domingo, 31 de maio de 2020

Irmã Lúcia: "o demônio está travando uma batalha decisiva contra a Santíssima Virgem Maria"

A Irmã Lúcia no Carmelo de Coimbra
A Irmã Lúcia no Carmelo de Coimbra


A missão da Irmã Lúcia

“Senhor Padre, eis porque a minha missão não é indicar ao mundo os castigos materiais que certamente virão se antes o mundo não rezar e se sacrificar.

“Não! A minha missão é indicar a todos o perigo iminente em que estamos de perder as nossas almas para toda a eternidade, se nos obstinarmos no pecado.”

A urgência da conversão

A Irmã Lúcia também me disse:

“Senhor Padre, não devemos esperar que venha de Roma, da parte do Santo Padre, um apelo ao mundo para que faça penitência.

“Nem devemos esperar que esse apelo à penitência venha dos nossos Bispos, nas nossas Dioceses, nem das congregações religiosas.

“Não! Nosso Senhor já usou muitas vezes destes meios, e o mundo não prestou atenção.

“Eis porque, agora, é necessário que cada um de nós comece a reformar-se espiritualmente.

“Cada pessoa deve não só salvar a sua alma como também ajudar a salvar todas as almas que Deus colocou no seu caminho.”

O dragão tenta inutilmente engolir a Igreja, cena do Apocalipse. Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek, Cgm 8010, Folio295r
O dragão tenta inutilmente engolir a Igreja, cena do Apocalipse.
Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek, Cgm 8010, Folio295r



























“O demônio faz tudo o que está em seu poder para nos distrair e nos retirar o amor à oração; seremos todos salvos ou seremos todos condenados.”





Os últimos tempos

“Senhor Padre, a Santíssima Virgem não me disse que estamos nos últimos tempos do mundo, mas fez-mo compreender por três razões.

“A primeira razão é porque Ela disse-me que o demônio está travando uma batalha decisiva contra a Santíssima Virgem.

“E uma batalha decisiva é a batalha final, em que um lado será vencedor e o outro lado sofrerá uma derrota.

“Assim, a partir de agora devemos escolher o nosso lado. Ou somos por Deus ou somos pelo demônio. Não há outra possibilidade.”

“A segunda razão é porque Ela disse aos meus primos, como também a mim, que Deus está a oferecer os dois últimos remédios ao mundo.

“São eles o Rosário e a devoção ao Imaculado Coração de Maria. São os dois últimos remédios, o que significa que não haverá outros.

“A terceira razão é porque, nos planos da Divina Providência, Deus esgota todos os outros remédios antes de castigar o mundo.

“Mas quando Ele vê que o mundo não presta qualquer atenção, então – como dizemos na nossa maneira imperfeita de falar – oferece-nos com ‘temor certo’ o último meio de salvação, a Sua Santíssima Mãe.

“E é com ‘temor certo’ porque, se desprezarmos e repelirmos este último meio, não teremos mais nenhum perdão do Céu;

“Porque teremos cometido um pecado a que o Evangelho chama pecado contra o Espírito Santo.

“Este pecado consiste em rejeitar abertamente, com pleno conhecimento e consentimento do ato, a salvação que Ele nos oferece.

“Recordemos que Jesus Cristo é um Filho muito dedicado, e que não permite que ofendamos e desprezemos a Sua Santíssima Mãe.

“Ao longo de muitos séculos da história da Igreja, recolhemos o testemunho certo que demonstra, através dos castigos terríveis que caíram sobre os que atacaram a honra da Sua Santíssima Mãe, como Nosso Senhor Jesus Cristo sempre defendeu a honra da Sua Mãe.”

Oração e sacrifício, e o Rosário

Velório da Irmã Lúcia no Carmelo de Coimbra.
Velório da Irmã Lúcia no Carmelo de Coimbra.































A Irmã Lúcia disse-me:

“Os dois meios para a salvação do mundo são a oração e o sacrifício.”

A respeito do Rosário, a Irmã Lúcia disse:

“Repare, Senhor Padre, que a Santíssima Virgem, nestes últimos tempos em que vivemos, deu uma nova eficácia à recitação do Rosário.

“E deu-nos esta eficácia de tal maneira que não há problema temporal ou espiritual, por mais difícil que seja, na vida pessoal de cada um de nós;

“Das nossas famílias, das famílias do mundo ou das comunidades religiosas, ou mesmo da vida dos povos e nações, que não possa ser resolvido pelo Rosário.

