terça-feira, 30 de julho de 2013

Escapulário azul e preto de São Miguel Arcanjo


Este escapulário originou sob o reinado de Pio IX, que o deu a sua bênção, porém foi formalmente aprovado sob o reinado de Leão XIII. Em 1878, a confraria em honra de São Miguel Arcanjo foi fundada na Igreja de St. Eustáquio em Roma, e no ano seguinte na Igreja de Sant 'Angelo em Pescheria (Sancti Angeli no foro Piscium). Em 1880, Leão XIII elevou à categoria de uma Arquiconfraria, que foi expressamente chamado da Arquiconfraria do Escapulário de São Miguel.

Na primeira (Roma - 1878) a confraria recebeu indulgências de Leão XIII por sete anos, o resumo das indulgências da Pia Associação de São Miguel foi aprovado pela última vez para sempre por um Decreto da Congregação das Indulgências, 28 de março de 1903.

O Escapulário é tão associado à confraria que cada membro é investido com ele.A fórmula para abençoar o escapulário, dada no Rituale Romanum foi aprovado pela Congregação dos Ritos em 23 de agosto de 1883.

Em forma externa este escapulário é diferente dos outros, na medida em que os dois segmentos de pano têm a forma de um pequeno escudo, dos quais um é feito de azul o outro de pano preto, e das bandas também uma é azul e a outra preta. Ambas as porções do escapulário contêm a representação conhecida do Arcanjo Miguel  ao dragão, inscrição: "Quis ut Deus".

Quem como Deus?

Pergunta: Como pode um católico participar da Arquiconfraria do Escapulário de São Miguel?

Resposta: Qualquer sacerdote católico pode se inscrever o fiel católico sobre este Escapulário, não há necessidade de procurar um sacerdote que pertence a esta Arquiconfraria, não há necessidade de o padre para pedir autorização de Roma (ou em qualquer outro lugar) porque:

"A Sagrada Congregação dos Ritos determinou que qualquer sacerdote pode abençoar o escapulário de São Miguel. Quanto à adesão à Arquiconfraria, por sua própria constituição, não há inscrição formal é necessária". (Mr. Louis J. Tofari, Assistant Editor & Webmaster do sspx.org ).

Tudo o que é realmente necessário para o Sacerdote a fazer é seguir as fórmulas para a Bênção e Investir deste escapulário, que aparecem no Livro de Bênçãos do "Rituale Romanum" (ou Ritual Romano).



domingo, 28 de julho de 2013

A gravidade do pecado venial



 A gravidade do pecado venial

(Padre Alexandrino Monteiro, S. J.)

Entre os hebreus usavam-se duas sortes de pesos e de balanças. Havia o chamado peso do Santuário, que era verdadeiro e justo; e o chamado peso público, que era falso e injusto.

Ora, com duas sortes de balanças se pesam também os pecados dos homens. Se se pesam na balança pública do mundo, que é mentirosa e falaz (Prov 11, 1), dir-se-á que o pecado mortal não é coisa de valor, e que o venial, como leve que é, não tem nenhuma importância. Mas esse modo de pensar já o lamentava Santo Antônio de Pádua em seu tempo (Dom. 4 post Trin.).

Os Santos, porém, e as almas iluminadas pela fé, pesam o pecado venial com a balança do Santuário, e por isso, o choravam e detestavam de morte. Santa Catarina de Gênova quase morria ao considerar a gravidade do pecado venial; e São Luís Gonzaga [em sua primeira confissão] caiu desfalecido aos pés do confessor, depois de confessar suas levíssimas culpas. São João Crisóstomo chegou a dizer que lhe parecia que se deviam evitar com mais cuidado os pecados veniais que os mortais. E dá a razão: os pecados mortais por sua natureza repelem [a alma justa]; porém, os veniais, por isso mesmo que são leves, não amedrontam, e se cometem facilmente.

Meditemos, pois, sobre o pecado venial, para nos enchermos de um grande temor de o cometer. Dividiremos a meditação em três pontos: I. O que é o pecado venial; II. Os danos que causa à alma; III. Como Deus o castiga. (...)

Ah! Meu Deus, meu divino Samaritano, eu, pelos meus pecados veniais, me encontro ferido e despojado dos bens sobrenaturais, e só me encontro com a vida da graça. Tende compaixão de mim, curai a minha alma de tantos pecados veniais. Curai-me com o óleo das Vossas divinas inspirações, e com o vinho do Vosso amor fortificai a minha vontade para me levantar, e começar a viver uma vida mais fervorosa.

I. O que é o pecado venial

Verdadeiramente sábio é aquele que julga das coisas como elas são. Ora, vejamos à luz da fé e da teologia o que é o pecado venial. São Tomás diz que o pecado mortal é uma desordem da alma, pela qual volta as costas a Deus, seu último fim, para aderir à criatura. Para adquirir algum bem temporal, perde o princípio da vida espiritual, que é a caridade do amor de Deus e a graça. Pelo pecado venial, a alma adere a algum bem mundano, mas não de modo que renuncie ao seu último fim, e sem perder o princípio vital da graça. Está enferma, mas não está morta.

1. Suposto isto, discorramos. É certo que o pecado venial não despreza a Deus como o mortal; todavia não faz de Deus a devida estima. Não se opõe de todo à Vontade divina, mas opõe-se-lhe ao menos no modo, como diz S. Tomás (1-2, q. 88, a. I). Desgosta a Deus, não observando perfeitamente os Seus mandamentos.

E se é assim, como se pode chamar leve? Quem tal dissesse proferiria uma blasfêmia, segundo afirma São Bernardo.

No pecado venial não se há de considerar tanto a leve transgressão do divino preceito, quanto a infinita majestade de Deus, que só se contenta com a perfeita observância dos Seus mandamentos. São Jerônimo, escrevendo a Celância, diz: 'Não sei se podemos chamar leve algum pecado que se comete com desprezo de Deus. E só é prudentíssimo aquele que não considera só o que se manda, mas quem manda; nem quão grande é a ordem, mas a dignidade do que ordena'.


2. Ajuntemos a isto que, se o homem falta ao divino preceito em uma coisa pequena, por isso mesmo comete uma falta indesculpável, porque poderia facilmente evitá-la.

