TRÊS ÁRVORES SONHAM
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Nossa Senhora do Advento |
"Era uma vez, no cume de uma montanha, três pequenas árvores amigas que tinham grandes sonhos sobre o que o futuro proporcionaria para elas.
A primeira arvorezinha olhou para as estrelas e disse: "Eu quero guardar tesouros. Quero estar repleta de ouro e ser cheia de pedras preciosas. Eu serei o baú de tesouros mais formoso do mundo".
A segunda arvorezinha observou um pequeno arroio em seu caminho por volta do mar e disse: "Eu quero viajar através de mares imensos e levar a reis poderosos sobre mim. Eu serei o navio mais importante do mundo".
A terceira arvorezinha olhou para o vale e viu homens curvados de tantos infortúnios, fruto de seus pecados e disse: "Eu não quero jamais deixar o topo da montanha. Quero crescer tão alto que quando as pessoas do povoado se detiverem para me olhar, levantarão seu olhar ao céu e pensarão em Deus. Eu serei a árvore mais alta do mundo".
Os anos se passaram. Choveu, brilhou o sol e as pequenas árvores se converteram em majestosos cedros.
Um dia, três lenhadores subiram ao cume da montanha.
O primeiro lenhador olhou a primeira árvore e disse: "Que árvore tão formosa!", e com o arremesso de seu brilhante machado a primeira árvore caiu. "Agora me deverão converter em um baú formoso, vou conter tesouros maravilhosos", disse a primeira árvore.
Outro lenhador olhou a segunda árvore e disse: "Esta árvore é muito forte, é perfeita para mim!", e com o arremesso de seu brilhante machado a segunda árvore caiu. "Agora deverei navegar mares imensos", pensou a segunda árvore, "deverei ser o navio mais importante para os reis mais ricos da Terra".
A terceira árvore sentiu seu coração afundar-se de pena quando o último lenhador se fixou nela. A árvore parou reta e alta, apontando ao céu. Mas o lenhador nem sequer olhou para cima e disse: "Qualquer árvore me servirá para o que procuro!". E com o arremesso de seu brilhante machado a terceira árvore caiu.
A primeira árvore se emocionou quando o lenhador a levou a oficina, mas logo veio a tristeza. O carpinteiro a converteu em uma simples manjedoura para alimentar as bestas. Aquela árvore formosa não foi preenchida com ouro, nem conteve pedras preciosas. Foi apenas usada para pôr o pasto.
A segunda árvore sorriu quando o lenhador a levou perto de um estaleiro. Contudo, não estava junto ao mar, mas sim a um lago. Não haviam por ali reis, mas pobres pescadores. Em lugar de converter-se no grande navio de seus sonhos, fizeram dela uma simples barcaça de pesca, muito pequena e débil para navegar no oceano. Ali ficou no lago, com os pobres pescadores que nada de importância têm para a História.
Passou o tempo. Uma noite, brilhou sobre a primeira árvore a luz de uma Estrela dourada. Uma Jovem pôs a seu filho recém-nascido naquela humilde manjedoura. "Eu queria lhe haver construído um formoso berço", disse-lhe seu marido... A Mãe lhe apertou a mão e sorriu enquanto a luz da Estrela iluminava o Menino que agradavelmente dormia sobre a palha e a rudimentar madeira da manjedoura. "A manjedoura é formosa" disse Ela e, de repente, a primeira árvore compreendeu que continha o maior Tesouro do universo.
Passaram os anos e uma tarde um gentil Mestre de um povoado vizinho subiu com uns poucos seguidores a bordo do velho barco de pesca. O Mestre, esgotado, ficou dormindo enquanto a segunda árvore navegava tranquilamente sobre o lago. De repente, uma impressionante e aterradora tormenta se abateu sobre eles. A segunda árvore se encheu de temor, pois as ondas eram muito fortes para o pobre barco em que se convertera. Apesar de seus melhores esforços, faltavam-lhe as forças para levar a seus tripulantes seguros à margem. Naufragava! Que grande pena, pois não servia nem para um lago! Sentia-se um verdadeiro fracasso. Assim pensava quando o Mestre, sereno, levanta-se e, elevando sua mão, deu uma ordem: "Acalma-te". Imediatamente, a tormenta lhe obedeceu e deu lugar a um remanso de paz. De repente a segunda árvore, convertida no barco de Pedro, soube que levava a bordo o Rei do Céu, Terra e mares.
