senão um só filho, os pais incessantemente o incomodam ou sem cessar o lisonjeiam. Todo o amor e todo o instinto educativo que a natureza depositou em seu coração de pais, eles o empregam agora para o seu filho único; ao infeliz não lhe fica sequer uma ocasião para firmar sua personalidade, para exercer suas faculdades de iniciativa, e eis por que, crescendo, ele se torna uma desajeitado, inepto, tímido, efeminado, sem expediente.
Mas se ordinariamente as famílias numerosas dão filhos mais bem educados que as famílias de filho único, há ainda uma outra causa. É principalmente que não são só os pais que educam os filhos, mas também os irmãos e as irmãs reciprocamente.
B) É um fato muito conhecido que a criança gosta de brincar, e para isto necessita de companheiros.
Ora os melhores companheiros de brinquedos para a criança são seus próprios irmãos e irmãs. A criança que cresceu sem irmãos e sem irmãs nunca foi verdadeiramente uma criança, nunca pode viver plenamente a sua infância; sempre no meio dos grandes torna-se uma criança precoce, ao princípio um pouco arrogante, mais tarde pretensiosa, um insensível e desiludido, velho antes da idade.
O filho único, que cresce só, está pois privado dos mais felizes momentos da vida, a idade dos brinquedos, e eis por que ele se torna uma criança que se aborrece, um ser retraído, triste, invejoso, sem alegrias. Ao contrário, onde há vários irmãos e irmãs, há alegres brincadeiras e saltos, barulhos, lutas, bagunças, brigas, reconciliações, eles vivem seus momentos mais felizes, a sua infância.
Acrescentemos que os irmãos e irmãs são uns para com os outros não só companheiros de brinquedos, mas, também, são, entre si, os melhores educadores. Enquanto juntos eles se divertem, são obrigados a tomar conta um dos outros, a portarem-se com inteligência, a dominarem-se e a se privarem de alguma coisa. Assim cada um compreende que não é o centro do mundo, mas que o segundo, o terceiro, o quarto de seus irmãos e irmãs, têm tanto direito como eles.
Onde vivem juntos vários irmãos e irmãs, eles se equilibram mutuamente, se refreiam e se educam.
Há, sem dúvida, choques entre si, mas é assim que se aviva o caráter, como os seixos do riacho, que se tornam polidos e luzidios, batendo uns aos outros incessantemente.
Onde, juntos vivem vários irmãos e irmãs, cada um deles é obrigado a aprender a dominar-se, a amar seu próximo, a perdoar, a abster-se, e a praticar o desinteresse.
C) É bom ainda mostrar um terceiro aspecto interessante dessa questão. Não só os pais educam seus filhos, mas os filhos também educam seus pais.
Ensinam a seus pais a virtude de que precisam para se ornarem bons educadores. Ensinam-lhes em primeiro lugar o amor devotado até o sacrifício. Será interessante examinar a fundo a transformação proveitosa que se opera na mulher mais superficial, quando pela primeira vez põe em seus braços o filho recém-nascido. Seria interessante observar com que terno amor, com que delicadeza o pai leva o filho em seus braços robustos.
Em seguida, constatamos o sentimento de responsabilidade e o gosto que desperta nos pais o cuidado da alma do corpo do filho. Pensam na responsabilidade que têm, em cada palavra que pronunciam diante do filho, em cada exemplo que lhes dão. Cada filho olha seu pai, sua mãe como dois seres melhores, mais sábios, mais inteligentes do mundo, são para eles o seu ideal.
E que aviso para os pais indicando-lhes o quanto pelo menos devem trabalhar para não ficarem longe desse ideal, que a alma de seus filhos evoca a esse respeito!
Não acreditais que os filhos possam ser os educadores dos pais? Pois bem! Escutai esta ingênua historieta.
Havia uma filha que, todas as manhãs e todas as noites, fazia piedosamente suas orações com a mãe. Uma noite que a mãe, tendo muito trabalho, não estava pronta para a oração, a filha lhe disse: “Mamãe venha fazer a sua oração”. A mãe respondeu um tanto impaciente: “Hoje farás tua oração com teu pai”. “Com papai?” diz a criança. “Mas papai não sabe rezar”. Ela nunca o via rezar, e pensava, com razão, que ele não sabia fazer as orações. Há muito tempo que o pobre homem se afastara de Deus… Mas agora… aquele ingênuo aviso de uma criança inocente, abalara sua alma e o tinha retornado aos deveres religiosos.
Certamente, seria preciso uma grande dureza, para que o coração de uma mãe ou de um pai não se enternecesse, para que não se despertassem neles as santas resoluções de domínio de si, de transformação de vida, quando o olhar inocente de seu filho ou de sua filha pousasse em seus olhos com tanta confiança, amor, entusiasmo e respeito.
Sim, os filhos, são também educadores dos pais.
III – UM PECADO CONTRA OS INTERESSES DOS PAIS
Precisamo-nos adiantar na exposição das nossas idéias. A exclusão culpável do filho é não só um pecado contra Deus e contra o filho, mas o é, ainda, contra os interesses bem compreendidos dos pais.
A) Primeiramente, o filho não é um filho, é um cuidado perpétuo.
A vida dos pais é uma inquietação contínua: Pode resfriar-se, pode-lhe acontecer qualquer coisa, e, sem ele, tudo estaria acabado para nós; esse receio é fundado porque as estatísticas demonstram que morrem muito mais crianças nas famílias de um ou de dois filhos, do que nas numerosas.
