Pelos padres dominicanos de Avrillé Confraria no Brasil: confrariadorosario@hotmail.com Confraria nos Estados Unidos: http://www.dominicansavrille.us/ Confraria na França: https://www.dominicainsavrille.fr/
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Haec est enim voluntas Dei: sanctificatio vestra – “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Thess. 4, 3).
Sumário. Estejamos persuadidos de que um ato de plena e perfeita conformidade com a vontade de Deus basta para fazer um santo; pois, o que dá a Deus a vontade própria, lhe dá o que tem de melhor, e pode na verdade dizer: Senhor, nada mais tenho para Vos dar. Seja este, portanto, o alvo de todos os nossos desejos, obras e orações, conformarmo-nos com a vontade divina e fazermo-la assim como é feita no céu. Ofereçamo-nos freqüentemente a Deus no correr do dia, dizendo: Senhor, não permitais que Vos ofenda, fazei com que Vos ame sempre e depois disponde de mim segundo a vossa vontade.
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Oh! Quanto merecimento tem um ato de perfeita conformidade com a vontade divina! Basta para formar um santo. Quando São Paulo perseguia a Igreja, apareceu-lhe Jesus, iluminou-o e converteu-o. Que fez, então, o Santo? Outra coisa não fez senão oferecer a sua vontade a Deus, para que dele fizesse o que fosse da sua santa vontade. Disse-lhe: Domine, quid me vis facere? (1) – “Senhor, que quereis que eu faça?” E eis que Jesus Cristo o proclama logo vaso de eleição e apóstolo das nações. – Com razão, pois o que dá a Deus a vontade própria, lhe dá tudo quanto possui. Pelo que em verdade pode dizer: Senhor, já que Vos dei a minha vontade, nada mais tenho para dar. O que Deus pede de nós é exatamente o nosso coração, isto é, a nossa vontade: Praebe, fili mi, cor tuum mihi (2) – “Meu filho, dá-me teu coração”. Enquanto não dermos a Deus a nossa vontade, todas as nossas obras, por santas que se nos afigurem, não lhe serão agradáveis. – O povo d’Israel queixou-se ao Senhor, dizendo: Porque jejuamos nós e não fizeste caso? Humilhamos as nossas almas e fizeste como se o ignorasses? Deus, porém, ensina-nos pelo profeta Isaías, que a razão disso era que, a par das penitências exteriores, eles não sacrificavam igualmente a sua vontade: In die ieiunii vestri invenitur voluntas vestra (3).
Eis porque a conformidade à vontade de Deus foi o único fim e desejo de todos os santos. Davi protestava sempre estar pronto a executar o que Deus desejava: Paratum cor meum, Deus, paratum cor meum (4) – “Meu coração está pronto, ó Deus, meu coração está pronto”. Santa Maria Madalena de Pazzi ficou arrebatada em êxtase ao ouvir as palavras: vontade de Deus. Santa Teresa oferecia-se pelo menos cinqüenta vezes por dia a Deus, para que dela dispusesse segundo a sua vontade. E o Bem-aventurado Henrique Suzo dizia: “Por vontade de Deus, antes quisera ser o mais miserável verme da terra do que serafim por minha própria vontade.”
Eis qual deve ser o alvo de todos os nossos desejos, das nossas devoções, meditações e comunhões: conformarmos a nossa vontade com a divina e cumprimo-la assim como a fazem os anjos e santos no céu. Este deve ser também o objeto de todas as nossas súplicas: obtermos a graça de executar o que Deus nos pede; e para isso devemos reclamar a intercessão dos nossos santos Padroeiros e especialmente de Maria Santíssima. Doce me facere voluntatem tuam (5) – “Ensina-me a fazer a tua vontade”.
“Estejamos certos”, nos diz Santa Teresa, “que no cumprimento da vontade de Deus consiste a mais elevada perfeição: o que mais sobressair nesta prática, receberá de Deus maiores dons e fará mais progressos na vida interior.” Fazendo assim, seremos nós também homens segundo o Coração de Deus, como o Senhor fez o elogio de Davi exatamente por estar este disposto a fazer todas as suas vontades: Inveni virum secundum cor meum, qui faciet omnes voluntates meas (6).