“Não há problema, afirmo-lhe, por mais difícil que seja, que não possamos resolver rezando o Rosário.

“Com o Rosário, salvar-nos-emos. Santificar-nos-emos. Consolaremos a Nosso Senhor e obteremos a salvação de muitas almas.”

Devoção ao Imaculado Coração de Maria

“Finalmente, a devoção ao Imaculado Coração de Maria, nossa Mãe Santíssima, consiste em considerá-La como fonte de misericórdia, de bondade e de perdão;

“E como a porta segura pela qual entraremos no Céu.”



Fátima: “O acontecimento definidor para a Igreja no terceiro milénio.” O Terceiro Segredo: “Uma proposição ‘ou-ou’, e estamos agora a viver ..




(Fonte: Associação Devotos de Fátima)

A oração pelas almas do purgatório revelada a Santa Gertrudes por Jesus





A cada vez que ela a rezasse, Ele poderia libertar mil almas do purgatório

Santa Gertrudes foi uma mística do século XIII que, muito tempo antes das aparições de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, já recebeu a graça extraordinária de viver experiências místicas com o Seu Sagrado Coração.
Em uma das visões místicas que teve ao longo da vida, Santa Gertrudes foi instruída por Jesus a fazer a seguinte oração sabendo que, a cada vez que ela a rezasse, Ele poderia libertar mil almas do purgatório:
Eterno Pai,
ofereço-Vos o Preciosíssimo Sangue de Vosso Divino Filho Jesus,
em união com todas as Missas que hoje são celebradas em todo o mundo;
por todas as santas almas do purgatório,
pelos pecadores de todos os lugares,
pelos pecadores de toda a Igreja,
pelos de minha casa
e de meus vizinhos.
Amém.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Catecismo Ilustrado - Parte 66 - As Virtudes Cardeais



Catecismo Ilustrado - Parte 66

As Virtudes

As Virtudes Cardeais

1. As virtudes morais são aquelas que tendem diretamente a regular os nossos costumes.

2. Há muitas virtudes morais; as principais são: Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança.

3. Chamam-se virtudes cardeais porque são a fonte e a base de todas as outras virtudes morais.

Prudência

4. A prudência é uma virtude que nos torna atentos e acautelados para, nas diferentes circunstâncias da vida, sabermos discernir o que nos convém praticar ou omitir.

A Justiça

5. A justiça é uma virtude que nos leva a dar a cada um o que lhe pertence. Serve também para regular os nossos pensamentos e sentimentos para com os outros, torna-nos humildes e desconfiados para conosco.

A Fortaleza

6. A fortaleza é a virtude que nos dá ânimo para cumprir os deveres de cristãos.

A Temperança

7. A temperança é uma virtude que põe freio aos desejos desordenados e nos leva a usar com moderação dos bens temporais.

Explicação da gravura

8. A prudência está representada na parte superior da gravura, à esquerda, pelo Juízo de Salomão. “Um dia apresentaram-se diante de Salomão duas mulheres pedindo-lhe que decidisse uma contenda. Disse uma: “Esta mulher e eu moramos sós na mesma casa e cada uma de nós tinha um menino. Uma noite morreu o filho desta mulher. Enquanto eu dormia, veio ela, torou o meu filho, e pôs no lugar dele o seu filho morto. Quando me levantei, dei com o menino morto, mas reparando bem vi que não era o meu”. Interrompeu-a a outra mulher dizendo: “Não é assim como tu dizes. O teu filho é que morreu, o meu está vivo”. E assim se disputavam perante o Rei. Então disse Salomão: “Trazei uma espada, e parti o menino vivo ao meio, e dai metade a uma mulher, metade a outra”. A verdadeira mãe  do menino, ouvindo estas palavras, ficou trespassada de susto, e toda cheia de angústia e amor maternal, disse a Salomão: “Ah! Senhor, por quem sois, dai-lho a ela vivo, e não o mateis”. Ao contrário, dizia a outra: “Não seja nem para mim, nem para ti, parta-se ao meio”. Salomão pronunciou então a sentença: “Não se parta o menino, mas dê-se inteiro e vivo àquela, porque essa é a sua mãe”.” (3 Rei III, 18-28)