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Os Anjos convidam os pastores |
A terceira árvore foi convertida em lenhos, que por muitos anos foram esquecidos como escombros em um escuro armazém militar. Que triste jazer naquela penúria inútil, que longe parecia seu sonho de juventude! De repente, em uma sexta-feira na manhã, alguns homens violentos tomaram bruscamente esses madeiros. A terceira árvore se horrorizou ao ser forçada sobre as costas de um Inocente que tinha sido golpeado sem misericórdia. Aquele pobre Réu a carregou, dolorosamente, pelas ruas ante o olhar de todos. Ao fim, chegaram a uma colina fora da cidade e ali Lhe cravaram mãos e pés. Fico pendurado sobre os madeiros da terceira árvore e, sem queixar-se, apenas rezava a seu Pai, enquanto Seu sangue se derramava sobre os madeiros. A terceira árvore se sentiu envergonhada, pois não se sentia uma fracassada, sentia-se também cúmplice daquele crime ignominioso. Sentia-se tão vil quanto aqueles blasfemos diante da Vítima elevada. Mas, no domingo na manhã, quando, ao brilhar o sol, a terra se estremeceu sob suas madeiras, a terceira árvore compreendeu que algo muito maior havia ocorrido. De repente tudo tinha mudado. Seus lenhos banhados em sangue agora refulgiam como o sol. Encheu-se de felicidade e soube que era a árvore mais valiosa que tinha existido ou existirá jamais, pois aquele Homem era o Rei de Reis, e se valeu dela para salvar o mundo! A cruz era trono de glória para o Rei vitorioso.
Cada vez que as pessoas pensarem nela, recordarão que a vida tem sentido, que são amadas, que o amor triunfa sobre o mal. Por todo mundo e por todos os tempos, milhares de árvores a imitarão, convertendo-se em cruzes que pendurarão no lugar mais digno das Igrejas, das cidades e dos lares. Assim, todos pensarão no amor de Deus e a árvore, de uma maneira misteriosa, viu tornar-se realidade seu sonho.
A terceira árvore se converteu na mais alta do mundo, e ao olhá-la todos pensarão sempre em Deus. As árvores haviam tido sonhos e desejos, mas, sua realização foi mil vezes maior do que haviam imaginado.
Portanto, por mais que você não entenda o porque das coisas, ou pareça estar tudo errado, lembre-se que ALGUÉM sabe o que faz."
O ALDEÃO
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Os Anjos convidam os pastores |
Um aldeão russo, muito devoto, constantemente pedia em suas orações que Jesus viesse visitá-lo em sua humilde choupana.
Na véspera do Natal sonhou que o Senhor iria aparecer-lhe. Teve tanta certeza da visita que, mal acordou, levantou-se imediatamente e começou a pôr a casa em ordem para receber o hóspede tão esperado.
Uma violenta tempestade de granizo e neve acontecia lá fora. E o aldeão continuava com os afazeres domésticos, cuidando também da sopa de repolho, que era o seu prato predileto. De vez em quando ele observava a estrada, sempre à espera...
Decorrido algum tempo, o aldeão viu que alguém se aproximava caminhando com dificuldade em meio à borrasca de neve. Era um pobre vendedor ambulante, que conduzia às costas um fardo bastante pesado. Compadecido, saiu de casa e foi ao encontro do vendedor. Levou-o para a choupana, pôs sua roupa a secar ao calor da lareira e repartiu com ele a sopa de repolho. Só o deixou ir embora depois de ver que ele já tinha forças para continuar a jornada.
Olhando de novo através da vidraça, avistou uma mulher na estrada coberta de neve. Foi buscá-la, e abrigou-a na choupana. Fez com que sentasse próximo à lareira, deu-lhe de comer, embrulhou-a em sua própria capa... A noite começava a cair... Não a deixou partir enquanto não readquiriu forças suficientes para a caminhada.
E nada de Jesus!
Já quase sem esperanças, o aldeão novamente foi até a janela e examinou a estrada coberta de neve. Distinguiu uma criança e percebeu que ela se encontrava perdida e quase congelada pelo frio... Saiu mais uma vez, pegou a criança e levou-a para a cabana. Deu-lhe de comer, e não demorou muito para que a visse adormecida ao calor da lareira.