Ó meu Deus, toda a minha desgraça no passado foi de não me querer sujeitar à vossa santa vontade. Detesto e amaldiçôo mil vezes os dias e momentos em que, para seguir a minha vontade, contrariei a vossa, ó Deus de minha alma. Eu Vô-la consagro hoje sem reserva; recebei-a, ó meu Senhor, e ligai-me de tal modo ao vosso amor, que nunca mais me possa revoltar contra Vós. Amo-Vos, bondade infinita e pelo amor que Vos tenho, me ofereço todo a Vós. Disponde de mim e do que é meu, como Vos aprouver; resigno-me em tudo à vossa santa vontade. Preservai-me da desgraça de agir contra a vossa vontade e fazei de mim segundo o vosso desejo. Pai Eterno, atendei-me pelo amor de Jesus Cristo. Meu Jesus, atendei-me pelos merecimentos da vossa Paixão. – E vós, Maria Santíssima, ajudai-me; impetrai-me a graça de executar a divina vontade, na qual consiste a minha salvação e nada mais vos peço. (*II 171.)
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso
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Ladainha ao Imaculado Coração de Maria
Senhor, tende piedade de nós
Cristo, tende piedade de nós
Senhor, tende piedade de nós
Cristo, olhai-nos.
Cristo, escutai-nos
Deus Pai celestial, Tem misericórdia de nós.
Deus Filho Redentor do mundo, Tem misericórdia de nós.
Deus Espírito Santo, Tem misericórdia de nós.
Santa Trindade, um só Deus, Tem misericórdia de nós.
Santa Maria, Coração Imaculado de Maria, rogai por nós
Coração de Maria, cheio de graça, rogai por nós
Coração de Maria, vaso do amor mais puro, rogai por nós
Coração de Maria, consagrado íntegro a Deus, rogai por nós
Coração de Maria, preservado de todo pecado, rogai por nós
Coração de Maria, morada da Santíssima Trindade, rogai por nós
Coração de Maria, delícia do Pai na Criação, rogai por nós
Coração de Maria, instrumento do Filho na Redenção, rogai por nós
Coração de Maria, a esposa do Espírito Santo, rogai por nós
Coração de Maria, abismo e prodígio de humildade, rogai por nós
Coração de Maria, medianeiro de todas as graças, rogai por nós
Coração de Maria, batendo em uníssono com o Coração de Jesus, rogai por nós
Coração de Maria, gozando sempre da visão beatífica, rogai por nós
Coração de Maria, holocausto do amor divino, rogai por nós
Coração de Maria, advogado ante a justiça divina, rogai por nós
Coração de Maria, transpassado por uma espada, rogai por nós
Coração de Maria, Coroado de espinhos por nossos pecados, rogai por nós
Coração de Maria, agonizando na paixão de teu Filho, rogai por nós
Coração de Maria, exultando na Ressurreição de teu Filho, rogai por nós
Coração de Maria, triunfando eternamente com Jesus, rogai por nós
Coração de Maria, fortaleza dos cristãos, rogai por nós
Coração de Maria, refúgio dos perseguidos, rogai por nós
Coração de Maria, esperança dos pecadores, rogai por nós
Coração de Maria, consolo dos moribundos, rogai por nós
Coração de Maria, alívio dos que sofrem, rogai por nós
Coração de Maria, laço de união com Cristo, rogai por nós
Coração de Maria, caminho seguro ao Céu, rogai por nós
Coração de Maria, prenda de paz e santidade, rogai por nós
Coração de Maria, vencedora das heresias, rogai por nós
Coração de Maria, da Rainha dos Céus e Terra, rogai por nós
Coração de Maria, da Mãe de Deus e da Igreja, rogai por nós
Coração de Maria, que por fim triunfarás, rogai por nós
Cordeiro de Deus que tiras o pecado do mundo, Perdoai-nos Senhor
Cordeiro de Deus que tiras o pecado do mundo, Escutai-nos Senhor
Cordeiro de Deus que tiras o pecado do mundo, Tem misericórdia de nós.
Rogai por nós Santa Mãe de Deus
R. Para que sejamos dignos de alcançar as promessas de Nosso Senhor Jesus Cristo
Oremos:
Vós que nos tens preparado no Coração Imaculado de Maria uma digna morada de teu Filho Jesus Cristo, concedei-nos a graça de viver sempre conforme a sua vontade e de cumprir seus desejos.