9. A gravura, na parte superior, à direita, representa Nosso Senhor ensinando a justiça aos fariseus e aos herodianos. Tendo-lhe estes perguntado se era lícito ou não dar tributo a César, disse-lhes Jesus: “Mostrai-me a moeda do tributo. De quem é esta imagem e esta inscrição?” Disseram eles: “De César”. Então Jesus disse-lhes: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.” (Lucas 20, 22)

10. Na parte inferior esquerda, a gravura, como exemplo de fortaleza, representa a história de Judite. Vendo esta santa mulher que a cidade de Betúlia, onde vivia, estava para cair nas mãos do general assírio Holofernes, resolveu salvar a pátria ou morrer. Ornada de suas mais custosas galas, foi ao arraial dos assírios. Holofernes recebeu-a com todo o agrado, deu em honra dela um grande banquete, e tendo bebido em demasia adormeceu profundamente. Então Judite, tomando a própria espada do general, cortou-lhe a cabeça. (Judite XIII, 1-10)

11. A gravura representa na parte inferior direita o Rei David, dando um grande exemplo de temperança. Um dia que guerreava David contra os filisteus que ocupavam Belém, levado pela sede, exclamou: “Quem me dera um pouco de água da cisterna que está ao pé da porta de Belém!” Imediatamente três valentes atravessaram o acampamento dos filisteus e trouxeram a David água da cisterna. Mas este não quis bebê-la e ofereceu-a ao Senhor, dizendo: “Deus me livre de beber o sangue daqueles valentes que assim expuseram a vida!”

domingo, 24 de maio de 2020

Salvação é o nosso único negócio

“A minha vida é um só instante, uma hora passageira
A minha vida é um só dia que me escapa e me foge
Tu sabes, ó meu Deus! Para amar-Te na terra
Só tenho o dia de hoje!…” (Santa Teresinha)
Porro unum est necessarium – “Só uma coisa é necessária” (Lc 10, 42)
Sumário. O único fim pelo qual o Senhor nos pôs neste mundo é a salvação de nossa alma. Pouco importa sermos aqui pobres, perseguidos e desprezados, salvando-nos nada mais teremos a sofrer e seremos felizes por toda a eternidade. Se, porém, perdermos este negócio e nos condenarmos, de que nos servirá no inferno termos gozado de todos os prazeres do mundo, de havermos sido ricos e cortejados? Perdida a alma, está perdido tudo e para sempre! Meu irmão, dize-me, como cuidaste até hoje deste negócio único?… Estás ao menos resolvido a tratá-lo no futuro seriamente?
I. São Bernardo lamenta a incoerência dos cristãos, que tratam de loucura os brinquedos infantis, e chamam negocio sério as suas ocupações terrestres, enquanto na realidade elas não são senão loucuras maiores. “De que serve, diz o Senhor, ganhar o mundo inteiro e perder a alma?” – Quid prodest homini, si universum mundum lucretur, animae vero suae detrimentum pafiatur? (1) — Se te chegares a salvar, meu irmão, pouco importa que tenhas neste mundo sido pobre, perseguido e desprezado; salvando-te, nada mais terás a sofrer e serás feliz por toda a eternidade. Se, porém, perderes a alma e te condenares, de que te servirá no inferno o teres gozado de todos os prazeres do mundo, o haveres sido rico e cortejado? Perdida a alma, perdem-se os prazeres, as honras, as riquezas, perde-se tudo.