Foi maior a culpa de Adão por não obedecer a Deus em coisa tão leve, como era privar-se de comer um fruto, ordem que tão facilmente podia cumprir. Naamam foi censurado também por não cumprir uma lei tão fácil, que lhe impôs o profeta para o curar da lepra, como era banhar-se sete vezes no Jordão. A culpa de Naamam está em que, sendo-lhe imposta condição tão fácil para o curar da lepra, a não quis aceitar por achá-la tão ligeira. Se lhe impusesse o profeta algum remédio violento, certamente que o tomaria. O mesmo motivo tira toda escusa a quem comete um pecado venial; pois, se para evitá-lo tivesse de suportar grande fadiga e vencer uma grande repugnância, poderia haver alguma desculpa se não o evitasse; mas para vencer-se numa coisa tão fácil, que desculpa pode haver?

3. Além disto, devemos considerar o pecado venial em duas relações importantes: em relação à pessoa ofendida, que é Deus; e em relação à pessoa ofensora, que é o pecador.


Com relação à majestade da pessoa ofendida: quem não sabe que, tratando-se de um alto personagem, ninguém tem por leve a menor falta de respeito? Com freqüência lemos nas histórias como grandes príncipes castigaram, com a pena de morte, as menores faltas de atenção e respeito dos seus vassalos. E será o pecado venial uma coisa tão ligeira, ofendendo e desgostando a infinita majestade de Deus? 'Nunca é leve desprezar a Deus numa coisa pequenina', diz São Bernardo. A Lei de Deus se há de guardar como a menina dos olhos, aos quais basta um argueiro para lhes causar uma grande dor.

Com relação à qualidade da pessoa ofendida, que é Deus sob o título de Pai, que filho haverá tão desleal e ingrato, que diga: 'A meu pai não quero tirar-lhe a vida, nem feri-lo mortalmente. Isso não; mas quero desgostá-lo de manhã até à noite, e magoá-lo nas mais pequenas coisas'. Que filho desnaturado seria este! Pois outro tanto faz o pecador com Deus, seu Pai, pagando-Lhe os benefícios com ingratidões, com desacatos, com indelicadezas. É semelhante aos judeus, que não só crucificaram a Cristo, mas O flagelaram, coroaram de espinhos, e insultaram com palavras sarcásticas e afrontosas. E parecerá a alguém coisa leve tanta impiedade?

Com relação ao ofensor, quanto aumenta a malícia do pecado venial o ser cometido por uma alma justa, que pela graça santificante é amiga de Deus, filha adotiva e esposa do Espírito Santo? Quem não sabe que os desgostos e ofensas que se recebem de um amigo, e muito mais de um filho ou de uma esposa, são sempre muito mais sensíveis, que as ofensas recebidas de um estranho ou de um inimigo?

O patriarca Jacó não acabava de se lamentar de que Ruben, seu primogênito, e a quem amava como a pupila dos seus olhos, tivesse cometido em sua própria casa um delito (Gn 49, 3). E o divino Salvador, na traição de Judas, parece sentir menos a entrega a Seus inimigos, que a ingratidão de um discípulo, de uma pessoa, por assim dizer, de Sua família, que por tantos títulos Lhe estava obrigada. Do que se lamentou por boca do profeta Davi: Se meu inimigo me atraiçoasse, eu o suportaria facilmente; mas, tu, meu discípulo e apóstolo?... (Sl 54, 13).

Aqui é o lugar de refletir, como sendo eu tão amado de Deus, de Quem estou recebendo continuamente tantos benefícios, ouso desgostá-lO com as minhas infidelidades, com as minhas culpas, ligeiras sim, mas que ferem profundamente o Seu amoroso Coração. A estas culpas e ingratidões chama o Senhor, pelo profeta Zacarias, feridas profundíssimas que recebe dos que Lhe são mais caros: ' -Que querem dizer estas feridas em meio de tuas mãos? -Delas fui traspassado na casa daqueles que me amavam' (Zac 13, 6).

Objeção: Apesar de tudo, o pecado venial não é culpa grave.

Resposta: Primeiramente, o pecado venial é culpa leve em comparação com o mortal, mas não assim considerado em si mesmo. Assim a Terra é um ponto em relação ao Céu, mas em si mesma é uma imensa massa que tem de circunferência vinte e duas mil léguas.

Em segundo lugar, o pecado venial, ainda que seja leve no gênero de culpa, não se pode dizer que o seja também no gênero de mal. E é tão grande mal que, para perdoá-lo, foram necessários os méritos de Cristo, como diz São Bernardo. O divino Redentor derramou todo o Seu Sangue não só para pagar os pecados mortais, mas também para satisfazer pelos veniais; e nas santas indulgências se aplica o tesouro dos méritos de Cristo para satisfazer à divina Justiça tanto pelos pecados mortais quanto pelos veniais.

E pode chamar-se pequeno mal aquele pelo qual a Sabedoria infinita de Deus julgou conveniente derramar o Seu Sangue de infinito valor?

O pecado venial é tão grande mal que não há, acima dele coisa pior, senão o pecado mortal.

Sob qualquer aspecto que se encare, o pecado venial é pior que o inferno, pois, como diz Suárez, sendo o inferno pura pena, poderia escolher-se [de preferência ao pecado]; mas o pecado venial, sendo mal de culpa, não se pode escolher em nenhum caso. [Seria preferível padecer o inferno a cometer um pecado venial.]

É tão grande mal o pecado venial, que não pode cometer-se nem por obter algum grande bem, nem por evitar um grande mal. Se alguém pudesse, com uma leve mentira, salvar todos os condenados do inferno, ou converter todos os infiéis, não deveria, por forma alguma, proferí-la.

Finalmente, supondo mesmo, o que não é verdade, que o pecado venial é coisa leve, tanto em razão da culpa quanto em razão do mal, convêm refletir no número incalculável destas culpas, que se cometem desde pela manhã até à noite. Donde disse Santo Agostinho: 'Se não temes estes pecados quando os pesas, teme-os quando os contas'.

Se o pecado mortal é como o raio que mata, os pecados veniais são como o granizo que fustiga a vinha da alma. Por isso disse Quintiliano: Se não ofendem como raio, prejudicam, ao menos, como saraiva.

Se o pecado mortal é um mar, que faz naufragar o navio, os pecados veniais são outras tantas gotas que, unidas, igualmente o podem afundar. E, no caso de naufragar, pouco importa, diz Santo Agostinho, que isto aconteça por uma furiosa tempestade, ou que a água entre por uma fenda, gota a gota.