Por Cristo teu Filho, Nosso Senhor. Amém
Non est inventus qui rediret, et daret gloriam Deo, nisi hic alienigena – “Não se achou quem voltasse e viesse dar glória a Deus, senão só este estrangeiro” (Lc 17, 18)
Sumário. Para curar os leprosos de que fala o Evangelho, Jesus apenas fez uso de um ato da sua vontade, e todavia desagrada-Lhe tanto a sua ingratidão, que não se conteve de os censurar. Quanto mais não Lhe deverá, portanto, desagradar a ingratidão de tantos cristãos, visto que, para os curar da lepra do pecado, desceu do céu à terra e derramou todo o seu preciosíssimo sangue!… Se no passado também temos sido ingratos para com o Senhor, sejamos-lhe agradecidos ao menos de hoje em diante, lembrando-nos de que a gratidão é uma fonte de novos benefícios!
I. O pecado de ingratidão é um monstro tão hediondo, que desagrada também aos homens, os quais, tendo feito algum beneficio que não é retribuído ao menos pela gratidão, sentem uma mágoa mais insuportável do que qualquer outro sofrimento corporal. — Quanto mais, porém, este monstro desagrada a Deus, bem o demonstra o Evangelho de hoje.
Refere São Lucas que:
“entrando Jesus em uma aldeia, saíram-Lhe ao encontro dez leprosos, que pararam ao longe e levantaram a voz dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós. E Jesus, logo que os viu, disse: Ide, mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, enquanto iam, ficaram limpos. Mas um deles, quando se viu limpo, voltou atrás, engrandecendo a Deus em alta voz; e prostrou-se por terra aos pés de Jesus, dando-Lhe graças; e este era um Samaritano. E Jesus disse: Porventura não foram dez os curados? Onde estão os outros nove? Não se achou quem voltasse e viesse dar glória a Deus, senão só este estrangeiro”.
Meu irmão, façamos aqui uma consideração: para curar os dez leprosos Jesus Cristo fez apenas uso de um ato de sua vontade, e todavia a ingratidão daqueles homens desagradou-Lhe a ponto de não a querer deixar passar sem censura. Quanto mais não lhe deverá, pois, desagradar a ingratidão de tantos cristãos, visto que, para os limpar da lepra do pecado, quis Jesus aniquilar-se a si mesmo, tomando a forma de escravo (1); quis ser obediente até a morte de cruz (2); quis, enfim, derramar o seu preciosíssimo sangue até à última gota. Lavit nos in sanguine suo (3) — “Ele nos lavou em seu sangue”. — Saibamos que, conforme a revelação feita à Venerável Águeda da Cruz, a previsão de tão monstruosa ingratidão começou a atormentar nosso Senhor desde o seio de Maria e que o acompanhou durante a sua vida toda até ao último suspiro.
II. Se a ingratidão é um vício tão abominável e tão odioso a Jesus Cristo, a gratidão é, ao contrário, uma virtude extremamente agradável ao seu divino Coração. Pelo que escreveu Santo Agostinho:
“Não podemos pensar, dizer nem escrever coisa melhor e mais agradável a Deus do que estas palavras: Deo gratias! — Graças a Deus!”
O mesmo disse São João Crisóstomo, que acrescenta que:
“não há guarda melhor dos benefícios recebidos, do que o lembrar-se deles e agradecê-los. Não há coisa mais agradável a Deus do que uma alma grata; porque pelos inúmeros benefícios de que Deus nos cumula todos os dias, não nos pede outra coisa, senão que lhas agradeçamos.”
Mais: a gratidão nos abre os canais da divina misericórdia, para recebermos sempre novos e maiores dons. — Afiança-nos isso o Evangelho de hoje; porque o leproso que voltou para dar graças a Jesus Cristo, além da saúde do corpo, recebeu também a da alma, visto que, conforme explicam os intérpretes, foi então iluminado acerca da divindade de Jesus e feito em seguida seu discípulo e propagador da religião de Cristo, realizando muitos milagres em seu nome; Lides tua te salvum fecit (4) — “Tua fé te salvou”.
Longe, portanto, de imitarmos os nove leprosos ingratos, imitemos antes o Samaritano agradecido. Voltemos atrás, com nosso pensamento, para enumerar os benefícios recebidos de Deus e considerando a ingratidão com que lhes havemos correspondido, prostremo-nos a seus pés, enaltecendo-O em alta voz, rendendo-Lhe graças, e peçamos-lhe humildemente perdão.
