I. Se em geral são indizíveis as solicitudes de uma mãe qualquer para com seu filho, o que dizer então das que Maria teve para com o Menino Jesus, visto que em seu coração se uniu o amor natural mais perfeito ao supremo amor sobrenatural? Tanto que viu Jesus nascido na gruta de Belém, abraçou-O com ternura maternal, tomou-O nos braços, cobriu-O de beijos, e, segundo a revelação feita a Santa Brígida, procurou aquece-Lo com o calor do seu rosto e do seu peito. Em seguida, como refere São Lucas, envolveu-O em paninhos (1). Ó Deus, que grande estima devia a Santa Virgem conceber da pobreza, da humildade, da obediência, ao contemplar o Filho de Deus que estendia as suas mãozinhas para se deixar enfaixar!
Depois de O ter enfaixado, a divina Mãe chega o santo Menino a seu peito virginal para O alimentar com o seu leite. Enquanto assim O alimentava, repetia consigo, cheia de assombro: Ó caridade, ó amor incompreensível de um Deus para com os homens! — Que terão dito os anjos do paraíso vendo o Filho do Pai Eterno feito por nosso amor tão débil, que precisa de um pouco de leite para conservar a vida?
A pobre Virgem não possui penas nem lã a fim de preparar uma caminha para seu Filho. Por isso ajunta um pouco de palha numa manjedoura, onde O deitou. Apesar da dureza da cama e do rigor do frio, Jesus adormece no meio de tantas incomodidades, porque a necessidade vence a natureza. Mas nem por isso Maria descansa. Prostra-se diante daquele rude berço, contempla o rosto do divino Menino, adora-O, e não deixa de fazer continuamente atos de amor a seu Filho. — Unamos o nosso amor e as nossas adorações com o amor e as adorações do coração de Maria. Se nos tempos passados imitáramos o cruel Herodes, perseguindo até à morte o divino Filho e afligindo sua santíssima Mãe, peçamos humildemente a ambos que nos queiram perdoar.
II. As solicitudes maternais de Maria não se limitaram à infância de Jesus; continuaram, ou antes, iam aumentando na sua adolescência e idade viril. Com efeito, quanta aflição, quanta fadiga não sofreu a pobre Mãe durante a longa demora de Jesus no Egito, na volta para a Galiléia, na perda do Filho no templo, e durante os três anos do seu apostolado!
Considerando essas solicitudes maternais, sentis o vosso coração abrasado de amor a Jesus; experimentais uma santa inveja a São José, que foi o companheiro fiel da divina Mãe, e dizeis convosco: Oxalá tivesse a ventura de servir a meu bom Redentor! Consolai-vos; podeis ter a ventura de servir a Jesus, praticando a caridade para com o próximo, porquanto Jesus Cristo disse: Quandiu fecistis uni ex his fratribus meis minimis, mihi fecistis (2) — “Tudo que fizestes ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes”. — Além disso, a fé ensina-vos que Jesus Cristo mora pessoalmente em nossas igrejas, dentro do Sacrário. Mostrai-vos, pois, solícitos para com o Santíssimo Sacramento, ornando os altares, visitando-O amiudadas vezes, propagando tão bela devoção e, sobretudo, recebendo-O dentro de vosso peito com digna preparação e ação de graças. Para este fim, cada vez que receberdes a santa Comunhão, e muito mais, se sois sacerdote, quando subirdes ao altar para celebrar a santa Missa, imaginai que a divina Mãe vos diz o que certo dia o Bem-aventurado João de Ávila disse a uma pessoa pouco devota: Por piedade, tratai melhor a Jesus Cristo, porque é filho de um bom Pai.
Referências:
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 133-136)
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