Não queremos com isto dizer que muitos pecados veniais façam um mortal; mas que muitos pecados veniais dispõem para o mortal [e com disposição próxima.]

II. Danos do pecado venial

Muitos são os danos que o pecado venial acarreta à alma.

O primeiro é a mancha que lhe imprime, e a torna abominável aos olhos de Deus. O rei Nabucodonosor ordenou a seus ministros que lhe escolhessem para pajens jovens puros, sem defeito e sem mancha, porque doutra forma não seriam aceitos e gratos a seus olhos (Dn 1, 4). Assim também quis Deus que os justos fossem isentos da menor culpa, porque, de outra maneira, os olharia com desagrado e desdém.

Este é, também, o modo de proceder entre os homens. Um vestido só presta quando estiver isento de qualquer mancha, ainda que não esteja rasgado. Uma rainha, por mais rica e majestosa que seja, se tem no rosto um defeito, perde toda a sua graça e beleza, e deixa de ser admirada e estimada pelos homens. Ora, a alma rica de virtudes e de dons sobrenaturais, ainda que seja verdadeiramente rainha pela graça santificante, pelo pecado venial torna-se disforme aos olhos de Deus, que não mais se compraz nela, e a olha como objeto de repulsão.

Uma dama espanhola, dirigida espiritualmente pelo padre João d'Ávila, teve ardente desejo de ver o estado de sua alma, e pediu ardentemente a Deus que lho mostrasse. Apareceu-lhe um Anjo com uma menina cheia de chagas purulentas, que dava compaixão, e disse-lhe: 'Esta é a tua alma'. Ficou a serva de Deus aterrorizada com esta aparição, e correu a manifestar ao seu diretor espiritual o que tinha visto. 'E essa menina estava viva ou morta?', perguntou-lhe o padre. 'Viva', replicou a serva de Deus. 'Consolai-vos em parte, porque, se a menina estava viva, é sinal de que a vossa alma está na graça santificante', disse o venerável padre.

O segundo dano do pecado venial à alma, é privá-la das graças atuais que o Senhor lhe concederia, se fosse mais pura e isenta de culpas. Estas graças atuais são certas luzes mais vivas na mente para conhecer o bem, certas inspirações mais eficazes para mover o coração e a vontade, certa compunção e doçura espiritual na oração, maior coragem para resistir às tentações, e outras semelhantes.

Assim como um pai, desgostado pelas muitas desobediências de um filho, não lhe faz certas finezas, que lhe faria se fosse mais obediente: assim Deus, indignado pela ingratidão do homem que se contenta só com não ofende-lO mortalmente, o priva de muitas graças especiais, que lhe concederia se o visse mais fervoroso em Seu serviço.

Quantos se desgostam e maravilham porque não encontram gosto na oração; porque, pedindo de contínuo a Deus e aos Santos, não são ouvidos; porque se encontram sempre tão fracos e débeis na tentação! E como podem pretender que Deus os favoreça com graças especiais, se eles se tornam indignos delas, pelos freqüêntes pecados veniais, com que se tornam desagradáveis aos divinos olhos? Como podem resistir aos assaltos das tentações se, pelos pecados veniais, se vêem abandonados dos auxílios celestes?

O terceiro e maior dano que o pecado venial causa à alma, é dispô-la para o pecado mortal. Isto sucede de dois modos, como ensina São Tomás: ou indiretamente, porque, retirando-lhe Deus os mais poderosos auxílios de Sua graça, naturalmente enfraquece e cai no pecado mortal; ou diretamente, porque, acostumando-se a cometer muitas vezes culpas leves, pouco a pouco chega, pelo mau hábito, a cair em culpas graves.

E além disto, acrescenta São Tomás que o pecado venial difere do mortal como uma coisa, imperfeita no seu gênero, difere de outra, perfeita; e como um menino, de um adulto (1-2, q. 88, art. 6, ad 1). Assim como fugimos de ter ao nosso lado um leãozinho, com receio de que se assanhe e nos mate, assim devemos ter longe de nós toda culpa venial, com receio que, de pequena, se torne uma grande fera, e nos estrangule e mate. Assim foi que a curiosidade de Eva degenerou numa grave desobediência; o afeto de Judas ao dinheiro, em deicídio; a política de Pilatos, na condenação de Jesus; e a imprudência de Salomão em casar-se com pagãs, em idolatria.

Por isso, o profeta Isaías se lamenta de que os pecadores preparem, com os seus pecados veniais, a corda com que hão de ser arrastados ao inferno (Is 5, 18). As cordas, retorcendo em si muitos fios, formam os grandes cabos, que suportam grandes pesos e seguram os navios. Assim os pecadores, comenta Santo Agostinho, multiplicando os pecados veniais, se dispõem para os mortais, que os arrastam à perdição.

Entremos dentro de nós mesmos e examinemos os muitos defeitos a que a nossa alma está habituada, para não nos acontecer o que a muitos têm acontecido. Santa Teresa escreve, em sua Vida, que foi levada ao inferno, e lá viu o lugar que haveria de ocupar, se não se emendasse de certos pecados veniais em sua juventude. O piloto, quando vê ao longe uma nuvenzinha no céu azul, prevendo a tempestade, colhe as velas e refugia-se em lugar seguro. Quando o céu da nossa alma se escurecer com alguma nuvem de pecado venial, tomemos precaução, porque pode vir a tempestade da tentação e levar-nos a cair no pecado mortal.
Sigamos o conselho dos mestres espirituais, que nos avisam que de pequenos princípios nascem tremendas conseqüências, e que o demônio procura levar gradualmente as almas das pequenas faltas às grandes, como diz São Doroteo (Serm. 3).

III. Castigos do pecado venial

A pena, como uma sombra, segue a culpa; e, assim como da grandeza da sombra se deduz a grandeza do corpo, assim da gravidade dos castigos com que Deus pune o pecado venial, se pode claramente deduzir a gravidade de sua malícia. Tanto mais que, sendo Deus a infinita justiça, castiga com toda a proporção; sendo a infinita sabedoria, sabe até onde deve ir a proporção do castigo; e, sendo incapaz de paixão humana, não pode castigar mais do que deve, nem por arrebatamento da cólera, nem por falsa apreesão, nem por desordenado sentimento.

Posto isto, vejamos como Deus castigou o pecado venial, nesta vida, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.