Ó meu Redentor amabilíssimo, graças Vos dou e quereria morrer de dor ao pensar que Vos ofendi tanto, a Vós que sois a bondade infinita, que me enriquecestes de tantos dons e chegastes a fazer de vosso sangue um banho salutar para me limpar da lepra nojenta do pecado. Meu amor, perdoai-me, vinde tomar posse do meu coração e nunca mais Vos afasteis dele. Amo-Vos, e cada vez que disso me lembrar, prometo fazer atos de amor para compensar as minhas ingratidões para convosco. Ajudai-me para que Vos seja fiel. “Aumentai sempre em mim a fé, esperança e caridade, e fazei que ame o que mandais, para que mereça alcançar o que prometeis”. (5)
† Doce Coração de Maria, sede minha salvação.
Referências:
(1) Fl 2, 7
(2) Fl 2, 8
(3) Ap 1, 5
(4) Mc 10, 52
(5) Or. Dom. curr.
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 40-43)
Beatus homo, qui audit me, et qui vigilat ad fores meas quotidie – “Bem-aventurado o homem que me ouve e que vela todos os dias à entrada da minha casa” (Pv 8, 34)
Sumário. Sendo Maria Santíssima medianeira de graça, o Senhor fê-la de certo modo onipotente; e decretou que todas as graças que são dispensadas aos homens passem pelas mãos da Virgem. Por outro lado, Maria é tão misericordiosa que basta invocá-la para ser atendido. Felizes, pois, de nós, se tivermos devoção verdadeira a esta boa Mãe, recorrermos sempre a ela em nossas necessidades e procurarmos que os outros também a amem! Que pecador se perdeu alguma vez tendo perseverado em recorrer a Maria?
I. Jesus é medianeiro de justiça, Maria é medianeira de graça; e por isso, na opinião de São Bernardo, São Boaventura, Santa Catarina de Sena, São Germano, Santo Antônio e outros, Deus quer que nos sejam dispensadas pelas mãos de Maria todas as graças que nos quer conceder. As orações dos Santos junto de Deus são orações de amigos; mas as orações de Maria são orações de Mãe. Felizes daqueles que sempre recorrem com confiança a esta divina Mãe! Entre todas as devoções, a que mais agrada à Santíssima Virgem é recorrer sempre a ela e dizer-lhe: Ó Maria, rogai a Jesus por mim.
Como Jesus Cristo é todo-poderoso por natureza, assim Maria é todo-poderosa pela graça; pelo que obtém tudo que pede. Escreve Santo Antônio que é impossível à Mãe pedir ao Filho alguma graça pelos seus devotos e não ser atendida pelo Filho. Jesus se compraz em honrar sua Mãe, concedendo-lhe tudo que ela pede. Por isso nos exorta São Bernardo: “Busquemos a graça e busquemo-la por Maria; por ser Mãe, não pode ser desatendida” – Quaeramus gratiam, et per Mariam quaeramus: quia Mater est, et frustrari non potest.
Não temamos que Maria não nos queira ouvir quando a imploramos. Ela se deleita no seu poder para com Deus, por nos poder alcançar todas as graças que desejamos. Basta pedir as graças a Maria para as obter. Se não as merecemos, ela nos torna dignos pela sua intercessão onipotente e deseja ardentemente que a ela recorramos para nos poder salvar. Que pecador jamais se perdeu tendo recorrido com confiança e perseverança a Maria, que é o refúgio dos pecadores? Perde-se somente aquele que não recorre a Maria.
II. Se nos quisermos salvar, recomendemo-nos sempre a Maria, para que interceda por nós. Imitemos as crianças, que em todas as necessidades, em todo o perigo que encontram, sempre recorrem à sua mãe. – As graças que sobretudo devemos pedir à Santíssima Virgem são um amor ardente a Jesus Cristo e uma confiança terna, filial e constante nela mesma. E sempre que nos seja possível, quer pública, quer privadamente, procuremos em nossas conversas dizer alguma coisa acerca desta divina Mãe, afim de que outros lhe sejam também devotos. Desta forma, mesmo sem sermos missionários, exerceremos um apostolado frutuoso.
Ó Maria, sois entre todas as criaturas a mais nobre, sublime, pura, bela e santa. Oh, se todos os homens vos conhecessem, minha Rainha, e vos amassem como o mereceis! Mas consolo-me com o pensamento de que tantas almas bem-aventuradas do céu e justas na terra são todas consumidas de amor à vossa bondade e beleza. Regozijo-me, sobretudo, de que Deus por si só vos ama imensamente mais que todos os homens e anjos juntamente. Amabilíssima Soberana minha, ainda que miserável pecador, eu vos amo também, mas muito pouco é o amor que vos tenho; desejo amar-vos mais e com maior ternura; e a vós pertence obter para mim este amor; por que amar-vos é grande sinal de predestinação e graça com que Deus favorece aqueles que serão salvos.