Que responderás a Jesus Cristo no dia das contas? Se um rei encarregasse o seu embaixador de ir a uma cidade para tratar um negócio importante, e se, chegado ali, em vez de cuidar do negócio que lhe fora confiado, só pensasse em festas, espetáculos e banquetes, e assim levasse o negócio a mau êxito, que contas daria ao rei quando voltasse? Ó Deus! Que contas mais rigorosas não terá de dar ao Senhor no dia do juízo aquele que, colocado no mundo, não para se divertir, enriquecer, adquirir honras, mas para salvar a alma, de tudo se tiver ocupado exceto dela? Os mundanos só pensam no presente e nunca no futuro.
São Filippe Neri, conversando um dia em Roma com um moço talentoso, chamado Francisco Zazzera, que só pensava nas coisas do mundo, falou-lhe desta maneira: Meu filho, alcançarás grande fortuna, será bom advogado, depois prelado, depois talvez cardeal, e quem sabe? Talvez Papa. E depois?… E depois?… Vai, disse-lhe, vai e pensa nestas duas palavras, Francisco voltou para casa, e tendo refletido seriamente nestas duas palavras: E depois?… E depois?… renunciou às ocupações mundanas e entrou na Congregação de São Filipe, entregando-se inteiramente aos trabalhos de Deus.
II. A salvação é o nosso negócio único, porque só temos uma alma. Um príncipe solicitava de Bento XII uma graça, que só com pecado podia ser concedida. Respondeu o Papa ao embaixador: Dizei ao vosso soberano que, se tivesse duas almas, poderia sacrificar uma por ele e reservar a outra para mim; mas como só tenho uma, não posso nem quero perdê-la.
Dizia São Francisco Xavier que no mundo havia um só bem e um só mal: o único bem, salvar-se; o único mal, condenar-se. É o que Santa Teresa repetia também às suas religiosas: Minhas irmãs, dizia, uma alma! Uma eternidade! Queria dizer: Uma alma! Perdida esta, tudo está perdido; uma eternidade! Perdida a alma uma vez, está perdida para sempre. Por isso suplicava Davi: Unam petii, hanc requeiram: ut inhabitem in domo Domini (2) — “Senhor, uma só coisa Vos peço: salvai-me a alma e isso me basta”.
É isso o que eu também Vos peço, ó meu amado Redentor: salvai-me a alma, fazei que um dia possa ir ao céu a gozar de Vós. Ai de mim! No passado tenho escolhido o inferno pelos meus pecados, e no inferno já devia estar há muitos anos, se a vossa misericórdia não me tivesse suportado. Graças Vos dou, ó meu Deus, e arrependo-me, acima de todos os males, de Vos haver ofendido. Espero que no futuro nunca mais seguirei o caminho do inferno. Amo-Vos, ó meu Bem soberano, e quero amar-Vos para sempre. Pelo sangue que por mim derramastes, dai-me a santa perseverança. — A vós também, ó grande Mãe de Deus e minha Mãe Maria, a vós também peço esta graça.
Referências:
(1) Sl 29, 6
(2) Sb 3, 9