No Antigo Testamento, Moisés, tão favorecido de Deus, caminhando para o Egito a fim de libertar o povo de Israel, saiu-lhe ao encontro um Anjo para o matar (Ex 4, 24). E por qual pecado se viu Moisés nesse perigo? Porque tinha adiado circuncidar seu filho - não porque não o quisesse circuncidar, mas diferia fazê-lo por um terno afeto, que não passava de pecado venial. Mas Séfora, sua consorte, logo circuncidou o menino e com isto se aplacou a ira do Anjo.

Enviou Deus um profeta a Betel, ao rei Geroboão, com ordem de não comer pão pelo caminho, nem beber água (3 Rs 13). Fê-lo assim o profeta, mas, na volta, encontrou-se com outro profeta venerável, que o enganou, dizendo-lhe que entrasse em sua casa, que esta era a Vontade de Deus, e se fortificasse. Assim o fez o crédulo profeta, e comeu pão e bebeu água. Este pecado do profeta foi, certamente, venial. Não obstante, Deus fez sair de uma floresta um leão, que o matou. E para que se entendesse que isto acontecera, não por fome do leão, mas por culpa do profeta, não só o leão não devorou o corpo morto, mas guardou-o até ser sepultado.

Pela curiosidade de ver o incêndio de Sodoma, a mulher de Lot foi convertida em estátua de sal.

Por uma vã complacência que teve Davi em olhar para o seu fortíssimo exército, foi castigado com uma peste, que em três dias matou setenta mil pessoas.

No Novo Testamento, lemos nos fastos da Igreja gravíssimas penas com que Deus tem castigado o pecado venial. São Jerônimo narra de Santo Hilário que, por uma distração não repelida, permitiu Deus que o demônio saltasse sobre ele e o flagelasse.

Santo Odão, abade, escreve de São Gerardo Conte, que ficou cego por ter olhado fixamente para o rosto de uma menina.

Conta Paládio de um santo homem, que vivia em grande austeridade, ao qual Deus por muitos anos mandava, por um anjo, um alvíssimo pão, que lhe bastava para dois dias. Depois de algum tempo começou a pensar, por vaidade, que era melhor do que os outros. Logo Deus o castigou mandando-lhe, em vez de pão branco, pão negro.

Um dia Santa Francisca Romana sentiu que lhe davam uma valente bofetada. Voltou-se para ver quem a tinha ferido, e viu um Anjo que lhe disse: 'Esta bofetada te dei, em castigo do ócio com que estavas perdendo o tempo, que é tão precioso'.

Mas os maiores castigos do pecado venial são na outra vida.

Primeiramente, é sentença de São Tomás, de São Boaventura e do comum dos teólogos que, se um pecador morre sem a graça de Deus, e leva pra o inferno, juntamente com um pecado mortal, um pecado venial não perdoado, deverá sofrer lá uma dupla pena eterna, por um e por outro. E a razão é clara: porque no inferno não há redenção, e não lhe sendo perdoada a culpa venial, também não lhe será remitida a pena que lhe é devida.

Em segundo lugar, os pecados veniais, pelos quais não fizemos penitência, serão castigados no Purgatório com penas atrocíssimas. Se alguém neste mundo, por uma mentira ligeira, devesse ser lançado numa fogueira ardente, que horror não nos causaria! Mas o seu tormento seria breve, pois logo morreria. Mas as almas do Purgatório sofrem e não morrem; e sofrem não por um momento, mas por muitos anos, e até milhares de anos. E não é qualquer fogo o do Purgatório. Santo Agostinho diz que 'com o mesmo fogo é atormentado o condenado e purificado o eleito'.

Não é, pois, o pecado venial, coisa tão ligeira e insignificante, que não temamos cometê-lo.

São Maurício bispo, por se descuidar em batizar um menino, que logo morreu, renunciou ao bispado e se condenou a viver sempre peregrinando.

Santo Eusébio, por uma distração voluntária na oração, condenou-se a ter sempre os olhos baixos e a não olhar para objeto terreno.

O sacerdote Evágrio, em penitência por uma pequena distração, passou quarenta dias sem se sentar.

De São Paulo Eremita, escreve São Jerônimo em seu epitáfio, que chorava os pecados leves como se fossem gravíssimos crimes.

E quem terá tão pouco juízo que, podendo neste mundo resgatar a pena devida por seus pecados veniais com menores castigos, deixe para o fogo do Purgatório satisfazer por eles?




(Padre Alexandrino Monteiro, S. J., Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, II Edição, Editora Vozes, Petrópolis: 1959, páginas 116-128)

Fonte

Commonitorium: Regra para distinguir a Verdade Católica do erro


São Vicente de Lérins
COMMONITORIUM
Notas para conhecer a verdadeira Fé

Introdução

1. Dado que a Escritura nos aconselha: "Interroga teu pai e ele te contará; os teus avós, e eles te dirão". (Dt 32,7); "Ouve as palavras dos sábios" (Pr22,17); e também: "Meu filho, não te esqueças da minha lei, e guarda no teu coração os meus preceitos" (Pr 3,1), a mim, Peregrino, último entre todos os servos de Deus, me parece que é coisa de não pouca utilidade escrever os ensinamentos que recebi fielmente dos Santos Padres. Para mim isto é absolutamente imprescindível, a causa de minha debilidade, para ter assim ao alcance das mãos um auxílio que, com uma leitura assídua, supra as deficiências de minha memória. Induzem-me a empreender este trabalho, ademais, não só a utilidade desta obra, mas também a consideração do tempo e a oportunidade do lugar. Em relação ao tempo, já que ele nos tira tudo o que há de humano, também nós devemos, em compensação, roubar-lhe algo que nos seja gozoso para a vida eterna, tanto mais quanto que ver aproximar-se o terrível juízo divino nos convida a pôr maior empenho no estudo de nossa Fé; por outro lado, a astúcia dos novos hereges reclama de nós uma vigilância e uma atenção cada vez maiores. Em relação ao lugar, porque afastados da multidão e da agitação da cidade,habitamos num lugar bem separado no qual, na cela tranqüila de um mosteiro, se pode pôr em prática, sem medo de distrair-se, o que canta o salmista: "Desisti – disse ele – e reconhecei que sou Deus". (Sl 45,11) Aqui tudo se harmoniza para que eu alcance minhas aspirações. Durante muito tempo fui perturbado pelas diferentes e tristes peripécias da vida secular. Graças à inspiração de Jesus Cristo, consegui por fim refugiar-me no porto da Religião, sempre muito seguro para todos. Deixados para trás os ventos da vaidade e do orgulho, agora me esforço em aplacar a Deus mediante o sacrifício da humildade cristã, para poder assim evitar não só os naufrágios da vida presente, mas também as chamas da vida futura. Posta minha confiança no Senhor, desejo, pois, iniciar a obra que me insta, cuja finalidade é colocar por escrito tudo que nos têm sido transmitido por nossos pais e que temos recebido em depósito. Meu intento é expor cada coisa com a fidelidade de um relator, e não com a presunção de querer fazer uma obra original. Não obstante, me aterei a esta lei ao escrever: não dizer tudo, mas resumir o essencial com estilo fácil e acessível, prescindindo da elegância e do maneirsimo, de maneira que a maior parte das idéias pareçam melhor enunciadas que explicadas. Que escrevam brilhantemente e com finura aqueles que se sentem levados a isto pela profissão ou pela confiança em seu próprio talento. No que a mim se refere, já tenho muito em preparar estas anotações para ajudar a minha memória,ou melhor, a minha falta de memória. Não obstante, não deixarei de me empenhar, com a ajuda de Deus, em corrigi-las e completá-las cada dia, meditando no que tenho aprendido. Assim, pois,caso estas notas se percam ou acabem caindo em mãos de pessoas santas, rogo a estas que não se apressem em jogar-me na cara que algo do que nestas notas haja espera todavia ser retificado e corrigido, segundo minha promessa.