Por outro lado, vejo, ó minha Mãe, quão imensas obrigações tenho para com vosso divino Filho; vejo que Ele é digno de amor infinito. Vós, cujo único desejo é vê-Lo amado, deveis alcançar-me principalmente a graça de um ardente amor para com Jesus Cristo. Suplico-vos, portanto, esta graça, fazei que ela me seja concedida, ó vós que obtendes de Deus tudo que desejais. Não vos peço bens terrestres, nem as honras, nem as riquezas; peço-vos unicamente a graça de fazer o que vosso Coração mais deseja, amar somente a meu Deus. Seria possível não quererdes favorecer o meu desejo, um desejo que vos é tão agradável? Não, já me ajudais, já orais por mim. Pedi, ó Maria, pedi, e não deixeis jamais de pedir enquanto não me virdes no paraíso, onde terei a segurança de possuir e amar eternamente a Deus convosco, ó Mãe querida.
Referências:
(1) Jo 18, 12
(2) Is 52, 2
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 35-37)
"(...) Estou obcecado pelas confidências da Virgem à pequena Lúcia de Fátima. Essa obstinação de Nossa Senhora diante do perigo que ameaça a Igreja, é um aviso divino contra o suicídio que representaria a alteração da fé, na sua liturgia, na sua teologia e na sua alma." Ouço em redor de mim os inovadores que querem desmantelar a Capela Sagrada, destruir a chama universal da Igreja, rejeitar seus ornamentos, dar-lhe remorso de seu passado histórico. (...) Pois bem, meu caro amigo, estou convicto que a Igreja de Pedro deve assumir o seu passado ou então ela cavará sua sepultura. (...) um dia virá em que o mundo civilizado renegará seu Deus, em que a Igreja duvidará como Pedro duvidou. Ela será tentada a crer que o homem se tornou Deus, que o Seu Filho é apenas um símbolo, uma filosofia como tantas outras, e nas igrejas os cristãos procurarão em vão a lâmpada vermelha em que Deus os espera." - Pie XII Devant l’Histoire“. Edit. Laffont, Paris, 1972, págs. 52–53.
“Quem reza se salva, quem não reza se condena” -
Santo Afonso Maria de Ligório.
Durante a sua primeira aparição às três crianças de Fátima, no domingo, 13 de maio de 1917, a Virgem pediu-lhes que viessem todos os dias 13 dos meses seguintes. Mas em 13 de agosto, quando uma multidão de 20.000 pessoas já lotava a Cova da Iria, nenhum dos três pastores esteve presente.
Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est
Anticlerical notório, membro da Maçonaria, Artur de Oliveira Santos acumulava os cargos de administrador do cantão, presidente da Câmara Municipal e substituto do juiz cantonal. Determinado a fazer cessar as manifestações que atraíam sempre mais pessoas, ele se comprometeu a sequestrar as crianças e mantê-las em cativeiro em uma casa até que elas confessassem suas mentiras e revelassem o engano.
O RAPTO DAS CRIANÇAS
Usando de astúcia e não hesitando em mentir, ele se apresentou na manhã de 13 de agosto, fingindo acreditar nas aparições e garantir a segurança das crianças levando-as junto dele para a Cova da Iria. Não conseguindo convencer, ele pediu para conduzi-las até o Cura da cidade para uma nova entrevista. Uma vez no presbitério, depois que o pároco interrogou as crianças, o administrador obrigou-as a entrar em seu carro. Mas em vez de levá-los à Cova da Iria, ele se voltou para a cidade de Ourem. Quando chegaram, o administrador trancou-os em uma sala e disse-lhes que não sairiam até que revelassem o segredo.
Enquanto isso, na Cova da Iria, uma multidão esperava em vão pela chegada das crianças. Alguém anunciou que o administrador os havia raptado. Um barulho violento de trovão foi ouvido, então um relâmpago apareceu e finalmente uma pequena nuvem pairou sobre o carvalho verde onde a Virgem costumava conversar com as crianças. Essa nuvem subiu logo e desapareceu, de modo que todos estavam convencidos de que Nossa Senhora certamente havia vindo.