Cansado e desolado, o aldeão sentou-se e acabou por adormecer junto ao fogo. Mas, de repente, uma luz radiosa, que não provinha da lareira, iluminou tudo! Diante do pobre aldeão, surgiu risonho o Senhor, envolto em uma túnica branca!
‘Ah! Senhor! Esperei-O o dia todo e não aparecestes’, lamentou-se o aldeão...
E Jesus lhe respondeu: ‘Já por três vezes, hoje, visitei tua choupana: O vendedor ambulante que socorrestes, aquecestes e deste de comer... era Eu! A pobre mulher, a quem deste a capa... era Eu! E essa criança que salvaste da tempestade, também era Eu... O Bem que a cada um deles fizeste, a mim mesmo o fizeste!’.”
(Baseado em uma história natalina, atribuída a León Tolstoi )
A HISTÓRIA DE SÃO NICOLAU
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São Nicolau |
Nicolau, filho de cristãos abastados, nasceu na segunda metade do século III, em Patara, uma cidade portuária muito movimentada.
Conta-se que foi desde muito cedo que Nicolau se mostrou generoso. Uma das histórias mais conhecidas relata a de um comerciante falido que tinha três filhas e que, perante a sua precária situação, não tendo dote para casar bem as suas filhas, estava tentado a prostituí-las. Quando Nicolau soube disso, passou junto da casa do comerciante e atirou um saco de ouro e prata pela janela aberta, que caiu junto da lareira, perto de umas meias que estavam a secar. Assim, o comerciante pôde preparar o enxoval da filha mais velha e casá-la. Nicolau fez o mesmo para as outras duas filhas do comerciante, assim que estas atingiram a maturidade.
Quando os pais de Nicolau morreram, o tio aconselhou-o a viajar até à Terra Santa. Durante a viagem, deu-se uma violenta tempestade que acalmou rapidamente assim que Nicolau começou a rezar (foi por isso que tornou também o padroeiro dos marinheiros e dos mercadores). Ao voltar de viagem, decidiu ir morar em Myra (sudoeste da Ásia menor), doando todos os seus bens e vivendo na pobreza.
Quando o Bispo de Myra morreu, os anciões da cidade não sabiam quem nomear para seu lugar, colocando a decisão na vontade de Deus. Na noite seguinte, o ancião mais velho sonhou com Deus que lhe disse que o primeiro homem a entrar na igreja no dia seguinte seria o novo Bispo de Myra.
Nicolau costumava levantar-se cedo para lá rezar e foi assim que, sendo o primeiro homem a entrar na igreja naquele dia, se tornou Bispo de Myra.
S. Nicolau faleceu a 6 de Dezembro de 342 (meados do século IV), e os seus restos mortais foram levados, em 1807, para a cidade de Bari, em Itália. É atualmente um dos santos mais populares entre os Cristãos.
S. Nicolau tornou-se numa tradição em toda a Europa. É conhecido como figura lendária que distribui prendas na época do Natal.
Originalmente, a festa de S. Nicolau era celebrada a 6 de Dezembro, com a entrega de presentes. Quando a tradição de S. Nicolau prevaleceu, apesar de ser retirada pela Igreja Católica do calendário oficial em 1969, ficou associada pelos Cristãos ao dia de Natal (25 de Dezembro).
A imagem que temos hoje em dia do Pai Natal é a de um homem velhinho e simpático, de aspecto gorducho, barba branca e vestido de vermelho, que conduz um trenó puxado por renas, carregado de prendas, e voa, através dos céus, na véspera de Natal, para distribuir as prendas de Natal. O Pai Natal passa por cada uma das casas de todas as crianças bem comportadas, entrando pela chaminé e depositando os presentes nas árvores de Natal ou em meias penduradas na lareira.
Esta imagem, tal como hoje a vemos, teve origem num poema de Clement Clark More, um ministro episcopal, intitulado de “Um relato da visita de S. Nicolau”, que ele escrevera para as suas filhas. Este poema foi publicado por uma senhora chamada Harriet Butler, que tomou conhecimento do poema através dos filhos de More e o levou ao editor do Jornal “Troy Sentinel”, em Nova Iorque, publicando-o no Natal de 1823, sem fazer referência ao seu autor. Só em 1844 é que Clement C. More reclamou a autoria desse poema.