Regra para distinguir a Verdade Católica do erro


2. Havendo interrogado com freqüência e com maior cuidado e atenção a inúmeras pessoas, sobressalentes em santidade e doutrina, sobre como distinguir por meio de uma regra segura, geral e normativa, a verdade da Fé Católica da falsidade perversa da heresia, quase todas me têm dado a mesma resposta: "Todo cristão que queira desmascarar as intrigas dos hereges que brotam ao nosso redor,evitar suas armadilhas e se manter íntegro e incólume numa fé incontaminada, deve,com a ajuda de Deus, apetrechar sua fé de duas maneiras: com a autoridade da lei divina ante tudo, e com a tradição da Igreja Católica". Sem embargo, alguém poderia objetar: Posto que o Cânon das Escrituras é em si mais que suficientemente perfeito para tudo, que necessidade há de se acrescentar a autoridade da interpretação da Igreja? Precisamente porque a Escritura, por causa de sua mesma sublimidade, não é entendida por todos de modo idêntico e universal. De fato, as mesmas palavras são interpretadas de maneira diferente por uns e por outros. Se pode dizer que tantas são as interpretações quantos são os leitores. Vemos, por exemplo, que Novaciano explica a Escritura de um modo, Sabélio de outro, Donato, Eunomio, Macedônio, deoutro; e de maneira diversa a interpretam Fotino, Apolinar, Prisciliano, Joviano,Pelágio, Celestino, e em nossos dias, Nestório. É pois, sumamente necessário, ante as múltiplas e arrevesadas tortuosidades do erro, que a interpretação dos Profetas e dos Apóstolos se faça seguindo a pauta do sentir católico. Na Igreja Católica deve-se ter maior cuidado para manter aquilo em que se crê em todas as partes, sempre e por todos. Isto é a verdadeira e propriamente católico, segundo a idéia de universalidade que se encerra na mesma etimologia da palavra. Mas isto se conseguirá se nós seguimos a universalidade, a antiguidade e o consenso geral. Seguiremos a universalidade se confessamos como verdadeira e única fé a que a Igreja inteira professa em todo o mundo; a antiguidade, se não nos separamos de nenhuma forma dos sentimentos que notoriamente proclamaram nossos santos predecessores e pais; o consenso geral, por último, se, nesta mesma antiguidade, abraçamos as definições e as doutrinas de todos, ou de quase todos, os Bispos e Mestres. 

Exemplo de como aplicar a regra


3. Qual deverá ser a conduta de um cristão católico, se alguma pequena parte da Igreja se separa da comunhão na Fé universal?- Não cabe dúvida de que deverá antepor a saúde do corpo inteiro a um membro podre e contagioso. Mas, e se for uma novidade herética que não está limitada a um pequeno grupo, mas que ameaça contagiar à Igreja toda? - Em tal caso, o cristão deverá fazer todo o possível para agarrar-se à antiguidade, a qual não pode evidentemente ser alterada por nenhuma nova mentira. E se na antiguidade se descobre que um erro tem sido compartilhado por muitas pessoas, ou inclusive toda uma cidade, ou por uma região inteira?- Neste caso porá o máximo cuidado em preferir os decretos - se os tiver - de um antigo Concílio Universal, à temeridade e à ignorância de todos aqueles. E se surge uma nova opinião acerca da qual nada tenha sido ainda definido? - Então indagará e confrontará as opiniões de nossos maiores, mas somente daqueles que sempre permaneceram na comunhão e na fé da única Igreja Católica e vieram a ser mestres provados da mesma. Tudo o que ache que, não por um ou dois somente, mas por todos juntos de pleno acordo, tenha sido mantido, escrito e ensinado abertamente, freqüente e constantemente, sabe que ele também pode crer sem vacilação alguma.


Fonte: LÉRINS, São Vicente de. Commonitorium - Notas para conhecer a verdadeira Fé. Do original "COMMONITORIO - Apuntes para conocer La Fe verdadeira". Texto traduzido do espanhol por Jorge Luis - http://tradicaoviva.blogspot.com; versão corrigida e editada, p.1-3.