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 303-305)

sábado, 23 de maio de 2020

Amor excessivo de Jesus Cristo para com os homens



Nos praedicamus Chirstum crucifixum, Iudaeis quidem scandalum, gentibus autem stultitiam – “Nos pregamos a Cristo crucificado, que é de fato para os judeus escândalo e para os gentios loucura” (1 Cor 1, 23)
Sumário. O mistério da Redenção é tão sublime, que os gentios o chamavam uma loucura. Julgavam impossível que um Deus onipotente e felicíssimo se tivesse feito homem e tivesse morrido numa cruz pela salvação dos homens. Como há, pois, cristão que sabem isso pela fé, e veem um Deus tornado, por assim dizer, louco por amor dos homens, e todavia vivem sem O amar, e mesmo O ofendem e injuriam?… Se no passado nos unimos àqueles ingratos para ofender Jesus, peçamos-Lhe humildemente perdão.
I. São Paulo diz que os gentios, ouvindo-o pregar de Jesus crucificado por amor dos homens, olhavam isto como uma incrível loucura. E como, diziam eles, seria possível crer que um Deus todo-poderoso, que de ninguém tinha necessidade para ser o que é, infinitamente feliz, haja querido, para salvar os homens, fazer-se homem e morrer numa cruz? Seria isto a mesma coisa, diziam eles, que crer um Deus tornado louco por amor dos homens: para os gentios uma loucura. E por isto deixavam de crer.
Mas esta grande obra da Redenção, que os judeus criam e chamavam uma loucura, sabemos nós pela fé que Jesus a empreendeu e a completou. “Nós podemos ver”, diz São Lourenço Justiniani, “a Sabedoria eterna, o Filho unigênito de Deus, tornado, por assim dizer, louco pelo amor excessivo que tinha aos homens.” — O Bem aventurado Jacopone, que no mundo era tão distinto pelo seu saber, tendo-se feito franciscano, parecia enlouquecer pelo amor que consagrava a Jesus Cristo. Um dia apareceu-lhe Jesus e disse: “Jacopone, para que fazes estas loucuras?” — “Porque as faço?” respondeu ele, “porque Vós m´as haveis ensinado. Se eu sou louco, Vós fostes mais louco do que eu, por terdes querido morrer por mim: Stultus sum, quia stultior me fuisti”.
Da mesma sorte, Santa Maria Madalena de Pazzi, arrebatada em êxtase, exclamava:
“Ó Deus de amor! Ó Deus de amor! É muito grande, meu Jesus, o amor que Vós tendes aos homens. Não sabeis, minhas queridas irmãs, que o meu Jesus não é senão amor? Ainda mais: louco de amor? Sim, louco de amor, digo que Vós o sois, ó meu Jesus, e sempre o direi”
Acrescentava que quando chamava a Jesus amor, queria ser ouvida pelo mundo inteiro, a fim de que o amor de Jesus fosse conhecido e amado de todos os homens.
II. Sim, meu doce Redentor, permiti que Vô-lo diga, a vossa terna Esposa tinha bem razão de Vos chamar louco de amor. Ou então não é uma loucura o haverdes querido morrer por mim, por um ingrato verme da terra, como eu sou, e de quem Vós conhecíeis antecipadamente os pecados e as perfídias? Se Vós, porém, meu Deus, Vos tendes como que tornado louco de amor por mim, como não me tornarei eu louco por vosso amor? Depois de Vos ter visto morrer por mim, como posso pensar em outra coisa senão em Vós? Como posso amar outro objeto senão a Vós! Ah, meu Senhor amabilíssimo, em que lei tão bárbara está escrito que um Deus ame tanto à sua criatura e que depois esta viva sem amar a seu Deus, e mesmo o ofenda e entristeça?
Mas para o futuro não será mais assim! Ó meu Bem soberano, arrependo-me dos ultrajes que Vos fiz, arrependo-me sobre todos os males e quisera morrer de dor. † Amo-Vos, Jesus, meu Deus, sobre todas as coisas; amo-Vos de todo o meu coração, prometo não amar d´aqui em diante senão a Vós, e pensar sempre no amor que me tendes testemunhado, morrendo por mim em tão grandes tormentos. Ó açoites, ó espinhos, ó cravos, ó cruz, ó chagas, ó dores, ó morte do meu Jesus, vós me constrangeis e me forçais a amar aquele que tanto me tem amado!
Ó Verbo incarnado, ó Deus amante! A minha alma está inflamada por Vós. Quisera amar-Vos a ponto de não achar outro prazer, senão em Vos agradar, ó meu dulcíssimo amor. Já que Vós desejais tão ardentemente o meu amor, protesto que não quero viver senão por Vós. Sim, quero fazer tudo o que desejardes de mim. Ah! Meu bom Jesus, ajudai-me: fazei que eu Vos agrade em tudo e sempre, no tempo e na eternidade. — Maria, minha Mãe, rogai a Jesus por mim, a fim de que Ele me dê o seu amor; porque não desejo nesta vida e na outra senão amar a Jesus.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 311-313)

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Misericórdia de Deus em baixar do céu para nos salvar com a sua morte