Enquanto isso, as crianças foram submetidas a múltiplos interrogatórios, nove ao todo. Em 14 de agosto, eles foram interrogados separadamente e examinados por um médico. Incapaz de obter deles qualquer negação ou admissão de mentiras, o administrador cantonal decidiu usar armas mais constrangedoras. Ele os trancou na prisão pública.
NA PRISÃO E AMEAÇADOS DE MORTE
Jacinta sofreu terrivelmente por estar separada dos pais. Francisco estava profundamente triste por ter perdido o encontro com Nossa Senhora. Os outros prisioneiros demonstraram muita bondade para com as crianças e tentaram consolá-las.
A Irmã Lúcia escreveu nas suas memórias: “Decidimos então rezar o Rosário. Jacinta retirou a medalha que usava no pescoço e pediu a um prisioneiro para pendurá-la em um prego na parede. Ajoelhados perante a medalha, começamos a rezar. Os prisioneiros rezavam conosco … Então, Jacinta, que nunca chorou durante os interrogatórios, começou a soluçar pensando em sua mãe. Jacinta, perguntei, não oferecerás este sacrifício a Nosso Senhor? – Sim, eu quero, mas eu continuo pensando em minha mãe e não posso deixar de chorar”… De repente, um guarda apareceu e chamou Jacinta com uma voz terrível: “O óleo começou a ferver; conte o segredo se você não quer queimar!
– Eu não posso.
– Você não pode? Ah, bem, eu vou lhe mostrar um meio capaz de fazer! Venha!”
Ela saiu imediatamente, sem nem dizer adeus. Então, Francisco, com uma alegria serena e sem limites disse: “Se nos matarem como dizem, poderemos entrar no céu imediatamente! É maravilhoso! Nada mais importa! “Então, após um momento de silêncio, “Que Deus faça com que Jacinta não tenha medo. Rezarei uma Ave Maria por ela”.
Pouco tempo depois, o guarda voltou para buscar Francisco, e depois Lucia seguindo o mesmo cenário. O administrador ameaçou pela terceira vez. Os três seriam cozidos juntos! Ele não obteve nem o segredo nem qualquer confissão.
Na manhã seguinte, após um último interrogatório, as crianças foram levadas de volta a Fátima. Como todos estavam enfurecidos pelo comportamento do administrador e do pároco (as crianças foram levadas deixando o presbitério), este último, compreendendo a dubiedade do administrador, escreveu uma declaração pública alegando que ele não tinha nada a ver com “o ato odioso e sacrilégio que constituiu o rapto inesperado das três crianças“. Graças a esta carta pública, a história dos acontecimentos de Fátima foi publicada pela primeira vez na imprensa católica.
Finalmente, a armadilha que visava abafar os eventos que ocorreram em Fátima lhes proporcionou grande publicidade e voltou-se para a confusão dos ímpios.
Introduxit me rex in cellam vinariam, ordinavit in me caritatem – “O rei me introduziu na sua adega, ordenou em mim a caridade” (Ct 2, 4)
Sumário. É com razão que os santos sempre consideraram os santos altares como outros tantos tronos de amor, onde Jesus Cristo inflama e abrasa em santo amor as suas almas prediletas. Como será então possível que a alma, que se prepara com as devidas disposições para receber dentro de si esta fornalha de amor, não fique toda abrasada e ardente? Não tenhamos a insensatez de nos afastarmos do fogo, porque nos sentimos com frio; ao contrário, quanto mais frio sentirmos, com tanto mais frequência nos devemos chegar ao Santíssimo Sacramento, se ao menos desejamos amar a Deus.
I. Ainda que a santíssima Eucaristia seja a fonte de todas as virtudes, tem todavia eficácia particular para nos abrasar no amor de Deus, que é o ápice da santidade e da perfeição. São Vicente Ferrer diz que a alma tira mais fruto de uma só comunhão, que de uma semana de jejum a pão e água. E Santa Maria Magdalena de Pazzi acrescenta que uma só comunhão bem feita basta para fazer um santo.
O rei me introduziu em sua adega, ordenou em mim a caridade. Segundo São Gregório de Nyssa, é a comunhão aquela adega misteriosa onde a alma de tal modo se embriaga do amor divino, que esquece a terra e todas as coisas criadas; é esta propriamente a languidez produzida pelo santo amor. O Padre Francisco Olympio dizia que nenhuma coisa é capaz de nos inflamar no amor divino como a santa comunhão.