Fonte:

domingo, 21 de julho de 2013

Do homem bom e pacífico

LIVRO SEGUNDO
Exortação à vida interior

Cap. 3. Do homem bom e pacífico, 97

  1. Primeiro conserva-te em paz, e depois poderás pacificar os outros. O homem apaixonado, até o bem converte em mal e facilmente acredita no mal; o homem bom e pacífico, pelo contrário, faz com que tudo se converta em bem. Quem está em boa paz de ninguém desconfia; o descontente e perturbado, porém, é combatido de várias suspeitas e não sossega, nem deixa os outros sossegarem. Diz muitas vezes o que não devia dizer, e deixa de fazer o que mais lhe conviria. Atende às obrigações alheias, e descuida-se das próprias. Tem, pois, principalmente zelo de ti, e depois o terás, com direito, do teu próximo.
  2. Bem sabes desculpar e cobrir tuas faltas, e não queres aceitar as desculpas dos outros! Mais justo fora que te acusasses a ti e escusasses o teu irmão. Suporta os outros, se queres que te suportem a ti. Nota quão longe estás ainda da verdadeira caridade e humildade, que não sabe irar-se ou indignar-se senão contra si própria. Não é grande coisa conviver com homens bons e mansos, porque isso, naturalmente, agrada a todos; e cada um gosta de viver em paz e ama os que são de seu parecer. Viver, porém, em paz com pessoas ásperas, perversas e mal educadas que nos contrariam, é grande graça e ação louvável e varonil.
  3. Uns há que têm paz consigo e com os mais; outros que não têm paz nem a deixam aos demais; são insuportáveis aos outros, e ainda mais o são a si mesmos. E há outros que têm paz consigo e procuram-na para os demais. Toda a nossa paz, porém, nesta vida miserável, consiste mais na humilde resignação, que em não sentir as contrariedades. Quem melhor sabe sofrer maior paz terá. Esse é vencedor de si mesmo e senhor do mundo, amigo de Cristo e herdeiro do céu.


Livro: Imitação de Cristo
Autor: Tomás De Kempis
Edição: 36ª
Editora: Vozes

Da obediência e sujeição

LIVRO PRIMEIRO
Avisos úteis para a vida espiritual

Cap. 9. Da obediência e sujeição, 36

  1. Grande coisa é viver na obediência, sob a direção de um superior, e não dispor da própria vontade. Muito mais seguro é obedecer que mandar. Muitos obedecem mais por necessidade que por amor: por isso sofrem e facilmente murmuram. Esses não alcançarão a liberdade de espírito, enquanto não se sujeitarem de todo o coração, por amor de Deus. Anda por onde quiseres: não acharás descanso senão na humilde sujeição e obediência ao superior. A imaginação dos lugares e mudanças a muitos tem iludido.
  2. Verdade é que cada um gosta de seguir seu próprio parecer e mais se inclina àqueles que participam da sua opinião. Entretanto, se Deus está conosco, cumpre-nos, às vezes, renunciar ao nosso parecer por amor da paz. Quem é tão sábio que possa saber tudo completamente? Não confies, pois, demasiadamente em teu próprio juízo; mas atende também, de boa mente, ao dos demais. Se o teu parecer for bom e o deixares, por amor de Deus, para seguires o de outrem, muito lucrarás com isso.
  3. Com efeito, muitas vezes ouvi falar que é mais seguro ouvir e tomar conselho que dá-lo. É bem possível que seja acertado o parecer de cada um: mas não querer ceder aos outros, quando a razão ou as circunstâncias o pedem, é sinal de soberba e obstinação.


Livro: Imitação de Cristo
Autor: Tomás De Kempis
 
Edição: 36ª
 
Editora: Vozes


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Da mente pura e da intenção simples


LIVRO SEGUNDO
Exortação à vida interior
 Cap. 4. Da mente pura e da intenção simples, 99

  1. Com duas asas se levanta o homem acima das coisas terrenas: simplicidade e pureza. A simplicidade há de estar na intenção e a pureza no afeto. A simplicidade procura a Deus, a pureza o abraça e frui. Em nenhuma boa obra acharás estorvo, se estiveres interiormente livre de todo afeto desordenado. Se só queres e buscas o agrado de Deus e o proveito do próximo, gozarás de liberdade interior. Se teu coração for reto, toda criatura te será um espelho de vida e um livro de santas doutrinas. Não há criatura tão pequena e vil, que não represente a bondade de Deus.
  2.  Se fosses interiormente bom e puro, logo verias tudo sem dificuldade e compreenderias bem. O coração puro penetra o céu e o inferno. Cada um julga segundo seu interior. Se há alegria neste mundo, é o coração puro que a goza; se há, em alguma parte, tribulação e angústia, é a má consciência que as experimenta. Como o ferro metido no fogo perde a ferrugem e se faz todo incandescente a Deus fica livre da tibieza e transforma-se em novo homem.
  3. Quando o homem começa a entibiar, logo teme o menor trabalho e anseia as consolações exteriores. Quando, porém, começa deveras a vencer-se e andar com ânimo no caminho de Deus, leves lhe parecem as coisas que antes achava onerosas.
Livro: Imitação de Cristo
Autor: Tomás De Kempis
Edição: 36ª
Editora: Vozes

Da meditação da morte

Da meditação da morte

Pela manhã, pensa que não chegarás à noite, e à noite não te prometes o dia seguinte. Por isso anda sempre preparado e vive de tal modo que te não encontre a morte desprevenido. Muitos morrem repentinamente e inesperadamente; pois na hora em que menos se pensa, virá o Filho do Homem (Lc 12,40). Quando vier aquela hora derradeira, começarás A julgar mui diferentemente toda a tua vida passada, e doer-te-á muito teres sido tão negligente e remisso.


Livro: Imitação de Cristo
Autor: Tomás De Kempis
Capítulo: 23 - Da meditação da morte, Página 74, Parágrafo 3.


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Da humilde submissão

LIVRO SEGUNDO
Exortação à vida interior
Cap. 2. Da humilde submissão, 96

Não te importes muito de saber quem seja por ti ou contra ti; mas trata e procura que Deus seja contigo em tudo que fizeres. Tem boa consciência e Deus te defenderá, pois a quem Deus ajuda não há maldade que o possa prejudicar. Se souberes calar e sofrer, verás, sem dúvida, o socorro do Senhor. Ele sabe o tempo e o modelo de te livrar; portanto, entrega-te todo a ele. A Deus pertence aliviar-nos e tirar-nos de toda a confusão. Às vezes é muito útil, para melhor conservarmos a humildade, que os outros saibam os nossos defeitos e no-los repreendam.

Quando o homem se humilha por seus defeitos, aplaca facilmente os outros e satisfaz os que estão irados contra ele. Ao humilde Deus protege e salva, ao humilde ama e consola, ao humilde ele se inclina, dá-lhe abundantes graças e depois do abatimento o levanta a grande honra. Ao humilde revela seus segredos e com doçura o atrai e convida. O humilde, ao sofrer afrontas, conserva sua paz, porque confia em Deus e não no mundo. Não julgues ter feito progresso algum, enquanto te não reconheças inferior a todos.