Benignitas et humanitas apparuit Salvatoris nostri Dei – “Apareceu a benignidade e o amor de Deus nosso Salvador” (Tt 3, 4)
Sumário. Antes da vinda de Jesus Cristo, manifestou-se o poder de Deus na criação do mundo, a sabedoria divina manifestou-se na sua conservação; a misericórdia, porém, manifestou-se particularmente, quando Jesus tomou a natureza humana a fim de salvar, pelos seus padecimentos e morte, os homens perdidos. Com efeito, de que misericórdia maior podia o Filho de Deus usar para conosco do que tomando sobre si os castigos por nós merecidos? E, apesar disso, quantos pecadores há que não voltam a Deus por desconfiança da sua bondade!
I. Quando o Filho de Deus apareceu sobre a terra, viu-se quão grande é a bondade de Deus para conosco. Escreve São Bernardo, que primeiro se manifestou o poder de Deus em criar o mundo, a sua sabedoria em conservá-lo; mas a sua misericórdia manifestou-se, particularmente, quando o Filho de Deus tomou a natureza humana, a fim de salvar, pelos seus padecimentos e morte, os homens perdidos. Com efeito, que maior misericórdia podia o Filho de Deus mostrar-nos do que tomando sobre si os castigos por nós merecidos? Ei-lo nascido como criança, fraco e envolto em panos, deitado numa manjedoura, como que impossibilitado de mover-se e alimentar-se. É mister que Maria lhe dê um pouco de leite para lhe sustentar a vida. Vede-o depois no pretório de Pilatos, onde é preso a uma coluna com cordas, de que não podia livrar-se e açoitado da cabeça aos pés. Vede-o no caminho ao Calvário, onde pela extrema fraqueza e pelo peso da cruz que carrega, cai repetidas vezes por terra. Vede-o, finalmente, pregado no infame lenho, sobre o qual termina a vida à força de sofrimentos.
Pelo amor que nos teve, Jesus Cristo quer ganhar todo o amor dos nossos corações. Por isso, não quer enviar um anjo para nos remir, senão quer vir Ele mesmo para nos salvar com a sua Paixão. Se um anjo houvera sido nosso Redentor, o homem deveria dividir o seu coração, amando a Deus como seu Criador, e ao anjo como seu Redentor. Mas Deus, que quis possuir o coração do homem todo inteiro, assim como já era Criador do homem, quis também ser seu Redentor.
II. Ó meu amado Redentor! Onde estaria eu neste momento, se não me tivésseis suportado com tamanha paciência, e se me tivésseis deixado morrer quando me achava em estado de pecado? Já que me esperastes até agora, ó meu Jesus, perdoai-me, antes que me surpreenda a morte, réu qual sou de tantas ofensas que Vos tenho feito. Ah! Meu Deus, ai de mim, se para o futuro não Vos fosse fiel e, depois de tantas luzes recebidas, tornasse a trair-Vos! Estas luzes são o penhor de que quereis perdoar-me. Pesa-me, ó meu Bem supremo, de Vos ter injuriado tantas vezes e de Vos ter ofendido, a Vós que sois a bondade infinita. Confio em vosso Sangue para obter o perdão, e espero com segurança obtê-lo. Mas se tornasse a virar-Vos as costas, mereceria um inferno feito especialmente para mim.
Todavia é isto o que me faz temer, ó Deus de minha alma. Posso tornar a perder a vossa graça. Sei que repetidas vezes Vos tenho prometido fidelidade, e cada vez me revoltei novamente contra Vós. Ah! Senhor, não o permitais, não me deixeis cair na grande desgraça de me fazer outra vez vosso inimigo. Enviai-me qualquer castigo que quiserdes, mas não este: “Não permitais que me afaste de Vós” — Ne permittas me separari a te. Se virdes que jamais tenha ainda de ofender-Vos, deixai-me antes morrer. De boa vontade aceito a morte mais dolorosa, antes que ter de lamentar a miséria de mais uma vez me ver privado de vossa graça. Ne permittas me separari a te — “Não permitais que me afaste de Vós”. Repito-o, ó meu Deus, e fazei que o repita sempre: Não permitais que me afaste de Vós. Amo-Vos, ó meu amado Redentor; não quero mais separar-me de Vós. Pelos merecimentos da vossa morte, dai-me um grande amor, que me una tão fortemente a Vós, que eu não possa mais separar-me do vosso Coração.
— Ó Maria, minha Mãe, se eu tornar ainda a ofender meu Deus, temo que vós também me hajais de abandonar. Ajudai-me, pois, com as vossas orações; alcançai-me a santa perseverança e o amor de Jesus Cristo.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 129-131)

Fonte:
https://rumoasantidade.com.br/

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Festa da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo



Dominus Iesus, postquam locutus est eis, assumptus est in coelum, et sedet a dextris Dei – “O Senhor Jesus, depois que lhes falou, foi assunto ao céu, e está sentado à direita de Deus” (Mc 16, 19)
Sumário. Como a águia ensina os filhos a voarem, assim, no mistério de hoje, Jesus Cristo nos exorta a elevarmos o nosso vôo e a acompanhá-Lo ao céu, se não com o corpo, ao menos com nosso afeto. Desprendamos os nossos corações desta terra e suspiremos pela pátria celestial, onde se acha a nossa felicidade: esperando, como diz o Apóstolo, a adoção de filhos de Deus, a redenção do nosso corpo. Entretanto tenhamos sempre diante dos olhos os exemplos da vida mortal do Redentor e imitemos as suas belas virtudes, em particular a sua humildade e doçura.
I. O lugar que competia a Jesus ressuscitado, era o céu, que é a morada das almas e dos corpos bem-aventurados. Quis Jesus, todavia, permanecer quarenta dias sobre a terra e aparecer repetidas vezes a seus discípulos para os certificar da sua ressurreição e instruí-los nas coisas relativas à sua Igreja: Loquens de regno Dei (1) – “Falando do reino de Deus”. – Tendo desempenhado esta nobre missão, quis o Senhor, antes de deixar a terra, mostrar-se mais uma vez aos apóstolos em Jerusalém; e depois de lhes exprobrar suavemente a sua dureza, por não acreditarem na sua ressurreição, ordenou-lhes que fossem para o Monte das Oliveiras, o lugar onde tinha começado a sua Paixão, afim de que compreendessem que o verdadeiro caminho para ir ao céu é o dos sofrimentos. Depois, cercado de cento e vinte pessoas, repetiu-lhes mais uma vez o que já lhes havia ordenado, especialmente que fossem pregar o Evangelho pelo mundo inteiro; feito o que o divino Redentor levantou as mãos e os abençoou.
Em seguida, como medita São Boaventura (2), Jesus abraça a sua santíssima Mãe e aperta-a contra o coração, anima e conforta os seus discípulos, que, entre lágrimas, Lhe beijam os pés e com as mãos levantadas e o semblante extraordinariamente majestoso e amável, coroado e vestido como rei, se eleva lentamente ao céu, levando em sua companhia as numerosíssimas almas justas, livradas do limbo. – A esta vista todos os presentes ajoelham novamente e Jesus mais uma vez os abençoa. Afinal uma nuvem subtrai o divino Triunfador à sua vista, e Jesus vai sentar-se à direita do Pai, onde não cessa de ser nosso medianeiro e advogado.
Avivemos a nossa fé, e contemplemos o júbilo que a entrada triunfal de Jesus causou no paraíso: alegremo-nos com o nosso divino Chefe e unamos os nossos afetos aos de Maria Santíssima e dos santos discípulos.
II. Como a águia ensina seus filhos a voarem, assim, no mistério de hoje, Jesus Cristo nos exorta a elevar o nosso vôo e acompanhá-Lo ao céu, senão com o corpo, ao menos com os afetos. Desprendamos os nossos corações da terra, e suspiremos pela pátria celeste, onde se acha a nossa felicidade: esperando, como diz o Apóstolo, a adoção de filhos de Deus, a redenção de nosso corpo (3). Entretanto, tenhamos sempre diante dos olhos os exemplos da vida mortal do Senhor; imitando a sua humildade e mansidão, o seu espírito de mortificação, a sua caridade e o seu zelo pela glória divina. – Numa palavra, despojamo-nos do homem velho, revestindo-nos das virtudes de Jesus Cristo, que são como que o manto, que, à imitação de Elias, ele deixou para seus discípulos, quando subiu ao céu.
Para vencermos todas as dificuldades que se encontram no caminho do Senhor, recordemos muitas vezes a grande verdade que os anjos ensinaram hoje aos discípulos, que, arrebatados, olhavam o céu, para o qual acabava de subir o seu amado mestre: Jesus Cristo voltará um dia à terra com a mesma majestade e glória, como Juiz dos vivos e dos mortos: Sic veniet, quemadmodum vidistis eum euntem in coelum (4).
Meu querido Redentor Jesus, regozijo-me pelo vosso triunfo glorioso e rogo-vos que arranqueis de meu coração todo o afeto aos bens miseráveis desta terra, para não suspirar senão pelos do paraíso, que vós merecestes para mim pela vossa paixão. – A mesma graça peço de Vós, ó Pai Eterno. “Concedei-me que, assim como creio firmemente que vosso Filho unigênito e nosso Redentor subiu hoje ao céu, assim possa continuamente morar ali com o meu espírito e os meus desejos.” (5)
– Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima.
Referências:
(1) At 1, 3
(2) Med. vit. Chr.
(3) Rm 8, 23
(4) At 1, 11
(5) Or. festi. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 102-104)