Se nestas famílias numerosas, um dos filhos morre, naturalmente os pais sentem e se enlutam, mas, ao menos, lhes ficam os outros para consolá-los. Que fica, porém, após a morte do filho único? o berço vazio, o quarto da criança emudece, seus brinquedos órfãos, ficam os amargos remorsos de consciência, recordando que poderia ser de outro modo, se mãos criminosas não contrariassem os planos divinos…
B) “Mas vários filhos custam mais caro”, tal a objeção mais comum.
Dou-lhe agora uma resposta muito curiosa e incrível.
Não, meus irmãos. O filho único custa mais que vários filhos.
Por toda parte onde há um só filho, não se conhecem as palavras privação e sacrifício; ao contrário, onde há vários, os pais são mais econômicos e trabalhadores.
Os esposos que afastam os filhos por meios culpáveis são mais irritáveis, menos afetuosos entre si, não se sentem bem entre as paredes de seu lar vazio e mudo.
Onde não há crianças, não há mais alegria, nem raios de sol, nem sorrisos, nem calor. É preciso procurar tudo isto fora do lar. E isto custa tão caro que se poderia, com a mesma soma, educar vários filhos.
Recordo-me o que conta em um de seus livros uma romancista húngara que passara o mais feliz e alegre natal, numa família de oito filhos, onde os pais trabalhavam duramente para sustentá-los. E quando ela perguntou aos pais, que riam com seus filhos, de que eram feitos aqueles brinquedos e presentes de todas as formas, a mãe respondeu com semblante alegre: “De madeiras, de trapos… e de amor”.
O filho contribui, pois, assim, para a realização e conservação da felicidade familiar.
É verdade, o filho causa também uma multidão de cuidados, despesas, temores e sacrifícios, mas é igualmente verdade que o filho dá em troca muitas coisas aos pais: dá-lhes alegrias, sol, vivacidade, esperança, um apoio para o futuro, enfim, é um reforço da vida conjugal.
É assim que se compreende esse fato curioso, que em 50% de lares divorciados não há sequer um filho, e que em 25% há apenas um. Pode-se, pois, tirar daí uma conclusão: Mais filhos, menos divórcio, pois, seguindo os planos admiráveis da divina providência, são as mãozinhas fracas da criança que mantêm unidos os braços robustos de dois adultos.
Mas, ao mesmo tempo, que prova terrível de que o filho não é obstáculo à felicidade dos pais, e que não é a sua ausência que traz a felicidade! Pois, muitas vezes, os lares que se separam são precisamente aqueles cuja felicidade não foi perturbada pela presença de filhos.
É justamente o contrário.
O sexto mandamento, o grande mandamento da felicidade, une igualmente interna e externamente. Aquele que vive no âmbito do matrimônio transgredindo as leis divinas dá facilmente o segundo passo, pelo qual se torna infiel também fora do casamento.
C) Mas, mesmo em outro sentido, os filhos são o consolo dos pais…
Examinaremos, porém, uma outra questão: Quem os amará em sua viuvez? Se um dos esposos morre, o outro fica só: Certamente se há vários filhos ficam ao sobrevivente muitos cuidados; mas se não há filhos, então ele se encontra num abandono cem vezes mais penoso. Que consolo para o viúvo ou para a viúva a presença dos filhos cuja tagarelice recorda a voz do caro desaparecido e cujos olhos revivem o olhar do morto!
É o que experimentava o poeta norte-americanos Longfelloe, quando, após 19 anos de felicidade, a morte arrebata-lhe a esposa. Em uma de suas cartas escreveu estas linhas:
“É uma coisa penosa reconstruir uma existência destruída. Tudo cai como a areia. Mas eu experimento e sou paciente… Meus filhos vão todos bem, isto me consola, e me dá coragem… minhas filhinhas tagarelam alegremente em meu quarto, como duas avezitas. Estão alegres por celebrarem o aniversário de suas bonecas… Que mundo maravilhoso o das crianças! Como é cheio de vida… Sou feliz por contemplar estas agitações, e sinto a doçura das palavras que foram pronunciadas um dia por lábios benditos: ‘Deixai vir a mim as criancinhas”.
É com estas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, um pouco modificadas, que desejo terminar esta instrução: Deixai as criancinhas virem ao mundo.
Ficamos sempre profundamente emocionados, cada vez que lemos na Sagrada Escritura, o morticínio dos Santos Inocentes, cometido por Herodes. Que gritos de dor dos lábios das mulheres de Belém. Com que desespero não apertaram, contra o peito, os seus filhos, quando os algozes chegaram para matar estas vítimas inocentes! Compadecemo-nos destas mães enlutadas!
O mundo atual porém tudo mudou. O mundo atual produziu mães, que não procuram com angustiado amor salvar da morte os seus filhos, mas vão elas mesmas procurar os algozes, e pagam bem para que tirem a vida a estas crianças inocentes. Haverá no vocabulário humano uma expressão bastante forte que possa caracterizar este crime? Terá o Céu bastantes raios para castigar dignamente esta monstruosidade?
Creio que sim.
Pois, aquele que cometeu este pecado e dele não fez penitência deve esperar duas espécies de castigos aqui na terra, todos os dois terríveis. Ou bem a sua consciência se desperta, e então não encontra em parte alguma repouso ante as sombras fúnebres dos pequeninos assassinados, ou então ele se endurece no pecado, e mata a sua consciência juntamente com os filhos, e neste caso cai em uma aridez de alma são indescritível, que lhe fica apenas um traço humano durante toda a sua vida.
Não se trata, em ambos os casos, de uma vida conjugal feliz e pacífica, mas só de um desgosto e de uma licença desenfreada, como o provam tantos exemplos tristes…
Senhor, nós vo-lo pedimos humildemente, dai à nossa pátria, que deles tanto precisa, esposos generosos, amantes de seus filhos. Amém.
Casamento e família – Dom Tihamér Tóth
Fonte:

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