Nem pode ser de outra forma; pois que o Verbo Eterno, que é o próprio amor, assegura que, vindo à terra, não teve outro intuito senão o de acender o fogo do amor: Ignem veni mittere in terram (1). Como será, pois, possível que a alma que se prepara com as devidas disposições para receber dentro de si este fogo de amor, não fique toda abrasada e consumida? – Eis porque os santos sempre consideraram os altares sagrados como outros tantos tronos de amor, onde Jesus Cristo abrasa e inflama as suas almas diletas.
Santa Catarina de Sena viu certo dia na mão do sacerdote a Hóstia consagrada semelhante a uma fornalha de amor, e admirava-se a Santa de que os corações de todos os homens não ardessem todos e se consumissem em tão grande incêndio. Santa Rosa de Lima dizia que, quando comungava, parecia-lhe que recebia o sol, de modo que o seu rosto ficava tão radiante, que chegava a ofuscar a vida, e saía-lhe da boca tal calor, que a pessoa que lhe dava de beber depois da comunhão sentia a mão quente como se a tivesse junto de um forno. – Finalmente o santo rei Wenceslau, quando ia visitar o Santíssimo Sacramento, sentia-se mesmo exteriormente inflamado em tamanho ardor, que o criado que o acompanhava punha os pés nas pisadas do Santo para não sentir frio.
II. Grande é o engano daqueles que deixam de comungar frequentemente, porque se sentem frios no amor divino. Diz Gerson que eles são como um homem que se não quer aproximar do fogo porque não tem bastante calor. – Dizia igualmente São Francisco de Sales:
“Há 25 anos que sou diretor de almas; e a experiência me ensinou a eficácia indizível da santíssima Eucaristia para proteger, fortalecer, consolar, e, numa palavra, divinizar as almas, quando comungam com fé, pureza e devoção.”
Quanto mais frio sentirmos, mais nos devemos aproximar do Santíssimo Sacramento, se ao menos desejamos amar a Deus. Se vos perguntarem porque é que comungais tantas vezes, respondei com o mesmo São Francisco de Sales:
“Há duas classes de pessoas que devem comungar frequentemente: os perfeitos e os imperfeitos, os primeiros para se manterem na perfeição, os segundos para chegarem à perfeição.”
Ó meu Jesus, Vós que amais tanto as almas, já não tendes mais provas a dar-nos de vosso amor. Fazei, bondade infinita, que de hoje em diante Vos ame com todas as forças e com toda a ternura do meu coração. A quem é que meu coração deveria amar com mais ternura, do que a Vós, meu Redentor, que, depois de haverdes dado a vida por mim, Vos dais a Vós mesmo neste Sacramento? Ah! Meu Senhor, pudesse lembrar-me sempre do vosso amor, afim de esquecer todas as criaturas e amar somente a Vós, sem interrupção e sem reserva.
Amo-Vos, meu Senhor; † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas e só a Vós quero amar. Peço-Vos que expulseis do meu coração todos os afetos que não sejam para Vós. Graças Vos dou por me concederdes tempo para Vos amar e chorar os desgostos que Vos causei. Meu Jesus, desejo que sejais o único objeto de todas as minhas afeições. Socorrei-me, salvai-me; possa a minha salvação consistir em amar-Vos de todo o coração e sempre, nesta vida e na outra. – Maria, minha Mãe, ajudai-me a amar Jesus.
Referências:
(1) Lc 12, 49
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 14-17)
Vidimus eum… despectum et novissimum virorum – “Vimo-lo… feito um objeto de desprezo e o último dos homens” (Is 53, 3)
Sumário. Quem pudera jamais imaginar que, tendo o Filho de Deus vindo à terra a fazer-se homem por amor dos homens, viesse a ser tratado por eles com tamanhos insultos e injúrias, como se fosse o último e o mais vil de todos? No entanto, assim aconteceu. Jesus foi traído por Judas, negado por Pedro, abandonado por seus discípulos, tratado de louco, açoitado qual escravo, e, afinal, proposto ao homicida Barrabás, foi condenado a morrer crucificado. Ah! Se este exemplo de Jesus Cristo não cura o nosso orgulho, não há remédio que o possa curar.
