XV. Procurarei viver oculto, esquecido de todos e de mim mesmo, fugindo à estima e às honras do mundo.
"Eu quero viver oculta sobre a terra, sem em tudo a última." "Que felicidade viveres tão oculta, que ninguém pense em ti! Seres desconhecida até daqueles com quem convives!" "...a verdadeira e única glória é a que dura sempre; para consegui-la, não é necessário praticar obrar brilhantes: basta ocultar-se aos outros e a si mesmo." "Não esqueçamos de que Jesus é um tesouro oculto: poucas almas logram descobri-lo, porque, em geral, só se ama o que brilha... Para se encontrar uma coisa oculta, força é ocultar-se também a si mesmo..." "Estas palavras de Isaías: 'Ele não tinha beleza nem formosura... o seu rosto estava como que velado e desprezível; vimo-lo e não O reconhecemos" (LIII, 2-3), tais palavras constituem o fundamento da minha devoção à Santa Face, ou melhor, a base de toda a minha piedade. Também eu quisera ser como Jesus; sem beleza e desconhecida de todas as criaturas." "Eu desejo sofrer muito e viver desprezada neste mundo." "Oh Jesus, fazei que ninguém se importe comigo; de tal maneira que eu seja pisada aos pés, como um grãozinho de areia." "...só aspiro ao esquecimento...; o desprezo e as injúrias ainda seriam muita glória para um grãozinho de areia; porque, quando se despreza um grão de areia, sinal é de que ele existe e se pensa nele... Eu quero ser esquecida não apenas das criaturas, senão também de mim mesma, a fim de não alimentar nenhum outro desejo além do de amar a Deus."
XVI. Farei todo o possível por quebrantar a minha vontade, procurando antes satisfazer os desejos dos outros que os meus.
"Toda a minha penitência consistia em quebrantar a vontade, represar uma palavra de réplica, prestar modestos serviços aos que me rodeavam, sem todavia os fazer valer, e a mil outras coisinhas deste gênero." "Quando uma pessoa é verdadeiramente humilde, submete-se a todos." "Considerai-vos não apenas como uma criadinha, mas como uma escrava inútil, a quem todos tivessem o direito de dar ordens e ela nenhuma razão para se queixar."
XVII. Quando tiver outros sob minha jurisdição, não lhes mandarei fazer coisa alguma ordenando, senão pedindo.
"Suplico-vos, meu Jesus, que me envieis uma humilhação cada vez que eu começar por considerar-me superior aos outros." "Devemos pedir as coisas de que necessitamos com humildade, como os pobres, que, quando são repelidos por aqueles a quem estendem a mão, não se zangam, pois que ninguém lhes deve nada."
XVIII. Considerar-me-ei sempre um grande pecador, ainda que de nada me acuse a consciência.
"Bem sabeis, Senhor, que eu vos amo, mas tende compaixão de mim, que sou uma grande pecadora!"
"Se eu estivesse em lugar de N., há muito tempo que me teria perdido na vasta floresta deste mundo."
"Jesus me perdoou antecipadamente os pecados que eu teria de cometer."
XIX. Esforçar-me-ei por não me aborrecer nem impressionar quando os outros disserem ou pensarem mal de mim.
"A humildade não consiste apenas em dizeres que estás cheio de defeitos, mas em gostares que os outros o digam e pensem."
XX. Quando me assaltar tentação de vanglória proveniente de elogios ou coisa equivalente, lembrar-me-ei das minhas misérias passadas e presentes.
"...os elogios não me envaidecem porque penso constantemente nas minhas misérias."
"Eu vos peço, ó meu Deus, que o óleo dos louvores, tão doce à natureza, não me amoleça a cabeça, quero dizer, o meu espírito, persuadindo-me que já possuo virtudes que apenas pratiquei algumas vezes. (salmo CXL)
XXI. Não atribuirei as minhas faltas a causas físicas - enfermidades, intempéries, etc. -, senão às próprias imperfeições, sem contudo desanimar.
"Quando cometermos uma falta, não a atribuamos a uma causa física qualquer, como, por exemplo, a uma doença ou ao mau tempo, mas às nossas imperfeições, sem entretanto nos desencorajar nem entristecer."
"...humilhar-se e suportar com doçura as imperfeições, eis a verdadeira santidade."
XXII. Por amor de Deus preferirei sempre o último lugar ao primeiro.
"Por ti, Jesus, eu quero viver sempre oculta sobre a terra, ser em tudo a última."
"Desde que Ele nos veja convencidos de que somos nada, estende-nos a mão. Se, porém, procurarmos fazer algo de grandioso, mesmo sob pretexto de zelo, deixa-nos a sós." "A única coisa que não é passível de inveja é o último lugar; tudo o mais está sujeito às vaidades e ao desassossego."
Este texto é um resumo (com algumas adaptações) do capítulo homônimo do livro "A Doutorinha de Lisieux ou A Santidade ao Alcance de Todos", de Leão do Norte, edição da Fundação Santa Terezinha, Taubaté, 1954.
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