Hoje em dia, na época do Natal, é costume as crianças, de vários pontos do mundo, escreverem uma carta a S. Nicolau, agora conhecido como “Pai Noel”, onde registam as suas prendas preferidas.
Nesta época, também se decora a árvore de Natal e se enfeita a casa com outras decorações natalícias. Também são enviados cartões desejando Boas Festas aos amigos e familiares.
Atualmente, há quem atribua à época de Natal um significado meramente consumista. Outros veem o Pai Noel como o espírito da bondade, da oferta. Os Cristãos associam-no à lenda do antigo Santo, representando a generosidade para com o outro.
A ÁRVORE DE NATAL NA CASA DE CRISTO
Dostoiévski
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Boi e burro no Presépio |
Havia num porão uma criança, um garotinho de seis anos de idade, ou menos ainda. Esse garotinho despertou certa manhã no porão úmido e frio. Tiritava, envolto nos seus pobres andrajos. Seu hálito formava, ao se exalar, uma espécie de vapor branco, e ele, sentado num canto em cima de um baú, por desfastio, ocupava-se em soprar esse vapor da boca, pelo prazer de vê-lo se esvolar. Mas bem que gostaria de comer alguma coisa. Diversas vezes, durante a manhã, tinha se aproximado do catre, onde num colchão de palha, chato como um pastelão, com um saco sob a cabeça à guisa de almofada, jazia a mãe enferma. Como se encontrava ela nesse lugar? Provavelmente tinha vindo de outra cidade e subitamente caíra doente. A patroa que alugava o porão tinha sido presa na antevéspera pela polícia; os locatários tinham se dispersado para se aproveitarem também da festa, e o único tapeceiro que tinha ficado cozinhava a bebedeira há dois dias: esse nem mesmo tinha esperado pela festa. No outro canto do quarto gemia uma velha octogenária, reumática, que outrora tinha sido babá e que morria agora sozinha, soltando suspiros, queixas e imprecações contra o garoto, de maneira que ele tinha medo de se aproximar da velha. No corredor ele tinha encontrado alguma coisa para beber, mas nem a menor migalha para comer, e mais de dez vezes tinha ido para junto da mãe para despertá-la. Por fim, a obscuridade lhe causou uma espécie de angústia: há muito tempo tinha caído a noite e ninguém acendia o fogo. Tendo apalpado o rosto de sua mãe, admirou-se muito: ela não se mexia mais e estava tão fria como as paredes. "Faz muito frio aqui", refletia ele, com a mão pousada inconscientemente no ombro da morta; depois, ao cabo de um instante, soprou os dedos para esquentá-los, pegou o seu gorrinho abandonado no leito e, sem fazer ruído, saiu do cômodo, tateando. Por sua vontade, teria saído mais cedo, se não tivesse medo de encontrar, no alto da escada, um canzarrão que latira o dia todo, nas soleiras das casas vizinhas. Mas o cão não se encontrava ali, e o menino já ganhava a rua.
Senhor! Que grande cidade! Nunca tinha visto nada parecido, De lá de onde vinha, era tão negra a noite! Uma única lanterna para iluminar toda a rua. As casinhas de madeira são baixas e fechadas por trás dos postigos; desde o cair da noite, não se encontra mais ninguém fora, toda gente permanece bem enfunada em casa, e só os cães, às centenas e aos milhares, uivam, latem, durante a noite. Mas, em compensação, lá era tão quente; davam-lhe de comer... ao passo que ali... Meu Deus! Se ele ao menos tivesse alguma coisa para comer! E que desordem, que grande algazarra ali, que claridade, quanta gente, cavalos, carruagens... e o frio, ah! Este frio! O nevoeiro gela em filamentos nas ventas dos cavalos que galopam; através da neve friável o ferro dos cascos tine contra a calçada; toda gente se apressa e se acotovela, e, meu Deus! Como gostaria de comer qualquer coisa, e como de repente seus dedinhos lhe doem! Um agente de policia passa ao lado da criança e se volta, para fingir que não vê.
