Ao iniciarmos o mês de maio, tradicionalmente consagrado à devoção à Santíssima Virgem Maria, convém meditar um pouco nos exemplos que nossa Mãe Celestial nos dá. Contentemo-nos, hoje, em analisar suas palavras.
Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
Poucas palavras
Raras são as palavras que a Sagrada Escritura nos apresenta em relação à Santíssima Virgem Maria. Já encontramos aqui uma lição para nós que, frequentemente, abusamos da língua para falar a torto e a direito. Ninguém fala muito sem acabar falando mal.
As circunstâncias da Anunciação e da Visitação são, particularmente, eloquentes a este respeito. Enquanto a Santíssima Virgem acabava de receber do anjo Gabriel a notícia mais extraordinária que uma criatura poderia ouvir, ou seja, que ela seria a Mãe do Salvador, o que a Virgem fez? O que teríamos feito em seu lugar?
Sem dúvida teríamos ido de casa em casa, de família em família, às comadres e compadres para dar a notícia. Notícia ainda mais importante porque teríamos sido favorecidos com uma graça maior.
Ora, mas o que a Sagrada Escritura nos diz? “Naqueles dias, levantando-se Maria, foi com pressa às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias, e saudou Isabel” (Lc 1, 39-40).
Eis o exemplo de Maria: sem fofocas, sem comentários, sem confidenciar segredos de forma imprudente. Não, o sentido do dever e da caridade fraterna prevalecem. Sua prima, já idosa, esperava o primeiro filho: ela deveria ir ajudá-la.
Se examinarmos a extensão e o conteúdo das palavras da Virgem Maria, veremos que as que são dirigidas às criaturas (anjos ou homens) são breves, enquanto as dirigidas a Deus são longas (cf. o Magnificat). Eis uma nova lição que nos foi dada por nossa Mãe Celestial.
Nós, que somos incansáveis em nossas conversar com as criaturas somos, muitas vezes, breves em nossas conversas com Deus. A oração nos cansa, nos aborrece ou não nos é interessante. Nada como o exemplo da Virgem Maria, que conversa longamente com a Santíssima Trindade e se limita ao essencial com as criaturas.
Como se fará isso?
Muitas vezes imaginamos a Virgem Maria já vivendo no céu e na visão beatífica. Nada poderia ser mais falso quando se percorre os Evangelhos.
Quando o anjo Gabriel lhe anuncia que seria a Mãe do Messias, a Santíssima Virgem não pode deixar de lhe fazer uma pergunta. Já unida a São José pelos laços do matrimônio, tendo feito voto de virgindade a Deus, ela não entende como conciliar todos esses elementos. Então, a pergunta então floresce natural e simplesmente em seus lábios: “Como se fará isso?” pois não conheço varão” (Lc 1,34).
A Santíssima Virgem, enquanto viveu nesta terra, viveu pela fé, assim como nós. Ela teve a visão depois de sua Assunção. Até então, ela tinha que acreditar naquilo que não necessariamente entendia.
É por isso que o Evangelho diz algumas vezes: “E Maria conservava todas estas coisas, meditando-as em seu coração” (Lc 2,19 e 51).
Ou seja, a Santíssima Virgem é um modelo para nossa vida de fé. Além disso, ela é a guardiã da nossa fé. Virgo fidelis, ora pro nobis!
Fazei tudo o que vos disser
No início da vida pública de Nosso Senhor, encontramos Nossa Senhora, que então será muito discreta até a Paixão. Maria foi a primeira a ser convidada para as bodas de Caná (Jo 2, 1) e só depois Jesus e seus discípulos (Jo 2, 2).
Ora, a Santíssima Virgem é a primeira a perceber que o vinho tinha se esgotado. Os jovens, noivos, seus pais e amigos, os convidados em geral, ainda não haviam percebido nada. Maria, como boa dona de casa, atenta, delicada, atenciosa e também discreta, percebe o desastre que ameaça os esposos neste dia de alegria.
Nem a maternidade divina de Maria nem a sua vida de fé são pretextos para dispensar-se das tarefas quotidianas. Não é porque está rezando e meditando que Maria deixa São José se virar para comer e o Menino Jesus lavar suas roupas.
Certamente, o mandamento da caridade é único, mas tem dois objetos hierárquicos: Deus e o próximo. O autêntico amor de Deus nunca afasta as almas das criaturas de Deus, sobretudo das que as rodeiam.
Maria, então, simplesmente aponta para Jesus que o vinho está prestes a acabar. Apesar da resposta aparentemente descompromissada de seu Filho, ela encoraja os servos com estas palavras: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
O que dirá Ele? Ela não sabe. O que ele ordenará? Ela ignora. Mas o que é certo é que o que Ele diz deverá ser obedecido e o que Ele ordena deverá ser executado.
A obediência de Maria a Deus é incondicional e sem reservas, porque “só Deus é bom” (Mt 19,17). Portanto, não há necessidade de se preocupar com a bondade de seus desejos particulares. Há apenas a necessidade de cumprir a vontade de Deus.
A obediência de Maria e o que ela nos aconselha está muito longe de uma discussão sindical que termina às três horas da madrugada com a assinatura do compromisso entre as partes envolvidas. “Fazei tudo o que ele vos disser”.
Teu pai e eu…
Consideremos uma última palavra de Maria que nos indica também o espírito com que devemos viver para sermos cristãos.
Depois de procurar Jesus por três dias no final de sua peregrinação a Jerusalém, seus pais o encontram no Templo onde Ele discute com os doutores. Como uma boa mãe, preocupada com a ausência inexplicada de seu Filho, a Santíssima Virgem exclama: “Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de aflição” (Lc 2, 48).
Nós, que conhecemos todos os privilégios, todas as graças, todos os favores com que a Santíssima Virgem foi agraciada, não temos dúvida que ela superava São José em muitas coisas. Se Maria tivesse dito: “Eu e teu pai te procurávamos”, não teríamos achado isso ilegítimo, dada a sua santidade.
Mas, no entanto, a Santíssima Virgem sabe que santidade e autoridade são duas realidades que não necessariamente se sobrepõem. Ela é, inquestionavelmente, mais santa do que ele. Mas ele é e continua sendo o chefe da Sagrada Família. É, portanto, ele quem é citado primeiro: “Teu pai e eu…”.
Pe. François Knittel, FSSPX
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