Quinta verdade - É extremamente difícil, devido à nossa fraqueza e fragilidade, conservarmos em nós as graças e tesouros que recebemos de Deus.
1º Porque este tesouro, mais valioso que o céu e a terra, nós o guardamos em vasos frágeis: "Habemus thesaurum istum in vasis fictilibus" (2 Cor 4,7): em um corpo corruptível, em uma alma fraca e inconstante que um nada perturba e abate.
2º Porque os demônios, que são ladrões finórios, buscam surpreender-nos de improviso para nos roubar e despojar: espreitam dia e noite o momento favorável a seu desígnio; andam incessantemente ao redor de nós, prontos a devorar-nos (cf. 1 Pd 5,8) e, pelo pecado, arrebatar-nos, num momento, tudo que em longos anos conseguimos alcançar de graças e méritos. E tanto mais devemos temer esta desgraça, sabendo quão incomparável é sua malícia, sua experiência, suas astúcias e seu número. Pessoas tem havido muito mais cheias de graça do que nós, mais ricas em virtudes, mais experientes, mais elevadas em santidade, que foram surpreendidas, roubadas, saqueadas lamentavelmente. Ah! quantos cedros do Líbano, quantas estrelas do firmamento se têm visto cair miseravelmente, perdendo em pouco tempo toda a sua altivez e claridade. A que atribuir tão estranha mudança? Não foi falta de graça, pois a graça não falta a ninguém; foi falta de humildade. Essas pessoas acreditavam-se mais fortes e suficientes do que o eram na realidade; julgavam-se capazes de guardar seus tesouros; creram sua casa bastante segura e bem fortes os seus cofres para guardar o precioso tesouro de graça, e, devido a essa segurança imperceptível que tinham em si (conquanto lhes parecesse que se apoiavam na graça de Deus), é que o justíssimo Senhor, abandonando-as às próprias forças, permitiu que fossem roubadas. Ah! se tivessem conhecido a devoção admirável [a Nossa Senhora], teriam confiado seu tesouro à Virgem poderosa e fiel, que o teria guardado como seu próprio bem, fazendo mesmo, disso, um dever de justiça.
É difícil perseverar na justiça por causa da corrupção do mundo. O mundo está, atualmente, tão corrompido, que é quase necessário que os corações religiosos sejam manchados, se não pela lama, ao menos pela poeira dessa corrupção; de modo que se pode considerar um milagre o fato de uma pessoa manter-se firme no meio dessa torrente impetuosa sem que o turbilhão o arraste; no meio desse mar tempestuoso sem que o furor das ondas a submerja ou a pilhem os piratas e corsários; no meio desse ar empestado sem que os miasmas a contaminem. É a Virgem, a única fiel, na qual a serpente não teve parte jamais, que faz este milagre em favor daqueles e daquelas que a servem da mais bela maneira.
S. Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção
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