Livro: Imitação de Cristo / Autor: Tomás De Kempis / Edição: 36ª // Editora: Vozes

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quarta-feira, 17 de julho de 2013

São Francisco de Jerônimo: A realidade do inferno

A realidade do inferno
(São Francisco de Jerônimo)


"(...) O fato não deixa nenhuma dúvida, pois está juridicamente provado no processo de canonização do santo, e atestado com juramento por muitas testemunhas oculares. No ano de 1707, São Francisco de Jerônimo (jesuíta) pregava, como de costume, nos arrebaldes de Nápoles, falando sobre o inferno e os terríveis castigos reservados aos pecadores obstinados. Uma mulher insolente, que morava na redondeza, aborrecida com aqueles sermões que lhe recordavam no coração amargos remorsos, procurou molestá-lo com gestos e gritos, desde a janela de sua casa. Uma vez, um santo lhe disse: 'Ai de ti, filha, se resistes à graça! Não passarão oito dias, sem que Deus te castigue.'

A desaforada mulher não se perturbou Poe aquela ameaça e continuou com suas más intenções. Passaram-se oito dias, e o santo foi pregar de novo perto daquela casa, mas desta vez as janelas estavam fechadas e ninguém o importunava. Os vizinhos que o ouviam, consternados, lhe disseram que Catarina (tal era o nome daquela péssima mulher) tinha morrido de improviso, pouco antes. 'Morreu? Disse o servo de Deus; pois bem, agora nos diga de que valeu zombar do inferno; vamos perguntar-lhe.' Os ouvintes sentiram que o santo pronunciara aquelas palavras com inspiração, e por isso todos esperaram um milagre. 

Acompanhado da multidão subiu à sala, convertida em câmara ardente, e após breve oração, descobriu o rosto da morta e disse: 'Catarina, fala, diz-nos onde estás!' A esta ordem, a defunta ergue a cabeça, abre os olhos tomas cor o seu rosto, e em atitude de horrível desespero profere, com voz lúgubre estas palavras: 'No inferno! Eu estou no inferno!'

Imediatamente cai e volta ao estado de frio cadáver. 'Eu estava presente ao fato, afirma uma das testemunhas que depuseram no tribunal apostólico, mas não saberia explicar a impressão que causou em mim e nos circunstantes; ainda hoje, passando perto daquela casa e olhando a tal janela, fico muito impressionado. Quando vejo aquela funesta moradia, parece-me ouvir a lúgubre voz: No inferno! Eu estou no inferno.' "


BELTRAMI, Padre André. O inferno existe – Provas e exemplos.
Artpress, São Paulo: 2007, p. 37-8

Fonte: Texto retirado do antigo blog odioaheresia
Foto: Autor desconhecido.

Fonte:

Santos e demônios IV: Santo Antonio Maria Claret

Santos e demônios IV: Santo Antonio Maria Claret
(Padre João Echevarría, CMF)


Um esquadrão de demônios viu o Pe. Claret ao lado esquerdo de sua cama quando, ainda seminarista, foi vítima de horrorosa tentação que se dissipou com a doce aparição de Maria Santíssima.

E este exército infernal combateu-o principalmente na época das missões, com as quais tantas almas o Pe. Claret arrebatou ao inferno, para apresentá-las a Jesus como gloriosos despojos de combate. 

Encontrava-se em Vich o santo missionário.

Uma manhã, as pessoas da casa onde ele estava hospedado viram com grande surpresa que não descia para tomar seu café, na hora de costume. Temeram que estivesse indisposto. Bateram à porta, entraram no quarto e perguntaram-lhe se se encontrava adoentado. 

– Sinto uma dor profunda no lado esquerdo – respondeu. 

Alarmados com isto, pois o Pe. Claret não costumava queixar-se, chamaram o médico. Chegando este, mandou que descobrisse o lado afetado, e afastando a roupa, viu no lado esquerdo uma ferida como se uma fera lhe houvesse despedaçado a carne com as garras, deixando à mostra algumas costelas. 

Ninguém conheceu a causa desse ferimento, porque o Pe. Claret nada dizia; mas todos acreditaram ser efeito do demônio que assim queria atormentar as carnes do inocente missionário. 

Voltou por duas vezes o médico, e vendo que havia sinais de gangrena, após uma demorada consulta, resolveu ser necessária uma intervenção cirúrgica, e determinou fazê-la na manhã seguinte. 

Veio; bateu à porta do doente, mas este não respondeu. Perguntou por ele, alarmado, e enquanto esperava, apareceu risonho o doente prodigioso.

– Não se espante, disse-lhe, ajude-me a agradecer a Deus este favor. Esta noite Nossa Senhora curou-me. 

O doutor, atônito, mandou descobrir o lugar da ferida; e notou com surpresa que já havia cicatrizado, e o lugar recoberto de pele branca e firme. 

– Milagre! – exclamaram a uma voz todos os circunstantes. 

***

As perseguições do demônio eram mais freqüentes na época das missões. 

Pregava o Pe. Claret em Sarreal, província de Tarragona. As multidões, comovidas, tomaram quase que de assalto a igreja; invadiam-na, deixando-a repleta; e muita gente se acotovelava no adro por não poder entrar no templo. 

Quando o missionário estava mais fervoroso e emocionante no sermão, desprendeu-se do arco central do templo uma pedra enorme, que caiu em pedaços sobre a multidão. 

– Não é nada!, gritou o Pe. Claret, ninguém se mova! É o demônio que quer impedir o fruto da santa missão. Mas não tem permissão de Deus para vos fazer mal.

Assim foi; pois os diversos pedaços não feriram a ninguém. Este milagre aumentou o fervor e o entusiasmo do auditório, e assim ficou derrotado o demônio. 

***

Pregava, doutra feita, perante enorme concorrência. Estava já na metade da missão. O povo cada dia dava maiores demonstrações de piedade e arrependimento.

Era de noite. Quase todos os habitantes estavam reunidos na igreja. Quando o Pe. Claret tomou nas suas mãos o santo crucifixo para findar o sermão com fervorosa súplica, um desconhecido entrou à viva força no templo, alvoroçando o povo e gritando:

– Fogo! Fogo! Que se queima uma casa. Auxílio! Socorro!

O Pe. Claret, com voz forte, disse, interrompendo o sermão:

– É o demônio! Não há casa alguma a arder. E para que vos convençais, que vá o sacristão constatar o fato. Se houver fogo, iremos todos apagá-lo; mas, enquanto não vier o aviso, ficai tranqüilos e sossegados.

