Domingo da Septuagésima
Consideremos a significação desta parábola. A vinha do Senhor são as nossas almas. Jesus Cristo, o pai de família, depois de as ter resgatado da escravidão do demônio com o preço de seu divino sangue, no-las deu com o fim de as cultivarmos, por meio das boas obras, para poderem um dia ser admitidas na glória eterna, à qual nos convida continuamente. — Vocati nos undique Deus, diz São Gregório. O Senhor nos chama da maneira mais variada; chama-nos por meio dos anjos da guarda e por meio dos seus ministros, e chama-nos ainda hoje pela presente meditação.
Coisa estranha, porém! Deus nada tem poupado e nada poupa para a salvação das nossas almas, e os cristãos, que creem tudo isso pela fé, vivem como se não cressem. Mas põem toda a sua atenção nos negócios da terra, e na alma nem sequer pensam, como se o negócio da salvação da alma não fosse o mais importante de todos. Ó infelizes! Bem reconhecerão a sua loucura quando não houver mais tempo para a remediar. Perdida a alma uma vez, perdeu-se para sempre.
II. No fim da tarde, assim continua o Evangelho, “o senhor da vinha disse ao seu mordomo: Chama os operários, e paga-lhes o jornal, a começar dos últimos até os primeiros”. Assim se fez, sendo preferidos os operários que vieram em último lugar, aos que vieram primeiro e trabalharam mais tempo. — Com isso o Senhor nos quer dar a entender que na recompensa a dar a seus servos não olha para o tempo ou anos, mas tão somente para a diligência com que o serviram. Daí é que frequentes vezes os que foram os primeiros no serviço de Deus, ficam sendo os últimos, e que os últimos ficam sendo os primeiros.
Animemo-nos, meu irmão, e se no passado temos sido negligentes no cultivo da vinha que o Senhor nos confiou, redimamos o tempo perdido servindo a Deus com dobrado fervor: Tempus redimentes, exhorta-nos São Paulo, quoniam dies mali sunt — “Recobrando o tempo, porque os dias são maus” (1). Imitemos este Apóstolo, que, como observa São Jerônimo, embora fosse o último no apostolado, foi contudo o primeiro em merecimento, porque trabalhou mais do que os outros.
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 244-247)
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