Tão familiar a todo cristão digno desse nome, a devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria é uma interrogação àqueles que, recentemente, entraram pela porta de uma igreja, ainda habitado por uma confusa sede de Deus. Por que, pergunta ele, rezar assim à Santíssima Virgem?
Fonte: Lou Pescadou n° 247 – Tradução: Dominus Est
A história da Anunciação (Lc 1, 26-38) descreve, por si só, a missão principal da Santíssima Virgem e, assim, o motivo principal de nossas orações a ela: cabe a Maria apresentar Deus ao mundo. O anjo Gabriel, mensageiro divino, não lhe pede nada mais que isso! Ele lhe anuncia o plano divino da salvação, como Deus quer tomar a carne dela, para expiar em sua carne os pecados do mundo. Nesse momento, o Céu e a terra pareciam expectar a aceitação de Maria. E eis que seu sim ressoa em magníficas palavras: Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. Ela, imediatamente, torna-se a mãe de Deus, gerando, por assim dizer, Deus no mundo.
Longe de ser um evento simples e pontual, sua missão de trazer Deus ao mundo se perpetua ao longo dos séculos. Aos pés da cruz, Maria vê a sua missão maternal estender-se a todos os homens que são objeto da boa vontade (cf. Lc 2,13). Com efeito, Cristo, apontando o discípulo que amava – e, portanto, cada um de nós – disse-lhe: Eis o teu filho (Jo 19,26). Desde aquele dia, a Santíssima Virgem tem sido nossa Mãe Celestial. Cabe a ela, portanto, como mãe, trazer Deus para nossas vidas e nos aprofundar cada vez mais na vida de Deus. Uma criança não descobre o mundo através dos olhos de sua mãe? Eis então o primeiro e fundamental motivo da nossa oração à Virgem Maria: por meio de sua intercessão, Deus se entrega a nós, enquanto ela nos ensina a nos entregarmos a Deus.
O segundo motivo da nossa devoção mariana encontra seu fundamento nas primeiras páginas do Gênesis. Através dos seus pecados, Adão e Eva foram derrotados pelo demônio, estabelecido agora como “príncipe deste mundo”. Adão, por ser o princípio da humanidade, havia, de fato, arrastado esta última em sua escravidão ao mal do qual, espantado, ele descobriu a realidade. Foi então que Deus prometeu, em sua misericórdia, que essa mesma humanidade, longe de permanecer escravizada pelo pecado, seria um dia vitoriosa sobre o demônio, precisamente por meio de uma mulher e de um homem: “Porei inimizades entre ti e a mulher”, disse ele ao demônio, “entre a tua posteridade e a posteridade dela” (Gn 3,15). E Deus acrescenta imediatamente que essa restauração de uma parte da humanidade exigiria batalhas terríveis: ela te pisará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar (Gn 3,15). Nessas batalhas, que devemos travar todos os dias para sermos contados, em Cristo, entre a raça de Deus, a Santíssima Virgem tem, portanto, um lugar muito especial, em união com o seu divino Filho: ela esmagará a cabeça do demônio! Precisamente por ser nossa mãe, a Santíssima Virgem é a nossa força nessa batalha cristã: não é responsabilidade de uma mãe proteger o seu filho contra todos os perigos? São Bernardo não hesitou em dizer, falando da Santíssima Virgem: “Se ela segurar a tua mão, não cairás. Se ela te proteger, você não terá medo. Se ela estiver com você, você certamente alcançará seu objetivo.”
Que possamos, neste mês de outubro que lhe é consagrado, fazer crescer uma devoção mariana que seja tão verdadeira quanto eficaz.
Pe. Patrick de La Rocque, FSSPX
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