Eis uma rua ainda: como é larga! Esmagá-lo-ão ali, seguramente; como todo mundo grita, vai, vem e corre, e como está claro, como é claro! Que é aquilo ali? Ah! Uma grande vidraça, e atrás dessa vidraça um quarto, com uma árvore que sobe até o teto; é um pinheiro, uma árvore de Natal onde há muitas luzes, muitos objetos pequenos, frutas douradas, e em torno bonecas e cavalinhos. No quarto há crianças que correm; estão bem vestidas e muito limpas, riem e brincam, comem e bebem alguma coisa. Eis ali uma menina que se pôs a dançar com um rapazinho. Que bonita menina! Ouve-se música através da vidraça. A criança olha, surpresa; logo sorri, enquanto os dedos dos seus pobres pezinhos doem e os das mãos se tornaram tão roxos, que não podem se dobrar nem mesmo se mover.
De repente o menino se lembrou de que seus dedos doem muito; põe-se a chorar, corre para mais longe, e eis que, através de uma vidraça, avista ainda um quarto, e neste outra árvore, mas sobre as mesas há bolos de todas as qualidades, bolos de amêndoa, vermelhos, amarelos, e eis sentadas quatro formosas damas que distribuem bolos a todos os que se apresentem. A cada instante, a porta se abre para um senhor que entra. Na ponta dos pés, o menino se aproximou, abriu a porta e bruscamente entrou. Hu! Com que gritos e gestos o repeliram!
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Adoração dos pastores e dos Anjos |
Uma senhora se aproximou logo, meteu-lhe furtivamente uma moeda na mão, abrindo-lhe ela mesma a porta da rua. Como ele teve medo! Mas a moeda rolou pelos degraus com um tilintar sonoro: ele não tinha podido fechar os dedinhos para segurá-la. O menino apertou o passo para ir mais longe - nem ele mesmo sabe aonde. Tem vontade de chorar; mas dessa vez tem medo e corre. Corre soprando os dedos. Uma angústia o domina, por se sentir tão só e abandonado, quando, de repente: Senhor! Que poderá ser ainda? Uma multidão que se detém, que olha com curiosidade. Em uma janela, através da vidraça, há três grandes bonecos vestidos com roupas vermelhas e verdes e que parecem vivos! Um velho sentado parece tocar violino, dois outros estão em pé junto dele e tocam violinos menores, e todos maneiam em cadência as delicadas cabeças, olham uns para os outros, enquanto seus lábios se mexem; falam, devem falar - de verdade - e, se não se ouve nada, é por causa da vidraça. O menino julgou, a princípio, que eram pessoas vivas, e, quando finalmente compreendeu que eram bonecos, pôs-se de súbito a rir. Nunca tinha visto bonecos assim, nem mesmo suspeitava que existissem! Certamente, desejaria chorar, mas era tão cômico, tão engraçado ver esses bonecos!
De repente pareceu-lhe que alguém o puxava por trás. Um moleque grande, malvado, que estava ao lado dele, deu-lhe de repente um tapa na cabeça, derrubou o seu gorrinho e passou-lhe uma rasteira. O menino rolou pelo chão, algumas pessoas se puseram a gritar: aterrorizado, ele se levantou para fugir depressa e correu com quantas pernas tinha, sem saber para onde. Atravessou o portão de uma cocheira, penetrou num pátio e sentou-se atrás de um monte de lenha. "Aqui, pelo menos", refletiu ele, "não me acharão: está muito escuro."
Sentou-se e encolheu-se, sem poder retomar fôlego, de tanto medo, e bruscamente, pois foi muito rápido, sentiu um grande bem-estar, as mãos e os pés tinham deixado de doer, e sentia calor, muito calor, como ao pé de uma estufa. Subitamente se mexeu: um pouco mais e ia dormir! Como seria bom dormir nesse lugar!", mais um instante e irei ver outra vez os bonecos", pensou o menino, que sorriu à sua lembrança: "Podia jurar que eram vivos!"... E de repente pareceu-lhe que sua mãe lhe cantava uma canção. "Mamãe, vou dormir; ah! como é bom dormir aqui!"
- Venha comigo, vamos ver a árvore de Natal, meu menino - murmurou repentinamente uma voz cheia de doçura.
Ele ainda pensava que era a mãe, mas não, não era ela. Quem então acabava de chamá-lo? Não vê quem, mas alguém está inclinado sobre ele e o abraça no escuro, estende-lhe os braços e... logo... Que claridade! A maravilhosa árvore de Natal! E agora não é um pinheiro, nunca tinha visto árvores semelhantes! Onde se encontra então nesse momento?
