Et lacrymatus est Iesus — “E Jesus chorou” (Io. 11, 35.)
Sumário. O Menino Jesus chorava por duas razões. Em primeiro lugar chorava de compaixão para com os homens, que eram réus de morte eterna, e oferecia as suas lágrimas ao Eterno Pai, a fim de obter para eles o perdão. Chorava em segundo lugar de dor, vendo que, mesmo depois da Redenção tão grande número de pecadores continuariam a desprezar sua graça. Ah! Não agravemos mais as penas desse amabilíssimo Coração e consolemo-Lo, misturando as nossas lágrimas com as suas.
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As lágrimas do Menino Jesus foram muito diferentes das que as outras crianças derramam quando nascem. Estas choram de dor, diz São Bernardo, mas Jesus não chora de dor, mas sim de compaixão para conosco, e de amor:Illi ex passione lugent, Christus ex compassione. Chorar alguém é sinal de grande amor. Por esta razão os Judeus, ao verem o Salvador chorar a morte de Lázaro, diziam:Vede como o amava — Ecce quomodo amabat eum (1). Da mesma forma os anjos, vendo as lágrimas de Jesus Menino, podiam dizer: Vede como nosso Deus ama os homens, pois por amor deles vemo-lo feito homem, feito criança, vemo-lo chorar.
Jesus chorava e oferecia as suas lágrimas ao Pai Eterno, para obter para nós o perdão dos nossos pecados. Aquelas lágrimas lavaram os meus crimes, dizia Santo Ambrósio, — Lacrymae illae mea delicta lavarunt. Com seus vagidos e gemidos Jesus suplicava misericórdia por nós, que estávamos condenados à morte eterna, e aplacava a indignação de seu Pai. Quanto interecederam a nosso favor as lágrimas do divino Menino! Como aceitas foram de Deus! Foi então que Deus Pai mandou anunciar pelos anjos que já queria fazer a paz com os homens e recebê-los em sua graça. Et in terra pax hominibus bonae voluntatis (2) — “Na terra paz aos homens de boa vontade”.
Jesus chora de amor; mas chora também de dor à vista de tão grande número de pecadores que, apesar de tantas lágrimas e de tanto sangue derramado para a salvação deles, não deixariam de desprezar a sua graça. Quem será tão cruel que, vendo um Deus Menino chorar as nossas culpas, não chore também e não deteste os pecados que tanto têm feito chorar o nosso amantíssimo Senhor? Ah! Não agravemos mais os padecimentos deste inocente Menino, mas consolemo-Lo misturando as nossas lágrimas com as suas. Ofereçamos a Deus as lágrimas de seu Filho, e roguemos-Lhe que pelos merecimentos delas nos perdoe.
Ó meu amado Menino Jesus, quando estáveis chorando na gruta de Belém, pensáveis em mim, porquanto o que Vos fazia chorar era a previsão dos meus pecados. É verdade, pois, ó meu Jesus, que, em vez de Vos consolar com o meu amor e a minha gratidão ao ver quanto tendes padecido pela minha salvação, agravei a vossa dor e a causa das vossas lágrimas. Se eu tivesse cometido menos pecados, teríeis chorado menos. Chorai ó Jesus, chorai; reconheço que tendes motivo para chorara prevendo a grande ingratidão dos homens, depois do tão grande amor vosso. Mas, já que chorais, chorai também por mim; as vossas lágrimas são a minha esperança. Eu também choro os desgostos que Vos tenho dado, ó Redentor meu; abomino-os, detesto-os e deles me arrependo de todo o meu coração.
Deploro todos os dias e todas as noites infelizes que passei em vossa inimizade e privado da vossa graça; porém, ó meu Jesus, para que serviriam as minhas lágrimas sem as vossas?
Pai Eterno, ofereço-Vos as lágrimas de Jesus Menino; perdoai-me por amor delas. E Vós, ó meu amado Salvador, oferecei a vosso Pai todas as lágrimas que em vossa vida derramastes por mim, e fazei com que me seja propício. Peço-Vos também, Amor meu, que eterneçais com as vossas lágrimas o meu coração e o abraseis no vosso santo amor. Quem me dera que de hoje em diante Vos consolasse tanto com o meu amor, quanto Vos fiz sofrer com os meus pecados! Concedei-me, ó Senhor, que os dias de vida que ainda me restam, não sirvam mais para Vos dar novos desgostos, senão parar chorar todos os que Vos tenho dado e para amar-Vos com todo o afeto da minha alma. — Ó Maria, rogo-vos pela terna compaixão que sentistes ao ver o Menino Jesus chorando, que me impetreis uma dor contínua das ofensas que eu ingrato tenho feito. (II 371.)
- Io. 11, 36.
2. Luc. 2, 14.
Meditações para todos os dias e festas do ano – Tomo I – Santo Afonso
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