I. Diz Bellarmino que os desprezos causam mais pena às almas grandes do que as dores do corpo. Com efeito, se estas afligem a carne, aqueles afligem a alma, cuja pena é tanto maior quanto ela é mais nobre que o corpo. Mas quem teria jamais imaginado que o personagem mais digno do céu e da terra, o Filho de Deus, vindo ao mundo a fazer-se homem por amor dos homens, houvesse de ser tratado por estes com tamanhos desprezos e injúrias, como se fosse o último e o mais vil dos mortais? No entanto, assim aconteceu, pelo que Isaías disse: Vimo-lo desprezado e feito o último dos homens.
E que qualidade de afrontas não sofreu o Redentor em todo o tempo de sua vida, e especialmente em sua Paixão? Viu-se exposto a afrontas da parte de seus próprios discípulos. Um deles o traiu e vendeu por trinta dinheiros. Outro negou-o muitas vezes, mostrando assim que se envergonhava de o ter conhecido. Os outros discípulos, vendo-o preso e amarrado, fugiram todos e o abandonaram: Tunc discipuli eius, relinquentes eum, omnes fugerunt (1). Se Jesus Cristo foi tratado assim pelos seus próprios discípulos, faze-te uma ideia de como havia de ser tratado pelos seus inimigos mais encarniçados!
Ai, meu Senhor! No Sinédrio de Caifás vejo-Vos amarrado como um malfeitor; esbofeteado como homem insolente, declarado réu de morte como usurpador sacrílego da dignidade divina; e como homem já condenado ao suplício, vejo-Vos entregue à discrição de um canalha que Vos maltrata com pontapés, escarros e empurrões. Na casa de Herodes, Vos vejo, ó meu Jesus, feito alvo dos escárnios daquele rei impuro e de toda a sua corte; vejo-Vos coberto de um manto branco, tratado como ignorante e louco, e levado assim pelas ruas de Jerusalém. – No pretório de Pilatos, Vos vejo açoitado com milhares de golpes, qual servo rebelde, coroado de espinhos qual rei de teatro; posposto ao homicida Barrabás, e, finalmente, condenado a morrer crucificado. Por isso, vejo-Vos, por último, no Calvário, crucificado entre dois ladrões, praguejado, amofinado, insultado e feito o mais vil dos homens, homem de dores e opróbrios. Ai meu pobre Senhor!
II. As injúrias e os desprezos que Jesus Cristo quis sofrer no tempo de sua Paixão, foram tantos e tão grandes, que, no dizer de Santo Anselmo, não podia ser mais humilhado, do que realmente o foi. E o devoto Taulero diz que é opinião de São Jerônimo, que as penas sofridas por nosso Senhor, especialmente na noite que precedia a sua morte, só serão plenamente conhecidas no dia do juízo.
Mas para que tantos desprezos? É São Pedro quem no-lo diz: Jesus Cristo quis desta forma mostrar-nos quanto nos ama e ensinar-nos pelo seu exemplo a sofrermos resignadamente os desprezos e as injúrias: Christus passus est pro nobis, vobis relinquens exemplum, ut sequamini vestigia eius (2). Eis porque Santo Agostinho, falando das ignomínias padecidas pelo Senhor, conclui: “Se esta medicina não cura o nosso orgulho, não sei que outro remédio o possa curar!”
Ah, meu Jesus! Vendo um Deus tão desprezado por meu amor, não poderei eu sofrer o mais pequeno desprezo por vosso amor? Eu, pecador e orgulhoso? E d’onde, meu divino Mestre, me pode vir este orgulho? Pelos merecimentos das afrontas que tendes suportado por mim, dai-me a graça de sofrer, com paciência e com alegria, as afrontas e as injúrias. Proponho com vosso auxílio, d’aqui em diante, não me entregar mais ao ressentimento e receber com alegria todos os opróbrios de que eu possa ser alvo. Mereceria outros desprezos, porque desprezei a vossa divina Majestade e mereci os desprezos do inferno. E Vós, meu amado Redentor, me fizestes verdadeiramente doces e amáveis as afrontas, quando aceitastes tantas afrontas por meu amor. Proponho além disso, para Vos agradar, fazer todo o bem que eu puder àquele que me desprezar, ao menos dizer bem dele e orar por ele. Desde já Vos peço que acumuleis todas as vossas graças sobre os de quem tenha recebido alguma injúria. Amo-Vos, bondade infinita, e quero amar-Vos sempre com todas as minhas forças. – Ó minha aflita Mãe, Maria, alcançai-me a santa perseverança.
Referências:
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 317-319)
Sermão proferido em ocasião do X Domingo depois de Pentecostes no Priorado São Pio X, em Lisboa, 01/08/21