Tudo brilha, tudo resplandece, e em torno, por toda parte, bonecos - mas não, são meninos e meninas, só que muito luminosos! Todos o cercam, como nas brincadeiras de roda, abraçam-no em seu voo, tomam-no, levam-no com eles, e ele mesmo voa e vê: distingue sua mãe e lhe sorrir com ar feliz.
- Mamãe! mamãe! Como é bom aqui, mamãe! - exclama a criança. De novo abraça seus companheiros, e gostaria de lhes contar bem depressa a história dos bonecos da vidraça...
- Quem são vocês então, meninos? E vocês, meninas, quem são? - pergunta ele, sorrindo-lhes e mandando-lhes beijos.
- Isto... É a árvore de Natal de Cristo - respondem-lhe. - Todos os anos, neste dia, há, na casa de Cristo, uma árvore de Natal, para os meninos que não tiveram sua árvore na terra...
E soube assim que todos aqueles meninos e meninas tinham sido outrora crianças como ele, mas alguns tinham morrido, gelados nos cestos, onde tinham sido abandonados nos degraus das escadas dos palácios de Petersburgo; outros tinham morrido junto às amas, em algum dispensário finlandês; uns sobre o seio exaurido de suas mães, no tempo em que grassava, cruel, a fome de Samara; outros, ainda, sufocados pelo ar mefítico de um vagão de terceira classe. Mas todos estão ali nesse momento, todos são agora como anjos, todos juntos a Cristo, e Ele, no meio das crianças, estende as mãos para abençoá-las e às pobres mães... E as mães dessas crianças estão ali, todas, num lugar separado, e choram; cada uma reconhece seu filhinho ou filhinha que acorrem voando para elas, abraçam-nas, e com suas mãozinhas enxugam-lhes as lágrimas, recomendando-lhes que não chorem mais, que eles estão muito bem ali...
E nesse lugar, pela manhã, os porteiros descobriram o cadaverzinho de uma criança gelada junto de um monte de lenha. Procurou-se a mãe... Estava morta um pouco adiante; os dois se encontraram no céu, junto ao bom Deus.
CONTO DE NATALE VÓ ZUZA
Este conto narra as explicações da Vó Zuza sobre os motivos pelos quais comprou as imagens de São Miguel, São Gabriel e São Rafael para colocar no seu presépio. Ela inventa a narração do Natal, segundo a ótica dos três arcanjos.
Embora a Vó Zuza conheça as Sagradas Escrituras e as utilize para aguçar a sua imaginação, as estórias dela não passam de fantasia. Mas, sem dúvida, podem nos ajudar a preparar o Natal. LEIA AQUI.
A Árvore de Natal - Pinheirinho (Lenda)
Quando o menino Jesus nasceu, todas as pessoas ficaram alegres.
Crianças , homens e mulheres vinham vê-lo trazendo presentes, pobres ou ricos.
Perto do estábulo onde dormia o menino Jesus, num berço de palha, havia três árvores: uma palmeira, uma oliveira e um pinheirinho.
Vendo aquela gente que iá e voltava, passando embaixo dos seus galhos, as três árvores quiseram também dar alguma coisa ao menino Jesus.
- Eu vou dar a minha palma maior, a mais bela para que ela abane docemente o bebê, disse a palmeira.
- Eu vou apertar as minhas olivas e elas servirão para amaciar seus pezinhos, disse a oliveira.
- Eu eu? Que posso dar? Perguntou o pinheirinho.
- Você. Responderam as outras; você não tem nada para dar. Suas agulhas pontudas poderiam picar o menino Jesus.
O pobre pinheirinho sentiu-se muito infeliz e respondeu tristemente:
- É mesmo, vocês tem razão: não tenho nada para oferecer.
Um anjo que estava ali perto, escutou a conversa e teve pena do pinheirinho, tão humilde, tão triste, que nada podia fazer porque nada possuia.
Lá no céu, as estrelinhas começam a brilhar. O lindo anjinho olhou para o alto e chamou-as. No mesmo instante elas desceram, com boa vontade e foram colocar-se sobre os ramos do modesto pinheirinho que ficou todo iluminado.
Lá no bercinho, dentro do estábulo, os olhos do menino Jesus ao ver aquela árvore tão linda.
É por isso que as pessoas, até hoje, enfeitam com luzes e pinheiro, na véspera de Natal.
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