Chegou o sacristão e disse não haver sinal nenhum de incêndio... Então o povo quis dar uma sova no homem, mas este, misteriosa e subitamente, desapareceu.

– Não vo-lo dizia?, exclamou o Pe. Claret, era o demônio, inimigo de vossas almas, que pretendia impedir o fruto desta santa missão.

E tomando pé deste fato, pregou novo sermão sobre a importância da salvação.

As lágrimas e soluços da multidão acompanhavam as palavras do missionário. O fracasso do demônio não podia ser maior nem mais humilhante.

***

A conquista das almas foi o lema que escreveu o heróico missionário no programa do seu apostolado. E para o efetuar, reproduziu na sua vida o catálogo de sofrimentos e perseguições que sofreu, no seu tempo, o Apóstolo das Gentes [São Paulo].

E como não devia ser alvo da perseguição, se cada alma, cada coração conquistado para Cristo era um despojo, que arrancava violentamente das garras de satanás?

Por isso, o demônio devotava ódio ferrenho às missões do Pe. Claret; porque principalmente com elas obtinha os grandes triunfos. E para impedi-los, lançou mão de todos os meios o príncipe das trevas.

***

Foi em Masnou, província de Tarragona.

Pregava o Pe. Claret uma missão. As povoações vizinhas, entusiasmadas e a se penitenciar, vinham todas as tardes escutar atentamente a palavra do missionário. Uma multidão compacta e fervorosa enchia o vasto templo paroquial.

Apareceu na capela-mor o Pe. Claret e entoou, em frente do auditório, um cântico da missão.

A multidão, que conhecia aquele cântico, acompanhou-o unissonamente, como imensa massa coral.

O organista, Pe. João Quintana, carmelita calçado, assentou-se ao órgão para acompanhar o canto. Mas, contra a vontade do organista, saía dos tubos do órgão a música duma canção escandalosa, muito em voga naquele tempo em teatros e tabernas...

O público emudeceu, escandalizado, e logo alvoroçou-se diante do insulto...

O organista, espantado, trabalhava para dominar o teclado do órgão, mas seu esforço era em vão. A canção continuava soando escandalosamente.

Então o Pe. Claret subiu rapidamente ao púlpito e, dirigindo-se à multidão, disse com voz dominadora:

– Meus irmãos, não vos espanteis! É o demônio que, com esta canção escandalosa, quer inutilizar o fruto dos sermões...

E erguendo a mão em direção ao coro, gritou:

– Sr. Organista, abra o registro flautado, porque dentro dele está o demônio.

Assim fez o organista, e o demônio fugiu vencido.

O órgão acompanhou harmoniosamente os cantos da missão; serenou o auditório e, ao findar a pregação, puderam recolher os ceifadores evangélicos do campo espiritual magnífica colheita de pecadores convertidos.

***

Estava um dia a pregar em campo aberto. Foi uma solenidade religiosa em que milhares de ouvintes se reuniram para escutar o sermão do ilustre missionário.

Quando sua palavra apostólica ecoava mais eloqüente e ungida de piedade, cobriu-se o céu de nuvens pardacentas; despontou o raio e o trovão, e em torvelinho de poeira se desencadeou o furacão.

A multidão, aterrorizada, começou a fugir, mas o Pe. Claret a conteve, dizendo:

– Ninguém se mova! É o demônio que vem, envolto na tempestade. Prestes fugirá, vencido.

[E tal ocorreu.]

Em outro dia, pregava uma missão na igreja. Mas era tão numerosa a assistência, que se viu forçado a improvisar um púlpito em praça pública. Ao império da sua eloqüência sobrenatural, a multidão, entre profundos soluços e lágrimas sinceras, implorava de Deus perdão para seus pecados.

De repente ouve-se um golpe como se fosse uma chicotada, no púlpito; o rosto do Pe. Claret contrai-se em trejeitos de dor; seu corpo treme; e, quando parece que vai cair, e o público, alarmado, se precipita para ampará-lo, brada com voz serena:

– Deixai-me... nada receeis. É o demônio que me deu este golpe para que não pregue mais.

O Pe. Claret ficou em silêncio alguns minutos, e o povo a chorar e com os braços ao alto, exclamava:

– Perdão, ó meu Deus! Perdão e clemência!

***

Foi desta vez em Igualada. A missão estava dando belos resultados. Já de público se contavam as grandes conversões, e estavam prestes a dar esse passo outros muitos pecadores.

Para mover a estes que permaneciam hesitantes, o Pe. Claret preparou com a oração e o estudo, um sermão especial: o sermão da Madalena.

Todos choravam ao escutá-lo... Sua palavras era uma concentração luminosa e palpitante de todas as ternuras, de todos os arrependimentos, de todos os amores que sentiu na hora feliz da sua conversão a Madalena, a sublime penitente...

Quando mais ardentes e gerais eram os soluços no auditório, um ruído espantoso alvoroçou o público.

Milhares de cães raivosos brigavam, mordiam-se, despedaçavam-se invisivelmente na igreja; perseguiam-se, desgarravam-se com uivos aterradores. A multidão, consternada, lançou um grito de espanto. Todos olhavam em redor, mas ninguém via onde estavam os cachorros.

Então o Pe. Claret, estendendo a mão sobre o auditório disse:

– Calma, meus irmãos! Calma! Não vos espanteis. Esses cães são os demônios que receiam vos aproveiteis da santa missão. Desprezai-os e logo vos largarão.

Tranqüilizou-se o público ao ouvir estas palavras do santo missionário; os demônios fugiram e a matilha de cães emudeceu...

Mais tarde, o Pe. Claret, referindo-se a esta época de suas missões, consignou em sua ‘Autobiografia’ estas singelas palavras:

– Se foi grande a perseguição que contra mim levantava o inferno, imensamente maior foi a proteção do céu. Conhecia visivelmente que a Virgem Santíssima, os Anjos e Santos me conduziam por caminhos ignorados; livraram-me dos ladrões e assassinos, e me conduziram a porto seguro, sem que eu conhecesse o modo.


(Pe. João Echevarria, CMF, in: Santo Antônio Claret, Editora Ave-Maria, São Paulo: 1962, 2ª edição, páginas 101-107)


Fonte: Texto retirado do antigo blog odioaheresia
Foto: Autor desconhecido

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