Fonte:
https://rumoasantidade.com.br/

quarta-feira, 20 de maio de 2020

CONSELHOS PRÁTICOS PARA CARREGARMOS NOSSA CRUZ



Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est
Perguntava São Francisco de Sales: “Sabeis do que os anjos nos invejam? É que nós podemos sofrer por Deus; eles nunca sofreram e nem sofrerão por Ele“. Todos temos que carregar nossa cruz se quisermos chegar ao céu. Aprendamos a carregá-la com amor incansável e fé, obtendo ao longo do caminho as maiores graças e méritos possíveis.
Três maneiras de carregar a cruz
O divino mestre, querendo dar a conhecer a Santa Verônica de Juliani as almas que Lhe eram mais amadas, lhe mostrou uma multidão de pessoas que levavam a cruz  em suas mãos. Logo, estas se ordenaram e a Santa pôde ver que entre as mãos se distinguiam algumas cruzes grandes e outras pequenas. As almas as carregavam de maneiras diferentes: as primeiras que tinham uma grande cruz a carregavam nas mãos, significando que não apenas tinham prazer em carregá-la, mas também convidavam outras almas com alegria e entusiasmo para que caminhassem em posse delas. As segundas tinham sua cruz abraçada como um objeto muito precioso e amado. As terceiras carregavam-na sobre os ombros e parecia que a cruz caía no chão devido ao seu peso.
Nosso Senhor revelou à Santa que aqueles que lideravam a procissão eram os sacerdotes: carregavam sua cruz nas mãos para significar que se esforçam muito para dar a conhecer aos homens o valor e o preço da cruz. As segundas eram muitas religiosas de diferentes ordens e alguns leigos que abraçaram a cruz com muito amor, indicando que se compraziam em sofrer, e o Senhor as consolavam e as bendiziam. As terceiras eram muitas almas que carregavam a cruz com tanto cansaço que mal podiam dar um passo. Nosso Senhor deixou a entender à Santa Verônica que essas últimas também eram Suas, mas que carregavam a cruz com tanta tristeza porque não eram nada valentes nem esforçadas, e porque ainda não haviam saboreado as alegrias do sofrimento. 
É preciso carregar a cruz e não arrastá-la
Quem são os que arrastam a cruz? São os que reclamam quando alguma tribulação os visita, na qual, muitas vezes, Deus manda pelo seu maior bem. Essas pobres almas não podem sofrer sem queixarem-se e sua impaciência é tal que se tornam insuportáveis a si mesmo e aos outros. Também arrastam a cruz os que fazem todo o possível para escapar das tribulações e dos sofrimentos que Deus lhes envia.
Não devemos contar o número de cruzes
Quem quer carregar sua cruz como se deve, não deve considerar se pesa muito ou pouco, mas deve manter os olhos fixos no Modelo Divino. Não percamos nosso tempo em destingi-las e contá-las, pois nosso Senhor já pesou tudo. Ele nos lustra como uma pedra que o trabalhador deseja colocar em um belo edifício. Há momentos em que o amor exige que a alma se prive de tudo, que aparte de seu espírito, de seu corpo e de seu coração todo o gozo; mas em outros momentos quer que a alma receba tudo de suas mãos, alegrias e cruzes, submetendo-se à vontade da Divina Providência.
A alma verdadeiramente paciente esconde seus sofrimentos
Apliquemo-nos a assemelhar-se à Virgem Maria em sua generosidade, em sua resignação e em sua paciência. Ela nunca reclamou de nada. Não reclamemos das dores que Deus nos envia e O glorificaremos mais se não deixarmos transparecer nada do que sofremos.
A alma paciente não pensa mais em si mesma
Tudo em nós deve ser digno, começando por expulsar nosso “eu” para que Deus possa reinar com suas virtudes e suas graças em nossas almas. Nosso Senhor disse à Santa, depois da Comunhão: “Já não quero que te ocupes de ti mesma. Quero que te esqueças totalmente. Só deves ter um pensamento: Deus e as almas. Já não te ocupes de sua saúde pois Eu me encarregarei.” Deixe-me fazer o que Eu quero; dai-me tudo o que peço e não te preocupes em tomar precauções razoáveis. Deves ser uma cera macia em minhas mãos. Não quero tampouco que busques consolo, nem mesmo os deseje; Eu te darei quando me parecer melhor “
Bendizendo a Deus na prova obtemos inestimáveis méritos
Um dia, Nosso Senhor mostrou a Santa Verônica uma cruz que tinha na mão e estava adornada com magníficas pedras preciosas: “Veja“, disse Ele, “os atos de resignação que fizestes. Veja como são lindos!” E em outra ocasião: “Quero que em todas as tempestades e perseguições que tenhas que sofrer, sempre me bendiga e me agradeça dizendo:” Meu Deus, te bendigo e te agradeço agora e sempre. “
Meditemos e coloquemos em prática esses meios acompanhando o paciente Jesus.

SEJA UM BENFEITOR!